Minha entrevista - e as liçõescassino galera betvida que aprendi - com o neurologista mais famoso do mundo, Oliver Sacks, meses antescassino galera betsua morte:cassino galera bet
cassino galera bet No depoimento a seguir, a repórter conta como foi seu encontro com Oliver Sacks - e as lições que aprendeu com ele.
Por que você está aqui? - perguntou-me Oliver Sacks, um pouco confuso.
Minha entrevista com o neurologista e escritor britânico Oliver Sacks teve um começo um pouco tenso. Ela aconteceucassino galera betnovembrocassino galera bet2014, no lindo apartamento onde ele vivia,cassino galera betNova York, com grandes janelas que se abriam para uma praça.
Como jornalista, minha missão era capturar a maneira única como Sacks via a diversidade da vida humana. E tentar mostrar como, ao ser confrontado com pessoas às voltas com doenças ou síndromes congênitas incuráveis, esse médico respondiacassino galera betum jeito diferente.
Sim, ele percebia os enormes desafios que seus pacientes enfrentavam. Mas também se maravilhava com a inventividade, a variedadecassino galera betrespostas que nós, humanos, criamos quando certas portas, por uma razão ou outra, se fecham para nós.
Parece pouca coisa mas, ao descrever as experiências dos pacientes por esse prisma, Sacks ia, aos poucos, mudando a forma como nós, leitores, pensávamos as chamadas "deficiências". Vendo por aquele ângulo, não havia mais vítimas ou figurascassino galera betpena.
A Mônica jornalista queria, então, levar aos quatro cantos do mundo, por meiocassino galera betum documentáriocassino galera betrádio do Serviço Mundial da BBC, o pensamento libertador desse médico.
Mas, secretamente, uma outra Mônica naquela sala queria dizer a Oliver Sacks que ele tinha feito uma diferença enorme na vida dela.
Deficiência Visual
Eu tenho uma distrofia degenerativa na retina chamada Retinose Pigmentar. Isso quer dizer que as células fotossensíveis na minha retina estão, aos poucos, morrendo. Não existe cura e não sei onde isso vai parar - mas minha visão já está bem ruim. E é possível que eu fique cega.
Pouco depoiscassino galera betouvir esse diagnóstico, há uns 18 anos, uma pessoa colocou um livro na minha mão. Era A Ilha dos Daltônicos,cassino galera betOliver Sacks.
Esse foi o meu primeiro contato com o "olhar" do neurologista. E desde então, sigo pela vida com a voz sã e encorajadora desse homem no meu ouvido.
Sacks não entendeu, à primeira vista, por que a entrevistadora estava contando a históriacassino galera betsua família, do irmão que também tinha Retinose, do pai que sofria para aceitar a deficiência visual dos filhos.
Mas a atmosfera mudou - e a conversa passou a fluir - quando eu expliquei o efeito que A Ilha dos Daltônicos tinha tido na minha vida.
Pescaria Noturna
Agora com um sorriso na voz, Sacks começou a falar sobre o livro.
A Ilha dos Daltônicos relata uma visitacassino galera betOliver Sacks a uma ilha remota no Pacífico - Pingelap - onde grande parte da população tem uma síndrome congênita que afeta seus olhos chamada Acromatopsia. Como eu, esses ilhéus têm extrema sensibilidade à luz. Outra característica da síndrome é o daltonismo - ou seja, não conseguem ver cores.
"Eles usam chapéus para proteger os olhos da luminosidade, mas à noite se transformam. São os pescadores noturnoscassino galera betPingelap. Toda a pesca na ilha fica a cargo dessa cultura particularcassino galera betdeficientes - mascassino galera betcerta forma, eficientes - com visão alterada", disse Sacks.
O grupocassino galera bet"eficientes" também dominava uma técnica particularcassino galera betbordado, lembrou Sacks.
"Para olhos normais,cassino galera betcondições normaiscassino galera betluminosidade, seus bordados ecassino galera betarte parecem massascassino galera betcor caóticas e sem signiticado. Mas quando a noite cai e todos nós deixamoscassino galera betver por meio dos cones (células fotossensíveis que usamos para enxergar durante o dia), usando apenas os bastonetes (células fotossensíveis que usamos para enxergar à noite), você pode ver lindos padrões e imagenscassino galera bettermoscassino galera betluminosidade e brilho."
Deficiência ou eficiência?
"Cheguei (à ilha) todo arrogante, pensando, 'eu tenho visão normal, consigo ver todas as cores, coitada dessa gente'. Mas me via conversando com meia dúziacassino galera betpessoas para quem (o coitado) era eu. Eles achavam que eu estava sendo ofuscado por essa coisa superficial que eu chamavacassino galera bet'cor', algo provavelmente sem importância. E enquanto isso, eu deixavacassino galera betperceber a real essência visual do mundo: luminosidade, textura, profundidade, etc."
Enquanto Sacks recordava suas descobertas na ilha Pingelap, eu ia sentindo a força libertadora daquele pensamento, a mesma que sentira ao ler seu livro, tantos anos atrás.
"Seu livro foi uma revelação para mim", eu disse.
"Se você me permite perguntar, como écassino galera betvisão? Como você descreveria seu mundo visual?"
Experiência compartilhada
Quando descrevi minhas estratégias para viver com cada vez menos visão, descobri, surpresa, que Oliver Sacks conhecia meus "truques". Cegocassino galera betum olho por contacassino galera betum tumor e parcialmente surdo devido à idade, agora era ele quem me contava suas experiências.
Ele também andava no lado da rua onde havia sombra. E se assustava quando,cassino galera betrepente, uma pessoa surgia no seu reduzido campocassino galera betvisão.
"Sou cegocassino galera betum olho e tenho catarata e outros problemas no outro olho. A catarata gera uma névoa luminosa que provoca uma cegueira parcial, então eu evito luzes fortes no meu olho, embora precisecassino galera betboa iluminação naquilo que estou olhando."
A névoa luminosa também me acompanhavacassino galera betdias ensolarados… mascassino galera betum aspecto minha estratégia se diferenciava da dele: eu me recusava - e ainda me recuso - a usar uma bengala branca, um símbolo da deficiência visual.
"Sou bem vaidosa", confessei. "Além disso, quando estoucassino galera betáreas cobertas, protegidas da luz, me sinto mais confortável. As pessoas oferecem ajuda, e não quero que fiquem constrangidas. Acho difícil administrar esse símbolo da cegueira."
Falei tambémcassino galera betum sonho que tenho: possuir uma bengala que seja linda, um verdadeiro objetocassino galera betdesejo.
"Eu gostariacassino galera betconvidar um designer incrível para criar bengalas maravilhosas, objetos bonitos que eu teria prazercassino galera better comigo e que também me ajudariam a andar por aí."
Oliver Sacks me escutavacassino galera betsilêncio. De repente, se levantou e disse: "Me aguarde um momento".
Meio sem entender, fiquei ali naquela sala imensa, com paredes forradascassino galera betlivros, um piano ao canto, a mesacassino galera bettrabalhocassino galera betSacks ao meu lado.
Bengalas e Calçadeiras
Quando o médico voltou, ouvi um barulhinhocassino galera betmadeira batendocassino galera betmadeira. Não acreditei. "São as suas bengalas?", perguntei, rindo.
Ele também ria. "Você é jovem e bonita. Não sou nenhum dos dois e não acho que seja vaidoso. Uso bengala sem orgulho ou vergonha porque tenho dificuldadecassino galera betme equilibrar. Tenho uma coleção grande, mas aqui estão quatro delas."
Mais uma vantagemcassino galera betnão se enxergar bem, pensei… todo mundo fica jovem e bonito. Ou quem sabe beleza ganhe novos significados?
O fato é, eu estava adorando aquele encontro. Me apaixonei pela irreverência e espírito lúdico do meu entrevistado.
Sacks me entregoucassino galera betbengala favorita,cassino galera betcor laranja forte, cheiacassino galera betelásticos coloridos no punho.
"(Os elásticos) dão firmeza para as mãos e também permitem que eu coloque a bengala contra a parede sem que ela caia. Mas o principal é, tornam essa a minha bengala - não uma bengala qualquer."
Agradeci muito pelo privilégiocassino galera betconhecer as bengalascassino galera betOliver Sacks. Ainda rindo, ele disse: "Isso porque você ainda não conhece minha coleçãocassino galera betcalçadeiras".
Seu jeitocassino galera betnadar
Também falamos do lado mais difícil. Há anos, venho aprendendo a ver o mundocassino galera betum jeito diferente e, na maior parte do tempo, me acho uma pessoacassino galera betsorte. Mas não consigo transferir minha vivência interior para o outro,cassino galera betparticular, para as pessoas queridas. Sei que a minha perdacassino galera betvisão afeta minha família e, especialmente, meu pai.
Como expressar a riqueza da minha experiênciacassino galera betvida? Como falar da Mônica que minha vivência vai aos poucos moldando? Como explicar que, sim, eu não escolheria perder a visão. Mas, se essa porta se fecha, que portas estão se abrindo para mim?
Perguntei a Oliver Sacks o que ele diria a uma mãe cujo filho perdeu a visão por alguma razão.
A resposta me comoveu.
"Meu pai nadou até os 94 anos, e eu nado todos os dias. Adoro estar embaixo d'água. (Quando nado), não me sinto cego, surdo, manco e com 81 anos. Só sinto o prazercassino galera betnadar. Temoscassino galera betencontrar nosso jeitocassino galera betnadar, aquilo que nos vem mais naturalmente e com alegria. Para cada pessoa, existe um equivalente ao nadar."
Para mim, no entanto, o momento mais poético do meu encontro com Oliver Sacks não foi capturado pelo microfone da BBC. Após a entrevista, ele me chamou para perto da janela e perguntou: "Você consegue ver as cores das árvores na praça?"
Bem, na verdade, eu não conseguia. Mas vejo as árvores agora, na minha lembrança, recriadas pelas palavras dele e vistas pelos olhos amorosos do homem que, durante anos, admirou os outonos dourados naquela praçacassino galera betNova York.
Despedida
Em uma horacassino galera betconversa, Sacks faloucassino galera betmuita coisa. Ele continuava ativo, escrevendo e viajando, mas o ritmo era mais lento. Esse era o lado bomcassino galera betenvelhecer, explicou:
"De certa forma, fico contente por estar com 80 anos, porque (a idade) traz um sentimento paradoxalcassino galera betliberdade e lazer. As urgênciascassino galera betantes já não me oprimem."
Refletindo sobre as possíveis "vantagens"cassino galera betse perder um olho, o escritor faloucassino galera betpintura e do pintor Rembrandt:
"Hoje, vivocassino galera betum mundo totalmente plano, vejo superfícies sobrepostas umas sobre as outrascassino galera betvezcassino galera betobjetos dispostoscassino galera betprofundidade. Isso significa que vejo o mundo como se fosse uma fotografia, ou uma fotografiacassino galera betmovimento. Acho que isso aumentou um certo prazer estético e admiração por pinturas."
"Aliás, já foi sugerido que Rembrandt e outros artistas talvez tivessem apenas um olho porque os olhos são tão divergentes que não poderiam ter sido usados simultaneamente."
Em fevereirocassino galera bet2015,cassino galera betartigo publicado no New York Times, Oliver Sacks anunciou que tinha sido diagnosticado com um câncer terminal. Sua autobiografia, On the Move: A Life, foi lançadacassino galera betmaio. O escritor morreu três meses depois.
Losing My Sight and Learning to Swim será transmitido pelo Serviço Mundial da BBCcassino galera betinglês no dia 19cassino galera betoutubro às 21h, horário do Brasil, e pode ser ouvido pelo site. O programa também ficará disponível para ouvir on demand ou para ser baixado como podcast.