Cientista brasileiro descobre 'botão' que ativa instinto predatóriocamundongos:
A equipeYale queria então determinar se a amígdala controla comportamentos predatórios, e os resultados sugerem que sim.
Araújo e a equipe usaram uma técnica chamada optogenética: primeiramente, infectaram os camundongos com um vírus que torna os neurônios no cérebro sensíveis à luz azul. E com o usouma fibra ótica, iluminaram a amígdala com um laser azul, o que fez os animais tensionarem a mandíbula e os músculos do pescoço.
Aplicações
Esse comportamento não ocorreu quando outras áreas do cérebro foram estimuladas.
"Conhecemos muito pouco sobre o funcionamento do mecanismocaça. Ele é um arsenalprogramas motores que regular uma sérieatividade, da velocidade à aniquilação da presa. Nós desvendamos parte do circuito", explicou Araújo à BBC Brasil.
Quando o laser estava ligado, os camundongos caçaram tudo o que foi posto àfrente -petiscos como grilos a objetos como tampasgarrafa.
O mesmo comportamento foi observado quando os cientistas usaram outra técnica para estimular a amígdala e ativar os neurônios -vezluz, moléculas.
Comportamentos predatórios e alimentares foram observados mesmo quando não havia nada para os camundongos caçarem.
Em gaiolas vazias, por exemplo, o estímulo fez com que os camundongos posicionassem as patas dianteiras como se estivessem segurando alimento e moviam as bocas como se estivessem mastigando.
O cientista brasileiro ressalta, porém, que os espécimes não apresentaram comportamento agressivo uns com os outros. Se inicialmente a equipe pensou na hipóteseagressividade mais generalizada, o uso do laser não fez com que os camundongos brigassem.
"Uma das questões que temos que responder é porque os estímulos não resultaramataques. Algo no cérebro dos ratos impediu que eles agredissem uns aos outros. Na verdade, fizemos também testes com brinquedos simulando animaisvários tamanhos e os ratos não atacaram à medida que usamos brinquedos maiores."
Araújo acredita que o trabalhoYale abre espaço para mais estudoscomportamento animal que podem ajudar a desvendar comportamentos, incluindo um possível "botão" que ative a agressividade tantoanimais quanto humanos.
"Em um nível conceitual, um trabalho como o nosso pode ajudar a melhorar o entendimentomecanismos humanos. Há trabalhos, por exemplo, que estudam certos tiposdemência que resultampacientes mordendo objetos. Na questão da agressividade, ainda há uma debate muito grande e que envolve o quanto o ambiente influencia um comportamento violento, por exemplo", disse.
"Outro ponto importante é a constataçãoque uma rede neural relativamente simples controla um processo complexo como a caça, e que a amígdala central é uma região fundamental para ele."
O cientista paulista vê aplicações da descoberta para pesquisas no campo da robótica, como o sistemanavegaçãoveículos controlados à distância, que precisam operarambientes complexos como outros planetas.
Mas ele afirma que ainda há muito trabalho a ser feito no mapeamentoredes neurais e no funcionamento do cérebro.
"Estamos ganhando um entendimento da lógicafuncionamento desses circuitosum emaranhadofios, algo que as novas tecnologias tornaram bem mais fácil que há dez anos. Mas há ainda há muitos fios que precisamos puxar."