Empreendedor negro ganha 32% menos e desigualdade desafia novo governo:csgo apostas

Crédito, Fernando Frazão/Agência Brasil

Legenda da foto, Trabalhadores por conta própria e empregadores negros têm menos escolaridade, empresas menores e trabalham mais sozinhos, mostra Sebrae

Assim, num país onde 30% dos ocupados trabalham por conta própria ou são empregadores, o novo governo tem como desafio enfrentar a desigualdade não só no mercadocsgo apostastrabalho formal, mas também entre os maiscsgo apostas30 milhõescsgo apostasempreendedores, dizem economistas.

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Nascido do sindicalismo e bem sucedidocsgo apostaspolíticas sociais para os miseráveis, o PT enfrenta no terceiro mandatocsgo apostasLula o desafiocsgo apostasdesenhar políticas para uma classe média baixacsgo apostas"microempreendedores por necessidade", cujo votocsgo apostasgrande medida se voltou à direita nas últimas eleições.

Desigualdadecsgo apostasraça e gênero entre empreendedores

Segundo o estudo do Sebrae, os negros (pretos e pardos) representam 52% dos empreendedores brasileiros, considerando como parte deste grupo trabalhadores por conta própria e empregadores.

Mas, enquanto os empreendedores negros tinham renda média mensalcsgo apostasR$ 2.079 no segundo trimestrecsgo apostas2022, os brancos ganhavam R$ 3.040. Ou seja: o rendimentocsgo apostasempreendedores negros écsgo apostasmédia 32% inferior aocsgo apostasempreendedores brancos.

Considerando o gênero, as mulheres negras têm o mais baixo rendimento entre os empreendedores,csgo apostasR$ 1.852, comparado a R$ 2.188 para homens negros, R$ 2.706 para mulheres brancas e R$ 3.231 para homens brancos, mostra o levantamento do Sebrae.

Portanto, entre homens brancos empreendedores e mulheres negras empreendedoras, a diferençacsgo apostasrenda média écsgo apostas74%.

"O país estruturalmente teve uma inserção tardiacsgo apostasmulheres e negros no mercadocsgo apostastrabalho. Isso vale para todas as profissões e para empreendedores também", observa Marco Aurélio Bedê, analistacsgo apostasgestão estratégica do Sebrae e responsável pela pesquisa, sobre um dos motivos por trás da diferençacsgo apostasremuneração.

O economista afirma também que, além dessa inserção tardia — um resultadocsgo apostasfatores como a escravidão e a desigualdadecsgo apostaspapéis sociaiscsgo apostasgênero —, os brancoscsgo apostasgeral têm escolaridade superior aos negros, o que também afeta o nívelcsgo apostasrendimentos.

Essa diferençacsgo apostasescolaridade é perceptível no próprio perfil dos empreendedores: 41% dos donoscsgo apostasnegócio negros têm apenas o ensino fundamental, comparado a 28% dos brancos. Já entre os empreendedores com ensino superior, 32% são brancos, ante 13%csgo apostasnegros.

Entre as mulheres, apesarcsgo apostaselas atualmente superarem os homenscsgo apostasformação escolar, há a particularidadecsgo apostasmuitas vezes atuarem no mercadocsgo apostastrabalho para complementar a renda da família.

Com o cuidadocsgo apostascasa, filhos e idosos, elas acabam se dedicando apenas parcialmente a seus negócios, o que também impacta o nívelcsgo apostasrendimentos.

"E ainda tem a questão culturalcsgo apostasque, para mesmas atividades, é comum encontrar mulheres ganhando menos", observa o analista do Sebrae.

Empreendedorismo por necessidade

A análise do perfil dos empreendedores brasileiros por raça e gênero deixa evidente que boa parte desses considerados "donoscsgo apostasnegócios" são na verdade empreendedores por necessidade — não aqueles que criam novas empresas a partircsgo apostasinovações, mas os que abrem pequenos negócios para sobreviver.

A maioria nem sequer tem empregados, oferecendo ao mercado apenas a própria mãocsgo apostasobra.

Entre mulheres negras, apenas 8% das empreendedoras são empregadoras, comparado a 11% dos homens negros, 17% das mulheres brancas e 19% dos homens brancos que podem contar com funcionários emcsgo apostasatividade empreendedora.

Dentro da pequena parcelacsgo apostasempregadores negros, a grande maioria (82%) tem apenas entre um e cinco empregados. Assim, alémcsgo apostastrabalharem mais por conta própria, os empreendedores negros também têm negócioscsgo apostasmenor porte.

Crédito, Tânia Rêgo/Agência Brasil

Legenda da foto, Dentro da pequena parcelacsgo apostasempregadores negros, a grande maioria (82%) tem apenas entre 1 e 5 empregados

"A motivação por necessidade é maior entre negros e está ligada à baixa escolaridade e à taxacsgo apostasdesemprego maior nesse grupo", afirma o economista do Sebrae.

"Quem inicia um negócio por necessidade,csgo apostasgeral começa com uma lacunacsgo apostastermoscsgo apostasformação ecsgo apostastempo para pensar o empreendimento. Muitas vezes, com menos capital e no espírito do desespero", completa o analista.

Bruno Imaizumi, economista especializadocsgo apostasmercadocsgo apostastrabalho da LCA Consultores, observa que esses não são os únicos problemas enfrentados pelos empreendedores por necessidade.

"Temos que lembrar que o trabalhador por conta própria, no geral, tem um rendimento muito volátil, muito inconstante mês a mês. Com menos qualificação, ele vai ter mais dificuldadecsgo apostasque seu negócio se mantenha,csgo apostasconseguir uma renda maior,csgo apostasempregar mais gente", diz.

As dificuldades enfrentadas por esses empreendedores por necessidade se refletem no baixo nívelcsgo apostascontribuição à Previdência Social.

Segundo a pesquisa do Sebrae, no segundo trimestrecsgo apostas2022, 72% dos empreendedores brasileiros negros não contribuíam para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), comparado a 52% dos brancos. Assim, a situaçãocsgo apostasprecariedade desses trabalhadores durante a idade ativa tende a se reproduzir também na velhice, quando terão menos renda disponível via benefícios.

Desafios para o novo governo

A desigualdade entre empreendedores, parcela crescente no mercadocsgo apostastrabalho brasileiro e global, impõe desafios ao novo governo, avalia o analista do Sebrae.

"É nítido que é importante ter uma políticacsgo apostasapoio às empreendedoras mulheres e, particularmente, aos empreendedores negros, para que essas lacunas possam ser diminuídas", defende Marco Bedê.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'É nítido que é importante ter uma políticacsgo apostasapoio às empreendedoras mulheres e, particularmente, aos empreendedores negros, para que essas lacunas possam ser diminuídas', defende Marco Aurélio Bedê, do Sebrae

Segundo ele, o que precisa ser feito nesse sentido ainda terá que ser definido, mas vai desde a ampliação do nívelcsgo apostasescolaridade, passando pela ofertacsgo apostascreches, capacitaçãocsgo apostasempreendedores e políticascsgo apostasacesso a crédito com menos burocracia e taxas mais acessíveis.

Em 2022, entre o primeiro e o segundo turno das eleições, o governo Jair Bolsonaro chegou a lançar um programa da Caixa Econômica Federalcsgo apostascrédito para mulheres empreendedoras. Parte do pacote do ex-presidente na tentativacsgo apostasse reeleger, o programa ainda é pouco conhecido.

Para o analista do Sebrae, o começo do novo governo é um momento propício para essa discussão entrar na pauta.

"Estamos num momentocsgo apostasque a discussão está começando. O governo que assume, no passado, teve uma experiência forte com redução das desigualdades. Estamos num momentocsgo apostasque elas voltaram a aumentar, e é preciso mover políticas públicas para reduzi-las", diz Bedê.

Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, avalia que faltou nas últimas décadas um olhar do poder público para o pequeno empreendedor. Ele lembra, por exemplo, da política dos governos petistascsgo apostas"campeões nacionais", que priorizou investimentos do Banco Nacionalcsgo apostasDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES)csgo apostasgrandes empresas.

"A pandemia, querendo ou não, marcou uma reversão dessa tendência dos desembolsos do BNDES, que se voltaram para pequenas e médias empresas. Pode ser um ponto positivo se o novo governo mantiver essa política adotada durante a pandemia, focando mais nas micro e pequenas empresas, já que elas geram a maior parte dos empregos formais no país", defende.

Para Imaizumi, garantir a melhora do ambientecsgo apostasnegócios atravéscsgo apostasreformas estruturais, como a tributária e a administrativa, também seria importante para melhorar o cenário econômico e fortalecer a atividade empreendedora.

Do sindicalismo ao empreendedorismo por necessidade

O sociólogo Celso Rochacsgo apostasBarros, autor do livro PT, uma história (Cia. Das Letras, 2022), observa que esse olhar para os micro e pequenos empresários será um desafio dentro da trajetória do PT, partido que nasceu ligado ao sindicalismo.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Os ministros Simone Tebet (Planejamento) e Fernando Haddad (Fazenda) ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

"Em algum ponto entre os anos 1980 e 1990, a industrialização brasileira travou e começou a andar para trás. Ali já ficou claro que o Brasil não viraria um 'Grande ABC', e que o PT precisariacsgo apostasestratégias específicas para atingir os trabalhadores desorganizados,csgo apostasespecial os do setor informal", lembra Barros.

Ele lembra que, nessa época, houve uma sériecsgo apostasiniciativas nesse sentido — aqui, por exemplo, surgiu a ideia do Bolsa-Escola, que depois se tornaria o Bolsa-Família — mas observa que a grande aproximação do PT com os informais só acontece mesmo quando Lula chega ao governo e implementacsgo apostasagendacsgo apostaspolíticas sociais.

Agora, o PTcsgo apostasvolta ao poder enfrenta um novo desafio: ocsgo apostasfazer políticas públicas que respondam às necessidades econômicascsgo apostasuma classe média baixa, formada por trabalhadores autônomos e pequenos empreendedores, quecsgo apostasgrande medida se afastou do partido rumo ao bolsonarimo.

"Essa é uma pergunta que os petistas se fazem com frequência. Ainda não há, nem no PT nemcsgo apostaslugar nenhum, uma resposta definitiva, mas acho que parte da questão é o partido entender que os trabalhadores no setorcsgo apostasserviços, ou os micro (muito micro mesmo) empreendedores têm interesses específicos", observa o sociólogo.

"Eles precisam muito da redecsgo apostasproteção das políticas sociais, mas, daícsgo apostasdiante, precisamcsgo apostascondições para prosperar, e elas nem sempre passam por se tornar um trabalhador da indústria ou um funcionário público. Haverá um longo aprendizado sobre como oferecer boas políticascsgo apostascrédito para os pequenos empreendedores, como regulá-los sem sufocá-los."