Marina Silva diz que 'Lula mudou' e dará 'mais alta prioridade' a combate ao desmatamento:astropay betano
Ela deixou o ministérioastropay betano2008 após desentendimentos com ministrosastropay betanooutras pastas, que a acusavamastropay betanotravar projetosastropay betanodesenvolvimento, como o Programaastropay betanoAceleração do Crescimento, na época gerido por Dilma Rousseff. Sem receber apoioastropay betanoLula dianteastropay betanopressões para flexibilizar regras ambientais, pediu demissão.
Agora, com a vitória do ex-presidente nas urnas, Marina Silva volta a ser cotada para comandar o ministério. Perguntada pela BBC News Brasil por que considera que dessa vez seria diferente, Marina Silva disse que "Lula mudou". Segundo ela, no próximo governo, proteção ambiental será um compromissoastropay betanotodos os ministérios, não apenas do Ministério do Meio Ambiente.
"O presidente Lula mudou. Naquela época, o combate às atividades ilegais e a política ambiental eram diretrizes só do ministério (do Meio Ambiente). Agora, o próprio presidente assumiu como sendoastropay betanotodo o governo", afirmou.
"Foi ele que disse que a política ambiental vai ser transversal. Foi ele que disse que o clima está no mais alto nívelastropay betanoprioridade e que queremos chegar ao desmatamento zero."
Na Cúpula do Clima das Nações Unidos, sediadaastropay betanoSharm El-Sheikh, no Egito, Marina Silva tem se reunido com lideranças internacionais, como a vice-presidente da Colômbia, o Ministro do Meio Ambiente do Reino Unido e o enviado especial dos Estados Unidos, John Kerry.
Ela não quis confirmar se já recebeu convite para ser ministra. "Temos que esperar o presidente Lula se manifestar com tranquilidade". Mas é abordada pelos corredores e procurada por lideranças estrangeiras como se já tivesse sido oficializada.
Durante essas conversas, pediu que países ricos, como Estados Unidos e Reino Unido, enviem recursos ao Fundo Amazônia, que financia atividadesastropay betanoproteção ambiental na floresta. Atualmente, Noruega e Alemanha contribuem com esse fundo, que ficou paralisado durante o governoastropay betanoJair Bolsonaro.
"Todas as lideranças com quem conversei sinalizaram que têm interesseastropay betanoaumentar a cooperação com o Brasil. Nós somos o maior país da América Latina. Temos um papel importante no terreno da geopolítica e o mundo tem consciência disso. Sabe que a gente vive uma crise econômica, social e política e está muito solidárioastropay betanoajudar o Brasil nesses quatro anos", disse Marina Silva.
Veja os principais trechos da entrevista:
astropay betano BBC News Brasil - astropay betano O Brasil chega à COP27 com uma taxaastropay betanodesmatamento recorde nos últimos anos e um aumento nas emissõesastropay betanogases do efeito estufa. A senhora acredita que é possível reverter essa tendência aindaastropay betano2023, no primeiro ano do governo Lula?
astropay betano Marina Silva - Nós temos uma diferença na abordagem do que vinha sendo feito no governo Bolsonaro, que foi o desmonte das políticas públicasastropay betanomodo geral, mas particularmente na área ambiental. Tivemos corteastropay betanoorçamento, intimidação das equipes [de fiscalização], substituiçãoastropay betanotécnicos por policiais e a expectativaastropay betanomudar a lei para favorecer criminosos.
Tudo isso muda agora, com uma expectativaastropay betanoque a sociedade saiba que a prioridade é combater sem trégua o desmatamento criminoso, para que se alcance o desmatamento zero. O Brasil vai recuperar as políticas que já deram certo e atualizá-las, para que a gente consiga o resultado necessário para reverter esse quadro atual. Não é algo fácil, porque hoje nós temos uma situação incomparavelmente mais grave do que tínhamosastropay betano2003. Mas temos uma vantagem: a experiência do que deu certo. Sabemos o que fazer e como fazer.
Agora é uma questãoastropay betanoarticular essas políticas para conseguir uma resposta efetiva. Com certeza fica difícil você dizer o número percentual [de queda do desmatamento]. Eu mesma, quando fui ministra do Meio Ambiente e fizemos o planejamento, estabeleci metas inferiores àquilo que nós realmente alcançamos. Então eu prefiro seguir pelo caminho sabendo que não há mais tempo a perder e que a resposta precisa ter a urgência que a gravidade do problema exige. O Brasil tem o compromisso do desmatamento zero até 2030 e é esse o objetivo que vamos perseguir.
astropay betano BBC News Brasil - A senhora falouastropay betanoresgatar e atualizar políticas na área ambiental. Mas o que foi feito a partirastropay betano2003, no primeiro governo Lula, que pode ser copiado agora e o que precisa ser modificado para alcançar essa metaastropay betanodesmatamento zero?
astropay betano Silva - Quando eu e o presidente Lula fizemos nosso reencontro para a composição política e programática — do pontoastropay betanovista pessoal, nós nunca rompemos — divulgamos um documento no qual ele se compromete com a sociedade brasileira. Nesse documento, está estabelecido o que será feito para resgatar a agenda ambiental perdida. O Planoastropay betanoPrevençãoastropay betanoControle do Desmatamento é algo a ser resgatado, mas agregando novos instrumentos e novas medidas, como, por exemplo, na áreaastropay betanoordenamento territorial e destinaçãoastropay betanoáreas florestadas.
Precisamos pensar como destino as terras indígenas e as unidadesastropay betanoconservação e uso sustentável. Isso é uma medida que já estava estabelecida lá atrás, mas que agora virou uma prioridadeastropay betanoalto nível. Também precisamos atualizar uma ação mais integrada com os Estados. O plano surge como ação do Governo Federal, mas, para ser realmente integrado, precisa da ação dos outros entes federativos.
Mas o Governo Federal não vai esperar pelos Estados e precisa começar a fazer o trabalho. Ou seja, a concepção do plano que tínhamos continua atual, com o ordenamento territorial e fundiário, o combate às práticas ilegais e o desenvolvimento sustentável. Mas isso agora está combinado com a economia e a infraestrutura. Também precisamos transitar para uma agriculturaastropay betanobaixo carbono. Todos esses fatores são instrumentos novos que farão a diferença. Até porque não basta tirar e proibir o que não pode. É preciso colocar alguma coisa no lugar, para melhorar a vida das pessoas, gerar emprego e renda, possibilitar investimentos.
O que é muito interessanteastropay betanover é que todos os parceiros do Brasil estão ávidos para voltar a cooperar. Nas conversas que tive com Alemanha, Reino Unido, Canadá, Noruega, enfim, todos os parceiros têm sinalizado e entendido que o Brasil é o país que pode mudar o paradigma, porque reúne as melhores condições para fazer isso. E as pessoas querem ver o Brasil liderando pelo exemplo.
astropay betano BBC News Brasil - Quando a senhora foi ministra do Meio Ambiente, colocouastropay betanoação o projeto que foi capazastropay betanoreduzir o desmatamentoastropay betanomaisastropay betano60% até o fim do governo Lula. Mas a senhora deixou o ministério, segundo o que se falava na época, por pressõesastropay betanooutras pastas, que reclamavam que o ministério do Meio Ambiente retardava projetosastropay betanodesenvolvimento. O que faz a senhora acreditar que o próximo governo Lula será diferente?
astropay betano Silva - O mundo mudou. Aqueles que não são negacionistas mudaram também. Se nós pararmos para pensarastropay betanotermos políticos, você imaginaria uma frente ampla com o PSDB apoiando o Lula? Ninguém imaginaria isso. Em situações extremas, as pessoas que têm compromisso com aquilo que existeastropay betanomais importante para a vida, para os direitos humanos e para a proteção do meio ambiente são capazesastropay betanoproduzir mudanças.
E o presidente Lula mudou. Naquela época, as diretrizesastropay betanocontrole e participação social, o combate às atividades ilegais, a política ambiental, eram diretrizes só do Ministério do Meio Ambiente. Agora, o próprio presidente assumiu que essas instâncias serãoastropay betanotodo o governo. Lula disse que a política ambiental vai ser transversal. Ele afirmou que o clima está no mais alto nívelastropay betanoprioridade e queremos chegar ao desmatamento zero.
O que queremos fazer é uma reindustrialização jáastropay betanoacordo com os objetivos estabelecidos no Acordoastropay betanoParis. Queremos também transitar para a agriculturaastropay betanobaixo carbono.
E Lula disse isso tudo no discursoastropay betanovitória. Naquele momento, ele poderia escolher qualquer coisa para falar, mas escolheu exatamente aquilo que é mais importante para o Brasil nesse momento. Ele falouastropay betanodemocracia,astropay betanocombate à desigualdade,astropay betanoenfrentamento da mudança climática eastropay betanoalcançar o desmatamento zero, respeitando as populações tradicionais e criando um novo cicloastropay betanoprosperidade.
astropay betano BBC News Brasil - Além da redução da taxaastropay betanodesmatamento, outras marcas do governo Lula foram as grandes obrasastropay betanohidrelétricas e a exploraçãoastropay betanopetróleo no Pré-Sal. O que a senhora acredita que deva mudar a respeito dessas áreas a partirastropay betano2023?
astropay betano Silva - Eu acredito que o próprio presidente Lula já sinalizou o que vai mudar e eu não posso falar isso por ele. Mas posso dizer aquilo que ele já declarou. Em Manaus, ele disse que agora nós temos alternativas para produçãoastropay betanoenergia, como as usinas eólicas, a biomassa e a energia solar.
Elas já têm um custo mais barato do que a própria energia que vem das hidrelétricas. Esses grandes empreendimentos podem ser substituídos pela geraçãoastropay betanoenergia limpa, renovável, segura e com boa distribuição. Elas, inclusive, ganhamastropay betanoeficiência, pois o custo [da energia obtida pelas hidrelétricas] é caro e há uma perdaastropay betano25% ao longo do processoastropay betanotransmissão por longa distância.
Quando você trabalha com parques eólicos,astropay betanoenergia solar ouastropay betanobiomassa, você tira o potencial máximo daquela localidade. Então essas alternativas vêmastropay betanosocorro do objetivoastropay betanouma Amazônia preservada. E também ajudam a fazer com que o Brasil não apenas lidere o processoastropay betanopreservação das florestas na América Latina, mas no mundo todo, especialmente na Ásia e na África.
Nós vemos o presidente Lula muito imbuídoastropay betanoum esforço para ajudar a República Democrática do Congo, a Indonésia e outros países com megaflorestas. Essa ação vai ser importante, pela liderança do Brasil.
Queremos cooperação técnico-científica, investimentos para a bioeconomia e para a infraestrutura. O Brasil pode ser o grande produtorastropay betanohidrogênio verde. Mas obviamente que não faremos isso com a mesma chantagem do que é feito agora, com a ideiaastropay betanoque só vamos proteger a floresta se nos pagarem.
O Brasil reduziuastropay betano83% o desmatamento com recursos próprios e, por isso, recebeu um bônus da Noruega e da Alemanha. E agora nós queremos ampliar o Fundo Amazônia. Eu conversei ontem com o Reino Unido, com a Alemanha, com o Canadá, com a Noruega, e vários agentes querem cooperar com o Brasil. Essas lideranças já se comprometeram a fazer mais investimentos na Amazônia e sinalizaram interesseastropay betanoaumentar a cooperação do Brasil. Elas têm a clareza da importância estratégica do nosso país, tanto na criaçãoastropay betanoum novo modeloastropay betanodesenvolvimento com a preservação das florestas, quanto no fortalecimento da democracia.
Somos o maior país da América Latina e temos um papel importante no terreno da geopolítica. O mundo tem consciência disso e sabe que nós vivemos uma crise econômica, social e política e está muito solidárioastropay betanoajudar nesses quatro anos. Nós vemos as respostas do pontoastropay betanovista social, econômico, ambiental e político, para estabilizar a nossa democracia.
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