Como fogo é usado para evitar incêndios no Cerrado e Pantanal:shark 1xbet
As queimadas são aplicadasshark 1xbetáreas diferentesshark 1xbetcada vez, para que os animais consigam fugir e a vegetação tenha temposhark 1xbetse regenerar. Agentes monitoram as chamas para mantê-las baixas e evitar que escapem para outras áreas.
Segundo o Instituto Chico Mendesshark 1xbetConservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ambiental federal, hoje 37 unidadesshark 1xbetconservação federais no Brasil já realizam as chamadas "queimas prescritas".
A técnica não é empregadashark 1xbetflorestas tropicais, como a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica. Nesses ambientes, mais úmidos, o fogo não costuma ocorrer naturalmente e tende a provocar danos maiores.
"É uma quebrashark 1xbetparadigma", diz à BBC News Brasil o coordenadorshark 1xbetPrevenção e Combate a Incêndios do ICMBio, João Morita.
Ele afirma que, ao incorporar o fogoshark 1xbetsuas políticas, o ICMBio conseguiu reduzir a incidênciashark 1xbetgrandes incêndiosshark 1xbetunidadesshark 1xbetconservação e atenuou conflitos com comunidades que dependem das queimadas para manter seus modosshark 1xbetvida.
O tema, porém, é controverso, e há várias iniciativas no país que buscam desencorajar o uso tradicional das queimadas por associá-las à degradação ambiental (leia mais abaixo).
Biomas íntimos do fogo
No Brasil, as queimas prescritas começaram a ser adotadasshark 1xbet2014, no Cerrado. Desde então, foram incorporadas por quase todos os 15 parques nacionais nesse bioma.
João Morita, do ICMBio, diz que a prática já reduziu a incidênciashark 1xbetgrandes incêndiosshark 1xbetlocais como a Serra Geral do Tocantins, a Serra da Canastra (MG), a Chapada das Mesas (MA) e a Chapada dos Guimarães (MT).
Na Chapada dos Veadeiros (GO), que sofreu um grande incêndioshark 1xbet2021, as queimas prescritas evitaram que as chamas chegassem às áreasshark 1xbetuso público, diz Morita.
Em 2017, a técnica passou a ser aplicada tambémshark 1xbetáreasshark 1xbetsavanas semelhantes ao Cerrado na Região Amazônica, como no Parque Nacional do Viruá (RR), na Reserva Biológica do Guaporé (RO) e no Parque Nacional dos Campos Amazônicos (RO e AM).
E,shark 1xbet2021, o método chegou ao Pantanal, um ano após o bioma sofrer incêndios devastadores.
Ali, a queima prescrita tem sido testada no Sesc Pantanal, a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPNM) do país, e ainda neste ano deve ser aplicada no Parque Nacional do Pantanal Matogrossense.
Morita, do ICMBio, diz que as espécies vegetais do Pantanal têm 70%shark 1xbetsimilaridade com as do Cerrado, o que torna a queima prescrita uma possível ferramenta para combater os incêndios catastróficos que têm afetado o bioma.
Ele diz que os pesquisadores à frente dos testes no Sesc Pantanal devem finalizar nos próximos meses uma publicação científica sobre os impactos da queima na fauna e flora locais.
A se confirmarem os efeitos positivos, Morita diz que a técnica tende a ser expandida aos poucos para outras partes do bioma.
O ICMBio também tem auxiliado órgãos estaduais a implantar o método - é o caso do Parque Estadual do Juquery, última área protegidashark 1xbetCerrado na Grande São Paulo.
O parque teve um grande incêndioshark 1xbet2021 e deve começar a fazer queimadas prescritas neste ano, segundo Morita.
Há ainda a intençãoshark 1xbetlevar a técnica no futuro para unidadesshark 1xbetconservação na Caatinga e no Pampa, segundo o gestor do ICMBio.
As queimas controladas também vêm ganhando espaço nos últimos anosshark 1xbetoutros países que têm sido duramente afetados por incêndios, como o Canadá, os EUA, a Austrália e Portugal.
Tanto no Brasil quantoshark 1xbetalguns desses países, gestoresshark 1xbetparques têm trocado experiências com povos indígenas e comunidades tradicionais, que há séculos manejam o fogoshark 1xbetterritórios com grande biodiversidade.
Fenômeno natural
Nos biomas brasileiros onde o ICMBio realiza queimas prescritas, o fogo pode ser provocado naturalmente por raios, normalmente no fim ou no início da estação chuvosa.
Nessas épocas, há alguma umidade no ar e na terra, o que ajuda a controlar as chamas.
As queimas prescritas tentam replicar esse fenômeno natural. Por isso, costumam ser feitas antes do auge da estiagem.
"O incêndio no auge da seca tem uma propagação muito mais veloz e é muito mais cruel, quente e severo", diz Morita.
"A queima prescrita é diferente: ela dá tempo aos animais se entocarem, fugirem ou voarem. Não é uma linhashark 1xbetfogo reta, porque queremos propiciar rotasshark 1xbetfuga", afirma.
Alémshark 1xbetreduzir o riscoshark 1xbetincêndios na seca, ele diz que a queima prescrita busca criar um mosaicoshark 1xbetpaisagens que favoreça a diversidadeshark 1xbetplantas e animais, já que cada espécie tende a preferir um tiposhark 1xbetambiente.
Morita afirma que as queimas também têm sido usadasshark 1xbetunidadesshark 1xbetconservação para eliminar plantas invasoras, como o eucalipto e o capim braquiária.
A função do fogo no Cerrado
No Cerrado, onde as queimas prescritas mais avançaram, a influência do fogo no ambiente é estudada há bastante tempo.
As chamas aceleram os ciclos ecológicos ao permitir a renovação da vegetação rasteira e quebrar a dormênciashark 1xbetsementes, que podem enfim germinar.
As folhas tenras da rebrota alimentam mamíferos, e as floresshark 1xbetabundância atraem polinizadores.
Um artigo publicadoshark 1xbet2019 na revista Ecology abordou a velocidade com que o Cerrado se regenera após o fogo.
Liderado pela bióloga Alessandra Fidelis, professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp), o estudo enfocou uma erva do Cerrado (Bulbostylis paradoxa, popularmente conhecida como "cabelo-de-índio") que começa a florescer 24 horas depois da queima.
Outro sinal da influência do fogo no Cerrado são suas árvores com cascas suberosas (com texturashark 1xbetcortiça), raízes profundas e troncos subterrâneos - características que as protegem das chamas.
Quando fica muito tempo sem queimar, a vegetação do Cerrado tende a se adensar, o que reduz os habitatsshark 1xbetplantas e animais adaptados a áreas mais abertas.
Morita diz que, no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (MT), por exemplo, há áreas que não queimam há maisshark 1xbet25 anos, o que provocou o desaparecimentoshark 1xbetalgumas veredas.
Uma das formações mais típicas do Cerrado, as veredas ocorrem à beirashark 1xbetrios e nascentes e se caracterizam por uma vegetação rasteira, na qual se destacam palmeirasshark 1xbetburiti.
Segundo Morita, a ausência do fogo fez com que algumas veredas do parque fossem tomadas por arbustos.
"Claro que não vamos queimar todas as veredas, mas estamos reabrindo as veredas que estavam fechadas", diz Morita.
Ele cita ainda os sinais da longa ausência do fogoshark 1xbetoutro ponto emblemático do parque, a cachoeira Véu da Noiva.
Em 1827, a então chamada Cachoeira do Inferno foi pintada pelo francês Aimé-Adrien Taunayshark 1xbetmeio a uma paisagem dominada por uma vegetação rasteira, com árvores restritas à mata ciliar.
Fotos atuais, porém, mostram que a área foi toda tomada por árvores e arbustos.
Manejo Integrado do Fogo
João Morita, do ICMBio, diz que a queima prescrita é uma das várias ações que compõem o Manejo Integrado do Fogo (MIF), política mais abrangente do órgão que regula o uso dessa ferramenta.
A política inclui outras técnicas, como o aceiro negro, quando se queimam faixasshark 1xbetvegetação para que sirvamshark 1xbetbarreira à propagação das chamas.
O MIF também inclui a realizaçãoshark 1xbetpesquisas sobre efeitos do fogo no ambiente e acordos sobre o usoshark 1xbetqueimadas com comunidades que vivamshark 1xbetunidadesshark 1xbetconservação ou suas imediações.
Segundo Morita, muitas dessas comunidades "precisam do fogo para a manutençãoshark 1xbetseus modosshark 1xbetvida".
Queimadas são usadas, por exemplo, na coivara, técnica agrícola amplamente difundida entre povos indígenas e comunidades rurais brasileiras.
Nela, abrem-se clareiras na mata com o auxílio do fogo para o cultivoshark 1xbetalimentos. As roças são depois abandonadas até que a floresta se regenere.
Outro exemplo é um método usado no Jalapão (TO), Oeste da Bahia e Serra do Espinhaço (MG), onde comunidades tradicionais usam o fogo para acelerar a rebrotashark 1xbetespécies vegetais usadas no seu sustento, como o capim dourado e flores sempre-vivas.
Segundo o ICMBio, hoje 197 unidadesshark 1xbetconservação federais,shark 1xbettodos os biomas brasileiros, trabalhamshark 1xbetalguma forma com o Manejo Integrado do Fogo (MIF).
Em vários pontos do país, no entanto, há iniciativas que buscam eliminar as queimadas das zonas rurais.
Na Amazônia, por exemplo, órgãos que assessoram agricultores têm pregado a substituição das queimadas por técnicas nas quais folhas e galhos podados são mantidos sobre o solo até se decomporem.
Em entrevista à BBCshark 1xbetnovembroshark 1xbet2021, o agrônomo Osvaldo Kato, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, disse que o crescimento da população e a diminuição das áreasshark 1xbetfloresta eram obstáculos à manutenção das queimadas tradicionais na Amazônia.
Segundo ele, "quando havia muita terra e menos gente", era possível aguardar muito anos até que as áreas queimadas para a aberturashark 1xbetroças se regenerassem e voltassem a ser cultivadas.
"Mas não dá mais temposhark 1xbetfazer isso", afirmou.
Nesse cenário, segundo ele, é preferível adotar métodos agroecológicos, que dispensam o fogo e permitem cultivar uma mesma área ininterruptamente.
Além disso, segundo Kato, qualquer tiposhark 1xbetqueimada injeta gás carbônico na atmosfera num momentoshark 1xbetque a humanidade precisa cortar emissões para frear o aquecimento global.
Movimentos contrários às queimadas também têm crescido na Caatinga, onde o fogo frequente é apontado como uma das principais causas para a crescente desertificação no bioma.
A própria legislação proíbe o uso do fogo para suprimir vegetação excetoshark 1xbetsituações pontuais, comoshark 1xbetpráticasshark 1xbetsubsistênciashark 1xbetcomunidades tradicionais oushark 1xbetqueimas controladasshark 1xbetunidadesshark 1xbetconservação. Em áreas privadas, realizar queimadas é ilegal a menos que haja autorização do órgão ambiental competente.
João Morita, do ICMBio, diz que, quando muito frequente ou mal empregado, o fogoshark 1xbetfato pode ser bastante nocivo. É o caso, segundo ele, das queimadas usadas para substituir florestas por pastagens ou expandir monoculturas (plantaçõesshark 1xbetuma única espécie).
Esse uso do fogo empobrece o ambiente e deve ser reprimido, defende o gestor do ICMBio.
Mas ele contesta a associação entre qualquer tiposhark 1xbetqueimada e o aquecimento global.
Morita diz que as queimas prescritasshark 1xbetambientesshark 1xbetsavana buscam eliminar principalmente o capim. E esse capim, quando incinerado, recupera 100%shark 1xbetsua massashark 1xbet18 meses, afirma ele.
Ou seja, todo o carbono emitido na queima é reabsorvido um ano e meio depois, segundo o gestor do ICMBio.
Por outro lado, diz Morita, quando incêndios ocorrem na estação seca, o fogo consome muitas árvores além do capim, gerando muito mais emissões.
Como ele afirma que incêndios vão continuar a ocorrer - sejam intencionais, acidentais ou naturais -, Morita diz que é preferível agir para limitar seus danos.
O gestor diz ainda que nem todas as comunidadesshark 1xbetunidadesshark 1xbetconservação têm condiçõesshark 1xbetabrir mão do fogo para abrir roças. Nesses casos, segundo ele, é melhor ordenar o uso das queimadas do que reprimi-las.
"Não é todo mundo que tem um trator ou a possibilidadeshark 1xbetreceber tecnologias alternativas ao fogo para produzir alimentos", diz João Morita.
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