Por que gasolina voltou a subir apesar dos atrasos da Petrobrasreajustar preços:
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil atribuem o aumento do preço médio dos combustíveis nos postos brasileiros a um ajuste natural do mercado motivado pelo crescimento na demanda e à subida nos valores da gasolina e do diesel vendidos pela refinaria privadaMataripe, na Bahia, responsável por cerca14% da capacidade totalrefino do país.
"Há primeirotudo o que eu entendo como ajustes naturais do mercado. Cada posto tentando recuperarmargem, dado que tivemos uma redução grande nos últimos meses", diz Pedro Rodrigues, sócio-diretor do Centro BrasileiroInfraestrutura (CBIE).
Segundo o analista, as diversas quedas seguidas registradas nos meses anteriores aumentaram o consumo entre os brasileiros -acordo com a ANP, as vendasgasolina no Brasil pelas distribuidoras no primeiro sementes deste ano cresceram 10,8%relação ao mesmo período2021 -, motivando os próprios postosgasolina a subirem os preços.
Os preços dos combustíveis são livres no Brasil, ou seja, cada posto pode estipular o preço da gasolina, do diesel ou do etanol que desejar.
"A defasagem do preço força uma maior demanda. E as empresas acabam repassando esse aumento ao consumidor porque identificam um descompasso dentro do próprio mercado", resume Juliana Inhasz, economista e professora do Insper (InstitutoEnsino e Pesquisa).
Além disso, a refinariaMataripe tem sido mais veloz do que a Petrobras para repassar as variações das cotações internacionais aos preçosseus produtos.
No início do mês, a refinaria elevou o preço da gasolina9,7% e o do diesel S-10,11,3%.
A empresa diz que seus preços "seguem critériosmercado, que levamconsideração variáveis como custo do petróleo, que é adquirido a preços internacionais, dólar e frete, podendo variar para cima ou para baixo".
Quanto a gasolina subiu?
Segundo a ANP, que monitora semanalmente os preços dos combustíveis nos postos brasileiros, entre 25setembro e 1outubro, a média do litro vendido nos postos eraR$ 4,81.
Na semana16 a 22outubro, porém, o preço médio avançou para R$ 4,88, o que já representava uma alta0,41% frente à semana anterior (R$ 4,86).
Entre 16 a 22outubro, o valor mais alto do litro encontrado pela agência foiR$ 6,90. No mesmo período, a região onde a gasolina está mais cara é o Nordeste, com uma médiapreçoR$ 5,10.
A alta atingiu também o diesel, que registrou nos mesmos dias seu primeiro aumento desde o fimjunho. O preço médio do litro avançouR$ 6,51 para R$ 6,59uma semana, um aumento1,22%.
E a Petrobras?
Os preços estão subindo apesar da Petrobras estar vendendo gasolina nas refinarias abaixo do preço praticado no mercado internacional.
A ParidadePreço Internacional (PPI), adotada pela estatal desde 2016, determina que a petroleira cobre, ao vender combustíveis para as distribuidoras brasileiras, preços compatíveis com os do exterior.
"A Petrobras,teoria, continua seguindo a paridade internacional, mas passou a repassar muito rapidamente as quedaspreço e está demorando mais para repassar as altas", diz o economista Rafael Schiozer, professorfinanças da FGV EAESP.
A defasagem ocorre porque desde setembro as cotações internacionais do petróleo e derivados voltaram a subir, devido a cortes na oferta por países produtores reunidos na Organização dos Países ExportadoresPetróleo (Opep).
Antes disso, porém, o preço dos combustíveis no Brasil estavaqueda devido, principalmente, à redução do valor do barrilpetróleo no mercado internacional e da taxacâmbio.
Em junho, o governo também aprovou medidas tributárias para reduzir o preço dos combustíveis, como a lei que limita o ICMS sobre itens como diesel, gasolina, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo e o corte dos impostos federais Cide e PIS/Cofins sobre esses produtos.
Por que os preços nos postos estão subindo então?
Além dos ajustes naturais do mercado devido ao aumento da demanda, o crescimento nos preços pode estar sendo influenciado pelos repasses da refinariaMataripe, na Bahia.
Dado que a empresa é hoje responsável por cerca14% da capacidade totalrefino do país, um aumento nos valores praticados por ela tem influência na médiapreços nacional e, especialmente, nos valores repassados pelos postosgasolina na região Nordeste.
Para Schiozer, a variação na taxacâmbio também pode estar agindo sobre o preços dos combustíveis, já que o petróleo é comercializadodólares no mercado internacional.
"O câmbio interfere no preço da gasolina importada e, indiretamente, na que é refinada no Brasil", diz. "O dólar ficou rondando os R$ 5,10 por um bom tempo e agora estáR$ 5,32, são quase 5%aumento."
Na terça-feira (25), a moeda americana ganhou 0,26% frente ao real, a R$5,316 na compra e a R$5,317 na venda.
Juliana Inhasz, do Insper, afirma ainda que as variações recentes no câmbio também podem estar por trás da decisão da refinariaMataripeaumentar seus preços.
"O câmbio deveria influenciar mais os preços praticados pela Petrobras do que pelas refinarias, mas existe um impacto também", diz.
"O câmbio pode intervir principalmente no aumento do custo para trazer a matéria-prima para o Brasil."
Por que a demora para repassar os preços?
Na opiniãoPedro Rodrigues, do CBIE, a defasagem da Petrobrasrelação aos preços internacionais pode estar sendo motivada por um desejoevitar reajustes constantes provocados por um mercado muito volátil.
"A velocidade dos repasses faz parte da políticacada direção da estatal. E a lógica muitas vezes éesperar para subir o preço até o limite das possibilidades comerciais e financeiras da empresa para não reduzir o consumo", diz.
Mas para Rafael Schiozer, da FGV EAESP, a demorarepassar os valores pode ter também ligação com as eleições marcadas para o próximo domingo (30/10), quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) disputa a reeleição contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Depois das eleições, é provável que a Petrobras repasse os valores que segurou até agora", diz o economista.
Segundo uma reportagem do jornal O Globo, técnicos da estatal e parte da diretoria afirmam que já seria necessário reajustar os preços, mas que o governo tem pressionado para evitar um aumentopreços antes do segundo turno das eleições, marcado para domingo (30).
Em entrevista neste mês ao canal epbr, o diretor-executivoExploração e Produção da Petrobras, Fernando Borges, afirmou que a estatal beneficia a sociedade brasileira ao demorar mais para elevar os preços dos combustíveis.
O executivo ponderou que há atualmente um momentovolatilidade grande no mercado internacionalpetróleo dentroum mesmo dia e que a empresa evita repassar esses movimentosimediato ao mercado interno.
Mas reconheceu que a companhia reduziu preçosvelocidade maior do que considera para elevar preços.
Segundo Schiozer, o governo do atual presidente escalou o atual presidente da estatal, Caio Mário PaesAndrade, já com a intençãoatrasar os reajustes para fins eleitorais.
"Ele não pode dizer que não vai seguir a paridade, mas ele pode ter algum poder discricionário para controlar a velocidade com que faz os ajustes."
Já Juliana Inhasz apostauma combinação dos fatores mercadológicos e políticos. "Há claramente um represamentopreços para evitar aumentos às portas do segundo turno", diz.
"Ao mesmo tempo, vimos recentemente oscilações grandes no preço do petróleo - e a Petrobras pode estar tentando evitar mudanças e estresses desnecessários na economia esperando um pouco mais para reajustar o preço".
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