Darcy Ribeiro: 100 anos do visionário que lutou por indígenas, pela educação e fugiuaplicativo betnacionalUTI para concluir livro:aplicativo betnacional

Darcy Ribeiro ao ladoaplicativo betnacionalindígenas

Crédito, Fundação Darcy Ribeiro (Fundar)

Legenda da foto, Darcy Ribeiro dedicou boa parte daaplicativo betnacionalvida aos povos indígenas

"Visionário" foi a definição citada tanto pelo indigenista Toni Lotar, conselheiro da Fundação Darcy Ribeiro (Fundar), no Rioaplicativo betnacionalJaneiro, que observou a preocupação do antropólogo com os indígenas e o meio ambiente, como pelo professor argentino da Universidade San Martin (Unsam),aplicativo betnacionalBuenos Aires, Andrés Kozel, coautor do livro Os futurosaplicativo betnacionalDarcy Ribeiro (Elefante Editora), lançado neste ano.

"Darcy estudou muitos assuntos que hoje estamos vivendo", disse Kozel.

Darcy Ribeiro com pintura indígena

Crédito, Fundação Darcy Ribeiro (Fundar)

Legenda da foto, Darcy viveu por anos com povos indígenas brasileiros

Seu amigo e escritor Eric Nepomuceno, que o visitou até os últimosaplicativo betnacionalseus dias, disse à BBC News Brasil por que entende que Darcy foi um intelectual diferente.

"Darcy foi um desses pouquíssimos exemplosaplicativo betnacionalintelectual que não ficaaplicativo betnacionallonge examinando números e estudando situações para depois teorizar soluções. Não, não: ele, que ao ladoaplicativo betnacionalCelso Furtado foi o intelectual brasileiro que mais peso e influência exerceu na América Hispânica na segunda metade do século 20, jamais ficou na contemplação", diz Nepomuceno.

"Foi à luta, foi à realidade. Era um visionário, talvez, mas um visionário que foi para as trincheiras batalhar pelo que acreditava", complementa.

Apaixonado pela questão indígena

Quando tinha 24 anos, mudou-seaplicativo betnacionalSão Paulo para uma comunidade indígena no Pantanal, no Mato Grosso do Sul. Mais tarde, moraria com outros indígenas entre o Pará e o Maranhão.

Eram os anos 1940 e 1950, e Darcy, ex-estudanteaplicativo betnacionalmedicina, queria entender a vida dos povos originários. Não exatamente pelos estudos específicos da Medicina, mas por seu interesse pelos povos. Conta que acabou se apaixonando pela questão e ficou amigo dos indígenas.

"Eu fiz uma coisa pelos índios que foi criar o Parque do Xingu (no Mato Grosso). Mas eles fizeram mais por mim. Eles me deram dignidade, e hoje posso ir a qualquer país do mundo falaraplicativo betnacionalíndio", disse.

No Diários Índios, ele relataaplicativo betnacionalexperiência com os Urubus-Kaapor, na região amazônica. A convivência com esse povo foi transformada num filme do alemão Heinz Forthmann, que Darcy convidou para acompanhá-loaplicativo betnacionalalgumas expedições amazônicas.

Darcy Ribeiro ao lado do Cacique Juruna

Crédito, Fundação Darcy Ribeiro (Fundar)

Legenda da foto, Darcy Ribeiro ao lado do Cacique Juruna

"Darcy identificou que os Urubus-Kaapor eram os últimos tupinambás, descendentes diretos deles", afirmou a antropóloga Gisele Jaconaplicativo betnacionalAraújo Moreira, que trabalhou sete anos com o intelectual, desde os temposaplicativo betnacionalque ele foi senador até seu falecimento.

Entre os fatos públicos que marcaram a vida políticaaplicativo betnacionalDarcy Ribeiro está a presença do cacique xavante Mario Juruna, que teve seu apoio para ser o primeiro indígena eleito deputado federal.

Juruna, que foi do Partido Democrático Trabalhista (PDT), gravava, com um pequeno gravador, todas as declarações dos políticos. Era uma formaaplicativo betnacionalpoder cobrar depois que as palavras fossem cumpridas.

Em dezembroaplicativo betnacional1994, então com 72 anos, Darcy ficou internadoaplicativo betnacionaluma Unidadeaplicativo betnacionalTratamento Intensivo (UTI), no Rioaplicativo betnacionalJaneiro, e quase morreu. Diferentes tribos indígenas fizeram rituais poraplicativo betnacionalcura.

Educação pública e gratuita

Ao chegar à casa dos 30 anos, apósaplicativo betnacionalvida com os indígenas eaplicativo betnacionalaproximação com os irmãos sertanistas Villas-Bôas, Darcy conviveu com o educador Anísio Teixeira e passou a ter paixão pela educação.

Foi um defensor contumaz da educação pública e gratuita para todos, como um dos lemas fundamentais no Brasil.

"Se os governantes não construírem escolas,aplicativo betnacional20 anos faltará dinheiro para construir presídios", disse num discurso no início dos anos 1980.

Darcy dizia que, sem a educação, os colonizadores acabariam vencendo. "Darcy era sociólogo, antropólogo, escritor, romancista, político e estadista", afirma o presidente da Fundação Darcy Ribeiro (Fundar), José Ronaldo Alves da Cunha.

Foi ministro da Educação e chefe da Casa Civil no governoaplicativo betnacionalJoão Goulart (1961-1964), derrubado pelo golpe militar.

Índio e Darcy Ribeiro

Crédito, Fundação Darcy Ribeiro (Fundar)

Legenda da foto, Entre os legadosaplicativo betnacionalDarcy Ribeiro estão o Parque Indígena do Xingu, o Museu do Índio e o Memorial da América Latina

Nesse período, o projeto inovador da Universidadeaplicativo betnacionalBrasília, sem segmentação por departamentos, regrediu, recorda o presidente da Fundar. Por isso, naquele discurso na Sorbonne, Darcy disse ter "fracassado" ao citar a universidade.

Com a ditadura, Goulart e Darcy se exilaramaplicativo betnacionalpaíses da América Latina, e o intelectual foi convidado para dar palestrasaplicativo betnacionalvárias universidades da região. O tempo no exílio acabou tendo influência naaplicativo betnacionalobra.

Era a "Pátria Grande", dizia ele, expressão citada por governosaplicativo betnacionalcentro-esquerda eaplicativo betnacionalesquerda da América do Sul para se referir à região.

Vida política

Darcy foi filiado ao PDT, vice-governador do Rioaplicativo betnacionalJaneiro no governoaplicativo betnacionalLeonel Brizola e senador da República quando criou o projetoaplicativo betnacionalLeiaplicativo betnacionalDiretrizes e Bases da Educação.

A lei, aprovadaaplicativo betnacional1996, é chamadaaplicativo betnacionalLei Darcy Ribeiro e estabelece pontos para a formação dos profissionaisaplicativo betnacionaleducação, para garantir o acessoaplicativo betnacionaltoda a população à educação gratuita eaplicativo betnacionalqualidade, para valorizar os profissionais da educação e do dever da União, do Estado e dos municípios com a educação pública. A lei continuaaplicativo betnacionalvigor.

"Darcy era um homem político. E ele fazia política no melhor sentido da expressão", disse José Ronaldo. Ele se construiu buscando as "matrizes" brasileiras, com os indígenas, com os movimentos negros, com a educação e com a política.

Ex-integrante do Partido Comunista, nos tempos da juventude, onde dizia ter aprendido muito sobre a importânciaaplicativo betnacionalconceitos como, por exemplo, a educação e a reforma agrária, ele não demonstrava convicção plena no comunismo e acabou se afastando do partido.

Entre seus amigos, já na idade adulta, estava o arquiteto Oscar Niemeyer, comunista declarado, com quem compartilhava interessesaplicativo betnacionalinclusão social.

Foi já nos anos 1980, no governo Brizola, que concretizou o projeto dos Centros Integradosaplicativo betnacionalEducação Pública (Cieps). Ele acompanhava as obras das escolas, o currículo escolar e defendia a cultura local, recorda Gisele Jacon.

O legadoaplicativo betnacionalDarcy Ribeiro também inclui o Parque Nacional do Xingu (hoje Parque Indígena do Xingu), o Museu do Índio, o Memorial da América Latina, a Universidade Nacionalaplicativo betnacionalBrasília (que, por ideia dele, tem um "beijódromo"), o Monumento a Zumbi dos Palmares e o Sambódromo do Rioaplicativo betnacionalJaneiro (que, por ele, seria utilizado como escola nos períodos fora do Carnaval).

Fuga do hospital para escrever

Um mês após a internação na UTI, considerado um paciente terminal,aplicativo betnacionaljaneiroaplicativo betnacional1995, Darcy foge do hospital para concluiraplicativo betnacionaluma casaaplicativo betnacionalpraiaaplicativo betnacionalMaricá (RJ) seu livro O Povo Brasileiro - a Formação e o Sentido do Brasil, um clássico sobre a identidade e as muitas diversidades regionais brasileiras e que virou documentário.

Darcy Ribeiroaplicativo betnacionalescritório

Crédito, Fundação Darcy Ribeiro (Fundar)

Legenda da foto, 'Por que o Brasil não deu certo. Por que perdemos?' foram as perguntas feitas por Darcy ao escrever 'O Povo Brasileiro'

"Eu não queria morrer sem terminar esse livro. Eu passei 30 anos e 40 dias escrevendo esse livro", recordou três meses depois daquela fuga.

"Das pouquíssimas brigas sérias que tivemos, uma delas foi porque me recusei a ajudar o Darcy a fugir do hospital. Depois estive um sem-fimaplicativo betnacionalvezes com ele na casaaplicativo betnacionalMaricá, uma praia perto do Rio, onde se abrigou", recordou Nepomuceno.

Sobre o livro, Darcy contouaplicativo betnacional1995aplicativo betnacionalentrevista ao programa Roda Viva que queria saber "por que o Brasil não deu certo. Por que perdemos? Por que mais uma vez a direita ganhou? Porque o Brasil não deu certo do pontoaplicativo betnacionalvista do seu povo?".

Para ele, o país era algo novo e que merecia ser estudado, compreendido.

"O Brasil é um gênero novo humano. Fundir herança genética e cultural índia, negra, europeia num gênero humano novo. Numa coisa nova. Nunca houve. Isso é a aventura brasileira", disse.

Ele morreu dois anos depois,aplicativo betnacional1997,aplicativo betnacionalBrasília, e naqueles dois últimos anosaplicativo betnacionalvida ainda escreveu a autobiografia Confissões.

Otimismo e inconformismo

Para o presidente da Fundação Darcy Ribeiro, o antropólogo e educador era otimista, mas sofria muito com o que ele enxergava do futuro. "Aquilo que o Brasil poderia ser (...) e ele sofria pelo que o Brasil ainda não era", afirmou.

Ao mesmo tempo era definido como otimista, Darcy era também inconformado ou indignado, como dizia.

"A classe dominante sempre se deu bem e continua se dando bem. Mas o povão tá aí, com uma fome que é espantosa. Por que há fome nesse país?", disse e escreveu há quase 30 anos.

Ele provocou prantos no discurso que fez no enterro do cineasta Glauber Rocha,aplicativo betnacional1981, ao afirmar que, certa vez, o artista chorava e dizia "o país que não deu certo".

"Glauber chorava a dor que todos os brasileiros deveriam chorar, a dor das crianças com fome no Brasil, a dor do país que não deu certo. Glauber chorava a estupidez, a brutalidade, a mediocridade, a tortura."

Ao buscar entender a humanidade e, especialmente o Brasil, Darcy Ribeiro dizia que buscava e constatava "beleza". Nepomuceno diz que o intelectual deixou um legado imenso, mas lamenta que o Brasil seja um país "desmemoriado".

"Recorro ao próprio Darcy para chamar à lembrança os três pontos cruciaisaplicativo betnacionaltudo que ele fez, que moveramaplicativo betnacionalluta perene: educação para todos, salvar os indígenas e a floresta, reforma agrária. Criar uma sociedade com plena e palpável noçãoaplicativo betnacionalseus direitos, distribuir a consciência da necessária cidadania. Entender, como defendeu com clareza umaplicativo betnacionalseus amigos, o escritor uruguaio Eduardo Galeano (autor de As Veias Abertas da América Latina), que a história não pode se limitar a ser herança, temaplicativo betnacionalser construída", disse.

- Este texto foi publicado originalmenteaplicativo betnacionalhttp://vesser.net/brasil-63393757

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