Na saúde, Lula terá desafios como vacinação baixa e mortalidade maternabet 365 f1alta:bet 365 f1

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Legenda da foto, Brasil teve quedas bruscas na vacinação infantil nos últimos anos, um dos pontosbet 365 f1maior preocupação na área da saúde, segundo especialistas entrevistados

Uma das propostasbet 365 f1Lula foi também "retomar o reconhecido programa nacionalbet 365 f1vacinação", algo apontado pelos entrevistados como uma das questões mais urgentes na saúde brasileira atualmente. A queda brusca da cobertura vacinal contra várias doenças já foi alvobet 365 f1alertas disparados por instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Organização Pan-Americanabet 365 f1Saúde (Opas) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Por exemplo, a vacina BCG, que previne contra a tuberculose e tradicionalmente tem alta taxabet 365 f1vacinação por ser aplicada no primeiro mêsbet 365 f1vida do bebê, não tem 100%bet 365 f1cobertura desde 2015. Segundo números do DataSUS, a partirbet 365 f12020, a cobertura ficou abaixobet 365 f180%: foibet 365 f175,6%bet 365 f12020 e 70,7%bet 365 f12021 (entretanto, dados mais recentes,bet 365 f12021 e 2022, estão mais sujeitos a alterações, por isso são considerados parciais).

A imunização contra a poliomielite teve 100%bet 365 f1cobertura pela última vezbet 365 f12013. Desde 2016, ficou abaixo dos 90%, chegando a 76,1%bet 365 f12020 e a 69,9%bet 365 f12021. Com essa queda, a Opas colocou o Brasil como um dos países sob alto riscobet 365 f1volta da poliomielite.

A tríplice viral D1, que previne contra o sarampo, caxumba e rubéola, também vem registrando constante diminuição, saindo da total coberturabet 365 f12014 para 79,7%bet 365 f12020.

"A gente não atingiu meta (de cobertura)bet 365 f1todas as vacinas. Já havia uma queda que se inicioubet 365 f12015 e agora, durante a pandemia, se acentuou", aponta o infectologista Julio Croda, da Fiocruz Mato Grosso do Sul.

"A gente sempre teve um Programa Nacionalbet 365 f1Imunizações (PNI) muito forte. O que está acontecendo é grave, porque vacina é a principal intervenção custo-efetiva, é a que mais salva vidas do pontobet 365 f1vistabet 365 f1intervenções na áreabet 365 f1saúde."

A diminuição da vacinação infantil é um fenômeno global recente, segundo a Unicef. Entretanto, para Croda, o governo federal falhou nos últimos anosbet 365 f1garantir sistemasbet 365 f1informatização adequados e uma comunicação que combatesse notícias falsas contra vacinas.

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Legenda da foto, Luiz Henrique Mandetta foi o primeiro dos quatro ministros do governo Bolsonaro e deixou a pasta no início da pandemia

Essas falhas fazem partebet 365 f1um quadro mais geralbet 365 f1desorganização do Ministério da Saúde durante o mandatobet 365 f1Jair Bolsonaro (PL), segundo Croda. Ele diz isso não apenas como especialista, mas também testemunha, já que foi,bet 365 f12019 a 2020, diretor do Departamentobet 365 f1Imunizações e Doenças Transmissíveis da Secretariabet 365 f1Vigilânciabet 365 f1Saúde (SVS) da pasta.

Bolsonaro tevebet 365 f1seu mandato quatro ministros da Saúde: Luiz Henrique Mandetta (União-MS), Nelson Teich, Eduardo Pazuello (PL-RJ) e Marcelo Queiroga, o atual titular. Comparando com outros presidentes desde a redemocratização, essa rotatividadebet 365 f1ministros é menor apenas do que na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que teve cinco ministros, masbet 365 f1dois mandatos.

O númerobet 365 f1ministrosbet 365 f1Bolsonaro é igual ao que tevebet 365 f1dois mandatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que venceu a eleição e terá seu terceiro mandato, e Fernando Collor (PTB),bet 365 f1seu curto período na Presidência antesbet 365 f1renunciar.

"É muito preocupante, porque, quando você tem uma troca muito constante, você não consegue implementar nenhum programa. Cada ministro que entra tem uma ideia diferente sobre o SUS, tem propostas diferentes, e essas propostas nunca são concluídas. A gestão fica uma colchabet 365 f1retalhos, não tem começo, meio e fim", diz Croda, que é presidente da Sociedade Brasileirabet 365 f1Medicina Tropical.

O infectologista critica ainda a faltabet 365 f1compromisso da gestão Bolsonaro com o conhecimento técnicobet 365 f1Saúde — apontando-a como o motivo parabet 365 f1decisãobet 365 f1sair do ministériobet 365 f12020, primeiro ano da pandemiabet 365 f1coronavírus. A covid-19 matou maisbet 365 f1688 mil brasileiros, oficialmente o segundo maior número absoluto no mundo, atrás dos Estados Unidos.

"Quando veio a pandemia, Bolsonaro não apoiou as medidas não farmacológicasbet 365 f1distanciamento, então, antes do Mandetta sair, eu saí. Entendi que não ia ter uma participação técnica, que o governo não ia seguir as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde)", lembra Croda, acrescentando que a chegada da covid-19 e da varíola dos macacos mostraram que o Brasil está pouco preparado para possíveis pandemias e epidemias no futuro, o que exige, entre outras medidas, que o país aumentebet 365 f1própria produçãobet 365 f1itensbet 365 f1saúde.

"A gente não teve testes, depois as vacinas e, agora, medicamentos. A gente não tem o paxlovid, que é um remédio que já está sendo utilizado no mundo todo. Nós só temos uma vacina brasileira, que é a da Fiocruz, mas não tem nenhuma vacinabet 365 f1RNA. Agora, com a monkeypox (varíola dos macacos), a gente não tinha estoque estratégicobet 365 f1vacinabet 365 f1varíola. Até hoje, não temos disponível a vacina para ofertar à população."

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que "o enfrentamento à covid-19 no Brasil garantiu um dos resultados mais exitosos do mundo" e que o governo atual dedicou "R$ 106 bilhõesbet 365 f1créditos extraordinários" exclusivamente para o combate à pandemia: "O governo federal garantiu a distribuiçãobet 365 f1maisbet 365 f1518,8 milhõesbet 365 f1dosesbet 365 f1vacinasbet 365 f1uma das maiores campanhasbet 365 f1vacinação da história do país. O resultado da ampla campanhabet 365 f1imunização resulta hoje na cobertura vacinalbet 365 f1maisbet 365 f184,2% da população com ao menos a primeira dose da vacina. E 78% com duas doses".

Quanto às outras vacinas destinadas às crianças e que estão com a cobertura reduzida, a pasta destacou ter o objetivo "de alcançar cobertura vacinal maiorbet 365 f195%, alémbet 365 f1reduzir o númerobet 365 f1não vacinados" — afirmando que, para isso, tem divulgadobet 365 f1campanha nacionalbet 365 f1vacinação "nos principais meiosbet 365 f1comunicação ebet 365 f1locaisbet 365 f1grande circulaçãobet 365 f1pessoas" e reforçado a articulação com municípios e Estados.

Problemas básicos

A médica psicanalista Rosana Onocko Campos, presidente da Associação Brasileirabet 365 f1Saúde Coletiva (Abrasco), também critica fortemente a desorganização do Ministério da Saúde no mandatobet 365 f1Bolsonaro e dá exemplos da pandemia.

"Tenho insistido que o próximo governo vai ter que tomar medidas extraordinárias, porque não estamos vivendo uma situação ordinária. Por conta da pandemia, sim, mas também por esse descontrole do governo. Qualquer indicador que você pega, coberturabet 365 f1vacinas, internações evitáveis pela atenção primária, filasbet 365 f1cirurgias... Há inúmeros trabalhos mostrando piora. Precisamente pela faltabet 365 f1competência técnica e pelo descaso com a coordenação do sistemabet 365 f1saúde. Tem algumas partes do Ministério da Saúde que ninguém coordena mais", diz Onocko Campos, professora da Universidade Estadualbet 365 f1Campinas (Unicamp).

Enquanto isso, diz Onocko Campos, faltam dados unificados e atualizados para saber qual é o tamanho das filas para exames, consultas e cirurgias no país. "É como dirigir o carro com os olhos vendados. É preciso restabelecer e melhorar os sistemasbet 365 f1informação, que nunca foram muito amigáveis, mas já foram melhores."

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Legenda da foto, A própria faltabet 365 f1dados sobre filas para exames e cirurgias é um problema, diz a médica Rosana Onocko Campos

Na outra pontabet 365 f1atendimentos complexos como uma cirurgia ou a internaçãobet 365 f1unidadebet 365 f1tratamento intensivo (UTI), está outra parte fundamental do SUS, lembrada por todos os entrevistados: a chamada atenção primária, considerada a portabet 365 f1entrada do atendimentobet 365 f1saúde e que tem como representantes essenciais as equipesbet 365 f1saúde da família.

Essa área é movida pelos ideaisbet 365 f1prevenção, vida comunitária e multidisciplinaridade — um retrato disso é o dos agentes comunitáriosbet 365 f1saúde circulando na vizinhança, conversando com moradores para averiguar se a vacinação estábet 365 f1dia ou se remédiosbet 365 f1rotina estão sendo tomados corretamente, e talvez indicar atendimento com algum psicólogobet 365 f1um Centrobet 365 f1Atenção Psicossocial (Caps) ou com um médicobet 365 f1uma Unidade Básicabet 365 f1Saúde (UBS).

O economista Arthur Aguillar, do Institutobet 365 f1Estudos para Políticasbet 365 f1Saúde (Ieps), diz que o programa Estratégia Saúde da Família (ESF) é a "espinha dorsal" da atenção primária e do próprio SUS. Para ele, a expansão desse programabet 365 f11990 até 2017 foi "uma das histórias mais bem-sucedidasbet 365 f1política públicas" no Brasil, mas lamenta a desaceleração nos anos recentes.

Embora a atenção primária sejabet 365 f1boa parte responsabilidade dos municípios e Estados, o governo federal tem um papel importante no seu financiamento e no direcionamentobet 365 f1normas e metas.

"Desde 2017, o ESF paroubet 365 f1se expandir. Um pouco por razões orçamentárias, mas um pouco por questõesbet 365 f1prioridade também", explica Aguillar, que defende a retomada da expansão nos próximos anos.

Segundo um relatório do Ieps,bet 365 f11998, havia no Brasil 2.646 equipesbet 365 f1saúde da família cobrindo 5,6% da população;bet 365 f12008, 28.884 equipes e 48,7% da população; ebet 365 f12019, 42.307 equipes e 62,7%.

"Todo brasileiro deveria ter acesso a uma equipebet 365 f1saúde da família, mas um terço da população não tem. Parte importante desse um terço tem acesso a planobet 365 f1saúde, mas, mesmo para essas pessoas, o ESF é fundamental. É ele que vai olhar para questões como dengue, zika e doenças infecciosas", exemplifica o economista.

Uma das atividades desempenhadas na atenção primária é o pré-natal, e, ao que tudo indica, este e outros cuidados relativos às gestantes precisarãobet 365 f1maior atenção, porque a mortalidade materna cresceu nacionalmente ebet 365 f1todas as regiões do paísbet 365 f12019 para 2020, segundo documento do próprio Ministério da Saúde.

O Brasil registrou 57,9 óbitos para cada 100 mil nascimentosbet 365 f12019 e 74,7bet 365 f12020. Segundo dados preliminares levantados pela Federação Brasileira das Associaçõesbet 365 f1Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo),bet 365 f12021, o número chegou a 107 a cada 100 mil nascimentos. Um estudo recente do Ieps mostrou que as mulheres pretas estão ainda mais vulneráveis à mortalidade materna do que as brancas.

Também economista no Ieps, Rony Coelho explica que as causas do aumento ainda estãobet 365 f1estudo. "Temos um trabalho preliminarbet 365 f1curso, e é possível indicar que houve um aumento muito grande da mortalidade por doenças viraisbet 365 f12020 e 2021, o que é um indicativo que estão associadas mais diretamente à covid. Mas, provavelmente, o excessobet 365 f1morte se deu também pelo colapso do sistemabet 365 f1saúde (na pandemia)", diz Coelho.

"É sempre bom lembrar, maisbet 365 f190% das mortes maternas são por causas evitáveis, como apontam diversos estudos e especialistas, e boa parte dessas causas podem ser previamente diagnosticadas justamente na atenção primária, que estava com sobrecarga (nos primeiros anos da pandemia)."

O Ministério da Saúde atual defendeu,bet 365 f1nota, a criação da Redebet 365 f1Atenção Materna e Infantil "para ampliar o cuidado da saúdebet 365 f1mães e bebês no SUS".

As disputas entre os projetos do PT ebet 365 f1Jair Bolsonaro se mostraram tambémbet 365 f1um programa importante da atenção primária: o Médicos pelo Brasil, que substituiu o Mais Médicos, este lançadobet 365 f12013 pelo governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A contrariedade ao modelo dos Mais Médicos, principalmente pela participaçãobet 365 f1profissionais cubanos como bolsistas, foi uma das principais bandeiras da candidaturabet 365 f1Bolsonarobet 365 f12018. O governo dele lançou o Médicos pelo Brasilbet 365 f12019, mas o primeiro edital só foi publicadobet 365 f1dezembrobet 365 f12021.

De acordo com as propostasbet 365 f1Lula, porém, será a vez do Médicos pelo Brasil ser substituído pelo Mais Médicos — programa previsto para ser "retomado", segundo a campanha petista.

Muitas demandas, verbas insuficientes

Em abril, o Instituto Brasileirobet 365 f1Geografia e Estatística (IBGE) publicou um dado que, à primeira vista, poderia ser um bom sinal:bet 365 f12019, as despesas com saúde no Brasil corresponderam a 9,6% do Produto Interno Bruto (PIB), um percentual maior que a média (8,8%)bet 365 f1países selecionados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Também foi o maior percentual para o Brasil desde 2010.

Entretanto, a maior parte dos gastos (5,8%) saiu dos bolsos das famílias, com uma parcela menor (3,8%)bet 365 f1despesas do governo. Esse gasto público fica abaixo da média da OCDE (6,5%).

"Se você olhar só para o financiamento público, que é uma prerrogativabet 365 f1um sistema universal como é o SUS e o NHS, que é o sistema inglês, você vai ver que o Brasil tem uma proporçãobet 365 f1gastos públicos muito menor do que os países da OCDE e até mesmo do que dos Estados Unidos, que um sistema arquetípico privado", aponta Arthur Aguillar, do Ieps.

"A primeira coisa que a gente tem que resolver é como aumentar o orçamento do SUS. O Brasil está envelhecendo, e o tipobet 365 f1doença que as pessoas mais velhas têm,bet 365 f1geral, custam mais caro para o sistema, que são as doenças crônicas não transmissíveis, como câncer, diabetes, doenças cardiovasculares... Essas coisas fazem com que você precisebet 365 f1mais recursos."

Com base no projeto enviado pelo governo ao Congresso, uma nota técnica do Congresso calculou que a proposta orçamentária para o Ministério da Saúdebet 365 f12023 terá a menor verba desde 2014bet 365 f1valores reais — ou seja, já consideradas as variações da inflação. Em comparação com orçamento autorizado para 2022, a proposta orçamentária para o ministério tem queda realbet 365 f1cercabet 365 f1R$ 16,6 bilhões.

Para cumprir o gasto mínimobet 365 f1saúde determinado pela Constituição, o governo conta com R$ 9,9 bilhõesbet 365 f1emendas do relator, que são criticadas pela faltabet 365 f1transparência e sustentam ações não planejadas diretamente pelo ministério. Segundo a nota técnica do Congresso, a destinação desse tipobet 365 f1emenda para cumprir o piso da saúde "não encontra previsão legal" e deverá ser alterada pelos parlamentares.

*Colaboraram André Biernath e Giulia Granchi, da BBC News Brasilbet 365 f1São Paulo

Este texto foi publicado originalmentebet 365 f1http://vesser.net/brasil-63069465