Quem matou Dom e Bruno? Como estão investigações sobre crime:bet si

Membro da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) segura uma imagem do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira

Crédito, Getty Images

bet si Na sexta-feira (8/7), a Polícia Federal (PF)no Amazonas divulgou a informaçãobet sique prendeu Rubens Villar Coelho, conhecido como "Colômbia", que vinha sendo apontado por moradores da região como possível mandante da morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, assassinadosbet sijunho no Vale do Javari, no Amazonas.

Segundo o superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes, o homem foi presobet siflagrante ao apresentar documentobet siidentidade falsa.

O delegado disse que "Colômbia" teria comparecido à sede da PFbet siTabatinga e apresentado dois documentosbet siidentidade, um brasileiro e outro colombiano, com informações diferentes.

Fontes disse que "Colômbia" negou qualquer envolvimento na mortebet siBruno e Dom.

"Prendemosbet siflagrante a pessoa conhecida como "Colômbia". Ele nega qualquer participação nesse duplo homicídio, mesmo como mandante", afirmou o delegadobet siuma entrevista coletiva.

Questionado, o delegado afirma que a possibilidadebet sique "Colômbia" tenha sido o mandante do crime está sendo apurada. Ele disse ainda que a PF apura a suposta ligação do homem com o narcotráfico.

"Estamos investigando. Por enquanto, a Univaja [União dos Povos do Vale do Javari, principal organização do território indígena] diz isso, mas ainda não há elementos concretos", disse o investigador.

Fontes afirmou que a PF também apura as supostas ligações entre "Colômbia" e um dos suspeitosbet siter assassinado Bruno e Dom: o pescador Amarildo da Costabet siOliveira, conhecido como "Pelado".

"Ele [Colômbia] compra peixe. Segundo ele,bet siforma lícita. Ele tem relação comercial com algumas pessoas, inclusive "Pelado", segundo ele cita", disse o delegado.

Fontes afirmou que há a expectativabet sique a Polícia Federal ou o Ministério Público Federal (MPF) peçam a prisão preventivabet si"Colômbia" para evitar que ele fuja, uma vez que há indíciosbet sique ele poderia ter uma terceira identidade emitida pelo governo peruano.

A suposta ligaçãobet si"Colômbia" com o crime e a possibilidadebet siele ser um dos supostos mandantes da mortebet siBruno e Dom é uma mudançabet sirelação a posicionamentos feitos pela PF sobre o caso nas últimas semanas.

Em junho, a PF havia informado que não haveria indícios sobre a existênciabet sium mandante ou o envolvimentobet sialguma organização criminosa por trás do crime. As suspeitas haviam sido levantadas por organizações indígenas que atuam no Vale do Javari.

Essas conclusões, divulgadas poucos dias depois que os restos mortais foram achados, receberam duras críticas da Univaja, que acusa as autoridadesbet siignorarem denúncias e informações repassadas pelos indígenas.

"O requintebet sicrueldade utilizado na prática do crime evidencia que Pereira e Phillips estavam no caminhobet siuma poderosa organização criminosa que tentou à todo custo ocultar seus rastros durante a investigação. Esse contexto evidencia que não se trata apenasbet sidois executores, mas simbet sium grupo organizado que planejou minimamente os detalhes desse crime", afirma a entidade.

Em 24bet sijunho, a PF do Amazonas divulgou que cumpriu seis mandadosbet sibusca e apreensão nas cidadesbet siAtalaia do Norte ebet siBenjamin Constant, no Amazonas. Segundo o órgão, foram apreendidos "objetos possivelmente relacionados" com o crime.

Um dia antes, um homem que se identificou como Gabriel Pereira Dantas se apresentou à Polícia Civilbet siSão Paulo e disse ter participado do crime. Ele permanecebet siliberdade, pois, segundo os investigadores da Polícia Federal, não há, ao menos por ora, indícios da participação dele nos crimes. Segundo a PF, o homem "apresentou versão pouco crível e desconexa com os fatos até o momento apurados".

Segundo a Univaja, os suspeitos do crime integram gruposbet sicaçadores e pescadores profissionais que fazem invasões constantes à terra indígena Vale do Javari e ameaçambet simorte quem atua contra eles, a exemplobet siindígenas e do próprio Bruno Pereira, tido como um dos maiores especialistas sobre a região e um dos principais indigenistas do país — mais recentemente, ele treinava indígenas para usobet sidrones e monitoramento do território.

Em 2019, por exemplo, o colaborador da Fundação Nacional do Índio (Funai) Maxciel dos Santos Pereira foi morto a tirosbet siTabatinga, a maior cidade da região. Meses antes, ele havia participadobet siuma operação que apreendeu grande quantidadebet sipesca e caça ilegal. Não houve prisões nem condenações pelo crime.

Especialistas apontam a existênciabet sivínculosbet sipescadores e caçadores ilegais com o narcotráfico, que é a principal força econômica da região e se articula com diversas atividades, entre elas garimpo, extraçãobet simadeira, pesca e caça.

Dezenasbet simanifestantes, entre eles indígenas da etnia guarani, se reúnem no vão livre do Masp para pedir justiça

Crédito, Thais Carrança/BBC News Brasil

Legenda da foto, Dezenasbet simanifestantes, entre eles indígenas da etnia guarani, se reúnembet si18/06 no vão livre do Masp para pedir justiça

O que dizem as investigações sobre quem matou Pereira e Phillips?

A PF e outras autoridades envolvidas na investigação (como a Polícia Civilbet siAmazonas) têm divulgado o andamento dos trabalhos por meiobet sientrevistas e notas enviadas à imprensa.

Até agora, não há informações oficiais claras sobre o que realmente aconteceubet si5bet sijunho e por que os crimes foram cometidos.

Dias antes, Phillips viajou para o extremo oeste da Amazônia acompanhadobet siPereira para coletar dados para um livro que estava escrevendo sobre como salvar a floresta — ele já havia realizado diversas viagens para a Amazônia, onde fez reportagens sobre desmatamento e crimes. Os dois eram amigos e já haviam viajado juntos à Amazôniabet sioutras ocasiões profissionais.

Ambos desapareceram a poucos quilômetros do Vale do Javari, que é a segunda maior reserva indígena do Brasil, um território com área equivalente àbet siPortugal onde vivem cercabet si6 mil integrantesbet sisete etnias.

A região é conhecida por intensos conflitos entre diversos grupos criminosos (como quadrilhasbet simadeireiros e pescadores ilegais). Alguns estudos sugerem que existe ligação entre essas atividades e o narcotráfico, que está presente na região desde os anos 1970.

O jornalista e o indigenista viajavambet sibarco pelos maisbet si70 km que ligam o lago do Jaburu ao municípiobet siAtalaia do Norte. Na última vez que foram vistos, eles pararam na comunidadebet siSão Rafael, às 6h, onde tinham uma reunião marcada com o líder pescador Manoel Vitor Sabino da Costa, conhecido como Churrasco.

Dali, eles seguiram seu caminho pelo rio. A dupla deveria ter chegado a Atalaia do Norte duas horas depois, mas desapareceu. Quem soou o alerta foram os indígenas da Univaja.

Segundo a associação, Bruno e Dom viajavambet siuma lanchabet sibom estado e com combustível suficiente para a viagem.

A partir dali, indígenas começaram a realizar diversas buscas pela região, que seriam reforçadasbet siseguida por integrantes das Forças Armadas e das polícias estadual e federal.

Três homens foram presos até agora por suspeitabet sienvolvimento nos crimes. Todos são pescadores.

O primeiro foi detido três dias após o desaparecimentobet siPereira e Phillips. Amarildo da Costabet siOliveira disse ter sido torturado por policiais e confessou o crime, apontando, inclusive, a localização dos restos mortaisbet siPereira e Phillips.

Amarildo já havia sido acusado por indígenasbet siter feito ameaçasbet simorte ebet siter participado dos atentados com armabet sifogo contra a basebet siproteção da Funaibet si2018 e 2019.

Outros dois suspeitos presos são: Oseney da Costabet siOliveira, um irmãobet siAmarildo que negou participação no crime, e Jefferson da Silva Lima, que estava foragido e se entregou à políciabet si18bet sijunho.

Segundo a polícia, Amarildo e Jefferson admitiram ter atirado nas vítimas com armas e muniçõesbet sicaça (repletabet sibalinsbet sichumbo): Pereira foi atingido por três disparos (dois no peito e um na cabeça), e Phillips, por um, no peito.

Bruno e Dombet siviagembet si2018

Crédito, GUARDIAN NEWS AND MEDIA

Legenda da foto, Bruno e Dombet siviagembet si2018

Conflito crescente na região

O desaparecimentobet siPereira e Phillips ocorreu num momentobet sicrescentes invasões da Terra Indígena Vale do Javari por quadrilhasbet sicaçadores e pescadores.

A atividade movimenta recursos vultosos e abastece as principais cidades da região, onde a carnebet sicaça ebet sipeixes como o pirarucu é vendidabet sifeiras e restaurantes.

Uma pesquisa realizada entre 2013 e 2014 pelo Center for International Forestry Research (Cifor), entidade baseada na Indonésia, estimou que 278 toneladasbet sicarnebet sicaça são vendidas por ano nas cidadesbet siBenjamin Constant, Tabatinga, Letícia (Colômbia) e Caballococha (Peru), na Tríplice Fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia.

Enquanto um tracajá custa ao menos R$ 100 na região, um pirarucu pode ser vendido por maisbet siR$ 1 mil,bet siacordo com uma reportagem publicada pela BBCbet si2019.

Pela lei brasileira, no entanto, só povos indígenas e populações tradicionais podem caçar animais silvestres, e a atividade deve se voltar à subsistência dos grupos.

Mas invasões do território indígena são um problema antigo e se intensificaram nos últimos anos diante do "enfraquecimento da Funai", segundo pesquisadores.

Os conflitos com pescadores e caçadores na região são antigos. Em 2000, um grupobet sicercabet si300 pescadoresbet siAtalaia do Norte e Benjamin Constant criou o Movimento dos Sem Rio e atacou instalações da Funai com coquetéis molotov.

Parte do grupo viviabet siáreas que integravam o território demarcado como terra indígena,bet si2001.

Muitas dessas pessoas descendembet siseringueiros que chegaram à região no começo do século 20, no ciclo da borracha. A presença dos moradores, no entanto, era vista como um grave risco à sobrevivência dos indígenas isolados, pela possibilidadebet siconflitos e da disseminaçãobet sidoenças.

Após a criação da terra indígena, os ribeirinhos deixaram o território e houve uma redução expressiva nas invasões por pescadores, caçadores e madeireiros.

Mas indígenas e pesquisadores afirmam que, mesmo após se mudarem, alguns ribeirinhos continuaram entrando na terra indígena para caçar e pescar animais destinados ao comércio.

Já na época da demarcação do território, há duas décadas, organizações alertavam para o riscobet siconflitos entre indígenas e ribeirinhos.

Carnebet sicaça e armas apreendidas pelo Exércitobet sioperação na Tríplice Fronteira.

Crédito, Exército

Legenda da foto, Carnebet sicaça e armas apreendidas pelo Exércitobet sioperaçãobet si2019 na Tríplice Fronteira, entre Brasil, Peru e Colômbia

Enfraquecimento da Funai

Em artigo publicadobet si2019 pelo geólogo Conrado Octavio e pelo ecólogo Hilton Nascimento no relatório "Cercos e Resistências - Povos Indígenas Isolados na Amazônia Brasileira", do Instituto Socioambiental (ISA), a dupla diz que a situação se deteriorou rapidamente nos últimos anos "na esteira do processobet sidesconstruçãobet sidireitos e políticas públicas que tem marcado a atual conjuntura no país".

"As invasões para a exploração predatória e ilegalbet sirecursos naturais têm se intensificado até mesmobet silocais que contam com bases da Funai, frequentemente acompanhadasbet siameaças e até mesmo ataques a indígenas, servidores e membrosbet siinstituições que atuam na região", dizem os autores.

Maxciel, um homembet sipele clara, barba por fazer e olhos escuros

Crédito, Arquivo Pessoal/Reprodução

Legenda da foto, Colaborador da Funai Maxciel dos Santos Pereira foi morto a tirosbet si2019bet siTabatinga, onde atuava com fiscalização e vigilância da terra indígena

No governobet siJair Bolsonaro (PL), a Funai teve grandes cortes no orçamento e passou a endossar propostas do presidente que sofrem grande oposição entre indígenas, como a liberação da mineraçãobet siseus territórios e a agricultura mecanizadabet silarga escala.

"Sucessivos cortes orçamentários, quadro deficitáriobet sirecursos humanos, evasãobet siservidores, além das pressões e ingerências políticas por parte das bancadas ruralista e evangélica têm impactado o órgão como um todo, com evidentes reflexos sobre a região", afirmam os autores.

Alberto Terena, coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a maior organização indígena do país, diz à BBC News Brasil que gestões anteriores da Funai eram mais abertas às comunidades indígenas e que o órgão "tem sido uma ferramenta a mais do governo para investir contra os povos indígenas. Acabou virando um órgão anti-indígena".

Procurada, a Funai diz que vem ampliando os gastos com a proteçãobet siindígenas isolados, mas não quis comentar as declaraçõesbet siTerena.

Em nota à BBC News Brasil na qual não cita suas operações no Vale do Javari nem os ataques recentes às suas instalações na região, o órgão federal afirma que os investimentosbet siaçõesbet siproteção a indígenas isolados ebet sirecente contato chegou a R$ 51,4 milhões entre 2019 e 2021.

"Os valores superambet si335% o total investido entre os anosbet si2016 e 2018", diz a Funai, que informa ter usado os recursos "principalmentebet siaçõesbet sifiscalização territorial e combate à covid-19bet siáreas habitadas por essas populações."

*Com reportagembet siJoão Fellet, Leandro Prazeres e Letícia Mori, da BBC News Brasilbet siSão Paulo ebet siBrasília.

- Texto originalmente publicadobet sihttp://vesser.net/brasil-61865523

Línea

bet si Sabia que a BBC está também no Telegram? Inscreva-se no canal bet si .

bet si Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube bet si ? Inscreva-se no nosso canal!

Pule YouTube post, 1
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosbet siautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticabet siusobet sicookies e os termosbet siprivacidade do Google YouTube antesbet siconcordar. Para acessar o conteúdo cliquebet si"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdobet siterceiros pode conter publicidade

Finalbet siYouTube post, 1

Pule YouTube post, 2
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosbet siautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticabet siusobet sicookies e os termosbet siprivacidade do Google YouTube antesbet siconcordar. Para acessar o conteúdo cliquebet si"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdobet siterceiros pode conter publicidade

Finalbet siYouTube post, 2

Pule YouTube post, 3
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosbet siautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticabet siusobet sicookies e os termosbet siprivacidade do Google YouTube antesbet siconcordar. Para acessar o conteúdo cliquebet si"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdobet siterceiros pode conter publicidade

Finalbet siYouTube post, 3