Treinado na selva, Bruno Pereira superou desconfiança e ganhou respeitosite aposta blazeindígenas:site aposta blaze
Doze anos depois, Beto Marubo e dezenassite aposta blazeindígenas que conheciamsite aposta blazeperto o trabalhosite aposta blazeBruno atuam nas buscas ao indigenista e ao jornalista britânico Dom Phillips, que estão desaparecidos desde o dia 5site aposta blazejunho na mesma regiãosite aposta blazefloresta onde Bruno iniciousite aposta blazecarreira na Funai.
Marubo é coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), entidade para a qual Bruno estava atuando como consultor.
A área é conhecida pela atuaçãosite aposta blazegarimpeiros, pescadores ilegais e narcotraficantes, e também por abrigar a maior quantidadesite aposta blazeindíciossite aposta blazepovos isolados do Brasil.
Bruno era considerado uns dos maiores especialistassite aposta blazeindígenas que vivemsite aposta blazeisolamento ousite aposta blazerecente contato do país.
Ele viajava com o Dom Phillips pelo Vale do Javari quando a dupla desapareceu. As polícias Civil e Federal não descartam nenhuma hipótese, mas, nos últimos dias, aumentaram os rumoressite aposta blazeque a dupla poderia ter sido vítimasite aposta blazeuma emboscada.
As suspeitas sãosite aposta blazeque eles poderiam ter sido vítimassite aposta blazeum atentado praticado por grupos afetados pela atuaçãosite aposta blazeBruno na região, que visava a proteção dos indígenas contra a invasãosite aposta blazegarimpeiros e pescadores ilegais.
Ao longo dos últimos dias, um homem teve a prisão preventiva decretada por suposta conexão com o crime. A polícia encontrou vestígiossite aposta blazesanguesite aposta blazeseu barco.
A polícia também localizou matéria orgânica aparentemente humana próximo ao municípiosite aposta blazeAtalaia do Norte (a 1.136 quilômetrossite aposta blazeManaus). O material genético está sendo periciado pela Polícia Federal.
O desaparecimento da dupla gerou comoção internacional e fez com que organismos estrangeiros como a o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos cobrasse uma resposta mais célere do governo brasileiro no trabalhosite aposta blazebuscas.
Nesta segunda-feira (13/06), veículossite aposta blazeimprensa informaram que os corpos da dupla teriam sido encontrados, mas a Polícia Federal emitiu uma nota desmentindo a informação.
Amazônia, liderança e asma na floresta
Bruno Pereira entrou na Funai na turmasite aposta blaze2010, um dos últimos concursos públicos feitos pelo órgão. Criadosite aposta blazePernambuco, deixou o nordestesite aposta blazemeados dos anos 2000 para realizar um sonho: trabalhar na Amazônia.
"O primeiro emprego dele na Amazônia foi numa empresa terceirizada que atuava próximo à hidrelétricasite aposta blazeBalbina, no Amazonas. Não demorou muito e ele começou a prestar serviços para a Funai. Quando veio o concurso, ele passou e,site aposta blaze2010, começou a trabalhar para o órgão", conta Beto Marubo.
Para vencer completamente a desconfiança, Bruno não contou apenas com a ajudasite aposta blazeindígenas como Beto.
Pouco depoissite aposta blazetomar posse, ele passou uma temporada acompanhando o trabalho do indigenista Rieli Franciscato na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau,site aposta blazeRondônia. Franciscato morreusite aposta blaze2020 atingido por uma flecha durante uma expedição ao territóriosite aposta blazeindígenas isolados.
"Ele foi para Rondônia e fez uma ou duas viagens. O Franciscato foi uma espéciesite aposta blazegrande professor para todo mundo que queria aprender sobre os povos isolados e o Bruno aprendeu muito com ele. Quando ele saisite aposta blazeRondônia e volta para o Amazonas, ele já era um grande conhecedor do assunto", disse Carlos Travassos, que chefiou a Coordenação-Geralsite aposta blazeÍndios Isolados esite aposta blazeRecente Contato da Funai entre 2011 e 2016.
A coordenação é a responsável por implementar políticassite aposta blazeproteção e monitoramento aos povos isolados e foram contactados recentemente no Brasil. Essas populações se encontram na Amazônia e são consideradas vulneráveis tanto ao avançosite aposta blazeatividades ilegais quanto do agronegócio, que pressiona a fronteira agrícola do país cada vez mais ao norte.
De acordo com a Funai, há 114 registrossite aposta blazepovos isolados no país. Oficialmente, a política do governo brasileiro ésite aposta blazeevitar o contato com esses indígenas e garantir a proteção às terras onde eles vivem.
"Bruno voltou (ao Amazonas) muito preparado e, depoissite aposta blazeum tempo, passou a conhecer o Vale do Javari muito bem. Ele sabia se orientar tanto pelos dados cartográficos quanto pelo conhecimento indígena que tinha aprendido. A única coisa que atrapalhava, um pouco, é que ele tinha umas crisessite aposta blazeasmasite aposta blazenoite. Mas ele tomava os remédios estava tudo bem", relembrou Beto Marubo.
Travassos contou que Bruno era conhecido entre os colegas como um profissional extremamente sério e qualificado e que conhecia bem o trabalhosite aposta blazecampo e o funcionamento da administração pública.
Ele atuou como coordenador regional da Funai no Vale do Javari até 2016, quando foi exonerado do cargo após um conflito entre indígenassite aposta blazediferentes etnias terminarsite aposta blazemorte.
Em 2018, porém, ele assumiu a coordenação geralsite aposta blazepovos isolados,site aposta blazeBrasília. Sob o seu comando, o órgão realizou a maior expedição para contatosite aposta blazeindígenassite aposta blaze20 anos.
A expedição tinha, justamente, o intuitosite aposta blazeevitar novos conflitos entre o povo Matis, que já tem contato com os não-indígenas, e o povo Korubo, que vivesite aposta blazeisolamento.
"A gente se aproximou muito porque temos a personalidade parecida. Ele é bem sério e focado, mas ao mesmo tempo, é uma pessoa extremamente bem-humorada e brincalhona", contou Travassos.
"Bruno tinha a posturasite aposta blazeum líder. No serviço público, é muito comum a gente encontrar pessoas com um perfil mais conciliador, que evita conflito. Ele não era assim. Ele se posicionavasite aposta blazeforma bastante clara quando via alguma coisa errada", lembrou o antropólogo Fernando Vianna, que preside a organização Indigenistas Associados (INA), que reúne servidores da Funai.
Sucesso e demissão
Entre o finalsite aposta blaze2018 e iníciosite aposta blaze2019, Bruno procurou o Instituto Brasileirosite aposta blazeMeio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) com um alerta: dragassite aposta blazegarimpeiros ilegais estavam se aproximando perigosamente da área onde havia registrossite aposta blazepovos isolados no Vale do Javari.
O então coordenadorsite aposta blazeoperaçõessite aposta blazefiscalização do órgão, Hugo Loss, passou a montar, junto com Bruno, uma operação para conter o avanço dos garimpeiros. O problema, no entanto, é que como as dragas já estava muito dentro da terra indígena, as aeronaves do Ibama não teriam autonomiasite aposta blazevoo para chegar às áreas onde elas estavam.
"Foi o Bruno que resolveu todas as questões logísticas. Ele conhecia o território e nos ajudou a montar uma rota que permitiu a chegada dos nossos helicópteros na região", lembrou Hugo Loss.
A operação aconteceusite aposta blazesetembrosite aposta blaze2019 e foi considerada um sucesso operacional. Pelo menos 60 balsas foram destruídassite aposta blazeuma ação conjunta da Funai, Ibama e Polícia Federal. Mesmo assim, menossite aposta blazeum mês depois,site aposta blazeoutubro, Bruno foi exonerado.
"Eu liguei para ele um tempo depois da operação para falar sobre outras ações que a gente queria fazer na região e ele me disse que tinha sido exonerado. Perguntei o que ele ia fazer e ele disse que ia se dedicar a uns projetos pessoais", lembrou Hugo Loss.
Em abrilsite aposta blaze2020, foi a vezsite aposta blazeLoss ser exonerado do cargo após liderar outra operaçãosite aposta blazecombate a garimpos ilegais, daquela vez no Pará.
Segunda chance
Após a exoneração, Bruno pediu uma licença para tratarsite aposta blazeassuntos particulares e passou a atuar como consultor Univaja. Entre as suas atribuições estava a estruturaçãosite aposta blazeprojetos voltados à proteção da região contra a atuaçãosite aposta blazegarimpeiros, pescadores ilegais e narcotraficantes.
Foi nessa época que ele passou a ser ameaçado por seu trabalho na região. Segundo o jornal O Globo, uma carta com ameaçassite aposta blazemorte contra Beto Marubo e Bruno foi enviada à Univaja.
Beto Marubo diz que as ameaças não paralisavam Bruno, mas que, nos últimos anos, os dois tomavam mais cuidado ao irem à regiãosite aposta blazeAtalaia do Norte.
"O Bruno não parou por conta das ameaças, mas ele tomava muito cuidado. Não dava mais pra gente ficarsite aposta blazeAtalaia do Norte da mesma forma que a gente ficava antes. Eu morosite aposta blazeBrasília e ele foi morarsite aposta blazeBelém", conta Marubo.
A idasite aposta blazeBruno a Belém coincidiu com um novo momento emsite aposta blazevida pessoal. Beto Marubo conta que Bruno tem uma filhasite aposta blaze16 anos frutosite aposta blazeum relacionamento anterior e que, por conta do trabalho, não teve como se dedicar o suficiente. Agora, ele tentava fazer diferente.
"Ele teve duas crianças com a Beatriz e, nos últimos tempos, ele falava muito sobre a saudade que tinhasite aposta blazeestar com as crianças e com a mulher. Todas as viagens eram muito planejadas para ele não ficar muito tempo longe da família. Era como se fosse uma segunda chance pra ele", contou Marubo.
Hugo Loss diz que o desaparecimentosite aposta blazeBruno e Dom Phillips o fez pensar sobre os riscos que pessoas que, como Bruno e ele, atuam na defesa do meio ambiente e dos povos indígenas.
"Quando as notícias saíram, minha mãe, meu pai, minha companheira, todo mundo me ligou preocupado. No final, eu comecei a pensar que poderia ter acontecido comigo ou com algum companheirosite aposta blazetrabalho. Muita gente já desapareceu e ainda vai desaparecer defendendo a Amazônia", disse.
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