Em cirurgia inédita no Brasil, médica 'queima' tumorbebê ainda no útero:

Legenda do vídeo, Cirurgiã fetal queima tumor intrauterinoprocedimento inédito no Brasil

"Foi desesperador descobrir isso. Tive que manter a fé e buscar os melhores especialistas. A gente tem que valorizar a ciência e saber que ela pode, sim, andarmãos dadas com a fé. Foi o que eu e meu marido, que esteve ao meu ladotodos os procedimentos, fizemos", diz a mãe.

Polyana e Tiago com a cirurgiã fetal Danielle do Brasil

Crédito, Arquivo pessoal/Danielle do Brasil

Legenda da foto, Mãe e bebê foram reavaliados diversas vezes depois dos dois procedimentos realizados para queimar o tumor

Conforme explica a cirurgiã Danielle do Brasil, que se especializoucasosalto risco na King's College,Londres, as descrições existentes na literatura médica indicavam que para um caso comoRagnar, a ação a ser tomada seria queimar um dos vasos que abasteciam o tumor com sangue.

"Assim, com uma agulha grossa que contém fibralaser dentro, podemos queima esse vaso, e a massa 'morreria' e depois seria absorvida pelo corpo. A ideia também era retirar o líquido do tórax para ajudar os pulmões expandirem", explica.

Polyana procurou outras opiniões, mas depoisouvir diferentes especialistas, concordouseguir com o procedimento.

"Queimamos o vaso perfeitamente, e toda a equipe estava bastante satisfeita. Mas infelizmente após 10 dias, o tempo usual que esperamos para ver se a técnica ofereceu benefícios, descobrimos circulação do tumor fez outro caminho, fazendo com que a massa voltasse a crescer e aumentando o líquido no tórax", disse a médica.

À esquerda, médica recebe a agulha enquanto ultrassom é feito para localizar o tumor; à direita, Polyana, medicada, recebe a incisão da agulha capazqueimar o tumor

Crédito, Arquivo pessoal/Danielle do Brasil

Legenda da foto, À esquerda, médica recebe a agulha enquanto ultrassom é feito para localizar o tumor; à direita, Polyana, medicada, recebe a incisão da agulha capazqueimar o tumor

O procedimento inédito

A cirurgiã conta que foi difícil compartilhar a notícia com os pais. "Eles já tinham escutadonós eoutros médicos que uma segunda cirurgia poderia ser necessária, mas a expectativa era grande. Penseum casal que imaginou, durante boa parte da gravidez, que o bebê poderia morrer. Não conseguiram sequer curtir todas as fases como poderiam", afirma.

"Mas do sufoco, nasceu a criatividade", diz Danielle do Brasil. A equipe decidiu não mais tentar queimar vaso, mas destruir, por meio da mesma técnica, o tumor inteiro.

Polyana e seu marido aceitaram a tentativa. "Eu fiz todos os procedimentos sorrindo, como mostram as fotos, por ter a oportunidadesalvar meu filho. De alguma forma, quanto a gente se torna mãe, nasce uma força colossal."

O segundo procedimento durou duas horas e meia. "Foi o mais difícil da minha vida. Na cirurgia fetal, nem sempre sabemos os passostudo que vai acontecer - não é para todos os casos que temos clareza do que está lá dentro. Eu tinha um alvo móvel que era o tumor, dentrooutro alvo móvel que é o líquido amniótico - e tentando atingir a massa com uma base imóvel, que era a minha agulha", afirma a cirurgiã, que operou com a ajuda da médica Juliana Rezende,médicas residentes e da equipeenfermagem e anestesia.

Dessa vez, o tumor não voltou a crescer, e Ragnar nasceu no fim do termo da gestação, no dia 18maio. O primeiro raio-xtórax feito após seu nascimento não mostrou nenhum sinal do tumor.

Imagensultrassom e raio-x torácico (feito após o nascimento do bebê) não indicam mais a presença do tumor

Crédito, Hospital Santa Lúcia

Legenda da foto, Imagensultrassom e raio-x torácico (feito após o nascimento do bebê) não indicam mais a presença do tumor

"Em três meses faremos uma tomografiatórax, um exame mais completo. Nossa expectativa encontrar áreasfibrose por cicatrização do tumor que foi destruído. E claro, que esse neném não precise mais cirurgia", afirma a cirurgiã.

Agora a equipe está reunindo os materiais dos procedimentos para enviar um relatocaso a algumas opçõesrevistas científicas, e assim ter a experiência reportada mundialmente para a comunidade médica.

Polyana e Ragnar

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Ragnar nasceu no dia 18maio, sem sinais do tumor

- Este texto foi originalmente publicado http://vesser.net/brasil-61737339

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