'Tudo por eles': Mães solteiras venezuelanas enfrentam saga da migraçãoapp central das apostasbuscaapp central das apostasvida melhor para filhos:app central das apostas
A viagem começou a pé. Quando chegaram à estrada principal que os levaria ao Brasil, Verónica e os filhos continuaram o percurso pedindo carona para estranhos, segundo a imigrante.
"Enfrentamos chuva e horasapp central das apostascaminhada. Também foi bastante assustador pedir carona, especialmente estando sozinha", relata. "Entre um trecho e outro tínhamos que dormir na calçada, ao lado das rodovias. Eu, na verdade, não conseguia pregar os olhos - ficava o tempo todo vigiando as crianças".
"Não recomendaria que outras mulheres fizessem o mesmo que fiz, porque sei que pode ser muito perigoso".
A família teve que entrar no Brasil por rotas clandestinas devido ao fechamento da fronteira - a divisa com a Venezuela ficou bloqueada por quase dois anos por conta da pandemiaapp central das apostascovid-19 e só foi liberadaapp central das apostasfevereiro deste ano.
"Tivemos que andar por uma trilha bastante instável e eu caí com minha filha no colo quando estávamos passando por algumas poças. Mas andávamos com outras pessoas e elas me ajudaram", conta.
Assim que chegou a Pacaraima, a cidade mais próxima da fronteira venezuelana, Verónica foi internadaapp central das apostasum hospital. Ela relata que ficou sem comer durante toda a viagem para poder alimentar os filhos com o pouco que receberamapp central das apostasdoações.
"Fiquei internada por três dias tomando soro pois estava desidratada, com febre, vômito e muita tontura", conta.
Assim que teve alta, Verónica foi encaminhada para uma organização que acolhe mulheres imigrantes. Ali ela afirma ter recebido apoio para se registrar oficialmente no Brasil e emitirapp central das apostasCarteiraapp central das apostasRegistro Nacional Migratório - o documento mais importanteapp central das apostasum imigrante no Brasil.
Algumas semanas depois a família se mudou para Boa Vista, onde ela relata ter contado com a ajudaapp central das apostasuma senhora que a abrigou com os filhos por quatro meses. Logo depois, a solidariedade sorriu para ela outra vez: uma venezuelana que estava indo para o Rio Grande do Sul doou geladeira, camas, liquidificador e ventiladores paraapp central das apostasnova casa.
Atualmente Verónica trabalha informalmente, como diarista, manicure e lavando e passando roupas para os vizinhos. Ela é auxiliada pelo projeto "Ven, Tú Puedes", iniciativaapp central das apostasacolhimentoapp central das apostasimigrantes venezuelanos da organizaçãoapp central das apostasdireitos humanos Visão Mundial, por meio do qual faz cursosapp central das apostascapacitação profissional.
"Recebi ofertas para empregos fixos, mas não pude aceitar porque não tenho com quem deixar as crianças", diz. "Mas meu maior sonho é abrir meu próprio negócio no Brasil".
Na Venezuela, a mãe solteira afirma que morava com a mãe e trabalhava como empregada doméstica, mas os US$ 5 (cercaapp central das apostasR$ 25) que ganhava por faxina não eram suficientes para alimentar a família.
"Mal conseguia comprar um pacoteapp central das apostasfralda, um litroapp central das apostasleite e um poucoapp central das apostasamidoapp central das apostasmilho com esse salário. A situação econômica estava cada dia pior e as crianças não estava crescendo bem", conta.
"Eu sempre pedia a Deus que meus filhos tivessem no Brasil o que não tive na Venezuela, e tudo o que faço é por eles. Eles são tudo para mim. Quando saí da Venezuela pensei: o que adianta deixar meus filhos com minha mãe para procurar emprego no Brasil por três meses, se eles vão passar fome na Venezuela? Preferi trazê-los. Passamos dificuldades, mas conseguimos".
Histórias como aapp central das apostasVerónica não são incomuns no contexto migratório. De acordo com pesquisa divulgadaapp central das apostasdezembro pela ONU Mulheres, o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) e o Fundoapp central das apostasPopulação das Nações Unidas (UNFPA), as mulheres representam 54% da população venezuelana que permanece nos abrigosapp central das apostasRoraima.
O estudo mostra ainda que 91% das pessoas venezuelanas abrigadas têm filhos, mas a taxaapp central das apostasdesemprego recai mais sobre as mulheres - enquanto quase 34% das venezuelanas abrigadas estão desempregadas, entre os homens este índice éapp central das apostas28%.
Dados do projeto "Ven, Tú Puedes", frequentado por Verónica, confirmam a realidade. Quase 60% das mães atendidas pela organização são chefesapp central das apostasfamília, ou seja, são responsáveis pela maior parte da renda do lar.
No último levantamento do governo federal, divulgadoapp central das apostasdezembroapp central das apostas2021, foram identificados 287 mil migrantes e refugiados venezuelanos regularizados vivendo no Brasil. A situação econômica e social da Venezuela é o principal motivo para a migração, segundo as Nações Unidas.
'Podemos conquistar tudo sozinhas'
Quem também faz parte desse grupoapp central das apostasmães solteiras venezuelanas que decidiram se aventurar no Brasil é Jairobis Parras. Ela está no país desde novembroapp central das apostas2021.
"Senti que precisava sair da Venezuela para dar melhores condiçõesapp central das apostasvida para o meu filho, para que ele pudesse ter acesso a educaçãoapp central das apostasqualidade e ter um futuro melhor que o meu", disse a venezuelanaapp central das apostas31 anos à BBC News Brasil.
Jairobis deixouapp central das apostascidade natalapp central das apostasBolívar, no estadoapp central das apostasMonagas, acompanhada do filho Santiago,app central das apostas7 anos. Eles pegaram carona com um vizinho, que trabalha como caminhoneiro.
"Viajamos por dois dias e só paramos durante algumas horas para dormir, mas nem saímos do carro", conta.
A venezuelana foi acolhidaapp central das apostasPacaraima por amigos e, logo depoisapp central das apostasregularizarapp central das apostassituação migratória, foi viverapp central das apostasBoa Vista com familiares. Sua mãe Noris,app central das apostas49 anos, chegou no Brasil há cercaapp central das apostastrês anos com outros dois filhos para buscar tratamento paraapp central das apostasinsuficiência renal.
"Um dos pontos altosapp central das apostasviver no Brasil até agora foi a qualidade das escolas daqui, que são muito melhores do que na Venezuela", diz.
"Meu filho tem tido experiências incríveis e está até se consultando com um psicólogo. Sinto que ele não está mais com tantas dificuldades nos estudos ou tão rebelde".
Jairobis também foi acolhida pela Visão Mundial, por meio da qual conseguiu emprego como caixaapp central das apostassupermercadoapp central das apostasuma rede local.
A venezuelana tem deciência física e nasceu sem a mão esquerda. "Estava bastante insegura quando comecei a trabalhar, mas aos poucos fui conhecendo os colegas. Todos foram muito solícitos e me ajudaram com a adaptação", conta.
Segundo Jairobis, as experiências que viveu emapp central das apostastrajetória até o Brasil a ajudaram a se tornar mais confianteapp central das apostasrelação àapp central das apostascapacidade como mãe.
"Não esperava ter um filho e quando o Santiago nasceu estava sozinha, sem nenhuma ajuda do pai. Mas assim que ele chegou ao mundo me ensinou a ser mãe, a ser carinhosa, amorosa e atenta, coisas que não era antes", diz.
"Vê-lo crescer dentroapp central das apostasmim trouxe experiências novas que nunca tinha vivido. Tenho lutado por ele".
A venezuelana conta que agora ajuda outras imigrantes que também são mães solteiras a se adaptarem no Brasil, dando conselhos e acolhendo aquelas que precisam.
"Quero que outras mães que estejam se sentindo sobrecarregadas como eu já me senti saibam que não precisamapp central das apostasum marido para continuar. Podemos conquistar tudo sozinhas".
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