Discriminação contra brasileirosolimpíadas de inverno 2024Portugal: 'Tive que falar inglês para ser bem tratado':olimpíadas de inverno 2024

"A expressão que mais se destaca enquanto fundamento na origem da discriminação é a nacionalidade brasileira", diz a CICDRolimpíadas de inverno 2024relatório.

Recentemente, Pedro Cosme da Costa Vieira, professor da Faculdadeolimpíadas de inverno 2024Economia da Universidade do Porto, no norteolimpíadas de inverno 2024Portugal, foi demitido por comentários sexistas, racistas e xenófobos, entre os quais, "as mulheres brasileiras são uma mercadoria".

Em fevereiro do ano passado, Vieira já havia sido suspenso por 90 dias depoisolimpíadas de inverno 2024um grupoolimpíadas de inverno 2024129 alunos ter denunciado crimesolimpíadas de inverno 2024assédio e discriminação durante as aulas.

E,olimpíadas de inverno 2024meio à pandemiaolimpíadas de inverno 2024covid-19, um perfil identificado como sendoolimpíadas de inverno 2024um grupo da Faculdadeolimpíadas de inverno 2024Engenharia da mesma universidade publicou nas redes sociais frases xenófobas e machistas contra brasileiros e brasileiras.

Destino tradicionalolimpíadas de inverno 2024imigração brasileira, Portugal registrou nos últimos anos um aumento expressivo no fluxo migratório vindo da antiga colônia — dados oficiais mostram que a comunidadeolimpíadas de inverno 2024brasileiros morando legalmente no pequeno país europeu subiu pelo quinto ano consecutivo e atingiu a marca recordeolimpíadas de inverno 2024209.072olimpíadas de inverno 20242021, um aumentoolimpíadas de inverno 202413,6%olimpíadas de inverno 2024relação a 2020.

Os brasileiros permanecem, assim, na liderança isolada como a maior comunidade imigranteolimpíadas de inverno 2024Portugal, representando 29,2%olimpíadas de inverno 2024todos os estrangeirosolimpíadas de inverno 2024situação regular no país, segundo o Serviçoolimpíadas de inverno 2024Estrangeiros e Fronteiras (SEF), órgão do governo português responsável pelo controle da imigração.

Mas esse número pode ser ainda maior, pois não inclui os brasileiros com dupla cidadania portuguesa ouolimpíadas de inverno 2024outro país da União Europeia e quem estáolimpíadas de inverno 2024situação migratória irregular.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil estimaolimpíadas de inverno 2024276.200 o númeroolimpíadas de inverno 2024brasileiros vivendoolimpíadas de inverno 2024Portugal, mas associaçõesolimpíadas de inverno 2024apoio a imigrantes calculam que o contingente se aproximaolimpíadas de inverno 2024400 mil.

Alguns brasileiros citados nesta reportagem optaram por denunciar as agressões que sofreram sob condiçãoolimpíadas de inverno 2024anonimato por temer represálias.

'Tocou minha vagina'

"Estávamos juntos havia três meses. Quando me falou sobre um amigo que terminou o relacionamento com uma portuguesa por causaolimpíadas de inverno 2024uma brasileira, ele deu um leve tapa na minha vagina e disse que entendia o porquê. Fiquei horrorizada", diz à BBC News Brasil Mariana Braz, que viveolimpíadas de inverno 2024Portugal desde que se mudou para o país para fazer mestrado.

"As brasileiras são,olimpíadas de inverno 2024maneira geral, vistasolimpíadas de inverno 2024uma forma extremamente sexualizada, como objetos sexuais. A sociedade portuguesa ainda é essencialmente machista e conservadora", acrescenta.

Episódios como o que sofreu a encorajaram a idealizarolimpíadas de inverno 20242020 o projeto social 'Brasileiras não se calam',olimpíadas de inverno 2024apoio a mulheres brasileiras imigrantes.

"Para alémolimpíadas de inverno 2024um canal onde mulheres brasileiras compartilham suas histórias, o projeto também oferece gruposolimpíadas de inverno 2024apoio emocional online gratuitos, e conta com uma redeolimpíadas de inverno 2024psicólogas e advogadas que prestam apoio psicológico e jurídico a custo social", diz Braz.

"Uma vez fui fazer um treinamento para trabalharolimpíadas de inverno 2024uma empresaolimpíadas de inverno 2024energia e o supervisor (que era português), dentro do elevador me disse assim: 'o legal é que não precisamos ir lá para escravizar. Vocês que já vêm por conta própria para essa função'": é um dos vários relatos, a maior parte vindaolimpíadas de inverno 2024Portugal, da conta das 'Brasileiras não se calam' no Instagram, que tem cercaolimpíadas de inverno 202450 mil seguidores.

olimpíadas de inverno 2024 'Brasileiras são todas p olimpíadas de inverno 2024 * olimpíadas de inverno 2024 '

Um relato semelhante aconteceu com a filhaolimpíadas de inverno 2024Isabel, que ainda viveolimpíadas de inverno 2024Portugal.

"Estávamos todos sentadosolimpíadas de inverno 2024uma mesa, a família toda, eu, minha mãe, minhas duas filhas e o namoradoolimpíadas de inverno 2024uma delas. Minha filha levantou-se para buscar uma cadeira e pediu gentilmente à mesa ao lado, na qual havia duas senhoras sentadas. Uma delas nem esperou minha filha sair para dizer, sem mais nem menos, que as 'brasileiras são todas p*'", diz.

Isabel voltou para o Brasilolimpíadas de inverno 2024setembroolimpíadas de inverno 20242020. Ela, que já tinha morado no Japão, viveuolimpíadas de inverno 2024Portugal por dois anos para fazer seu mestradoolimpíadas de inverno 2024uma prestigiada universidade no Porto, a segunda maior cidade do país. E conta ter ficado "chocada" com o preconceito no ambiente acadêmico.

"Não esperava encontrar tanto preconceito no ambiente acadêmico. Certa vez, um professor falou da bunda das brasileiras. Outra afirmou que não havia água potável no Brasil", diz.

"Já havia feito mestrado na Fundação Getúlio Vargas (FGV) e me considero uma pessoa extremamente preparada profissionalmente. Comentei com uma professora que gostariaolimpíadas de inverno 2024me candidatar a uma vaga para lecionar na universidade. Ela riu da minha cara e disse: 'Claro que não, brasileiro vir aqui dar aula?'

"Em outra ocasião, estava falando com a minha orientadora. De repente, ela deu um soco na mesa e disse: 'não entendo nada que falas'".

"Minha filha faz graduação aquiolimpíadas de inverno 2024Portugal e algo semelhante acontece com ela. Os alunos portugueses não costumam se misturar com os brasileiros. Em um trabalhoolimpíadas de inverno 2024grupo, ela ouviaolimpíadas de inverno 2024colegas portugueses: 'Não entendes nada. És burra?'.

"O que mais me chamou atençãoolimpíadas de inverno 2024Portugal foi que o preconceito, diferentemente do Japão, é descarado".

'Tive que falarolimpíadas de inverno 2024inglês para ser bem tratado'

Pedro, que também fez mestradoolimpíadas de inverno 2024Portugal, compartilha a mesma frustração sobre o ambiente acadêmico.

"Nosso curso eraolimpíadas de inverno 2024inglês e, devido a termos técnicos, queríamos fazer a provaolimpíadas de inverno 2024inglês. Mas nos deram a provaolimpíadas de inverno 2024portuguêsolimpíadas de inverno 2024Portugal e acabei indo mal. Quando fui reclamar, ouvi: 'Não é problema meu se não sabes falar português'."

Mas, para Pedro, o pior era a discriminação vivida fora do ambiente universitário. Ele relata que fingia não ser brasileiro e, por vezes, falavaolimpíadas de inverno 2024inglês, a língua maternaolimpíadas de inverno 2024seu companheiro, para "ser bem tratado".

"Quando telefonava para fazer reservasolimpíadas de inverno 2024restaurantes e falavaolimpíadas de inverno 2024português, sempre ouvia que não havia mais mesas disponíveis. Pedia a meu companheiro para ligarolimpíadas de inverno 2024volta. E, surpreendentemente, ele conseguia fazer a reserva. O tratamento era completamente diferente. Passei, então, a falarolimpíadas de inverno 2024inglêsolimpíadas de inverno 2024restaurantes para ser bem tratado".

Hoje vivendoolimpíadas de inverno 2024Londres, no Reino Unido, Pedro diz que gostaolimpíadas de inverno 2024Portugal, mas não pensaolimpíadas de inverno 2024voltar a morar no país.

'Um estranho no bairro'

Formadoolimpíadas de inverno 2024História, Felipe foi professorolimpíadas de inverno 2024Brasília antesolimpíadas de inverno 2024se mudar para Portugal para fazer mestrado.

Porolimpíadas de inverno 2024própria experiência, ele diz sofrer preconceito "velado". "Nunca me violimpíadas de inverno 2024uma situaçãoolimpíadas de inverno 2024preconceito 'descarado'. Mas você sabe quando é alvoolimpíadas de inverno 2024discriminação, ainda que 'sutil', seja pela forma como alguém te olha ou fala com você".

"Trabalho para uma empresaolimpíadas de inverno 2024engenharia aqui e meu trabalho consisteolimpíadas de inverno 2024sair a campo para fazer medições. Uma vez, fui confrontado por um policial que me disse que 'os moradores estão se sentindo incomodadosolimpíadas de inverno 2024ver uma pessoa assim como você, estranha, andando por aqui'. Mostrei a ele todos os meus documentos, inclusive minha carteiraolimpíadas de inverno 2024identidade portuguesa. E ele me perguntou como eu havia conseguido obtê-la".

"O preconceito se alimenta da ignorância das pessoas. Evidentemente, nem todos os portugueses são preconceituosos, mas dizer que não há preconceito contra brasileiros é mentira".

Neste sentido, ele destaca o crescimento da extrema-direitaolimpíadas de inverno 2024Portugal, após o partido Chega, com seu discurso anti-imigração, se tornar a terceira maior força do Congresso,olimpíadas de inverno 2024janeiro deste ano. Embora seu líder, André Ventura, não tenha os brasileiros como focoolimpíadas de inverno 2024suas controversas declarações contra imigrantes, e sim os chamados 'ciganos', o sucesso da sigla nas últimas eleições legislativas "de certa forma dá legitimidade àqueles que querem propagar discursosolimpíadas de inverno 2024ódio, exatamente como aconteceu após a eleiçãoolimpíadas de inverno 2024Jair Bolsonaro", diz o professor.

'Sou vista como ativo'

Embora tenham sido alvoolimpíadas de inverno 2024discriminação, os brasileiros ouvidos para esta reportagem ressalvam que gostam "de Portugal e dos portugueses".

"Gostoolimpíadas de inverno 2024viver aqui. Comoolimpíadas de inverno 2024todo lugar, há prós e contras. Sinto que tenho mais qualidadeolimpíadas de inverno 2024vida aqui do que no Brasil, mas não é por isso que vou 'passar pano' para o racismo e para a xenofobia. Queremos construir uma sociedade mais igualitária, e não será escondendo problemas que vamos alcançá-la. Temos que encará-losolimpíadas de inverno 2024frente. E uma das formas é denunciando o que acontece", diz Braz, idealizadora do 'Brasileiras não se calam'.

Mas a carioca Natalia Arantes, que viveolimpíadas de inverno 2024Lisboa, a capital do país e, portanto, uma cidade mais cosmopolita, relata ter tido uma experiência diferente. Ela diz já ter ouvido casosolimpíadas de inverno 2024discriminação, mas ressalva que nunca passou por situação semelhante.

"Pelo contrário, sempre fui muito bem recebida aqui. Inclusive na minha empresa, sou vista como um 'ativo', pois entendo como lidar melhor com clientes brasileiros que buscam comprar imóveis aquiolimpíadas de inverno 2024Portugal", diz ela, que é corretora.

Ela conta que nos últimos anos vários brasileiros compraram imóveisolimpíadas de inverno 2024Portugalolimpíadas de inverno 2024buscaolimpíadas de inverno 2024uma melhor qualidadeolimpíadas de inverno 2024vida para suas famílias. Os juros baixos das hipotecas são um atrativo à parte.

"Muitos relatam querer uma vida mais segura aqui, longe dos problemasolimpíadas de inverno 2024violência urbana do Brasil. Há também brasileiros que adquirem imóveis por investimento", diz Arantes que mantém uma página no Instagram com dicas sobre como é viverolimpíadas de inverno 2024Portugal com maisolimpíadas de inverno 202420 mil seguidores (@vivasuavidaemportugal).

A reportagem da BBC News Brasil tentou ouvir o governo português, mas até a conclusão desta reportagem, não obteve resposta.

Como denunciar?

Segundo a Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial (CICDR), "quaisquer queixas, que se enquadrem no objeto da Lei n.º 93/2017 (legislação nacional contra discriminação racial),olimpíadas de inverno 202423olimpíadas de inverno 2024agosto, podem ser apresentadas no formulário eletrônico, presencialmente junto da própria CICDR, do ACM, ou atravésolimpíadas de inverno 2024e-mail enviado para cicdr@acm.gov.pt ou por correio postal, endereçado à Presidente da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, enviado para a Rua Álvaro Coutinho, 14, 1150-025 Lisboa, ou ainda presencialmente neste endereço".

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