Em 9 anos, papa mantém perfil conservadorjogos sitebispos no Brasil:jogos site
Na listajogos sitenomeados por Francisco nos últimos anos, porém, há uma predominânciajogos sitebispos "conservadores", ligados às questões internas da Igreja e sem envolvimento com temas sociais.
O teólogo Manoel Godoy, professor da Faculdadejogos siteFilosofia e Teologia Jesuíta (FAJE) e do Centro Loyolajogos siteEspiritualidade, lembra que o papa Francisco não conseguiu mudar os mecanismosjogos sitenomeaçãojogos sitebispos.
Godoy explica que, embora o papa exerça influência - e dê a palavra final -, o processojogos siteescolha continua a ser comandado pelo núncio apostólico (representante do Vaticano)jogos sitecada país.
Na opinião do teólogo, esse processojogos siteescolha no Brasil deveria ser comandado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
"Enquanto essa metodologiajogos siteescolha estiver nas mãos da nunciatura, e da forma como os novos são indicados, se não for alterada, não haverá mudanças. Não mudou a nunciatura nem mudou o métodojogos siteescolha. Não é só a mudança do nome do núncio. O processo temjogos sitepassar para a CNBB, que deveria ser responsável pela escolhajogos siteseus membros. Não pela nunciatura, por alguém que vemjogos sitefora e representa o Estado do Vaticano. O núncio é o embaixador do Vaticano", avalia Godoy.
Com base na história da Igreja, o teólogo observa que, no princípio, o papa São Celestino, do século 5°, defendeu que nenhum bispo deveria ser imposto.
"E nesse sentido, há uma reivindicação crescente na Igreja para que se amplie a participação nos processosjogos sitenomeaçõesjogos sitepárocos e bispos", afirma.
A nomeação do novo núncio no Brasil, Giambattista Diquatro, italianojogos siteBologna,jogos siteagostojogos site2020, deu continuidade à manutençãojogos siteconservadores nesse cargo. E foi comemorada pela ala à direita da Igreja. Diquatro é visto como mais alinhado ao governo do presidente Jair Bolsonaro do que à CNBB.
Ao apresentar suas credenciais a Bolsonaro - cinco meses depoisjogos sitesua indicação -, o núncio compareceu ao Palácio do Planalto usando vestimentas tradicionais e recebeu críticasjogos siteoutros setores da Igreja.
Houve uma mudançajogos siterumos nas nomeaçõesjogos sitebisposjogos sitetodo o mundo a partirjogos site1985.
Uma guinada conservadora no pontificado do papa João Paulo 2° atingiu diretamente o Brasil. A predominância na nomeaçãojogos siteconservadores teve sequência com o papa Bento 16 e segue agora na mesma linha, quase inalterada.
À épocajogos siteJoão Paulo 2°, o cardeal Joseph Ratzinger - então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé -,jogos siteuma entrevistajogos siteque fazia um balanço dos 20 anos anteriores da Igreja, desde o encerramento do Concílio Vaticano 2º (1965), afirmou:
"Nos primeiros anos do pós-Concílio, o candidato ao episcopado parecia ser um sacerdote que fosse, antesjogos sitetudo, aberto ao mundo (...) depois da viradajogos site1968, compreendeu-se que aquela característica única não era suficiente (...) percebeu-se que se faziam necessários bispos abertos, mas ao mesmo temo, dispostos a opor-se ao mundo e a suas tendências negativas".
Nessa perspectiva, começou-se a procurar quem era capazjogos site"opor-se ao mundo", explica o teólogo Manoel Godoy. Assim, foi mudando o perfil do episcopado brasileiro.
Não teríamos mais nomes como ojogos sitedom Paulo Evaristo Arns (então arcebispojogos siteSão Paulo); dom Hélder Câmara (arcebispojogos siteRecife), dom Aloísio Lorscheider (arcebispojogos siteFortaleza); dom Cândido Padim, (bispojogos siteBauru); dom José Maria Pires (arcebispojogos siteJoão Pessoa); dom Ivo Lorscheiter (bispojogos siteSanta Maria - RS) - todos já falecidos -, e outros tidos como identificados "com uma Igreja aberta ao diálogo com o mundo e nãojogos siteposiçãojogos sitecombate ao mundo".
Entre os novos bisposjogos siteFrancisco, os 20 que são apontados pela ala "progressista" da Igreja como "mais abertos" está dom Arnaldo Carvalheiro,jogos siteItapeva (SP), nomeadojogos site2016.
Ele chamou a atençãojogos siteum vídeo divulgado nas redes sociaisjogos siteoutubro do ano passado, por um duro e enfático discursojogos sitesolidariedade ao arcebispojogos siteAparecida, dom Orlando Brandes, à CNBB, e ao papa Francisco.
Orlando Brandes havia se tornado alvojogos siteataquesjogos sitebolsonaristas nas redes sociais após defenderjogos siteum sermão, no dia da padroeira do Brasil (12jogos siteoutubro), um país "sem corrupção, pobreza, mentiras e armas". O arcebispo disse que não podíamos ter "uma Pátria armada".
Dom Arnaldo Carvalheiro propôs aos que criticavam Brandes e "falam besteira sobre a Campanha da Fraternidade ou que acusam falsamente, caluniam, xingam e ofendem bispos, padres e leigos" que saíssem imediatamentejogos sitesua igreja durante a missa.
"Quero que quem se diz católicojogos siteverdade, tome uma posição, permaneça na igreja e cante junto. Mas se você está falando mal da Igreja, da Campanha da Fraternidade, ao dizer que está a favorjogos siteabortista, o que é fake news... Se você está aqui nesse momento, me acompanha nas redes sociais, e estájogos siteacordo que o papa é vagabundo, que o papa é safado, que a CNBB é o câncer da igreja e que dom Orlando usa a batina para manipular o povojogos siteDeus e fazer politicagem, levante-se agora e vá embora. Não quero você aqui. Levante-se agora, vá embora e não volte. Vá procurar outra igreja... Você já não estájogos sitecomunhão. Já não pertence mais a esta igreja".
O 'centro' católico
Não se imagina um conjunto do episcopado tão aguerrido assim. Contudo, na avaliaçãojogos sitereligiosos, muitos bispos tidos mesmo como "moderados" ou até "conservadores" deverão se aproximar das posiçõesjogos siteFrancisco, favorável hoje a uma abertura maior na Igreja às chamadas minorias - mulheres, homossexuais - e também padres casados, entre outros grupos -, alémjogos siteincentivar o debatejogos sitetornojogos sitetemas fundamentais hoje, como o meio ambiente.
Embora se destaque na Igreja Católica a tradicional divisão entre os chamados "conservadores" e "progressistas", existe um enorme agrupamentojogos sitereligiosos - predominante, na realidade -jogos sitebispos considerados tradicionais", nem à direita ou à esquerda necessariamente, que tendem a seguir o rumo do pontificado atual.
Se eram considerados conservadores à épocajogos siteJoão Paulo 2° e Bento 16, hoje tendem a acompanhar as posições "mais abertas"jogos siteFrancisco.
Os "tradicionais" atuariam como uma espéciejogos site"centro" na Igreja Católica, se mantendo próximos ao poder e caminhando para onde seguem os novos ventos.
"Dom Odílio Scherer (arcebispojogos siteSão Paulo), por exemplo, é apontado como conservador, mas tem surpreendido com suas posições na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e hoje é um pontojogos siteequilíbrio, uma espéciejogos sitefreio, entre progressistas e conservadores na Igreja. Assim, se sai dessa dicotomia", diz o agente pastoral Toninho Kalunga, membro do Cotolengo, entidade filantrópica ligada à Congregaçãojogos siteSão Luiz Orione,jogos siteCotia (SP), e um dos articuladoresjogos sitegruposjogos siteleigos, padres e religiosos vinculados à Teologia da Libertaçãojogos sitetodo o país.
Entusiasta das comunidades eclesiaisjogos sitebase católica (Cebs), Kalunga vê mudanças positivas na Igreja. "Os avanços são notáveis", comemora.
"Francisco está buscando mudança na estrutura da Igreja, que o Concílio Vaticano 2º já vinha pedindo. Temos um clero conservador nesses últimos dez anos, mas ele está conseguindo fazer com que o espírito do Concílio Vaticano 2º seja vivido e reafirmado", diz o padre Padre Siro da Silva Chaves, da Ordem dos Passionistas, vigáriojogos siteItaboraí (RJ), que está se transferindo para uma missãojogos siteBuenos Aires, justamente onde nasceu Francisco.
Ivenize Santinon, professora na Faculdadejogos siteTeologia da PUC-Campinas (SP), vê sinaisjogos siteavanço na Igreja, mas mantém reservas.
"Ele (papa) tem essa ânsia (por mudanças), mas não consegue ir muito adiante. A máquina da Igreja éjogos sitecerta forma pesada e estruturada por muita gente que antecedeu o seu pontificado. E Francisco não tem tanto tempo para fazer grandes mudanças. Então, ele está fazendo o que dá. Mas é superarriscado, é ousado. Está deixando escrito aquilo que pensa. Ele faz sinalizações e manda recadojogos siteuma forma simples sobre algo que enxerga e sabe ser muito difícil mudar", diz a teóloga.
Em alguns pontos, ele deveria ter avançado mais, diz Santinon. "Na questão das mulheres, por exemplo, ele demorou. (...) No mundo acadêmico, na formação, na estrutura e nos espaçosjogos sitedecisão da Igreja, nós não fomos contempladas. E, desde o começo, ele sempre colocou que isso é importante na Igreja Católica. Mas não conseguiu mexer", analisa a teóloga.
Os padres hoje no Brasil são conservadores, emjogos sitemaioria, como mostra a a pesquisa "O novo rosto do clero - Perfil dos padres novos no Brasil", coordenada pelo professorjogos siteteologia da PUC-PR Agenor Brighenti, e lançadajogos sitelivro no ano passado.
O episcopado brasileiro segue na mesma linha. Mudanças nos rumos da Igreja Católica nunca ocorrem num período menor que 20 anos, avaliam os estudiososjogos sitereligião.
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