'É como matar um cão': o dilema do abateroleta xxxtremejegues no Nordeste para produçãoroleta xxxtremeremédio na China:roleta xxxtreme
Estima-se que o produto movimente bilhõesroleta xxxtremedólares por ano. Uma peçaroleta xxxtremecouro, por exemplo, pode ser vendida na China por até U$ 4 mil (cercaroleta xxxtremeR$ 22,6 mil) — uma caixaroleta xxxtremeejiao sai por R$ 750. No Brasil, os valores do comércio são bem menores — jumentos são negociados por R$ 20 no sertão, e depois repassados aos chineses.
A alta demanda e lucratividade fizeram com que empresários chineses mirassem o Brasil, país com uma população abundanteroleta xxxtremejegues —roleta xxxtreme2013, havia 900 mil deles, a maior parte no Nordeste, segundo o IBGE. Hoje,roleta xxxtremeacordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) há por voltaroleta xxxtreme400 mil. Entre 2010 e 2014, o Brasil abateu 1 mil jumentos — já entre 2015 e 2019, foram 91,6 mil.
Mas esse número hoje é maior. Apenasroleta xxxtremeAmargosa, são 4,8 mil animais por mês — 57,6 mil por ano. Há outros dois frigoríficos com permissão para a atividade nas cidaderoleta xxxtremeSimões Filho e Itapetinga, também na Bahia.
Nos últimos meses, a reportagem da BBC News Brasil se debruçou sobre o comércio e abateroleta xxxtremejumentos e como esse mercado vem afetando parte do Nordeste. Embora tenha sido permitida recentemente, a exportação para a produção do ejiao tem sido apontada por especialistas, autoridades e defensores da causa animal como um mercado extrativista.
Para fabricar o produto, os animais são recolhidos da caatiga eroleta xxxtremezonas ruraisroleta xxxtremegrande volume, sem que exista uma cadeiaroleta xxxtremeprodução que renove o rebanho, como ocorre com o gado. Ou seja, eles são abatidosroleta xxxtremeuma velocidade maior do que a capacidaderoleta xxxtremereprodução, o que acendeu um alertaroleta xxxtremeque a populaçãoroleta xxxtremejegues pode ser eliminada nos próximos ano no Nordeste.
Além disso, o setor cresceuroleta xxxtremeconsonância com o aumento da fome e da pobrezaroleta xxxtremeuma região historicamente já castigada por esses problemas. Mas também cresceuroleta xxxtrememeio a denúnciasroleta xxxtrememaus-tratos, contaminaçãoroleta xxxtremeanimais por mormo, uma doença mortal, trabalho análogo à escravidão e abandonoroleta xxxtremejegues à morte por inanição.
Dependência econômica
A cidaderoleta xxxtremeAmargosa,roleta xxxtreme40 mil habitantes e conhecida porroleta xxxtrememovimentada festaroleta xxxtremeSão João, é o ponto final do jumento nordestino antesroleta xxxtremeele ser abatido e exportado para virar remédio na China. Ela ficaroleta xxxtremeuma região conhecida como Vale do Jiquiriçá, um dos lugares mais bonitos do Brasil, com formações rochosasroleta xxxtreme80 metrosroleta xxxtremealtura espalhadas pelo cenárioroleta xxxtremecaatinga.
Desde 2017, o município é o local onde mais se abate jegues no país.
Segundo o prefeito, Júlio Pinheiro (PT), o setor é o terceiro maior empregadorroleta xxxtremeAmargosa, atrás só da própria prefeitura eroleta xxxtremeuma fábricaroleta xxxtremesapatos. Para ele, o recente mercado é fundamental para a economia do município, gerando empregos, renda e impostos.
"O frigorífico têm ajudado na geraçãoroleta xxxtremerenda eroleta xxxtremeempregos diretos, ainda mais num momento tão complicado da economia do país, sobretudo com a pandemia. O frigorífico tem sido a sustentaçãoroleta xxxtremecentenasroleta xxxtremefamílias aqui na cidade", diz Pinheiro,roleta xxxtremeseu gabinete.
Essa importância econômica foi o principal argumento da cidade ao entrar na Justiça para tentar liberar o abate, que havia sido suspenso após denúnciasroleta xxxtrememaus-tratos,roleta xxxtreme2018. Mas não apenas Amargosa procurou a Justiça. O governo estadual, do petista Rui Costa, e o federal,roleta xxxtremeJair Bolsonaro (PL), fizeram o mesmo.
Quem decidiu o caso foi Kassio Nunes Marques, hoje ministro do STF e à época, desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Ele não entrou no mérito da ação civil-pública, que ainda corre na Justiça e pede a proibição dos abates. Em decisãoroleta xxxtremepouco maisroleta xxxtremeduas páginas, Nunes Marques concordou que a liminar da Justiça baiana que suspendeu o setor prejudicava a economia da Bahia.
"[A atividade] é legal e está amparada por normativos legais editados pelos órgãos competentes e a interrupção abrupta da referida atividade industrial é passívelroleta xxxtremecausar não só as empresas criadas e dedicadas às atividades danos irreparáveis ouroleta xxxtremedifícil reparação, como aos municípios que hospedam os referidos abatedouros, como o próprio Estado da Bahia", escreveu, liberando novamente o setor.
Em Amargosa, o prefeito Júlio Pinheiro considerou a decisão justa, mas diz não conhecer bem os empresários responsáveis pelo abatedouro que funciona na cidade. "É um grupo chinês. Eles vieram aqui (na prefeitura) uma vez, mas não são pessoas conhecidas na cidade", diz.
O CNPJ do Frinordeste aponta um quadro societário com dois chineses, Ran Yang e Zhen Yongwei, ambos residentes no exterior, e o brasileiro Alex Franco Bastos. Funcionários da empresa, ouvidos sob condiçãoroleta xxxtremeanonimato, relatam que raramente os proprietários chineses visitam o espaço, e que, no dia a dia, a atividade é comandada por Bastos.
A reportagem tentou entrevistá-lo diversas vezes, indo ao frigorífico, ligando e enviando mensagens pelo WhatsApp, mas nunca obteve retorno. Também enviou mensagem para Zhen Yongwei, mas ele não respondeu.
Já a JBS, que arrendou o espaço para o trioroleta xxxtremeempresários há três anos, afirmou que "toda a operação da planta mencionada está sob responsabilidade da empresa" que arrendou a planta.
'É como matar um cachorro'
Três vezes por semana, cercaroleta xxxtreme400 jumentos chegam ao Frinordesteroleta xxxtremecaminhões fechados — 50 por veículo. Funcionários relatam que, diante do calor,roleta xxxtremeviagensroleta xxxtremeaté 500 km e da condição física debilitada, animais chegam a desembarcar na empresa machucados ou até mortos.
Com pouca variação, a maioria dos 150 trabalhadores ganha por voltaroleta xxxtremeR$ 1.300 por mês. Eles vivemroleta xxxtremecomunidades pobres perto do frigorífico, locais onde o fornecimentoroleta xxxtremeágua só é feito três vezes por semana e onde ainda é possível ver um ou outro jumentos tralhandoroleta xxxtremetarefas agrícolas.
Embora dependam do serviço para sobreviverroleta xxxtremeum momentoroleta xxxtremealta do desemprego eroleta xxxtremeuma cidade sem muitas alternativas, os funcionários dizem ter dificuldaderoleta xxxtremelidar com a morteroleta xxxtrememassaroleta xxxtremeum animal que faz parteroleta xxxtremeseu cotidiano — desejam que o frigorífico mude o modeloroleta xxxtremenegócios para o abateroleta xxxtremebovinos.
"Para mim é como matar um cachorro, um bichoroleta xxxtremeestimação. A gente cresce montando jegue, e agora tem que ver jegue morrendo sem parar. É muito jegue, amigo. Muito mesmo, tem semana que são 1,2 mil. Ninguém aguenta mais ver essa situação", diz João (nome fictício), que trabalha no frigorífico e depende do salário para sustentar a família. Ele passou meses desempregado e, sem opção, aceitou um emprego. "Trabalho por que preciso, não por concordar. Mas, se fechar, como ficam as famílias aqui?", diz.
Outro funcionário, José, também diz ter dificuldaderoleta xxxtremeassistir todos os dias a tantos abates. "A gente nem sabe direito porque estão fazendo isso, o que vão fazer com eles... Muitos chegam aqui machucados, morrendo. É um animal que a gente vê desde pequeno, faz parte da nossa vida. É complicado participar disso, mas a precisão exige. Tenho filhos para criar, a situação está bem difícil", afirma.
Pobreza e abate
O caminho do jumento até Amargosa é longo.
Os animais são recolhidosroleta xxxtremevários pontos do Nordeste, como nos arredores da cidaderoleta xxxtremePaulo Afonso, no norte da Bahia, a 534 km do frigorífico. Eles são pegos ou comercializados por agricultores pobres que trabalham no setor para fugir da fome, sob a supervisãoroleta xxxtremefazendeiros.
Um desses núcleos tinha um sertanejoroleta xxxtremesituaçãoroleta xxxtremefome como personagem. Em abril, ele foi abordado pela Polícia Militar depoisroleta xxxtremeuma denúncia anônima apontar furtoroleta xxxtremejeguesroleta xxxtremePaulo Afonso, alémroleta xxxtremesupostos maus-tratos.
Com ele foram encontrados 13 animais, embora ele tenha negado os furtos. Segundo o Boletimroleta xxxtremeOcorrência, os jegues estavamroleta xxxtreme"claro estadoroleta xxxtrememaus-tratos", machucados, e sem água e comida por pelo menos três dias. Mas os jumentos não eram do sertanejo.
No BO, ele narra que recebia R$ 20 por animal recolhido, o único sustento da família. "Com esse dinheiro é que estava vivendo, utilizando-o para comprar leite para os meninos, fraldas e comida para a casa", narra o documento. Diz ainda que era a segunda vez que ele caçava e vendia jumentos, mas que não tinha dinheiro para alimentá-los. "Narra que os pegou apenas para colocar o que comer para o filhos."
Quem comprava os jegues do sertanejo era um policial civil e fazendeiro chamado Antônio Fernando Filho,roleta xxxtreme59 anos, morador da cidaderoleta xxxtremeRodelas, também no norte da Bahia.
No BO, ele afirmou que tinha maisroleta xxxtreme100 emroleta xxxtremefazenda e que os repassava aos chineses — também argumentou que alimentava os animais e seguia todas as regras sanitárias.
Em entrevista à BBC News Brasil por telefone, Filho diz que trabalhou na área por dois anos, mas parou depois do caso narrado acima. Ele ainda tem 30 animais emroleta xxxtremefazenda, mas diz que o local foi arrendado por outra pessoa, que recolhe jegues no interior do Piauí e do Maranhão. "Estão todos comendo feno e bebendo água do rio", afirma.
O fazendeiro afirma que recebia uma comissão dos frigoríficosroleta xxxtremeaté R$ 50 por animal coletado — era um complemento pararoleta xxxtremerenda como policial civilroleta xxxtremeRodelas. "A gente pegava no mato, na estrada,roleta xxxtremequalquer lugar. Quando juntava uns 50, colocava num caminhão e enviava pro frigoríficoroleta xxxtremeAmargosa, Simões Filho e Itapetinga (locaisroleta xxxtremeoutros abatedouro licenciados)."
Mas, nos últimos meses, o comércio na regiãoroleta xxxtremePaulo Afonso diminuiu muito, diz. "Tem muito jumento ainda, mas eu parei também porque tem muita concorrência hoje, todo mundo atrásroleta xxxtremejumento pra vender pros chineses. Aqui quase não tem mais animal, caiu 80%. Mas o povo precisa, está muito necessitado."
Morte e maus-tratos
Depoisroleta xxxtremerecolhidos, os animais percorrem maisroleta xxxtreme530 kmroleta xxxtremecaminhão até a Chapada Diamantina, onde são armazenadosroleta xxxtremefazendas arrendadas nas cidadesroleta xxxtremeIaçu, Milagres e Itatim, a cercaroleta xxxtreme40 km do destino finalroleta xxxtremeAmargosa.
No dia 18roleta xxxtremenovembro, a reportagem encontrou cercaroleta xxxtreme20 jeguesroleta xxxtremeuma árearoleta xxxtremecaatinga, às margensroleta xxxtremeuma rodovia praticamente deserta que liga as três cidades. Eles estavam sozinhos, pastando, algumas fêmeas grávidas e um filhote — um dia depois, desapareceram do local. Havia vegetação e água porque tinha chovido dias antes, mas nem sempre é assim.
Em 9roleta xxxtremejulho deste ano, por exemplo, a Polícia Militar da Bahia recebeu uma denúncia: centenasroleta xxxtremejumentos que seriam abatidos no Frinordeste estavam morrendoroleta xxxtremefome e sede na fazenda Boa Esperança,roleta xxxtremeItatim. Quem os encontrou foi o tenente Benjamin Pereira e Silva, comandante do pelotão da PM na cidade.
"Infelizmente a situação era pior do que imaginávamos. Eram uns 200 animais, que tinham vindo da cidaderoleta xxxtremeRodelas. Eles estavam bem debilitados, machucados, muitas fêmeas prenhas, muitas abortando. Não tinha mais capim nem água, nenhuma comida para eles. Era uma área totalmente árida. Encontramos muitos animais mortos, com urubusroleta xxxtremecima. Não havia nenhum tiporoleta xxxtremeapoioroleta xxxtremeequipe veterinária. Levamos o gerente para a delegacia e ele foi autuado por maus-tratos", relata o tenente.
"No dia seguinte, voltamos à fazenda e não havia mais nenhum animal. Todos foram levados para outro lugar", diz o policial.
Não foi a primeira vez que isso aconteceu. Em 2019, centenasroleta xxxtremejegues foram encontradosroleta xxxtremesituação parecida nas cidadesroleta xxxtremeCanudos e Itapetinga, também no interior da Bahia. Nestes casos, os animais seriam destinados a outros abatedouros, não oroleta xxxtremeAmargosa.
Em Canudos, estima-se que 200 dos cercaroleta xxxtreme1 mil jumentos encontrados morreramroleta xxxtremeinanição. Os outros estavam bastante debilitados. No local, foram encontrados dois imigrantes chineses, responsáveis por cuidar do rebanho.
"Eram dois jovens que não recebiam salário para trabalhar ali. Não falavam português, tivemos que usar o Google Tradutor", conta Patrícia Tatemoto, PHDroleta xxxtremebiologia e pesquisadora da ONG britânica The Donkey Sanctuary, que atua na defesa do jumento contra o mercadoroleta xxxtremeejiao. "Quando os encontramos, eles não tinham comida na fazenda, estavam com fome, não tinha nem banheiro. O laudo da polícia apontou que eles estavamroleta xxxtremetrabalho análogo à escravidão."
Os dois imigrante ainda foram autuados por maus-tratos, mas nunca mais foram vistos na regiãoroleta xxxtremeCanudos.
Mormo
Outro problema envolvendo o comércioroleta xxxtremejumentos é uma doença chamada mormo, zoonose contagiosa que afeta equídeos e asininos e pode ser transmitida ao ser humano — o índiceroleta xxxtrememortalidade é alto, segundo pesquisadores. Ela é transmitida por contatoroleta xxxtremegotículas contaminadas com olhos, pele, mucosas e aparelho respiratório.
Em 2019, a Agênciaroleta xxxtremeDefesa Agropecuária da Bahia (Adab) decidiu examinar o sangueroleta xxxtreme694 jumentos que foram apreendidosroleta xxxtremeCanudos. Dez deles estavam infectados com Mormo e precisaram ser sacrificados — outros 14 tinham anemia infecciosa equina, doença causada por um vírus.
"O contágio pela bactéria do mormo ocorre pelo contatoroleta xxxtremeanimais infectados com os indivíduos, como fazendeiros e veterinários", explicou Eusébio Lino Filho, médico-residenteroleta xxxtremeinfectologia no Hospital das Clínicas da Faculdaderoleta xxxtremeMedicina da USP,roleta xxxtremeuma audiência pública sobre o assunto na Assembleia Legislativa da Bahia.
Não havia relatosroleta xxxtrememormo no Brasil até 2020, quando uma criançaroleta xxxtreme11 anos, da periferiaroleta xxxtremeAracaju, apresentou sintomas da doença, como dor no tórax e faltaroleta xxxtremear — ela tinha contato constante com cavalos.
"No raio-X foi constatado um aumento no tamanho do coração incomum para a idade. Mesmo medicado, o paciente evoluiu mal. A pressão caiu, ele tinha vários nódulos no pulmão e abcessos pelo corpo", relata o médico, que participou do tratamento do paciente. Diagnosticada com mormo e tratada por 21 dias no hospital, a criança depois melhorou e recebeu alta.
Mesmo com casosroleta xxxtremeinfecçãoroleta xxxtremejumentos, a Adab decidiu retirar a obrigatoriedade do exameroleta xxxtrememormoroleta xxxtremejumentos que são abatidos nos três frigoríficos.
A agência diz que a decisão seguiu orientação do Ministério da Agricultura: "Do pontoroleta xxxtremevistaroleta xxxtremesaúde animal, visando o controle e erradicação da doença no país, não há ganhosroleta xxxtremevigilânciaroleta xxxtremese realizar examesroleta xxxtrememormoroleta xxxtremeanimais destinados ao abate". Também informou que os estabelecimentos funcionam sob SIF (Serviçoroleta xxxtremeInspeção Federal). No Frinordeste, fiscais do ministério checam "condiçõesroleta xxxtremetransporte e saúde visual" dos animais, diz a pasta.
Porém, o Ministério Público e médicos veterinários pensamroleta xxxtremeoutra forma. Para eles, a atividade está colocando a saúde dos trabalhadoresroleta xxxtremerisco, alémroleta xxxtremecriar um possível problema sanitário que não existia no país.
"A exportação criou um risco sanitário, inclusive para o agronegócio. Esse animais são recolhidosroleta xxxtremevários lugares, e depois transportados pelo Nordeste sem que a gente conheça a procedência. Os empresários que negociam os jumentos não têm ideia do risco que estão criando. É uma bomba-relógio", explica Chiara Oliveira, professoraroleta xxxtremeMedicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e uma das pesquisadoras que acolheramroleta xxxtremeuma fazenda todos os jegues apreendidosroleta xxxtremeCanudos — dos maisroleta xxxtreme690 inicias, cercaroleta xxxtreme150 sobreviveram.
Em nota técnica do ano passado, o Conselho Regionalroleta xxxtremeMedicina Veterinária da Bahia (CRMV-BA) afirmou que atualmente o mormo é uma "doença endêmica" no rebanhoroleta xxxtremeequinos e jumentos no Estado. E que trabalhadores que manipulam os animais,roleta xxxtremeespecial osroleta xxxtremefrigoríficos, "correm sérios riscosroleta xxxtremecontaminação por via respiratória e mucosas (pelos olhos, por exemplo)".
O promotor Julimar Barreto Ferreira, titular da Promotoria Regional Ambiental do Recôncavo Sul, abriu um inquérito para investigar o caso e outras denúnciasroleta xxxtremeirregularidades. "Não podemos criar e manter um mercado que coloca a espécie e os trabalhadoresroleta xxxtremegrande risco. É isso que está acontecendo hoje na Bahia", diz, por telefone.
'Símbolo para o cristão'
O CRMV-BA acredita que, sem uma cadeia produtiva, o ritmo dos abates e a demanda chinesa pelo ejiao podem praticamente dizimar a populaçãoroleta xxxtremejumentos no Nordesteroleta xxxtremepoucos anos, diagnóstico compartilhado por entidades como o Fórum Nacionalroleta xxxtremeProteção e Defesa Animal, a Frente Nacionalroleta xxxtremeDefesa dos Jumentos e a The Donkey Sanctuary.
Esse cenário foi registrado na própria China, segundo um estudo dos pesquisadores Richard Bennett e Simone Pfuderer, da Universidaderoleta xxxtremeReading, no Reino Unido.
Em 2000, o país tinha por voltaroleta xxxtreme9 milhõesroleta xxxtremecabeças —roleta xxxtreme2016, o número caiu para 2 milhões. Em 2000, a produção anualroleta xxxtremeeijiao eraroleta xxxtreme1,2 tonelada — jároleta xxxtreme2016, foram 5 toneladas. Estima-se que o país preciseroleta xxxtreme5 milhõesroleta xxxtremepelesroleta xxxtremejumento por ano, mas, desde 2017, o estoque interno não é mais capazroleta xxxtremesuprir a demanda.
A soluçãoroleta xxxtremeparte do empresariado chinês foi buscar animaisroleta xxxtremeoutros países, como o Quirguistão, que perdeu 57%roleta xxxtremeseu rebanhoroleta xxxtremejumentos desde 2017, segundo estudo da ONG The Donkey Sanctuary. Países como Mali, Gana e Etiópia recentemente proibiram o abate, embora ele ainda ocorra clandestinamente.
No Brasil, um estudo da USP aponta que criar um jumento para o abate custariaroleta xxxtrememédia R$ 4 mil — a gestaçãoroleta xxxtremeum filhote leva 13 meses. Por outro lado, um estudo da ONG britânica estima que,roleta xxxtremetodos os animais recolhidos no meio ambiente, 20% morrem antesroleta xxxtremechegar aos frigoríficos.
Nas últimas décadas, a espécie perdeu a importância na agricultura sertaneja depoisroleta xxxtremeser trocada por motocicletas. Livresroleta xxxtremeestradas e na caatinga, os jegues se reproduziram sem política pública voltada para o controle ou questões sanitárias. Vagando por rodovias, eles também se envolveramroleta xxxtremegraves acidentesroleta xxxtremecarro.
No início da década passada, o poder público tentou fomentar o consumoroleta xxxtremecarneroleta xxxtremejumento, como ocorreroleta xxxtremealguns países, mas o projeto não decolou por uma questão cultural: a população se recusa a comerroleta xxxtremecarne.
Para Gislane Brandão, advogada e coordenadora da Frente Nacionalroleta xxxtremeDefesa dos Jumentos, o cenário no Nordeste escancara "uma grande omissão do poder público". "Onde estão as barreiras sanitárias, a regulação do transporte, a cadeia produtiva? Os jumentos estão sofrendo, morrendo, sumindo. E as autoridades estão se omitindo sobre a situação", diz.
Por meio da Adab, o governo da Bahia afirma que não éroleta xxxtremeresponsabilidade da agência criar uma cadeia produtiva e que uma recente portaria dita que "fêmeasroleta xxxtremeterço final da gestação não serão consideradas aptas ao abate", uma medida que, para agência, ajuda a renovação do rebanho. Na mesma norma, diz a Adab, "fica estabelecido que animais abaixoroleta xxxtreme90 kg também não podem ser encaminhados para abate."
Já o Ministério da Agricultura alega que é responsável pela fiscalização sanitária dos frigoríficos, mas que não está entre suas competências o "controle sobre o númeroroleta xxxtremeanimais existentes ou criados, nem sobre riscosroleta xxxtremeextinção". Informou, ainda, que a fiscalizaçãoroleta xxxtremeórgãos ligados a pasta "garante que os animais chegam (ao abatedouro) com saúde e sem sinaisroleta xxxtrememaus-tratos durante o transporte."
Em Amargosa, o prefeito Júlio Pinheiro conta que o grupo chinês prometeu criar uma cadeia produtiva do animal, alémroleta xxxtreme"trazer novas espécies para a região", o que ainda não aconteceu. Ele não acredita que o jumento possa ser dizimado. "Essa avaliação é um equívoco. A última estimativa do IBGE falaroleta xxxtremequase 1 milhãoroleta xxxtremeanimais, boa parte solta na caatinga e nas rodovias, colocandoroleta xxxtremerisco a vida das pessoas, sem assistência zootécnica e veterinária que dê um bem-estar aos animais. A gente acredita que isso não vai acontecer com uma produção com abate controlado, com inspeção e normas", diz.
Em uma praça da cidade, o professor Joelson Alcântara, ativista da causa animalroleta xxxtremeAmargosa, pensa diferente. Para ele, além da importância histórica para o sertanejo, o jumento também é um símbolo religioso para o cristão.
"Na Bíblia, Jesus monta um jumento quando ele entraroleta xxxtremeJerusalém. É um animal tão importante que participou da vidaroleta xxxtremeJesus Cristo, e está sendo exterminado por uma questão financeira. Não tem explicação", diz.
Na música Apologia ao Jumento (1976), Luiz Gonzaga também cita Jesus quando canta que o jegue "é sagrado": "E na fuga para o Egito/ Quando o julgo anunciou/ O jeguin foi o transporte que levou nosso Senhor".
E continua: "O jumento é nosso irmão, quer queira quer não/ O jumento sempre foi o maior desenvolvimentista do sertão/ Ajudou o homem na lida diária/ ajudou o homem/ ajudou o Brasil a se desenvolver".
roleta xxxtreme Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube roleta xxxtreme ? Inscreva-se no nosso canal!
Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosroleta xxxtremeautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaroleta xxxtremeusoroleta xxxtremecookies e os termosroleta xxxtremeprivacidade do Google YouTube antesroleta xxxtremeconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueroleta xxxtreme"aceitar e continuar".
Finalroleta xxxtremeYouTube post, 1
Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosroleta xxxtremeautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaroleta xxxtremeusoroleta xxxtremecookies e os termosroleta xxxtremeprivacidade do Google YouTube antesroleta xxxtremeconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueroleta xxxtreme"aceitar e continuar".
Finalroleta xxxtremeYouTube post, 2
Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosroleta xxxtremeautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaroleta xxxtremeusoroleta xxxtremecookies e os termosroleta xxxtremeprivacidade do Google YouTube antesroleta xxxtremeconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueroleta xxxtreme"aceitar e continuar".
Finalroleta xxxtremeYouTube post, 3