Ernst Götsch: o agricultor suíço que ensina a 'plantar água' na Bahia:spaceman pixbet jogar

Legenda da foto, Ernst Götsch se mudou para o Brasil nos anos 1980 interessadospaceman pixbet jogaravançarspaceman pixbet jogarpesquisas iniciadas na Suíça, seu país natal.
Legenda do vídeo, Os agricultores que ‘plantam água’spaceman pixbet jogarum Brasil cada vez mais seco

Enquanto várias práticas agropecuárias são apontada como vilãs do clima, ele defende a adoçãospaceman pixbet jogarsistemas agroflorestais, que combinam a produçãospaceman pixbet jogarcomida com a regeneraçãospaceman pixbet jogarflorestas.

Enquanto secas intensas quebram safras país afora, ele ensina agricultores a "plantar água", recuperando nascentes e fazendo com que suas plantações bombeiem mais água para a atmosfera.

E, no sistema dele, todos os seres — quer sejam humanos, animais silvestres ou microorganismos — têm papéis igualmente importantes.

"Eu plantei essa pupunheira, mas muitas outras na fazenda foram plantadas pelos japus", explica Götsch. "Eles me ajudam, eu os ajudo."

Legenda da foto, Ernst Götsch poda árvores emspaceman pixbet jogaragroflorestaspaceman pixbet jogarPiraí do Norte (BA).

Terra arrasada

Quando o suíço chegou ali, nos anos 1980, o cenário era outro. Quase todos os 510 hectares da propriedade haviam sido desmatados, e os animais silvestres eram raros.

Os donos anteriores passaram anos criando porcos e cultivando mandiocaspaceman pixbet jogarforma convencional, o que esgotou o solo e assoreou 14 riachos que cruzavam a fazenda.

"Dentrospaceman pixbet jogarpouco menosspaceman pixbet jogardois anos, eu tinha reflorestado tudo", conta o suíço, que também viu todos os riachos renascerem no processo.

Hoje a maior parte da propriedade virou uma reserva ambiental privada, e somente 5 hectares — menosspaceman pixbet jogar1% do terreno — lhe geram receitas.

É nessa área que,spaceman pixbet jogarmeio a grande variedadespaceman pixbet jogarfrutas, legumes e árvores imensas, ele cultiva um cacauspaceman pixbet jogaralto valor, exportado para Portugal.

Com tamanha ofertaspaceman pixbet jogaralimentos, a família do suíço quase não precisa ir ao supermercado, e todas as construções da fazenda são feitas com madeira tirada dali.

A transformação que Götsch promoveu na fazenda chamou a atençãospaceman pixbet jogargovernos, agricultores e empresas, que nas últimas décadas passaram a contratá-lo para consultorias.

Ele começou a rodar o Brasil dando cursos, e seus conhecimentos alcançaram entidades tão díspares quanto o Grupo Pãospaceman pixbet jogarAçúcar e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) (leia mais abaixo).

Legenda da foto, Cacau cultivado na agroflorestaspaceman pixbet jogarErnst Götsch é exportado para Portugal.

A chegada ao Brasil

Faz 40 anos que Götsch começou a reflorestarspaceman pixbet jogarfazenda na Bahia, mas quem visita a área hoje pode ter a impressãospaceman pixbet jogarestar numa mata centenária.

A equipe da BBC News Brasil esteve na propriedade no fimspaceman pixbet jogaroutubro. Nos 160 quilômetrosspaceman pixbet jogarestrada que ligam Ilhéus a Piraí do Norte, fazendas abandonadas expõem a decadência da região, golpeada pela crise que atingiu o setor cacaueiro nos anos 1980 e jamais foi plenamente superada.

A paisagem muda quando a rodovia adentra a propriedadespaceman pixbet jogarGötsch. As copas das árvores passam a cobrir o céu, o ar fica mais úmido, os cantosspaceman pixbet jogarsapos e aves se tornam onipresentes.

Götsch chegou à região quando buscava terras para avançarspaceman pixbet jogarpesquisas iniciadas na Suíça.

Nascidospaceman pixbet jogar1948 num vilarejo nos arredoresspaceman pixbet jogarZurique, ele diz ter tomado gosto pela agricultura desde seus primeiros anos.

Legenda da foto, Hoje reflorestada, fazendaspaceman pixbet jogarErnst Götsch abriga uma reserva ambiental privada.

Na adolescência, aprendeu a fazer queijo e cuidouspaceman pixbet jogarvacas nos Alpes. Aos 23, sem jamais ter se formado na faculdade, passou num concurso para trabalhar com melhoramento genéticospaceman pixbet jogarplantas.

O trabalho ajudou a canalizar as energiasspaceman pixbet jogarum jovem inquieto: Götsch diz ter sido expulso da escola três vezes porque questionava os professores além da conta.

Ele afirma que experimentos no laboratório o levaram à seguinte questão: "Será que não seria mais inteligente se nos dedicássemos a melhorar as condições que damos às plantas,spaceman pixbet jogarvezspaceman pixbet jogartentar adequá-las às condições cada vez piores que lhes oferecemos?"

Chegou então à conclusãospaceman pixbet jogarque nossos sistemas agrícolas deveriam imitar os ecossistemas originais. Mas ainda faltava pôr a teoria à prova, o que seria difícil na diminuta Suíça.

Após trabalhos na Tanzânia e na Costa Rica, um sócio (este, humano) lhe ofereceu um empréstimo para comprar uma propriedade grande na região cacaueira baiana.

Götsch diz que fez questãospaceman pixbet jogarescolher uma terra empobrecida e que fosse considerada imprópria para o cultivospaceman pixbet jogarcacau pelo órgão federal responsável pelas políticas para o setor, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac). "Eu tinhaspaceman pixbet jogarprovar que sabia trabalhar", ele conta.

Legenda da foto, Riacho que voltou a correr após reflorestamento da fazendaspaceman pixbet jogarErnst Götsch.

'Água se planta'

Um dos primeiros desafiosspaceman pixbet jogarGötsch foi recuperar os riachos assoreados, o que ele fez abrindo valas nos cursos originais e reflorestando o entorno.

As raízes protegeram o solo da erosão e permitiram que a água da chuva voltasse a infiltrar, trazendo os riachosspaceman pixbet jogarvolta à vida.

Mas mais do que isso: ele afirma que o amadurecimento da floresta aumentouspaceman pixbet jogar70% a quantidadespaceman pixbet jogarchuvas na fazenda.

Isso porque, ao transpirar, as árvores transferem água para a atmosfera, intensificando a formaçãospaceman pixbet jogarnuvens. E, quanto mais plantas há num local, mais água é bombeada.

O processo, conhecido por evapotranspiração, está por trás do fenômeno dos "rios voadores", pelo qual a água injetada na atmosfera pelas árvores da Amazônia se transformaspaceman pixbet jogarchuvaspaceman pixbet jogarvárias partes da América do Sul.

Segundo Götsch, o reflorestamentospaceman pixbet jogarsua propriedade fez com que chovesse maisspaceman pixbet jogaráreas que ficam a até 8 km a oeste da fazenda. A recuperação dos riachos embasou uma das principais máximas que o suíço difundespaceman pixbet jogarcursos e palestras: aspaceman pixbet jogarque "água se planta".

Legenda da foto, Götsch poda cacaueiro com motosserra, equipamento que ele considera crucial para o manejo do sistema

Ópera e trabalho intenso

Aos 73 anos, Gotsch exibe uma disposição impressionante. Às 5h, ele sai da casa onde mora com a mulher, Cimara Goulart, e as duas filhas adolescentes, Ilona e Genevieve, para vistoriar a secagem do cacau e da banana nas estufas que construiu.

Depois vai manejar a agrofloresta: cantando óperaspaceman pixbet jogaralemão, sobespaceman pixbet jogarárvores altas para colher frutos, poda galhos e golpeia o capim com um facão.

A rotina se repete há quatro décadas, mas ele diz não enjoar. Delicia-se ao avistar famíliasspaceman pixbet jogarmacacos que moram na fazenda e observa com atenção como cada espécie interfere no ambiente.

"Sempre que vejo aqui um bicho ou planta pela primeira vez, eu pergunto: 'o que você fazspaceman pixbet jogarbom?'", diz.

Tirar proveito das relações entre as espécies é outro pilar do modelo do suíço.

Afinal, diz Götsch, cada bioma desenvolveu ao longospaceman pixbet jogarbilhõesspaceman pixbet jogaranos interações para que a vida ali tivesse o máximo êxito. Nada mais natural, portanto, que a agricultura pegasse carona nesses arranjos.

Legenda da foto, Bananeirasspaceman pixbet jogarmeio a agrofloresta jovem na propriedadespaceman pixbet jogarGötsch

Isso significa, na prática, respeitar as condiçõesspaceman pixbet jogarque cada planta usufruíaspaceman pixbet jogarseu estado natural, como a quantidadespaceman pixbet jogarluz. O cafezeiro e o cacaueiro, por exemplo, são oriundosspaceman pixbet jogarflorestas tropicais, onde conviviam com árvores bem mais altas antesspaceman pixbet jogarserem cultivados pelos humanos. Em sistemas agroflorestais, portanto, eles sempre estão à sombraspaceman pixbet jogaroutras espécies — o que faz com que produzam mais e melhor, segundo Götsch.

O mesmo vale para várias outras plantas hoje cultivadas a sol pleno pela maioria dos agricultores, como o abacaxi, a laranja e a banana, mas que Götsch alocaspaceman pixbet jogardiferentes "andares"spaceman pixbet jogarsua agrofloresta.

O sistema busca otimizar o espaço:spaceman pixbet jogarvezspaceman pixbet jogarpreencher um terreno com uma única espéciespaceman pixbet jogardeterminada altura, produzem-se alimentosspaceman pixbet jogarvários estratos, com copasspaceman pixbet jogarárvores e plantas sobrepostas.

Para ele, ao contrário do que muitos pensam, as relações entre espéciesspaceman pixbet jogarambientes naturais não se baseiam na concorrência e na competição, mas sim no "amor incondicional e na cooperação".

"Nós não somos a espécie inteligente, nós fazemos partespaceman pixbet jogarum macrossistema inteligente", diz. "Eu nunca fui roubado por uma planta, elas não mentem. A ética delas é perfeita, você pode confiar", prossegue.

A noção se aplica até mesmo a insetos, vírus e fungos que muitos agricultores encaram como pragas, mas que Götsch vê como "amigos mensageiros".

Legenda da foto, Podas frequentes ampliam quantidadespaceman pixbet jogarmatéria orgânica no solo das agroflorestas.

Segundo o suíço, a presença delesspaceman pixbet jogarsuas agroflorestas sinaliza que há algum ponto a melhorar, já que eles só agiriam quando as plantas experimentam condições imperfeitas.

Podem ainda indicar que as plantas atacadas já cumpriram seu ciclo — nesse caso, ajudam a reciclar nutrientes para que a vida se renove.

Por isso, ele rejeita radicalmente o usospaceman pixbet jogaragrotóxicos. E também dispensa fertilizantes químicos, pois diz que eles deixam os agricultores dependentes dos fabricantes e são desnecessários, já que a grande ofertaspaceman pixbet jogarmatéria orgânicaspaceman pixbet jogarseus sistemas supre plenamente as plantas.

Contra a Revolução Verde

Com a chamada Revolução Verde, porém, boa parte dos agricultores mundo afora tomou outro caminho.

A partir dos anos 1930, o usospaceman pixbet jogarfertilizantes químicos, agrotóxicos espaceman pixbet jogarmáquinas se popularizou nas plantações, aproximando a atividade agrícola da industrial.

Áreas antes ocupadas por ricos ecossistemas passaram a abrigar extensas plantaçõesspaceman pixbet jogaruma só espécie — caso da soja que hoje avança por vários biomas brasileiros.

Defensores do modelo afirmam que as inovações foram essenciais para atender a uma crescente população global — e que é possível usar produtos químicos nas lavouras com segurança.

Mas Götsch avalia que os métodos são insustentáveis. Para ele, alémspaceman pixbet jogarempobrecer as paisagens, gerar poluição e ignorar os ambientes naturais, a agricultura industrial moderna tem um grave problema: num mundospaceman pixbet jogarrecursos finitos, exige muito para funcionar e devolve pouco.

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Armazémspaceman pixbet jogargrãos nos EUA; Revolução Verde aproximou atividade agrícola da industrial.

Nas palavrasspaceman pixbet jogarGötsch, trata-sespaceman pixbet jogarum modelo com "balanço energético negativo", na qual a produção dos alimentos consome mais calorias do que gera.

A conta considera a energia gasta com combustíveis por máquinas agrícolas e com atividades industriais espaceman pixbet jogarmineração para produzir os fertilizantes e agrotóxicos usados nas plantações.

No livro Agricultura Orgânica,spaceman pixbet jogar2015, o agrônomo Jacimar Luisspaceman pixbet jogarSouza diz que,spaceman pixbet jogarmédia, a agricultura brasileira gasta 2,6 quilocalorias para produzir 1 quilocaloriaspaceman pixbet jogaralimentos.

"A conta não fecha", diz Götsch.

'Agricultura sintrópica'

A busca por um balanço energético positivo explica a expressão "agricultura sintrópica" com que Götsch batizou seu método, inicialmente conhecido como "agrofloresta" ou "agrofloresta sucessional".

O termo "sintropia" dialoga com um conceito da Física, a entropia, que mede a desordem das partículasspaceman pixbet jogarum sistema espaceman pixbet jogarcapacidadespaceman pixbet jogardissipar energia.

A sintropia, ao contrário, diz respeito à capacidade do sistemaspaceman pixbet jogaracumular energia conforme ele se organiza e fica mais complexo.

A agricultura sintrópica, portanto, busca tornar os sistemas agrícolas cada vez mais complexos, com cada vez mais energia acumulada.

Segundo Götsch, hoje os humanos e seus animaisspaceman pixbet jogarcriação são os únicos seres a tirar mais do planeta do que lhe oferecem. Daíspaceman pixbet jogardefesaspaceman pixbet jogarum modelo agrícola que mude o quadro.

"Enquanto não conseguirmos suprir as necessidades diárias do nosso metabolismospaceman pixbet jogarum modo que seja benéfico para o ecossistema, como todas as outras espécies fazem, não vamos ter futuro", afirma.

Legenda da foto, Nelson Araújo Filho (à esq.), alunospaceman pixbet jogarErnst Götsch, mostra ao suíço uma agrofloresta no Semiárido baiano.

Capim africano e eucalipto

No entanto, como já destruímos muitos biomas e afugentamos os animais silvestres, Götsch defende alguns atalhos para reverter os prejuízos e acelerar a transição para um novo modelo.

Um deles é podar intensamente as plantas — cumprindo um papel que,spaceman pixbet jogarflorestas saudáveis, dividiríamos com várias outras espécies. Para isso, ele se vale inclusivespaceman pixbet jogarmotosserras.

As podas têm três funções principais, segundo Götsch: usar galhos e folhas para melhorar a qualidade do solo, regular a entradaspaceman pixbet jogarluz e forçar o sistema a se desenvolver mais rapidamente.

O outro atalho, mais polêmico, é não se ater às espécies nativas das regiões onde as agroflorestas são implantadas. Emspaceman pixbet jogarpropriedade na Bahia, por exemplo, ele diz cultivar uma "Amatlântica", pois a maioria das espécies presentes advém da Amazônia ou da Mata Atlântica, o bioma local, embora também haja plantas africanas, europeias e asiáticas.

Ele afirma que "plantas não reconhecem fronteiras" e podem conviver harmoniosamente mesmo que oriundasspaceman pixbet jogarecossistemas diferentes, desde que ocupem os estratos apropriados e recebam os nutrientes necessários.

Para ele, até mesmo espécies vistas como invasoras, como o eucalipto, a leucena e capins africanos, podem ter papéis importantesspaceman pixbet jogaragroflorestas brasileiras.

Isso porque essas espécies são pouco exigentes e produzem bastante matéria orgânica. Ao serem podadas com frequência, ficam sob controle e permitem que agroflorestas implantadasspaceman pixbet jogarsolos degradados evoluam mais rapidamente, diz ele.

Crédito, Sherebook Forest

Legenda da foto, Nativo da Austrália, eucalipto pode ser útilspaceman pixbet jogaragroflorestas brasileiras, segundo Ernst Götsch.

Trabalhos no exterior

Hoje seguidoresspaceman pixbet jogarGötsch aplicam seus métodosspaceman pixbet jogarvárias partes do Brasil e do mundo.

Ele começou a dar cursosspaceman pixbet jogar1989 a convite do então Ministério da Reforma Agrária, no governo José Sarney.

Depois trabalhou com outras instituiçõesspaceman pixbet jogargoverno, ONGs e cooperativas — como o Centrospaceman pixbet jogarDesenvolvimento Agroecológico Sabiá, a Agricultura Familiar e Agroecologia (AS-PTA) e a Cooperafloresta (Cooperativaspaceman pixbet jogarAgricultores Agroflorestaisspaceman pixbet jogarBarra do Turvo).

Também lecionouspaceman pixbet jogaroutros países, como Espanha, Portugal e Alemanha.

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Casa do agricultor Vilmar Luiz Lermen rodeada por agroflorestaspaceman pixbet jogarExu, no Semiáridospaceman pixbet jogarPernambuco.

Na Bolívia, Götsch compartilhou suas técnicas com uma organização, a Ecotop, que é hoje uma das principais difusorasspaceman pixbet jogarsistemas agroflorestais no mundo, com projetosspaceman pixbet jogarvários países da Ásia, África e América Latina.

Ele estima que maisspaceman pixbet jogar10 mil pessoas já tenham passado por suas aulas ou por cursos dados por ex-alunos. Umspaceman pixbet jogarseus pupilos, o educador Namastê Messerschmidt, é hoje consultor do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), que tem estimulado a implantaçãospaceman pixbet jogaragroflorestasspaceman pixbet jogarassentamentos da reforma agrária.

Trabalho com multinacionais

Outras parceriasspaceman pixbet jogarGötsch são vistas com reserva por algunsspaceman pixbet jogarseu universo.

Entre 1993 e 1998, ele foi contratado pela fabricantespaceman pixbet jogarpneus francesa Michelin para desenvolver sistemas agroflorestais na Bahia focados na seringueira, que produz a borracha.

Em 2013, começou a assessorar a Fazenda Toca, que fornece alimentos orgânicos para o Grupo Pãospaceman pixbet jogarAçúcar.

Os trabalhos com grandes empresas deram mais visibilidade ao suíço, mas geraram questionamentos entre quem os considerou uma contradição.

Para alguém que luta contra a corrente, faz sentido se aliar a empresas bilionárias?

Crédito, Divulgação/Fazenda Toca

Legenda da foto, Agrofloresta na Fazenda Toca, que fornece alimentos para o Grupo Pãospaceman pixbet jogarAçúcar e foi implantada com a ajudaspaceman pixbet jogarErnst Götsch

Götsch diz que as parcerias foram oportunidades para aplicar seus métodosspaceman pixbet jogargrande escala, algo que considera essencial para superar o modelo agrícola dominante. Nessa missão, aliás, tem tentado desenvolver máquinas que facilitem o manejospaceman pixbet jogargrandes agroflorestas, embora se queixe do pouco interesse das fabricantes.

Ele afirma ainda que, paradoxalmente, os trabalhos com os grandes ajudaram a difundir seus métodos entre os pequenos.

"O pequeno, quando vê o vizinho grande fazendo alguma coisa, ele tem confiançaspaceman pixbet jogarque aquilo funciona", afirma.

"Antes eu era considerado um maluco. A partir daquele momento, começaram a dizer: 'o gringo está fazendo uma coisa interessante'".

Crédito, FAO

Legenda da foto, Sistema agroflorestalspaceman pixbet jogarHonduras.

Movimento global

A agricultura sintrópicaspaceman pixbet jogarErnst Götsch integra um movimento global que abarca várias outras escolas e conceitos semelhantes, como a agricultura regenetativa, a agricultura biodinâmica, a agroecologia, a permacultura e os sistemas agroflorest (SAFs).

Esses sistemas têm sido apontados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) como ferramentas para o combate à crise do clima, pois retiram da atmosfera grande quantidadespaceman pixbet jogargás carbônico, principal gás causador do efeito estufa.

Eles também são classificados como úteis para a adaptação aos efeitos das mudanças do clima. Em seu relatóriospaceman pixbet jogar2019, o IPCC afirmou que "sistemas agroflorestais podem contribuir com a melhora da produtividadespaceman pixbet jogaralimentos ao mesmo tempospaceman pixbet jogarque ampliam a conservação da biodiversidade, o equilíbrio ecológico e a restauração sob condições climáticasspaceman pixbet jogarmutação".

Mas quanto da popularização desses métodos se deve a Götsch?

E não seriam esses sistemas derivaçõesspaceman pixbet jogarpráticasspaceman pixbet jogarpovos indígenas, que há séculos cultivam seus alimentosspaceman pixbet jogarflorestas biodiversas?

Legenda da foto, A casa construída por Ernst Götsch para abrigarspaceman pixbet jogarfamília fica cercada pela agrofloresta.

Para Tatiana Sá, uma das mais experientes pesquisadoras da Embrapa (Empresa Brasileiraspaceman pixbet jogarPesquisa Agropecuária), Götsch "trouxe muitas coisas positivas" e "deu visibilidade sobre o potencialspaceman pixbet jogarsistemas que já vinham sendo tratadosspaceman pixbet jogaroutras formas, mas sem o jargão sintropia".

Para ela, o suíço veio ao Brasil muito focadospaceman pixbet jogartestar seus métodos "e foi aproveitando oportunidades". "Ele começou a ter nichosspaceman pixbet jogarreconhecimento e recebeu muito espaço midiático", diz Sá.

Afirma ainda que os métodos do suíço têm respaldo científico, ainda que ele não tenha formação acadêmica.

Porém, segundo ela, ao trabalhar com grandes, Götsch pode tê-los ajudado a se "apropriarspaceman pixbet jogarconceitos como agroecologia e sintropia" enquanto lucram com o modelo agrícola dominante.

E diz que Götsch poderia "dialogar mais com outras formasspaceman pixbet jogarconhecimento" e se abrir mais a movimentos sociais do campo.

Crédito, FAO

Legenda da foto, Sistema agroflorestalspaceman pixbet jogarRuanda

Num meio onde ideaisspaceman pixbet jogaresquerda predominam, o suíço fala poucospaceman pixbet jogarpolítica e expõe visões que dificultam enquadrá-lospaceman pixbet jogaralguma corrente.

Por um lado, critica o PT por ter implantado políticas que, segundo ele, deixaram os agricultores à esperaspaceman pixbet jogarsoluções vindas do governo,spaceman pixbet jogarvezspaceman pixbet jogarbuscá-las por conta própria.

Por outro, tampouco se identifica com o atual governo. Questionado sobre o presidente Jair Bolsonaro, responde, aos risos: "Não é uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço".

Götsch rejeita ainda a dicotomia entre agronegócio e pequenos agricultores, pois diz que muitas propriedades familiares hoje também adotam práticas nocivas ao meio ambiente, como o usospaceman pixbet jogaragrotóxicos.

"Tem muita gente fazendo errado dos dois lados", diz.

Crédito, Google

Legenda da foto, Vista aéreaspaceman pixbet jogarfazendasspaceman pixbet jogarsoja no municípiospaceman pixbet jogarSorriso (MT), líder no ranking nacionalspaceman pixbet jogarprodução agropecuária.

Ribeirinhos e indígenas

Para Osvaldo Kato, outro experiente pesquisador da Embrapa, Götsch deu grande contribuição ao compartilhar suas técnicasspaceman pixbet jogarmaneira didática. Ele afirma que o suíço lecionouspaceman pixbet jogarvários cursosspaceman pixbet jogarcapacitação da Embrapa entre 2005 e 2015.

"O trabalho dele é muito prático. Ele mostra como fazer, como manejar, e leva isso para as comunidades e os gruposspaceman pixbet jogarinteresse", diz.

Kato é membrospaceman pixbet jogaroutra família que se destacou com sistemas agroflorestais no Brasil. Seus antepassados migraram nos anos 1920 do Japão para Tomé-Açu, no Pará.

Lá, depoisspaceman pixbet jogartentativas frustradasspaceman pixbet jogarcultivar pimenta-do-reinospaceman pixbet jogarmonocultura, passaram a observar como indígenas e ribeirinhos da região plantavam vários alimentos para consumo própriospaceman pixbet jogarmeio à floresta.

Crédito, Divulgação/Camta

Legenda da foto, Família japonesaspaceman pixbet jogarTomé-Açu (PA); cooperativa local se tornou referênciaspaceman pixbet jogarsistemas agroflorestais.

Os japoneses começaram então a replicar e a sistematizar esse modelo, com foco comercial.

Hoje a Cooperativa Agrícola Mistaspaceman pixbet jogarTomé-Açu (Camta), fundada por membros da comunidade, é uma referência no Brasil na produção agroflorestalspaceman pixbet jogarfrutas.

Para Kato, há princípios semelhantes entre a agriculturaspaceman pixbet jogarindígenas e ribeirinhos e a praticada por Götsch e pela colônia japonesaspaceman pixbet jogarTomé-Açu, como a grande diversidadespaceman pixbet jogarespécies e a dispensaspaceman pixbet jogarinsumos externos.

A diferença principal, diz ele, é a maneira como se renovam as plantações nos sistemas. Na agricultura indígena, as áreas são abandonadas após a colheita para que se regenerem naturalmente, e parte-se para a aberturaspaceman pixbet jogarnovas roçasspaceman pixbet jogaroutros locais, normalmente com o auxílio do fogo.

Já nos sistemasspaceman pixbet jogarGötsch espaceman pixbet jogarTomé-Açu, não é necessário esperar a regeneração natural e o fogo jamais é empregado. Nesses modelos, quando uma agrofloresta chega à maturidade, é possível abrir clareiras no mesmo local para reiniciar o processo, aproveitando a fase inicial para cultivar alimentos que exigem mais luz, como hortaliças, milho e mandioca. Depois, conforme o sistema avança, privilegiam-se frutas e a extraçãospaceman pixbet jogarmadeira.

Crédito, IDAM

Legenda da foto, Roçaspaceman pixbet jogarmandioca cultivada por família indígenaspaceman pixbet jogarSanta Isabel do Rio Negro, no Amazonas.

Segundo Kato, o manejo sem fogo é uma grande vantagem das agroflorestas, já que as queimadas geram emissõesspaceman pixbet jogargás carbônico, empobrecem o solo e podem fugir do controle. Além disso, ele afirma que a possibilidadespaceman pixbet jogarcultivar a mesma área repetidas vezes e sem interrupções é valiosa num momentospaceman pixbet jogarque a população e a demanda por comida aumentam.

"Quando havia muita terra e menos gente, dava para deixar as áreasspaceman pixbet jogarpousio (repouso) até voltar a cultivar o alimento lá, mas não dá mais tempospaceman pixbet jogarfazer isso", afirma

Götsch reconhece que suas filosofias têm semelhanças com asspaceman pixbet jogarindígenas. "No mundo inteiro, há frações das populações que têm uma relação mais harmoniosa com a natureza", diz.

Ele elogia ainda os povos nativos das Américas por terem nos legado plantas "que achamos que são naturais, mas são cultivadas do México à Bolívia, do Equador ao Amapá", entre as quais o carro-chefespaceman pixbet jogarsua plantação, o cacau.

Reflorestar desertos

Crédito, Google

Legenda da foto, Ernst Götsch diz que pretende ajudar a Arábia Saudita a trazer o verde para seus desertos.

Depoisspaceman pixbet jogarensinar tantos a "plantar água", o que Götsch planeja para o futuro?

"Estou me dedicando a passar aquilo que achei significante para as futuras gerações", conta.

Nos últimos anos, ele construiu alojamentos na fazenda para receber os alunos, a quem chamaspaceman pixbet jogar"estagiários".

Muitos vêmspaceman pixbet jogargrandes cidades e têm pouca ou nenhuma prática com agricultura - fatores que, segundo Götsch, permitem que aceitem mais facilmente seus conceitos.

Mas o suíço tem também planos mais ousados. Ele diz que, ao ajudar a implantar agroflorestas no Semiárido brasileiro sem a necessidadespaceman pixbet jogarirrigação, passou a querer reflorestar um deserto.

Ele diz ter iniciado conversas com o governo da Arábia Saudita para ajudar a trazer o verdespaceman pixbet jogarvolta a partes do país hoje ocupadas por desertos.

As tratativas avançam lentamente por causa da pandemia, mas ele diz esperar um desfechospaceman pixbet jogarbreve.

"Quando você paraspaceman pixbet jogarsonhar, não vive mais", diz Götsch.

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