Mudança do clima acelera criaçãopoker simpledeserto do tamanho da Inglaterra no Nordeste:poker simple
O documento apresentado nesta segunda (AR6) é o sexto relatóriopoker simpleavaliação produzido desde a fundação do órgão,poker simple1988.
'Área seca mais densamente povoada'
"O Nordeste brasileiro é a área seca mais densamente povoada do mundo e é recorrentemente afetado por extremos climáticos", diz o relatório.
O IPCC afirma que essas condições devem se agravar: se na décadapoker simple2030 o mundo deve atingir um aumentopoker simple1,5°C empoker simpletemperatura média,poker simpleboa parte do Brasil os dias mais quentes do ano terão um aumento da temperatura até duas vezes maior.
Em várias partes do Semiárido, isso significa verões com temperaturas frequentemente ultrapassando os 40°C.
Hoje, segundo o IPCC, o mundo já teve um aumentopoker simple1,1°C na temperatura médiapoker simplerelação aos padrões pré-industriais.
Para limitar o grau do aquecimento, é preciso que os países reduzam drasticamente as emissõespoker simplegases causadores do efeito estufa — como o gás carbônico, produzido pelo desmatamento e pela queimapoker simplecombustíveis fósseis, e o metano, emitido pelo sistema digestivopoker simplebovinos.
Morte da vida no solo
Para o meteorologista e cientista do solo Humberto Barbosa, professor da Universidade Federalpoker simpleAlagoas (Ufal), temperaturas extremas põempoker simplexeque a sobrevivência no Semiáridopoker simplemicro-organismos que vivem no solo e são cruciais para a existência das plantas.
Há dois anos, Barbosa diz ter encontrado temperaturaspoker simpleaté 48°Cpoker simplesolos degradados no interiorpoker simpleAlagoas.
"A vegetação não crescia mais ali, independentemente se chovesse 500 mm, 700 mm ou 800 mm. Não fazia mais diferença, pois toda a atividade biológica do solo não respondia mais", afirma.
Sem vida no solo, aquela região se tornou desértica, como tem ocorridopoker simplevárias outras partes do Semiárido.
Na Ufal, Barbosa coordena o Laboratóriopoker simpleAnálise e Processamentopoker simpleImagenspoker simpleSatélites (Lapis), que desde 2012 monitora a desertificação no Semiárido.
Em 2019, o laboratório revelou que 13%poker simpletoda a região estavapoker simpleestágio avançadopoker simpledesertificação. Essa área engloba cercapoker simple127 mil quilômetros quadrados.
"Na nossa região, naturalmente não haveria um deserto, só que a gente tem hoje um deserto", ele diz.
Barbosa explica: segundo a ciência, climas desérticos (ou áridos) são aqueles onde o índicepoker simplechuvas é inferior a 250 mm por ano. Nessas condições, a sobrevivênciapoker simpleplantas e animais é bastante difícil — daí o aspecto vaziopoker simpleboa parte das paisagens desérticas.
Mas essas condições climáticas não se aplicam a nenhuma região do Brasil, nem mesmo o Semiárido, que continua a receber entre 300 mm e 800 mmpoker simplechuvas ao ano.
Ainda assim, a mudança do clima e o desmatamento criaram paisagens desérticas na região.
"O solo dessas regiões foi perdendo a atividade biológica, embora as chuvas continuem acima do que se espera para uma região desértica. Esse é o paradoxo", diz Barbosa.
Ele afirma que, nesse estágio, é praticamente impossível reverter o fenômeno. "O custo da recuperaçãopoker simpleáreas desertificadas é alto, e no Brasil não temos capacidade econômica para fazer esse tipopoker simpleinvestimento."
Maior seca da história
Entre 2012 e 2017, o Semiárido enfrentou a maior seca desde que os níveispoker simplechuva começaram a ser registrados,poker simple1850. Essa seca, que é atribuída às mudanças climáticas, ajudou a expandir as áreas desertificadas.
Barbosa diz que a pandemia dificultou a realizaçãopoker simpleviagens para medir o progresso da desertificação após 2019, mas tudo indica que o fenômeno segue avançando.
A área já desertificada equivale ao tamanho da Inglaterra, cercapoker simpletrês vezes o tamanho do Estado do Riopoker simpleJaneiro, ou a 23 vezes a área do Distrito Federal. Essas terras não são todas contíguas e ocupam diferentes partes do Semiárido. Enfrentam, ainda, diferentes grauspoker simpledesertificação, emborapoker simpletodas o fenômeno seja considerado praticamente irreversível.
Alguns dos principais núcleospoker simpledesertificação ficampoker simpleGilbués (PI), Irauçuba (CE), Cabrobó (PE) e no Seridó (RN).
Imagenspoker simplesatélite mostram como os núcleos têm crescido nas últimas décadas, enquanto as áreas verdes que os circundam vão rareando.
No núcleopoker simpleCabrobó, que ocupa uma vasta área nas duas margens do São Francisco, as poucas manchas verdes na paisagem se devem a lavouras irrigadas com a água do rio.
Os Estados mais impactados pela desertificação são Alagoas (com 32,8%poker simplesua área total afetada pelo fenômeno), Paraíba (27,7%), Rio Grande do Norte (27,6%), Pernambuco (20,8%), Bahia (16,3%), Sergipe (14,8%), Ceará (5,3%), Minas Gerais (2%) e Piauí (1,8%).
Região mais impactada do Brasil
A desertificação no Semiárido brasileiro foi citada pelo IPCCpoker simpleseu relatório anterior,poker simple2019, que teve o pesquisador Humberto Barbosa como coordenadorpoker simpleum capítulo sobre degradação ambiental.
O relatório apontou que 94% da região semiárida brasileira está sujeita à desertificação.
"A região semiárida é a mais impactada (pela mudança do clima) no Brasil, e é a região onde você tem os índicespoker simpledesenvolvimento humano mais baixos do país", afirma Barbosa.
Com o agravamento das condições climáticas, diz ele, tende a se acelerar o êxodopoker simplemoradores rumo a outras partes do país.
O papel do desmatamento
Para os cientistas, está claro que a desertificação tem sido acentuada pelas mudanças climáticas e tende a aumentar se as alterações continuarem se intensificando.
Porém, a degradação dos solos do Semiárido também se deve a outra ação humana: o desmatamento na Caatinga, o ecossistema natural da região.
Segundo Humberto Barbosa, ainda não se sabe quanto da desertificação se deve ao desmatamento e quanto se deve às mudanças climáticas. "É muito difícil separar os dois processos."
Quarto maior bioma do Brasil, abarcando 11% do território nacional, a Caatinga já perdeu 53,5%poker simplesua cobertura original, segundo o MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no país.
O bioma vem sendo destruído desde os primeiros séculos da colonização do Brasil, quando grandes áreaspoker simplevegetação nativa passaram a ser derrubadas para dar lugar principalmente a pastagens para bovinos.
A pecuária, aliás, é apontada com uma das principais causas para a desertificação no Semiárido.
O pesquisador Humberto Barbosa explica que, muitas vezes, os bois são criadospoker simpleáreas relativamente pequenas, compactando o solo ao pisoteá-lo repetidas vezes.
Com o tempo, nem mesmo o capim cresce mais ali, e a terra fica totalmente exposta à radiação do sol. A degradação se completa quando a chuva atinge a terra nua, levando embora os últimos nutrientes do solo.
Embora a destruição venha ocorrendo há séculos, maispoker simpleum quarto do desmatamento da Caatinga ocorreu após 1985, segundo o MapBiomas.
E neste ano, os índicespoker simpledesmatamento deram um salto preocupante. Segundo o Inpe (Instituto Nacionalpoker simplePesquisas Espaciais), até 1°poker simpleagosto, houve na Caatinga 2.130 focospoker simplequeimadas— o maior númeropoker simplenove anos e uma altapoker simple164%poker simplerelação ao mesmo períodopoker simple2020.
Os focos se concentram no oeste do bioma, onde a Caatinga se encontra com o Cerrado na regiãopoker simplefronteira agrícola conhecida como Matopiba (nome formado pelas iniciais dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Comopoker simpleoutros biomas, o fogo é geralmente usado na Caatinga para "limpar" uma área antes do plantio. Mas as chamas acabam degradando o solo e limitampoker simplevida útil para a agricultura, estimulando a busca por novas áreas quando ele se esgota.
Faltapoker simplepolíticas públicas
Humberto Barbosa diz que, apesar da gravidade da situação enfrentada pelo Semiárido e da perspectivapoker simplepiora, não há qualquer plano governamental para mapear a desertificação e combatê-la.
A última iniciativa do governo federal nesse campo, afirma, foi o Programapoker simpleAção Nacionalpoker simpleCombate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PAN), lançadopoker simple2006, mas descontinuado.
Tampouco há um sistema nacional para monitorar o desmatamento na Caatinga e orientar açõespoker simplefiscalização e controle — diferentemente do que ocorre na Amazônia, que conta com os sistemas Prodes e o Deter, baseadospoker simpleimagenspoker simplesatélite.
E o futuro?
Segundo o relatório do IPCC, sem ações contundentes para conter a mudança do clima, a Caatinga e outras regiões semiáridas do mundo "vão muito provavelmente enfrentar um aquecimentopoker simpletodos os cenários futuros e vão provavelmente enfrentar um aumento na duração, magnitude e frequência das ondaspoker simplecalor".
"De forma geral, as secas se ampliarampoker simplemuitas regiões áridas e semiáridas nas últimas décadas e devem se intensificar no futuro", diz o texto.
Os maiores prejudicados pelas mudanças serão as populações locais: segundo o IPCC, elas tendem a enfrentar oscilações na quantidade e regularidadepoker simpleágua, o que impactará gravementepoker simple"segurança alimentar e prosperidade econômica".
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