'Aluno dividia celular com dois irmãos': 51% na rede pública ainda não têm acesso a computador com internet:bbb pixbet

Estudante fazendo atividadebbb pixbetmatemática no celular,bbb pixbetfoto feita nas Filipinas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Para a maioria dos estudantes, acesso às aulas e ás atividades foi feito pelo celular, muitas vezes compartilhado por toda a família

Mesmo com a ligeira melhora, esse patamar ainda é considerado insuficiente e um problema "urgente", diante do aumento na desigualdade educacional do país e do fatobbb pixbetque as escolas continuam aumentandobbb pixbetdependência dos recursos digitais, mesmo com a volta gradual às aulas presenciais.

O celular foi o equipamento mais utilizado (85%) pelos alunos das famílias entrevistadas para acessar aulas e atividades, o que é considerado um limitante ao aprendizado — até porque maisbbb pixbetum terço desses alunos tinhambbb pixbetdividir o aparelho com outros membros da família.

A pesquisa reflete a realidade observada pelo professor Marcelo Martins, que dá aula nas redes pública e privada e coordena um cursinho preparatório na comunidade carentebbb pixbetVila Cruzeiro, na zona Norte do Riobbb pixbetJaneiro.

"Nunca teve conectividade aqui", diz ele à BBC News Brasil. "É precário, desanimador."

Dos atuais 33 alunos do cursinho Estudando Para Vencer, a grande maioria (cercabbb pixbet20, nas contasbbb pixbetMartins) contou apenas com o celular para acompanhar as aulas desde o início da pandemia, mas tampouco tinham o aparelho só para si.

"Temos alunos que dividiam um celular com dois irmãos", diz.

"Uns outros dez alunos tinham computadores, mas obsoletos, sem memória suficiente ou inadequados para eles assistirem à aula online. Três dos nossos alunos não tinham acesso nenhum (a aparelhos), nada. E todos tiveram problemasbbb pixbetconexão com a internet."

Marcelo Martins, professor na Vila Cruzeiro, no Rio

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Marcelo Martins, professor na Vila Cruzeiro, no Rio; todos os seus alunosbbb pixbetcursinho comunitário tiveram dificuldadebbb pixbetconexão durante o ensino remoto

Isso não mudou desde então — a faltabbb pixbetconectividade continua.

"Um acesso à internet com computador decente minimizaria o impacto" da ruptura nas aulas, que ainda estão voltando ao presencial na cidade, prossegue Martins.

"Os alunos já não tinham um ambiente favorável dentrobbb pixbetcasa para estudar, com pouco espaço, mas pelo menos teriam conseguido acessar as aulas. Mas isso não aconteceu."

Em São Paulo, apesarbbb pixbetos estudantes da rede estadual terem recebido chipsbbb pixbetinternet para estudar, "para a maioria dos jovens por aqui, o chip não funcionavabbb pixbetpartes da casa deles, porque não dava área (de cobertura pelas antenas das operadoras)", conta Vânia Rocha, que mora na comunidade do Jardim São Luís, no extremo Sul da capital paulista.

Seus filhos, agora com 15 e 8 anos, passaram a maior parte do tempobbb pixbetpandemia com acesso precário às aulas, usando apenas o celular dela. "Parcelei (o pagamento)bbb pixbetum tablet usado para dar à minha filha, e o meu filho ganhou um celular antigo do pai. Mas isso foibbb pixbetmarço deste ano. Antes disso, quase não teve como estudar. E eu diria que essa é a situaçãobbb pixbet100% dos jovens daqui."

'Mundo digital é direitobbb pixbettodos'

Depoisbbb pixbettanto tempobbb pixbetpandemia, a dificuldadebbb pixbetacessobbb pixbetalunos e das próprias escolas à tecnologia é grave, diz à BBC News Brasil Angela Dannemann, superintendente do Itaú Social.

"A tecnologia chegou para ficar na educação. Esse debate estava atrasado, mas isso foi atropelado na pandemia", opina ela, ressaltando que o ensino híbrido — ou seja, parcialmente na escola e parcialmentebbb pixbetcasa — será uma das principais estratégias para recuperar os atrasosbbb pixbetaprendizagem que ficaram do períodobbb pixbetescolas fechadas.

"E também temos escolas que não têm equipamentos disponíveis, nem internet com boa velocidade", completa.

Há evidênciasbbb pixbetque alunos conseguem passar mais tempobbb pixbetaula diantebbb pixbetcomputadores do que diantebbb pixbetcelulares, segundo um guiabbb pixbetpráticas escolares elaborado durante a pandemia pela Ofsted, a agência governamental britânica que supervisiona as escolas do Reino Unido.

Aula onlinebbb pixbetnotebook

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Pouco menos da metade dos alunos da rede pública tinha acesso,bbb pixbetagosto e setembro, a notebook ou computador com internet, segundo pesquisa feita com pais e responsáveis

"Não podemos aceitar que um quarto das escolas não tenham acesso à internet e que a maioria dos alunos não tenha computador para estudar. (...) Quando olhamos as classes mais baixas, os números são ainda piores. O Brasil precisa investir urgentementebbb pixbetconectar suas escolas e equipar seus alunos para que estar no mundo digital seja um direitobbb pixbettodos", afirmou,bbb pixbetcomunicado, Cristieni Castilhos, gerentebbb pixbetconectividade da Fundação Lemann.

Abismo entre público e particular

Como professor tantobbb pixbetescolas públicas quantobbb pixbetuma particular, Marcelo Martins também observou as desigualdades digitais agravarem o abismo educacional durante o períodobbb pixbetensino remoto.

"Na escola particular, eu tinha 90% dos alunos entrando nas minhas aulas online. Na rede municipal, passava às vezes a aula inteira sem nenhum aluno sequer conseguir entrar. Alguns passavam a semana inteira sem entrar na plataformabbb pixbetaula, porque a mãe levava para o trabalho o celular da família", conta.

Para tentar recuperar o conteúdo, o cursinho comunitário que ele coordena agora tem uma turma mista, com alunosbbb pixbetmaisbbb pixbetuma série escolar.

"Mas, neste ano, como no anterior, estamos sem expectativasbbb pixbetaprovação muito elevada (no Enem ebbb pixbetvestibulares). Estamos trabalhando o psicológico dos alunos para que não desistam, porque a culpa não é deles", conta.

O impacto da desconexão

Pesquisas prévias já mostravam que a faltabbb pixbetconectividadebbb pixbetescolas e alunos vinha deixando marcas, principalmente no primeiro anobbb pixbetpandemia.

Em janeiro deste ano, o Departamentobbb pixbetCiência Política da Universidadebbb pixbetSão Paulo (USP) e o Centrobbb pixbetAprendizagembbb pixbetAvaliação e Resultados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) avaliaram a eficiência dos planosbbb pixbeteducação remotabbb pixbetEstados e capitais e criaram um Índicebbb pixbetEducação à Distância.

Foram analisados os meios usados para as aulas (como TV ou internet), seu alcance e qualidade e os materiais e tecnologias oferecidos aos alunos, entre março e outubrobbb pixbet2020, ou seja, sob o primeiro ano da pandemia.

Os resultados foram considerados desanimadores: a nota média dada pelos pesquisadores aos planos estaduais foibbb pixbet2,38 (de 0 a 10) ebbb pixbet1,6 para os das capitais.

Um dos pontos levantados foibbb pixbetque a maioria das redes não havia conseguido garantir que seus alunos tivessem meiosbbb pixbetacessar as aulas online.

Complexo do Alemão,bbb pixbetfotobbb pixbetarquivo

Crédito, ABR

Legenda da foto, Mesmo havendo chipbbb pixbetinternet, casasbbb pixbetcomunidades periféricas e vulneráveis nem sempre conseguem sinalbbb pixbetinternet

"A quase totalidade dos Estados decidiu pela transmissão via internet, (mas) apenas cercabbb pixbet15% deles distribuíram dispositivos e menosbbb pixbet10% subsidiaram o acesso à internet" ao longobbb pixbet2020, escreveram os pesquisadores Lorena Barberia, Luiz Cantarelli e Pedro Schmalz.

A nova pesquisa do Datafolha sinaliza no entanto que, mesmo com todas as dificuldades, 87% dos 1,3 mil pais entrevistadosbbb pixbettodas as regiões do Brasil acreditam que o uso da tecnologia foi positivo para a aprendizagem dos filhos; e um terço afirmou que a possibilidadebbb pixbetestudar remotamente,bbb pixbetqualquer lugar, deve ser mantida no futuro.

Para Angela Dannemann, essa aparente contradição entre valorizar a tecnologia mesmo sem ter tido acesso a ela ainda precisa ser melhor estudada, mas é um indicativobbb pixbetcomo a pandemia mudou alguns aspectos da relação entre as escolas e as famílias.

Para os pais que puderam presenciar as aulas online dos filhos, "pela primeira vez, eles viram a escola acontecendo e viram o valor do professor", diz ela.

O professor, ao mesmo tempo, "baixou a guarda (embbb pixbetresistência à) tecnologia, mas é necessário que a política pública o apoie. Tem que haver formação continuada para o uso da tecnologia e manter os equipamentos atualizados, senão ficam obsoletos. Não é uma tarefa simples."

Uma fontebbb pixbetrecursos para isso pode vir do leilão do 5G, a internet móvelbbb pixbetquinta geração. Cercabbb pixbetR$ 3,1 bilhões arrecadados na vendabbb pixbetum dos lotes terão de, segundo as normas do edital, ser investidosbbb pixbetprojetosbbb pixbetconectividade nas escolas públicas, ainda a serem definidos pelo Ministério da Educação.

A Agência Nacionalbbb pixbetTelecomunicações (Anatel) afirmou que a quantia obtida no leilão do 5G — embora muito abaixo do montante estipulado inicialmente (R$ 7,6 bilhões) — será suficiente para garantir a cobertura 5G para as escolasbbb pixbeteducação básica do país, informa a Agência Brasil.

Até agora, o tema da conectividade vinha provocando uma espéciebbb pixbetquedabbb pixbetbraço entre o governo federal e o Congresso, que aprovou uma lei demandando que a União transferisse a Estados um montantebbb pixbetR$ 3,5 bilhões que custeassem o acesso à internet a professores e alunos das redes públicas.

O projeto foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), veto este que foi revertido após nova votação no Legislativo, até que o caso foi levado ao Supremo Tribunal Federal.

Em agosto, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o governo federal estaria cometendo crimebbb pixbetresponsabilidade fiscal se fizesse o repasse diante do desequilíbrio das contas públicas.

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