Mudanças climáticas: governo Bolsonaro quer convencer o mundo que problema do Brasil é 'de imagem':galera bet promoção
Já o presidente da Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), Marcello Brito, que se diz um "agroambientalista", admitiugalera bet promoçãoentrevista recente ao Roda Viva da TV Cultura que "o Brasil vai chegar na COP devendo" e "não entre os líderes, mas entre os liderados".
'Problemagalera bet promoçãoimagem'
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, apresentougalera bet promoçãovisão quanto à questão ambiental brasileiragalera bet promoçãoum evento sobre mudanças climáticas promovido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) no fimgalera bet promoçãoagosto. O Fórum Brasil Pró-Clima foi transmitido ao vivo pelas redes sociais da entidade representativa da indústria, mas teve pouca repercussão. A íntegra do encontro está no YouTube.
"Todos aqui sabemos das características da nossa agricultura tropical, que se singulariza como uma das mais produtivas, inovadoras e descarbonizantes do mundo", iniciou a ministra, emgalera bet promoçãofala na abertura do evento.
"No entanto, muitas vezes nos surpreendemos ao descobrir o quão pouco se sabe efetivamente sobre a nossa agropecuária fora do Brasil. Esse desconhecimento acaba sendo aproveitado por aqueles que querem avançar narrativas tendenciosas, que buscam transferir para este setor parte do ônus histórico pela emissãogalera bet promoçãogases do efeito estufa", seguiu ela.
Reconhecendo o aumento da urgência para que os países tomem medidas concretas para o enfrentamento do aquecimento global, Tereza Cristina defendeu a importânciagalera bet promoçãoo Brasil mostrar ao mundo quegalera bet promoçãoagropecuária "promove a conservação ambiental".
"Precisamos apresentar o verdadeiro agro brasileiro ao mundo", disse a ministra, considerada uma voz moderada do agronegócio no governo Jair Bolsonaro.
Também presente, o embaixador Orlando Ribeiro, secretáriogalera bet promoçãoComércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), aprofundou emgalera bet promoçãofala a visão da pasta quanto ao "problemagalera bet promoçãoimagem" brasileiro.
"É preciso a gente diferenciar o problema que nós temos do problema da imagem", disse Ribeiro. "Nós temos sim um problema com números crescentesgalera bet promoçãodesmatamento, o governo está ciente disso e procurando reverter essa tendência que não nos ajuda."
"Mas existe um outro problema maior, que é a percepção no exterior dessa situação. No imaginário popular europeu, a Amazônia está queimando, estão extraindo madeira no coração da Amazônia e a gente sabe que não é isso", afirmou, destacando a grandeza do bioma amazônico e o fatogalera bet promoçãoque o desmatamento ocorre mais nas "franjas"galera bet promoçãomaior ocupação humana, como o norte do Mato Grosso e o sul do Pará. "É um problema muito localizado."
Interesse comercial europeu
O moderador do debate questionou Ribeiro sobre até que ponto as críticas ao Brasil focadas nos desmatamentos, nos incêndios florestais e na questão da preservação ambiental seriam "uma tentativagalera bet promoçãoimpor uma barreira comercial à exportação e ao desenvolvimento do agronegócio brasileiro".
O secretário respondeu que o Brasil está atento a iniciativas como a intenção do Reino Unidogalera bet promoçãocriar uma obrigaçãogalera bet promoçãorastreamento das importaçõesgalera bet promoçãoalimentos oriundosgalera bet promoçãoáreasgalera bet promoçãodesmatamento (obrigaçãogalera bet promoção"due diligence", na expressãogalera bet promoçãoinglês) e a implementação da política "Farm to Fork" (da fazenda ao garfo) pela União Europeia, que busca implementar ações para maior sustentabilidade da cadeia produtiva alimentar do bloco.
"Essas iniciativas poderão sim ter impactos na competitividade das exportações agrícolas do Brasil", afirmou o diplomata.
"De fato, essa pressão internacional, sobretudo da União Europeia, veio após a conclusão das negociações do Acordo Mercosul-União Europeia", acrescentou, ponderando que não se tratagalera bet promoçãouma pressãogalera bet promoçãotodos os países europeus, masgalera bet promoçãoalguns países que desde o princípio manifestam contrariedade com a tratativa. Esses países, segundo ele, usam da questão ambiental como "uma desculpa para não avançar na implementação do acordo".
"A agricultura brasileira é muito competitiva e isso às vezes assusta. Então é normal esse tipogalera bet promoçãoreação por partegalera bet promoçãoalguns países que querem defender seus sistemas ineficientes e seus modelos tradicionais", afirmou.
'Maus brasileiros'
Também parte do debate, o presidente executivo da CropLife Brasil, Christian Lohbauer, levou as críticas além.
"Tem muitos brasileiros lá fora,galera bet promoçãouniversidades,galera bet promoçãoinstituições e institutos, que fazem um serviços que não ajuda o Brasilgalera bet promoçãodentro. Isso tem que ser dito. São os 'maus brasileiros', como a gente costuma dizer, nós que estamos na indústria, na produção, no agronegócio, no front", afirmou Lohbauer.
"Além da questão comercial, que acho que é essencial — existe uma resistência sim, uma tentativagalera bet promoçãose conter o acordo por interesse comercial. Mas tem uma outra questão que é uma corporação internacional: todas as entidades que passaram a viver dessa agenda ambiental, institutosgalera bet promoçãopesquisa, organizações não-governamentaisgalera bet promoçãotoda natureza, que recebem dinheiro privadogalera bet promoçãodoação do bom contribuinte holandês, norueguês, alemão", disse o executivo.
"São bilhõesgalera bet promoçãodólares disponíveis, cada vez mais, e se criou uma corporaçãogalera bet promoçãopessoas que têm um trabalho e uma responsabilidade que não querem mais perder. Essa corporação trabalha para que essa agenda fique mais complicada do que ela é", afirmou.
"Essas instituições vivem do confronto porque recursos bilionários são direcionados a elas, se não tiver recurso, o sujeito não tem trabalho — acho que aí começa a solução do problema."
'Parte da elite não entende que o jogo mudou'
Maurício Santoro, professor do Departamentogalera bet promoçãoRelações Internacionais da UERJ (Universidade do Estado do Riogalera bet promoçãoJaneiro) avalia como "surpreendente" que esse tipogalera bet promoçãodiscurso persista diante do avanço evidente das crises climáticas.
"Esses argumentos foram usadosgalera bet promoçãooutras ocasiões, principalmente na época da campanha eleitoral e no início do governo Bolsonaro", lembra Santoro.
"O que é surpreendente é que esse tipogalera bet promoçãoretórica ainda seja utilizado hoje, depoisgalera bet promoçãotrês anosgalera bet promoçãogoverno egalera bet promoçãouma sériegalera bet promoçãocrises que temos visto no meio ambiente e na economia. Já era horagalera bet promoçãoter mudado", considera o internacionalista.
Segundo ele, parece haver uma dificuldadegalera bet promoçãoaceitaçãogalera bet promoçãoum cenário internacional que se tornou mais complexo para o Brasil.
"O que estamos vendo agora no mundo são impactos muito duros da mudança climática. Vemos isso, por exemplo, nos grandes incêndios florestais no hemisfério Norte, nas queimadas na Amazônia e no Pantanal e já vemos o iníciogalera bet promoçãoretaliações econômicas contra o Brasil por causa do desrespeito ao meio ambiente", diz Santoro.
"Há uma dificuldadegalera bet promoçãoparte da elite brasileiragalera bet promoçãoentender que o jogo mudou e que, se o Brasil quiser continuar a ser relevante e a ter acesso aos grandes mercados globais, vai precisar se adaptar a essas novas regras internacionais", afirma.
'É preciso sinais clarosgalera bet promoçãointolerância à ilegalidade'
Para Natalie Unterstell, especialistagalera bet promoçãopolítica climática e presidente do instituto Talanoa, é "sintomático" que a estratégia do governo para lidar com os maus resultados e os parcos esforços públicos para conter emissões seja tratar a questão como um problemagalera bet promoçãorelações públicas.
"Não temos resultados bons para mostrar, os resultados sãogalera bet promoçãoaumento das emissõesgalera bet promoçãotodos os setores, principalmente do desmatamento. E os esforços são muito pouco críveis, como fazer GLO atrásgalera bet promoçãoGLO", diz a ambientalista, fazendo referência às operaçõesgalera bet promoçãoGarantia da Lei e da Ordem,galera bet promoçãoque militares das Forças Armadas são empregados no combate aos crimes ambientais na Amazônia.
Para Unterstell, o governo deveria ter como prioridade dar sinais corretosgalera bet promoçãointolerância à ilegalidade. "Quando o presidente diz que tudo bem garimpo ilegal, quando falagalera bet promoçãonenhum milímetro a maisgalera bet promoçãoterra indígena, são sinais incentivadoresgalera bet promoçãoações ilegais egalera bet promoçãoconflito."
O segundo ponto,galera bet promoçãoacordo com ela, seria a realizaçãogalera bet promoçãoesforços concentrados nas áreas com maior pressãogalera bet promoçãodesmatamento, sob liderança dos órgãos ambientais como Ibama e ICMBio, que têm competência técnica para essa ação, diferentemente das Forças Armadas.
Por fim, a especialista defende que o país precisa ter metas ambiciosas para uma redução consistente do desmatamento. A meta da gestão Jair Bolsonaro, apresentada durante a Cúpula do Climagalera bet promoçãoabril,galera bet promoçãozerar o desflorestamento ilegal até 2030, é considerada insuficiente e Unterstell lembra que metas anteriores não chegaram a ser cumpridas.
'Amazônia é problemagalera bet promoçãotodos'
Ex-ministra do Meio Ambiente (2010-2016), a bióloga Izabella Teixeira destaca que a agricultura brasileira acontecegalera bet promoçãomaneira expressiva fora da Amazônia, uma parte na Amazônia Legal (área que engloba nove estados pertencentes à Bacia Amazônica) e parte da pecuária na Amazônia propriamente dita.
"A agricultura brasileira não se posiciona politicamentegalera bet promoçãoforma afirmativa contra o desmatamento ilegal da Amazônia", considera a ex-ministra. "Eles têm um raciocíniogalera bet promoçãoque 'eu não planto na Amazônia, então a Amazônia não é meu problema'. Mas a Amazônia é um problemagalera bet promoçãotodos, pois ela significa segurança climática para o mundo e para o Brasil."
Assim, ela avalia que a agricultura brasileira deveria assumir uma posição políticagalera bet promoçãoexigir soluções permanentes para o desenvolvimento sustentável da região.
"Eu não vejo isso no agronegóciogalera bet promoçãouma maneira uníssona. Pelo contrário, os que estão hoje tomando decisão não demonstram esse compromissogalera bet promoçãomaneira assertiva, optando por uma política da disputa, uma políticagalera bet promoçãonegar [o problema]", afirma a bióloga.
Segundo ela,galera bet promoçãofato há um desconhecimento no exterior quanto à dimensão da Amazônia e do território brasileiro. Mas ela avalia que o climagalera bet promoçãodesconfiança com relação ao país foi fomentado pela postura do governo brasileiro, que não se colocagalera bet promoçãoforma assertiva no combate ao desmatamento e esvaziou as instituições que tinham essa prerrogativa.
Oportunidades perdidas
Para os especialistas, um dos problemasgalera bet promoçãotudo isso é que o Brasil perde oportunidades.
"Há uma busca por parte dos interlocutores internacionais do Brasil por sinais positivos. De alguma coisa que indique que o governo brasileiro vai estar disposto ao diálogo. Mas, na atual conjuntura política, com o Bolsonaro presidente e as políticas ambientais do governo dele, a credibilidade para essa mudança é muito baixa", afirma Santoro, da UERJ, citando como exemplo como o Brasil tem sido deixadogalera bet promoçãolado nas tratativas com o governo Biden.
Segundo o professorgalera bet promoçãorelações internacionais, o Brasil deixagalera bet promoçãoaproveitar com isso um cenário que é interessante para o país. "Temos um potencial muito grandegalera bet promoçãoatrair investimentosgalera bet promoçãoeconomia verde,galera bet promoçãodesenvolvimento sustentável,galera bet promoçãocadeias produtivas que não signifiquem uma destruição da floresta", afirma.
"São muitas as possiblidades importantes para o Brasil, que seriam muito ricas para um governo que entrasse com essa disposiçãogalera bet promoçãodialogar e negociar", completa.
Unterstell, do instituto Talanoa, lembra que, nas últimas semanas, o Brasil ficougalera bet promoçãoforagalera bet promoçãouma decisão do Banco Mundial para priorizar países que receberão apoio para desenvolver seus mercadosgalera bet promoçãocarbono — que é a práticagalera bet promoçãocompra e vendagalera bet promoçãocréditosgalera bet promoçãocarbono (certificadosgalera bet promoçãoredução da emissãogalera bet promoçãogases do efeito estufa) entre países e instituições privadas, como estratégiagalera bet promoçãocombate ao aquecimento global.
"Colômbia, México e Chile foram selecionados e o Brasil não. Isso é uma derrota importante para o governo", avalia a especialista. Ela lembra, porém, que tramita no Congresso um projetogalera bet promoçãoautoria do deputado Marcelo Ramos (PL-AM) sobre o tema, que ela acredita que tem chancegalera bet promoçãodecolar até a COP26.
"Essa talvez seja uma das boas notícias que a gente tenha para levar ao encontro", diz ela.
'É preciso considerar fatos e dados'
A BBC News Brasil procurou a CropLife Brasil para dar a Lohbauer a oportunidadegalera bet promoçãodetalhar as críticas feitas por ele no evento da CNI.
O presidente da entidade diz que o que chamagalera bet promoção"maus brasileiros" são as pessoas que não consideram dados e fatos sobre o agronegócio nacional.
Ele cita como exemplos o aumentogalera bet promoçãoprodutividade da agropecuária, que reduz a necessidadegalera bet promoçãoexpansão territorial da produção; o fatogalera bet promoçãoque a matriz energética nacional é muito mais limpa do que agalera bet promoçãooutros países; e dados que mostram que hágalera bet promoçãofato um aumento do desmatamento desde 2018, mas quegalera bet promoção2004 esse desmatamento era mais do que o dobro do atual "e o mundo não estava acabando".
Todos esses dados constam do Atlas do Agronegócio Brasileiro: Uma Jornada Sustentável, documento lançado pela CropLife Brasilgalera bet promoçãojunho deste ano.
Quanto àgalera bet promoçãovisãogalera bet promoçãouma suposta "corporação internacional"galera bet promoçãoentidades ambientalistas, Lohbauer afirma que a crítica sistemática contra o Brasil na imprensa nacional e internacional não se deve somente ao protecionismo comercial europeu.
"A principal causa — e é isso que eu estou chamandogalera bet promoção'corporação' — são centenas, milharesgalera bet promoçãoinstituições que vivem dessa agenda e que são sustentadas por recursos privados e até públicos no caso da comunidade europeia. São dezenas, centenas, milharesgalera bet promoçãopessoas que vivem disso e, se a gente chegar e mostrar com dados e fatos que não é bem assim, essas pessoas não vão mais ter trabalho", afirma.
Ele cita como exemplo disso um documentário feito pelo Brasil Paralelo — produtora audiovisualgalera bet promoçãoconteúdo voltado ao públicogalera bet promoçãodireita — que mostra um diretor do Greenpeace que se desiludiu com a organização ambientalista por ela ter se tornado "um grande negócio".
Também procurado, o Ministério da Agricultura disse o seguinte:
"A fala da ministra se explica pelo fatogalera bet promoçãoo Brasil ser responsável por 3% das emissões globais, incluindo aquelas emitidas pelos setores industrial, energético, agropecuário e uso do solo", diz a pasta, atravésgalera bet promoçãosua assessoriagalera bet promoçãoimprensa.
"Apontar a produção agropecuária brasileira como principal responsável pelo aumento das emissões globais é desconhecer o processo produtivo brasileiro e a tecnologiagalera bet promoçãoagricultura tropical que é parte da solução para uma economiagalera bet promoçãobaixa emissãogalera bet promoçãocarbono", completa.
O ministério destaca ainda diversas medidasgalera bet promoçãosustentabilidade adotadas pelo agro brasileiro, como o Plano ABC (Agriculturagalera bet promoçãoBaixo Carbono)galera bet promoçãoreduçãogalera bet promoçãoemissões e a rigorosa legislação ambiental brasileira, que prevê a preservação ambientalgalera bet promoção80% das propriedades situadas na Amazônia.
"O debate proposto pela ministra está baseadogalera bet promoçãociência, e as medidas adotadas pelo agro brasileiro ajudam efetivamente no combate às mudanças climáticas", diz a pasta. "O que ocorre na Amazônia decorregalera bet promoçãoproblemas fundiários históricos sobre o qual o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está trabalhando arduamente para solucionar."
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