Moradorespaysandu betnacionalrua enfrentam dia mais frio do anopaysandu betnacionalSP: 'A gente se esquenta com os cachorros':paysandu betnacional

Osvaldo Pereira e o amigo Claudinei França Cruz na calçada onde dormem no centropaysandu betnacionalSão Paulo

Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil

Legenda da foto, Osvaldo Pereira (touca) e o amigo Claudinei França Cruz na calçada onde dormem no centropaysandu betnacionalSão Paulo

"Quando acordo, está tudo molhado. O chão tem muita umidade e se a gente dormir direto nele o frio é maior. Tem pessoas que passam e dão sopa, e a gente vai se aquecendo. Mas, quando está ventando, a gente sofre muito", afirma.

Há maispaysandu betnacional30 anos nas ruas, Claudinei França Cruz,paysandu betnacional52 anos, conta que soubepaysandu betnacionaldois moradorespaysandu betnacionalrua que morrerampaysandu betnacionalfrio nesta semana a poucos metrospaysandu betnacionalonde ele dorme. "Eu conhecia um deles. A gente fica com medo", conta sem muitos detalhes.

A Secretaria da Segurança Pública afirmou que não registrou nenhum casopaysandu betnacionalmorte suspeitapaysandu betnacionalfrio nesta semanapaysandu betnacionalSão Paulo. O padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Povopaysandu betnacionalRua, afirmou à reportagem que percorreu IMLs, delegacias e também não encontrou nenhum casopaysandu betnacionalmorte suspeita por frio.

No entanto, mesmo sob o riscopaysandu betnacionalter uma hipotermia e morrerpaysandu betnacionalfrio, o companheiro delepaysandu betnacionalrua, Osvaldo Pereira disse que prefere dormir na rua a pernoitar num abrigo oferecido pela prefeitura.

"Lá (abrigo) é muita treta. Essa molecadapaysandu betnacionalhoje é muito desenfreada e eu evito. Prefiro ficar na calçada porque lá você não dorme direito, é muita bagunça. Molecada folgada que não deixa dormir direito", afirmou.

Banho gelado

O chuveiro é aberto, a contagem regressiva é acionada e, cinco minutos depois, a água gelada despenca sobre a cabeçapaysandu betnacionalquem está tomando banho.

Irani Beneditapaysandu betnacionalAraújo ao lado do marido (de frente) na calçada onde dormem na praça da Sé, no centropaysandu betnacionalSão Paulo

Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil

Legenda da foto, Irani Beneditapaysandu betnacionalAraújo ao lado do marido (de frente) na calçada onde dormem na praça da Sé, no centropaysandu betnacionalSão Paulo

Claudinei da Cruz afirma que um dos momentos mais incômodos durante no inverno é tomar banho. Ele conta que há locais na região onde os moradorespaysandu betnacionalrua conseguem fazer a higiene diária, como o conhecido Chá do Padre, no centro, e as tendas erguidas pela prefeitura.

"No Chá do Padre, eles dão uma senha. Na tenda, tem um tempopaysandu betnacionalcinco minutos e o chuveiro esfria quando ele acaba", afirmou.

Na rua, ele diz que ameniza o frio bebendo "umas cachaças" e com a ajudapaysandu betnacional"umas cobertinhas".

Osvaldo Pereira disse que passou por momentos difíceis, como quando a filha dele morreu, e ele disse ter "se jogado" nas ruas. Desde então, ele prefere ficar sozinho.

Ele conta que tem familiares que morampaysandu betnacionalAtibaia, no interiorpaysandu betnacionalSão Paulo.

"Mas não vou ficar na casa dos outros. Eles (irmãos) querem que eu fique lá, mas eu não quero. Sabe por que? Na hora que você entrapaysandu betnacionalcasa, no banheiro, já tem gente batendo. Você senta no sofá e ele diz que aquele é o lugar dele. Você tira a privacidade das pessoas e eu não quero dar trabalho pra ninguém", conta chorando.

Ao ser questionado sobre seus sonhos, ele diz que não sabe responder.

Natália ao lado dos cães que dormem na mesma barraca que ela na praça da Sé

Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil

Legenda da foto, Natália ao lado dos cães que dormem na mesma barraca que ela na praça da Sé

"Eu não sei responder essa pergunta. Querer sair dessa situação, todo mundo quer. Estou com as costas todas machucadas porque dói. Olha esse chão duro, mas eu não tenho casa para morar. Vou fazer o quê?".

Mulher no frio

Cobertores, mochilas e sacolas fazem as vezespaysandu betnacionaltravesseiros para Irani Beneditapaysandu betnacionalAraújo,paysandu betnacional59 anos. Vinda do Mato Grosso do Sul há cinco meses, ela divide um espaçopaysandu betnacionalcercapaysandu betnacional2 metros quadrados na praça da Sé com o marido, que moravapaysandu betnacionalSantanapaysandu betnacionalParnaíba antespaysandu betnacionalir para as ruas.

"Estou passando por um momento difícil. Eu moravapaysandu betnacionalaluguel, hoje estou dormindo na rua, procurando uma melhora, um emprego, uma oportunidade. É muito sofrimento,paysandu betnacionalverdade. É muita friagem e minha idade também não ajuda. O que a gente tem é o que as pessoas doam. Sacos plásticos. Não tem banheiro e eu sendo mulher para mim é mais dificultoso. Precisopaysandu betnacionalajuda para sair da rua", conta.

Equipes da prefeitura são protegidas por guardas municipais enquanto fazem limpeza na praça da Sé

Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil

Legenda da foto, Equipes da prefeitura são protegidas por guardas municipais enquanto fazem limpeza na praça da Sé

Ela conta que o sonho dela é conseguir uma oportunidadepaysandu betnacionaltrabalho para sair das ruas e ser independente.

"Eu cuidopaysandu betnacionalidosos, sei cozinhar, trabalheipaysandu betnacionalrestaurante, mas não tem emprego. Mataram um filho meu, tenho um filho preso e um filho nas drogas. É uma família destruída e eu acabei sem nada e sem ninguém. Se eu ficar muito tempo, não vou resistir às ruas", conta.

Ela conta que não gostapaysandu betnacionalpedir esmolas, mesmo com a necessidade constantepaysandu betnacionalcomprar remédios para tratarpaysandu betnacionalproblemas respiratórios e até mesmo doenças mais comuns, como dorpaysandu betnacionalcabeça.

"Meu rosto fica doendopaysandu betnacionalfriagem. Me deu muita dorpaysandu betnacionalcabeça essa noite. Eu queria ter uma casa, uma cama e um travesseiro onde eu pudesse descansar fora desse sofrimento. Eu não sei pedir. Isso é muito humilhante. A gente dá bom dia e os outros viram a cara", relata.

Cães que aquecem

Natália,paysandu betnacional34 anos, e Paula,paysandu betnacional30, são trans e dividem uma barraca com ao menos dez cães na frente da Catedral da Sé. Elas contam à reportagem que não conseguem dormir nas noites mais frias e que se aquecem com o calor gerado pelos cães.

Homem dormindopaysandu betnacionalcalçada na rua Tabatinguera, no centropaysandu betnacionalSão Paulo

Crédito, Felipe Souza/ BBC News Brasil

Legenda da foto, Homem dormindopaysandu betnacionalcalçada na rua Tabatinguera, no centropaysandu betnacionalSão Paulo

"A pessoa quando está com frio, ela não dorme. A gente passa a noite toda acordada. A gente não morre porque tem os cachorros. A gente dorme com os cachorros. A gente se esquenta com os cachorros. Todos os dias a gente vê alguns morrendo aí, amanhece mortopaysandu betnacionalfrio. Falta cobertor para as pessoas. Uma barraca já ajudaria bastante essas pessoas", diz Paula.

Ela conta que escolheram ficar no centro, pois é uma região mais segura, com policiamento e com um sistemapaysandu betnacionalmonitoramento com câmeras. Elas dizem que os cães são os melhores amigos delas.

"O cachorro não vê como uma pessoa vê a gente. O cachorro não te julga, não te trapaceira, não te rouba. Ele é a companhia mais segura para você passar a noite na rua", afirma Paula.

Ela sonhapaysandu betnacionalconseguir um emprego, ter uma casa e conquistar autonomia para realizar seus desejos. Ao serem questionadas sobre como foram parar nas ruas, elas dizem que são alvopaysandu betnacionalpreconceito por diversos motivos.

"Deixa eu te explicar. Tem o marginal, não tem? A gente é a margem da margem do marginal. Nós somos pretas, trans e índias. Já tem essa resistência na gente. Aqui no Brasil, a maioria das pessoas são aculturadas com TV e conversa fiada. A música só falapaysandu betnacionalsacanagem, só traição, e a gente não se enquadra nisso. A gente está na sarjeta, mas prefere ter a consciência tranquila do que estar por aí por dentro e ser forçado a tomar algumas atitudes que não compensam".

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