Caçada a Lázaro virou 'Big Brother' com cobertura sensacionalista que atrapalha polícia, diz criminóloga:pinpay betsul
Mas para a escritora e criminóloga Ilana Casoy, ações com arespinpay betsulcaçada como a da deputada são apologia ao crime, e o suspeito corre ainda mais riscopinpay betsulvida caso seja encontrado por alguém que não seja um agentepinpay betsulsegurança.
"Lamento essa postura. Evoluímos para viver num país onde não existe penapinpay betsulmorte ou execução sumária, então ela não deve ser feita ou incentivada. É muito difícil pegar o Lázaro vivo porque ele não tem a intençãopinpay betsulse entregar. Para que isso aconteça, profissionais como a polícia estão atrás dele porque ele tem muito a explicar e prestar contas da maneira certa", dizpinpay betsulentrevista à BBC News Brasil.
Casoy reforça que mesmo o Estado não tem permissão para matar, ainda quepinpay betsulcasospinpay betsulgrande apelo popular. As exceções sãopinpay betsullegítima defesa ou quando há reféns. "Não podemos incentivar algo que até a Bíblia condena. Agora, como um deputado vai explicar para o filho que ele pode matar alguém, mas o Lázaro, não?"
Para a pesquisadora, não há respostas fáceis para explicar tamanho interesse popularpinpay betsultorno da fugapinpay betsulsuspeitos como Lázaro, que atrai audiência para a mídia e gera engajamento nas redes sociais.
"Essa é a pergunta do milhão. Acho que a gente vive um medo muito grande alimentado pela pandemia. Vivemos sob o medo e essa é uma oportunidade onde projetar esse medopinpay betsulum inimigo invisível. O Lázaro é uma coisa real e que está acontecendo, para onde é possível direcionar esse medo."
Segundo a criminóloga, a fugapinpay betsulLázaro ainda não é longa o bastante para se tornar especialmente demorada, mas é acompanhada pelos brasileiros como se fosse um reality show. A diferença aqui é que ele não pode ser controlado.
"A gente acompanha o noticiário como quem acompanha o Big Brother. O 'maníaco do parque' ficou 23 dias foragido após estuprar e matar uma sériepinpay betsulmulheres. A gente acompanha esses casos porque sente ansiedade, preocupação e medo."
"Todos estamos cansadospinpay betsulseguir o 'reality covid' e o caso Lázaro gera medo também, que já temos pela pandemia, ou seja, transferimos nosso sentimentopinpay betsulmedopinpay betsulum assunto para outro, como uma retroalimentação. Acaba prendendo nossa atenção pela ameaça à sociedade que se estabelecepinpay betsulcomum. Como uma projeção. O medo também gera fascínio, além do suspense do desfecho", acrescenta Casoy.
'Erros da imprensa'
A criminóloga avalia que alguns veículospinpay betsulimprensa estão atrapalhando as ações policiais e fornecendo dicas para que Lázaro consiga escapar.
"Me assusta como a imprensa não se dá contapinpay betsulcomo ela atrapalha a polícia. Ela sabe que Lázaro furta celulares e carregadores das vítimas e mesmo assim noticia a localização da polícia o dia todo. Como ele conhece a mata, vai ficar cada vez mais difícil encontrá-lo."
Casoy cita outros episódiospinpay betsulque, segundo ela, a imprensa atrapalhou a atuação policial, como no caso Eloá, garotapinpay betsul15 anos que morreu durante um sequestro na Grande São Paulo. A especialista afirma que a cobertura ao vivopinpay betsuluma TV oferecia dicas para o sequestrador que fazia a garota e a amiga reféns dentropinpay betsulcasa.
No caso das buscas por Lázaro, a criminóloga diz que a imprensa também erra ao citar supostos fatores religiosos ou espirituais como possível motivação para os crimes.
"Há o reforçopinpay betsulum preconceito com a igrejapinpay betsulmatriz afro-brasileira. Reforçam que Lázaro está possuído pelo demônio porque ele usa objetos relacionados ao candomblé. E isso é muito perigoso. Quando um assassino é evangélico, a religião dele não é reforçada para justificar nada. Crucifixos e a estrelapinpay betsulDavi também não viram pauta quando é usada por um assassino."
Para ela, citar a religião do suspeito também alimenta preconceitos e atrapalha o desenvolvimento cultural do país.
No dia 19pinpay betsuljunho, sacerdotespinpay betsulterreiros afro-brasileiros divulgaram uma nota afirmando terem sofrido abordagens truculentas da polícia durante as buscas por Lázaro.
Policiais entrarampinpay betsulterreirospinpay betsulÁguas Lindas, Girassol, Cocalzinho e Edilândia.
No comunicado, os líderes religiosos manifestaram "repúdio aos violentos ataques racistas praticados contra as casaspinpay betsulmatrizes africanas" e se queixaram da tentativapinpay betsulassociá-las ao foragido.
Em resposta, a Secretariapinpay betsulSegurançapinpay betsulGoiás afirmou que estava "trabalhando com um único propósito: garantir a paz à população da região e capturar Lázaro Barbosa, nos limites da legalidade".
Outro ponto criticado por Casoy é a sériepinpay betsuladjetivos que veículospinpay betsulimprensa usam para descrever Lázaro, como serial killer e psicopata. A criminóloga conta que durante uma entrevista foi sido pressionada por funcionáriospinpay betsuluma equipepinpay betsulTV a classificar Lázaro dessa maneira, mas ela se recusou.
"Falar do comportamento criminoso dele é fácil com base nos crimes que ele cometeu: estelionatário, latrocida, estuprador. Mas fazer um diagnóstico pela televisão não é possível. Ele precisa ser examinado e o laudopinpay betsul2013 que ele fez não se refere a nenhum distúrbio mental. Muita coisa pode ter mudado e um novo exame pode apontar, mas não um novo crime", afirmou.
Casoy afirma também que ainda não há elementos suficientes para classificar Lázaro como serial killer, adjetivo que atrai ainda mais audiência. Ela explica que é raríssimo surgir um criminoso desse tipo, não apenas no Brasil, maspinpay betsulqualquer país.
"Matarpinpay betsulsérie é raro porque são casos mais ligados a questões psicológicas do que a uma vida criminosa. Assassinos seriais têm questões importantespinpay betsulsimbologia. O objetivo é dele, a fantasia é dele e aquele crime completa as necessidades psicológicas dele."
A especialista diz que a investigação policial sobre assassinatospinpay betsulsérie é complexa porque o motivo dele é simbólico e faz sentido para o criminoso, mas nem sempre para os policiais.
Ela explica que um dos pontos que qualifica alguém como serial killer, além do númeropinpay betsulmortespinpay betsulsequência, é seguir um ritual, um modus operandi e ter uma espéciepinpay betsulassinatura nos crimes. Isso faz com que os crimes se conectem e façam sentido na imaginação do assassino.
'Cobertura inescapável'
Diantepinpay betsultamanho interesse do público, é possível aos veículospinpay betsulimprensa ignorar o caso ou destacá-lo sem sensacionalismo?
Para o professorpinpay betsuljornalismo da Universidadepinpay betsulSão Paulo (USP) Eugênio Bucci, a fugapinpay betsulLázaro é uma "cobertura inescapável e necessária da imprensa''.
"É uma cobertura que precisa ser feita. Podemos discutir como deve ser feitapinpay betsulcada veículo, mas existe uma comunidade que está passando muito medo e está mobilizada. Há uma operação policialpinpay betsulproporções enormes que também precisa ser noticiada", afirmapinpay betsulentrevista à BBC News Brasil.
Bucci diz que esse não é um caso que se tornou relevante por causa dos adjetivos usados pelos jornalistas que o cobrem, mas pela magnitude usada pela própria polícia e pelo volumepinpay betsulpoliciais envolvidos.
O pesquisador destaca a preocupação e a necessidadepinpay betsulinformações da população local como o segundo ponto que justifica a cobertura massiva da imprensa no caso.
"Um criminoso ataca casas, sequestra pessoas, faz reféns e está todo mundo com medo, precisandopinpay betsulinformação. Essa mobilização também obriga a imprensa a dar uma cobertura focada para quem mora na região."
Bucci afirma que esse tipopinpay betsulcobertura jornalística é diferentepinpay betsulfazer jornalismo sensacionalista. Isso ocorre, segundo ele, quando a imprensa relata casos sem embasamento ou inflando situações corriqueiras.
"Em programas policiais sensacionalistas, por exemplo, qualquer deslocamentopinpay betsuluma viatura da Rota (tropapinpay betsulelite da PM paulista) vira razão para que o assunto domine o telejornal. Eles criam um clima desnecessáriopinpay betsulalarmismo, o que não acontece nesse caso do Lázaro", afirmou.
Ele citou como outro exemplo o caso da Escola Base, quando diversos veículospinpay betsulcomunicação publicaram reportagens dizendo que professores e donospinpay betsuluma escola infantil abusavam sexualmente das crianças. No fim, nada foi provado e alguns veículos foram condenados a pagar indenizações aos donos do colégio.
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