Caso João Pedro: Quando o Estado mata nossos filhos a Justiça não acontece, diz mãe do adolescente mortosport bet portuguêsoperação policial:sport bet português

João Pedro

Crédito, Reprodução/Facebook

Legenda da foto, João Pedro, 14, mortosport bet português18sport bet portuguêsmaiosport bet português2020; bala que o matou tinha mesmo calibre da usada pelos policiais que invadiram a casasport bet portuguêsque ele brincava com os amigos

Pela TV, as imagens do noticiário lembravam muito das cenas vistas por Rafaela no diasport bet portuguêsque João Pedro morreu: o helicóptero da polícia sobrevoando a comunidade, as manchassport bet portuguêssangue e os buracossport bet portuguêsbala pelas paredes. "Eu fiquei observando porque é a mesma polícia, a mesma polícia que tirou a vida do João", disse elasport bet portuguêsentrevista à BBC News Brasil.

Em janeirosport bet português2021, a históriasport bet portuguêsRafaela e João Pedro foi contadasport bet portuguêsdocumentário exibido pela BBC News Brasile pela BBC News. De lá para cá, a esperasport bet portuguêsRafaela por Justiça apenas se prolongou, já que, desde então, nenhuma nova prova ou etapa da investigação avançou.

Se nos Estados Unidos o casosport bet portuguêsGeorge Floyd já foi solucionado - o ex-policial Derek Chauvin foi condenado pela Justiça americana e aguarda sentença a ser anunciadasport bet portuguêsjunho - a mortesport bet portuguêsJoão Pedro continua sem punição. Rafaela conta que nada avançou desde outubro do ano passado.

Embora a bala encontrada no abdomesport bet portuguêsJoão Pedro tenha o mesmo calibre da usada pelos policiais que participavam a operação,sport bet portuguêsacordo com o laudo cadavérico, os três policiais investigados pelo crime continuam trabalhando normalmente não sósport bet portuguêsatividadessport bet portuguêsescritório, como é praxesport bet portuguêspoliciais investigados, mas na na Coordenadoriasport bet portuguêsRecursos Especiais (Core), unidadesport bet portuguêselite da Polícia Civil.

"Para nós mães que o Estado vem e mata nossos filhos, essa Justiça não acontece. Essa justiça é demorada, a impunidade está, sim, descarada", diz. "Porque a gente vê outros casos como o do Henry [Henry Borel Medeiros,sport bet português4 anos, assassinadosport bet portuguêsmarço],sport bet portuguêsque não foi a polícia que cometeu o crime, e é um caso que já foi até solucionadosport bet portuguêsmenossport bet portuguêsum ano. A gente vê também o caso do George Floyd lá nos Estados Unidos, que foi também no mesmo mês dosport bet portuguêsJoão, teve toda essa comparação e é um caso que está se resolvendo também. Essa impunidade aqui no Brasil é muito difícil. A gente vê outros casos sendo solucionados e quando envolve a polícia é sempre muito difícil ser solucionado."

Rafaela Coutinho Matos
Legenda da foto, Rafaela diz que ficou sem saber o que dizer quando Rebeca, a filha caçulasport bet português5 anossport bet portuguêsidade, perguntou porque a polícia matou o irmão dela

A BBC News Brasil fez contato, por telefone e por e-mail, com as assessorias das polícias Civil e Militar, bem como do governo do estado do Riosport bet portuguêsJaneiro, mas não obteve resposta sobre as perspectivassport bet portuguêssolução do caso ou sobresport bet portuguêsquais operações os policiais suspeitos do crime já participaram este ano.

Além disso, a investigação sofreu alguns revezes: o principal deles foi a extinção, neste ano, do Gruposport bet portuguêsAtuação Especializadasport bet portuguêsSegurança Pública (Gaesp), que tem tem como principais atribuições atuarsport bet português"investigações penais relacionadas a crimes cometidos por policiais civis, policiais militares e agentes penitenciários".

Depois da publicação da reportagem, a assessoriasport bet portuguêsimprensa da Polícia Militar entrousport bet portuguêscontato com a reportagem e informou que quem responde sobre o caso é a Polícia Civil, já que a ocorrência do caso João Pedro não teve participação da PM.

Há cercasport bet portuguêsum mês, Rafaela diz que ficou sem saber o que dizer quando Rebeca, a filha caçulasport bet português5 anossport bet portuguêsidade, perguntou porque a polícia matou o irmão dela. "Foi até uma resposta difícil para eu dar, porque como você vai dizer que a polícia, que tem que proteger, tira a vida do irmão dela?"

Procurado pela reportagem, o Ministério Público Federal no Riosport bet portuguêsJaneiro informou nesta segunda-feira (17) que, no casosport bet portuguêsJoão Pedro, existem duas investigações do MPF-RJsport bet portuguêsandamento:sport bet portuguêsum inquérito civil do Núcleosport bet portuguêsControle Externo da Atividade Policial, do procurador Eduardo Benones, que apura improbidade administrativa; e outro criminal, aberto pelo MPFsport bet portuguêsSão Gonçalo.

Havia dúvidas sobresport bet portuguêsquem seria a competência para atuar no caso, MP Federal ou MP Estadual; Mas no dia 12sport bet portuguêsabril, a PGR decidiu que o MPF deve atuar no caso e as investigações seguem seu curso. "Os dois procedimentos estão abertos e seguem independentes", afirmou a assessoriasport bet portuguêsimprensa.

Já o Ministério Público do Estado do Riosport bet portuguêsJaneiro, questionado sobre quais as próximas etapas da investigação que está parada, disse por meio da 1ª Promotoriasport bet portuguêsInvestigação Penal Especializada dos Núcleos Niterói e São Gonçalo que aguarda o Relatório Final do Inquérito da Delegaciasport bet portuguêsHomicídios e trabalha para a conclusão do laudo independente da reconstituição.

Questionada sobre qual a perspectivasport bet portuguêsque o caso João Pedro seja concluído, respondeu apenas que "a perspectiva é que as investigações permitam a apuraçãosport bet portuguêstodo o ocorrido e conduzam à justiça para todos os envolvidos".

Leia os principais trechos da entrevista, realizada por teleconferênciasport bet portuguêsvídeo:

sport bet português BBC News Brasil - O que você sabe da investigação sobre a mortesport bet portuguêsJoão Pedro?

sport bet português Rafaela Coutinho Matos - As investigações estão paradas desde o diasport bet portuguêsque houve a reconstituição [do crime], no dia 29sport bet portuguêsoutubro. De lá para cá estamos à espera do laudo da reprodução simulada, que até hoje não nos deram essa resposta. Conviver com essa espera, alémsport bet portuguêsconviver com a dor da perda, é muito mais difícil. Você não consegue nem viver o seu luto, porque você tem que irsport bet portuguêsbusca por essa Justiça. Não consegue nem ter paz.

A gente aguarda uma resposta da Justiça, uma resposta do Estado, e até hoje não temos essa resposta. O que nós sabemos é que houve a extinção do Gaesp [Gruposport bet portuguêsAtuação Especializadasport bet portuguêsSegurança Pública, do Ministério Público do Riosport bet portuguêsJaneiro], foi retirada essa força do Gaesp que investigava os policiais, e isso tudo dificulta muito as investigações também.

sport bet português BBC News Brasil - Como tem sido a relação com a polícia? Vocês receberam alguma informação sobre as investigações?

sport bet português Rafaela - A políciasport bet portuguêsmomento nenhum procurou a gente para falar nada. Os defensores que estão nos apoiando sempre mantêm a gente informado, eles falam que também estão cobrando do Ministério Público e da Polícia Civil essa resposta.

sport bet português BBC News Brasil - Na primeira semanasport bet portuguêsmaio o noticiário foi tomado novamente pelo tema das operações policiais, com a operação na comunidadesport bet portuguêsJacarezinho que acabou com 28 mortos. E justamentesport bet portuguêsum períodosport bet portuguêsque as operações estavam restritas pelo STF desde a morte do João Pedro, no ano passado. Como foi para você acompanhar esse noticiário um ano depois da morte do João?

sport bet português Rafaela - Na grande verdade as operações continuaram, mesmo com essa propostasport bet portuguêsnão haver as operações durante a pandemia, sósport bet portuguêscasos que tenha que ter mesmo. Em momento nenhum parou. Mas lidar com mais essa chacina, porque foi uma chacina; eu fiquei observando porque é a mesma polícia, a mesma polícia que tirou a vida do João.

É a mesma polícia que vai lá e limpa a cena do crime, que forja tudo. Fiquei pensando: é a Core [Coordenadoriasport bet portuguêsRecursos Especiais, unidade especial da Polícia Civil] que estava nessa operação, e até mesmo os policiais que tiraram a vida do João Pedro eles poderiam estar nessa operação, tirando outras vidas. [Nota da redação: questionada, a assessoriasport bet portuguêsimprensa da Polícia Civil não respondeusport bet portuguêsquais operações os policiais participaram desde a mortesport bet portuguêsJoão Pedro]

Então quando não há uma punição da Justiça, esses policiais ficam aí nas ruas soltos, não são punidos, e tirando outras vidas. Isso é muito triste.

Policialsport bet portuguêsoperaçãosport bet portuguêscomunidade

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Intervenções policiais no Riosport bet portuguêsJaneiro deixaram um totalsport bet português1.245 vítimassport bet português2020

sport bet português BBC News Brasil - Os policiais investigados que participaram da ação que resultou na morte do João Pedro estão trabalhando normalmente?

sport bet português Rafaela - Continuam trabalhando normalmente. Não foram afastadossport bet portuguêsmomento nenhum.

sport bet português BBC News Brasil - Nós conversamossport bet portuguêsagosto para um documentário da BBC, e na ocasião você falava sobre como a Justiça prioriza alguns casossport bet portuguêsdetrimentosport bet portuguêsoutros, sobre a lentidão da Justiça. Hoje, um ano depois da morte do João, como você avalia essa faltasport bet portuguêsrespostas até hoje sobre o crime?

sport bet português Rafaela - Eu avalio que a Justiça para nós mães que o Estado vem e mata nossos filhos, essa Justiça não acontece. Essa justiça é demorada, a impunidade está, sim, descarada. Porque a gente vê outros casos , como o do Henry, que são pessoas que não foi a polícia que cometeu o crime, e é um caso que já foi até solucionadosport bet portuguêsmenossport bet portuguêsum ano.

A gente vê também o caso do George Floyd lá nos Estados Unidos, que foi também no mesmo mês dosport bet portuguêsJoão, teve toda essa comparação e é um caso que está se resolvendo também. Essa impunidade aqui no Brasil é muito difícil. A gente vê outros casos sendo solucionados e quando envolve a polícia é sempre muito difícil ser solucionado.

sport bet português BBC News Brasil - Na época o caso do João causou muita comoção, justamente quando começaram também os protestossport bet portuguêstorno da morte do George Floyd no mundo tudo. Essa reação das pessoas mudousport bet portuguêslá para cá?

sport bet português Rafaela - Eu não vi tantas mudanças, mas eu vi que quando o STF suspendeu as operações durante a pandemia eu percebi que outras vidas foram poupadas quando estava se cumprindo. Massport bet portuguêsuns meses para cá eu tenho visto que realmente têm ocorrido outras mortes, né.

Não vi muita mudança mas acredito que com a morte do João, por ter causado toda essa comoção, essa sensibilidade, as pessoas estão vendo realmente como é que a polícia faz quando entra nas favelas, quando entra nas comunidades. Eles não querem saber se a pessoa é trabalhador, se a pessoa não é envolvida com nada, eles querem mesmo é tirar a vida, eles querem mesmo é ceifar vidas. Onde o Estado teria que proteger e zelar pelas vidas, e não é isso o que tem acontecido.

sport bet português BBC News Brasil - Na época do documentário da BBC, no ano passado, você contava muito sobre a rotinasport bet portuguêsreconstrução dasport bet portuguêsfamília,sport bet portuguêscontinuar a vida,sport bet portuguêscomo isso afetou asport bet portuguêssaúde mental, do seu marido, dasport bet portuguêsfilha. Como tem sido esse ano?

sport bet português Rafaela - Tem sido bem difícil, né. Que a gente pensa 'ah, tá muito recente, tá muito difícil'. Mas parece que quanto mais o tempo vai passando, mais difícil fica. Porque a saudade aumenta, a ausência acaba sendo maior. Por que com esta questãosport bet portuguêsse aproximar um ano também, são 365 dias, né.

Eu não me imaginava nem um dia conseguir sobreviver sem o João. Então a gente tem tentado recomeçar. Eu voltei a trabalhar, tem sido difícil, mas é um momento tambémsport bet portuguêsque você acaba ocupandosport bet portuguêsmente um pouco. Mas na volta para casa a realidade volta. A gente tem tentado seguir, mas tem sido difícil. Até mesmo com a nossa filha Rebeca, mudançasport bet portuguêscomportamento. Ficam alguns traumas, tanto com a Rebeca, quanto comigo, quanto com o meu esposo.

Protesto contra a mortesport bet portuguêsGeorge Floyd

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Os protestos contra a mortesport bet portuguêsFloyd repercutiram muito além dos Estados Unidos

sport bet português BBC News Brasil - A Rebeca tem hoje 5 anos, certo? Você conversa sobre o assunto com ela?

sport bet português Rafaela - Olha, eu percebo que ela foge às vezes do assunto, se a gente quiser conversar com ela. Mas se ela ouve o nome do João Pedro, seja na televisão, ela logo para, ela quer ver, quer assistir. Mas às vezes ela me pergunta. Um mês atrás ela me perguntou por que a polícia matou o irmão dela. Foi até uma resposta difícil para eu dar, porque como você vai dizer que a polícia que tem que proteger tira a vida do irmão dela?

Daí o que veio a minha mente para falar no momento é que foi um erro que eles cometeram, eles erraram e eles não assumiram o erro que eles cometeram. Então às vezes quando eu vou falar 'ô filha, tá tão difícil', e ela fala 'por causasport bet portuguêsJoão, né, mãe?' Mas ela procura o não conversar a respeito, mas fala algumas coisassport bet portuguêsvezsport bet portuguêsquando.

sport bet português BBC News Brasil - Atualmente, o que você espera da Justiça?

sport bet português Rafaela - Eu espero que realmente a Justiça seja feita, que os culpados sejam punidos. Porque é isso que a gente espera, que eles vão a júri popular, que sejam presos, que sejam expulsos. Porque se eles cometeram o erro eles têm que ser condenados pelo erro que eles cometeram. Eles tiraram a vidasport bet portuguêsuma criança.

Quantas crianças mais vão ter que morrer e continuar essa impunidade? Eles fazem isso porque eles sabem que é a proteçãosport bet portuguêsproteger esses policiais que cometem esses erros. Então esperamos sim a justiça, que eles sejam punidos.

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