Adotar 'tratamento precoce' foi um erro e ele se arrependeu: o relatoslot sa gamesecretário paranaense após morte do pai:slot sa game

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Ney Leprevost junto com o pai, o advogado Luiz: filho relata que pai se arrependeuslot sa gametratamento precoce após ficar com a saúde debilitada

Primogênitoslot sa gameLuiz, o secretárioslot sa gameJustiça, Família e Trabalho do Paraná, Ney Leprevost, se recordaslot sa gameuma confissão feita pelo paislot sa gameuma das últimas conversas que eles tiveram. "Ele me contou que se arrependeuslot sa gameter feito esse tratamento e disse que foi um erro", relata. O idoso morreu no início deste mês.

Ney afirma que o pai foi enganado pela promessaslot sa gameuma falsa cura. "A grande maioria dessas pessoas que adotam esse tratamento precoce não faz isso por mal. São pessoas desesperadas, que querem se proteger e acabam entrando nesse falso milagre que está sendo anunciado", diz à BBC News Brasil.

A família acredita que o advogado soube do "tratamento precoce" por meio das redes sociais, WhatsApp ou até informalmente por médicos conhecidos que defendem esses remédios contra a covid-19. "O que tenho certeza é que ele não foi ao consultórioslot sa gameum médico especialista para decidir tomar esses remédios", diz Ney.

Mesmo sem evidências científicas e com entidades médicas se manifestando contra, o "tratamento precoce" para a covid-19 tem sido difundido no país por muitos médicos e por parte da população. Além disso, já chegou a ser indicado pelo Ministério da Saúde e frequentemente é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro.

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Legenda da foto, Luiz, a esposa, os quatro filhos e umaslot sa gamesuas noras: nos últimos meses, família acompanhou batalhaslot sa gamepatriarca contra as complicaçõesslot sa gamesaúde que se tornaram cada vez mais graves

Desde o início da pandemia, diversas cidades distribuíram medicamentos que fazem parte desse "tratamento precoce", como ivermectina e hidroxicloroquina, gratuitamente para a população. Até mesmo empresas entregaram esses fármacos a seus funcionários, afirmando que seria uma formaslot sa gameprevenir a doença ou evitar que uma pessoa infectada tivesse um quadro grave.

Enquanto muitos ainda incentivam a adoção desse tiposlot sa gamecoquetelslot sa gamemedicamentos, cada vez mais têm se tornado comuns relatosslot sa gamemédicos sobre pacientes que tiveram o quadroslot sa gamesaúde agravadoslot sa gamedecorrênciaslot sa gamecomplicações causadas pelo usoslot sa gamemedicamentos que compõem o "tratamento precoce".

A esperançaslot sa gametratamento sem comprovação científica

Desde os primeiros meses da pandemiaslot sa gamecovid-19, no ano passado, o "tratamento precoce" é divulgado massivamente nas redes sociais eslot sa gamemensagens compartilhadas no WhatsApp. Nos vídeos, há médicos e políticos afirmando que se trata da melhor formaslot sa gameenfrentar a covid-19.

Mas estudos têm apontado, cada vez mais, que remédios como hidroxicloroquina (usadoslot sa gamepacientes com doenças como lúpus, artrite, reumatoide e malária) e ivermectina (usado para combater vermes, piolhos e carrapatos) não têm efeitoslot sa gameprevenção ou tratamento da covid-19.

A faltaslot sa gamecomprovação científica não tem sido um problema para diversas autoridades, que continuam defendendo esses remédios.

Ney critica aqueles que atualmente defendem o "tratamento precoce" nas redes sociais. "É preocupante propagandear isso nas redes hojeslot sa gamedia. Uma coisa é o médico receitar e o pacientes querer correr esse risco. Outra coisa é fazer apologia dessas drogas. Fazer apologia a uma droga, lícita ou não, é crime no Brasil", assevera.

No ano passado, Ney também defendeu o uso desses remédios sem comprovação científica. Porém, hoje admite que errou. "Confesso que tinha esperançaslot sa gameque ele funcionasse, porque na época não havia relatosslot sa gamemédicos sobre os riscos desse tratamento. A discussão ainda não era muito forte", afirma o secretário do Paraná.

A esperança no tratamento era tamanha que Ney admite que tomou ivermectina no ano passado, por acreditar que poderia prevenir uma possível infecção pelo coronavírus. Ele relata que o pai, meses antesslot sa gameter a covid-19, também tomou o fármaco para tentar evitar ser infectado pelo novo coronavírus.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Advogado Luiz Antonio Leprevost morreu na noiteslot sa game9slot sa gameabril, aos 69 anos

Apesarslot sa gameacreditarem que poderiam prevenir a contaminação por meio do vermífugo, o secretário do Paraná diz que ele e o pai sempre seguiram os cuidados sanitários para evitar a contaminação pelo vírus.

"O meu pai se cuidou muito, mas infelizmente acabou infectado. A família não sabe exatamente como ele pegou o vírus, porque é difícil saber isso (com a alta propagação do coronavírus)", diz Ney.

Quando apresentou os primeiros sintomas, junto com a esposa, Luiz optou por fazer todo o protocolo, sem qualquer respaldo científico, do "tratamento precoce".

"Ele seguiu à risca esse 'tratamento precoce': tomou hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina… tudo aquilo que costumam indicar", diz Ney.

Para os familiares, além do incentivoslot sa gamepublicaçõesslot sa gameamigos que defendiam o uso desses remédios, Luiz encontrou respaldo ao "tratamento precoce" nas declarações do presidente Jair Bolsonaro, que defende a prática mesmo com diversas entidades médicas se manifestando contra.

"Em Curitiba há muitas pessoas boas, mas com extrema admiração ao presidente, que repassam a centenasslot sa gameoutras pessoas as ideias daquilo que o presidente defende", afirma Ney. Para ele, assim como no caso do pai, há outros inúmeros casosslot sa gamepessoas que acreditaram nesses medicamentos após declaraçõesslot sa gameBolsonaro.

A esposaslot sa gameLuiz, Jussara Abrão, também testou positivo e optou por buscar um hospital e foi internada. Ela não quis fazer o "tratamento precoce". Na unidadeslot sa gamesaúde, seu quadro piorou e ela foi encaminhada para a Unidadeslot sa gameTerapia Intensiva (UTI).

Em casa, Luiz ficou cada vez mais debilitado. O vereadorslot sa gameCuritiba Alexandre Leprevost, um dos filhos do advogado, relatou, durante uma sessão da Câmara Municipal, que o pai demorou para procurar um hospitalslot sa gamerazão da "crença ferrenha" que tinha no "tratamento precoce".

Quando decidiu procurar um hospital, o advogado já estava com 80% dos pulmões comprometidos pela covid-19. Ele foi encaminhado diretamente para a UTI.

slot sa game Médicos alertam sobre riscos do slot sa game ' slot sa game tratamento precoce slot sa game '

Assim como no casoslot sa gameLeprevost, um dos riscos do "tratamento precoce" é fazer com que a pessoa demore para procurar atendimento médico por acreditar que irá se curar da covid-19 por meioslot sa gameremédios como hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina.

Médicos relatam que os pacientes que têm mais chancesslot sa gamesobreviver são aqueles que recebem máscaraslot sa gameoxigênio ou ventilação mecânica invasiva antesslot sa gamechegar à insuficiência respiratória aguda. Porém, muitas pessoas que fazem o "tratamento precoce" buscam atendimento quando já estãoslot sa gameestado grave, com os pulmões severamente comprometidos.

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Legenda da foto, Apostaslot sa gamepacientesslot sa game'tratamento precoce' tem feito com que muitos cheguem aos hospitaisslot sa gameestado mais grave

Em reportagem recente da BBC News Brasil, médicosslot sa gamehospitaisslot sa gamereferência afirmaram que a defesa e o uso do "kit covid", como também é conhecido o conjuntoslot sa gamemedicações do "tratamento precoce", contribuemslot sa gamediferentes maneiras para aumentar as mortes no país.

Estudos apontam que entre 80% a 85% dos pacientes infectados pelo novo coronavírus não vão desenvolver forma graveslot sa gamecovid-19. Para essas pessoas que não devem precisarslot sa gameinternação, alémslot sa gamenão ajudar no combate à doença, o "tratamento precoce" pode criar a falsa sensaçãoslot sa gameque foi o responsável pela cura, mesmo pesquisas apontando que esses medicamentos são ineficazes contra a enfermidade.

Esse tratamento sem comprovação científica pode trazer complicações até para quem não desenvolve quadro grave da covid-19, porque pode causar efeitos colateraisslot sa gamediferentes órgãosslot sa gamevirtudeslot sa gamedoses excessivasslot sa gamemedicamentos.

Para os 15% ou 20% dos infectados pelo coronavírus que vão precisarslot sa gameinternação, o uso dessas drogas do "tratamento precoce" pode prejudicar ainda mais o quadroslot sa gamesaúde. Profissionais que estão na linhaslot sa gamefrente apontam que os efeitos desses fármacos são mais frequentes entre essas pessoas e, alémslot sa gamedificultar o tratamento, podem contribuir para mortesslot sa gamepacientes, porque podem afetar as funçõesslot sa gameórgãos vitais.

Os efeitos colaterais dessas drogas junto com as consequênciasslot sa gameum quadro graveslot sa gamecovid-19 são extremamente preocupantes.

"Esses remédios não ajudam, não impedem o quadroslot sa gameintubação, e trazem efeitos colaterais, como hepatite, problema renal, mais infecções bacterianas, diarreia, gastrite. E a interação entre esses medicamentos pode ser perigosa", disse,slot sa gamerecente entrevista à BBC News Brasil, a pneumologista Carmen Valente Barbas, que é professoraslot sa gameMedicina da Universidadeslot sa gameSão Paulo (USP) e referência internacionalslot sa gameventilação mecânica.

"A faltaslot sa gameorganização central e as informações desconexas sobre medicação sem eficácia contribuíram para a letalidade maior na nossa população. Não vou dizer que representa 1% ou 99% (das mortes), mas contribuiu", afirmou, tambémslot sa gamerecente entrevista á BBC News Brasil, Carlos Carvalho, diretor da Divisãoslot sa gamePneumologia Hospital das Clínicasslot sa gameSão Paulo e professorslot sa gameMedicina da USP.

As complicações após a alta hospitalar

Na internação para tratar a covid-19, Luiz ficou pouco maisslot sa gamedois mesesslot sa gameum hospital particularslot sa gameCuritiba (PR). Ele passou parte desse período intubado.

Quando voltou para casa, o advogado estava com a saúde debilitada. Diariamente fazia acompanhamento com fisioterapeuta. Por diversas vezes, após o retorno ao lar, ele precisou voltar ao hospital por complicaçõesslot sa gamesaúde.

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Legenda da foto, Presidente Jair Bolsonaro defende medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina, mesmo sem qualquer respaldo científico

Alguns dos médicos que acompanharam Luiz suspeitam que o quadro dele pode ter pioradoslot sa gamedecorrência do "tratamento precoce". Isso porque a família diz que o advogado tinha apenas cardiopatia antes da covid-19, mas desenvolveu problemasslot sa gamediferentes órgãos posteriormente. Os profissionaisslot sa gamesaúde suspeitam que esses problemas podem ter sido causados ou agravados pelo uso excessivoslot sa gamemedicamentos.

"Não podemos afirmar categoricamente que os problemas que ele teve são oriundos do "tratamento precoce". Mas o que posso afirmar categoricamente é que o meu pai seguiu à risca esse tratamento, usou os medicamentos que são indicados, mas isso não evitou a internação dele, muito menos que ele fosse intubado", declara Ney.

"E depoisslot sa gamereceber alta pela covid-19, ele teve complicações semelhantes às que médicosslot sa gamegrandes hospitais do Brasil têm descrito como relacionadas ao tratamento precoce", acrescenta o primogênitoslot sa gameLuiz.

O advogado teve complicações nos rins e hepatite (inflamação do fígado) que os médicos suspeitam que tenha sido medicamentosa, pelo uso desmedidoslot sa gamefármacos como hidroxicloroquina e ivermectina. "Mas não aprofundaram o estudo da biópsia dele", diz Ney.

Em um dos encontros que teve com o pai, antes da última internação do idoso, o primogênito ouviu o pai relatar o arrependimento por ter feito o tratamento sem comprovação científica.

"Ele teve temposlot sa gamedizer que estava arrependido. Ele me falou que por ter tomado esses medicamentos demorou muito para aceitar procurar um hospital. Essa demora influenciou bastante (nas complicações do idoso)", diz o secretário do Paraná.

Enquanto Luiz piorava maisslot sa gamecasa, a esposa dele estava recuperada da covid-19 após passar dias na UTI. "Quando eles foram diagnosticados com a covid, meu pai queria que ela também fizesse o "tratamento precoce", mas ela não fez. Além disso, ela aceitou ser internada muito rapidamente, diferente do meu pai. Hoje ela está ótima", diz Ney.

Junto com a famíliaslot sa gamecasa, Luiz ficou cada vez mais fraco. Os parentes contam que a última internação dele foi após o advogado apresentar uma coloração amarelada. Ele foi levado às pressas ao hospital e o quadro foi considerado gravíssimo. O idoso foi para a UTI. Na noiteslot sa game9slot sa gameabril, ele não resistiu às complicaçõesslot sa gamesaúde.

Na certidãoslot sa gameóbito consta que Luiz morreuslot sa gamedecorrênciaslot sa gameinsuficiência renal e falência múltipla dos órgãos.

"O problema dele não foi a covid-19, foram outras complicações. Meu pai acabou entrando nessa canoa furada. Foi,slot sa gamecerta forma, descuido. Se você me perguntar se eu acredito que meu pai estaria vivo se não tivesse feito o tratamento precoce e fosse mais cedo ao hospital, eu diria que acredito que sim"', afirma o primogênitoslot sa gameLuiz.

O advogado, que era vice-presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), deixa a esposa com quem foi casado durante décadas, quatro filhos e seis netos.

'Tudo isso precisa ser passado a limpo'

Para Ney, tudo o que o pai viveu desde novembro passado se tornou uma lição sobre o "tratamento precoce". Ele afirma que mudou a visão sobre o tema após vivenciar a situação do pai e espera que histórias como aslot sa gameLuiz sirvamslot sa gamealerta para que as pessoas não acreditemslot sa gamemedicações sem respaldo científico.

"Quando alguém tem uma doença, deve procurar médicos sérios e confiar. É preciso avaliar os prós e contras do tratamento e devem ficar atentas a informações e a estudos científicos. Nosso país não suporta mais,slot sa gamehipótese alguma, a negação da ciência. Acreditar na ciência é o melhor caminho para a prevenção da covid-19", afirma.

O secretário diz que espera que as aquisiçõesslot sa gamehidroxicloroquina pelo poder público e o incentivo ao uso desse fármaco se tornem alvosslot sa gameinvestigações. Esses pontos estão entre os principais alvos da Comissão Parlamentarslot sa gameInquérito (CPI) da Covid-19.

"Em alguma hora vai acontecer uma investigação séria. Não sei se vai acontecer nessa CPI (da Pandemia) ou não. Mas penso que é necessário que a Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República e os Ministérios Públicos Estaduais verifiquem se autoridades federais, estaduais ou municipais tiveram alguma ligação com laboratóriosslot sa gamecloroquina e se tiveram acréscimosslot sa gameseus ganhos pessoais no ano passado…", declara.

"Tudo isso precisa ser passado a limpo, porque é difícil entender ainda hoje, depoisslot sa gametodo esse tempo eslot sa gametantos estudos feitos, porque ainda há tantas autoridades e pessoas da área da saúde defendendo esse tiposlot sa gamemedicamento", completa.

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