Médicos relatam choque com UTIs lotadasleovegas sportjovens com covid-19: 'Temem perder olfato, mas perdem a vida':leovegas sport

Crédito, Reuters

Legenda da foto, "Tivemos a morteleovegas sportum pacienteleovegas sportapenas 25 anos, o que é muito chocante", diz médico à BBC News Brasil.

"A pandemia retornou com uma velocidade e uma característica clínica diferentes daquela da primeira onda", afirmou Gorinchteyn.

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Legenda da foto, Equipe médica colocando pacienteleovegas sportleitoleovegas sportUTIleovegas sportSP; colapso nos sistemasleovegas sportsaúde faz com que muitos só recebam atendimento especializado quando seu quadro já se agravou

"São pacientes mais jovens, que têm aleovegas sportcondição clínica muito mais comprometida e, pior, são pacientes que acabam permanecendo um período mais prolongado nas UTIs. Na primeira onda, tínhamos (nas UTIs paulistas) percentualleovegas sportmaisleovegas sport80%leovegas sportidosos e portadoresleovegas sportdoenças crônicas. O que temos visto hoje são pacientes mais jovens, 60% delesleovegas sport30 a 50 anos, muitos dos quais sem qualquer doença prévia."

Com o organismo geralmente mais forte do que oleovegas sportidosos, os mais jovens resistem melhor aos procedimentos que têm sido realizados nas Unidadesleovegas sportTerapia Intensiva, como ventilação mecânica e hemodiálise.

No entanto, como consequência, também acabam ocupando os leitos por muito mais tempo. Segundo Gorinchteyn, a médialeovegas sportocupaçãoleovegas sportUTIsleovegas sportSão Paulo passouleovegas sport7 a 10 dias por paciente, para 14 a 17 dias "no mínimo".

'Acham que vão perder o olfato, mas perdem a vida'

"São as pessoas que se sentem à vontade para sair porque acham que (se pegarem covid-19) só vão perder paladar e olfato, e acabam perdendo a vida", prosseguiu o secretário.

"Outro aspecto é a gravidade com que eles chegam. Sua oxigenação baixa sem que o indivíduo sinta (se não medir com um oxímero) e, quando ele chega ao hospital, vê-se o quantoleovegas sportsaturação (de oxigênio no sangue) está baixa e o quanto ele tem comprometimentoleovegas sportpulmão."

Embora a chegadaleovegas sportpacientes mais jovens com quadro mais graves seja perceptível, ela não é plenamente entendida, porque o Brasil não dispõeleovegas sportdados oficiais consolidadosleovegas sportcasos e internaçõesleovegas sportcovid-19 por faixa etária, explica Marcio Sommer Bittencourt, mestreleovegas sportsaúde pública e integrante do Centroleovegas sportPesquisa Clínica e Epidemiológica do Hospital Universitário da USP,leovegas sportSão Paulo.

Ele lista diversas causas que, somadas, provavelmente compõem o retrato atual.

A primeira é a mencionada por Gorinchteyn: como as populações mais novas - desde jovens adultos até 59 anos - resistem por mais tempo na UTI, a tendência é que aumente a ocupaçãoleovegas sportleitos por elas.

A segunda é o fatoleovegas sporta infecção por covid-19 ter aumentado exponencialmenteleovegas sporttodo o país nos últimos meses - o que levaria, portanto, a mais infecções entre mais jovens. A incógnita é se aumentou proporcionalmente mais entre eles, diz Bittencourt.

"Além disso, os mais jovens são mais economicamente ativos do que os idosos, então saem mais para trabalhar. Isso já acontecia antes (da segunda onda), mas agora (o efeito disso) é mais perceptível."

Por fim, existe o fatoleovegas sportestarmos dianteleovegas sportvariantes mais infecciosas do coronavírus, que podem também estar aumentando a gravidade dos casos.

"Provavelmente são todas essas causas juntas, mas não sabemos qual delas impacta mais o momento atual", afirma Bittencourt. "O que se sabe com certeza é que as novas cepasleovegas sportcirculação aumentaram o número totalleovegas sportinternações eleovegas sportcasos mais gravesleovegas sportgeral."

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Legenda da foto, Novas variantes do coronavírus também contribuem para a gravidade da situação; acima, UTIleovegas sportSP

Sistemaleovegas sportcolapso

O quadro é completado e agravado por um sistemaleovegas sportsaúdeleovegas sportcolapso, que não dá contaleovegas sportatender com a rapidez necessária para prevenir que o estadoleovegas sportsaúde dos pacientes se agrave - por exemplo, muitos passam diasleovegas sportenfermarias lotadas até conseguirem uma vagaleovegas sportUTI.

"Como o sistema está colapsado, as pessoas podem não estar recebendo a atenção adequada, mesmo com um esforço muito grande nosso", diz o médico intensivista Edino Parolo, que atendeleovegas sportUTIsleovegas sportdois hospitais (um público e um privado)leovegas sportPorto Alegre (RS).

"A intubaçãoleovegas sportum paciente grave, por exemplo, é algo que poucos médicos conseguem fazerleovegas sportmaneira segura."

Ele confirma a chegadaleovegas sportcada vez mais pacientes jovens nos hospitais onde atende, com internações prolongadas e "frustrantes", pelo impacto físico e emocional que impõemleovegas sportpacientes, equipes médicas e famílias.

"Certamente não é só uma doençaleovegas sportidosos. Desde o início incomodava essa ideia (difundida)leovegas sportque seria uma doença que afetaria idosos e debilitados. Minha opinião éleovegas sportque isso foi combustível para vários erros e deixou os jovens saudáveis menos cuidadosos."

A avalancheleovegas sportagravamentoleovegas sportcasos começa a se formar ainda no pronto-socorro, portaleovegas sportentrada dos pacientes com covid-19. "Estou abismado com a quantidadeleovegas sportcasos graves. No último sábado, tínhamos 30 pacientesleovegas sportcovid-19 na emergência. Antes da segunda onda, ter 15 pacientes era (equivalente a) um plantão ruim. E hoje (terça-feira, 23/3) soube que há 48 pacientes ali", diz Lucas Barroti, médico que atendeleovegas sportpronto-socorroleovegas sporthospital público na cidadeleovegas sportSão Paulo.

"Não tem mais nem espaço físico. Alguns pacientes chegam a ficar três dias na emergência (aguardando transferência), e ali vão piorando: primeiro usam cateter nasal, depois máscara respiratória, depois precisamleovegas sportintubação. Dá a impressãoleovegas sportque a progressão (piora) é amais rápida do que antes."

E ali Barroti também se assombra com a idade dos pacientes: "A maioria já não éleovegas sportidosos. Tem na faixa etárialeovegas sport40, 50 anos - uma parcela deles sem comorbidades, e mesmo assimleovegas sportestado tão grave quanto (se tivessem)."

A perigosa aposta no 'tratamento precoce'

E há ainda os malefícios causados pela falsa crença no chamado "tratamento precoce", defendido pelo presidente Jair Bolsonaro a despeitoleovegas sportcientistas alertarem que não há, até o momento, nenhuma evidêncialeovegas sportque remédios como hidroxicloroquina ajudem no enfrentamento contra a covid. Pelo contrário: médicos ouvidosleovegas sportuma reportagem da BBC News Brasil diz que os efeitos colaterais dos remédios e a demoraleovegas sportprocurar atendimento médico tornam o quadro pior.

"Muitos que acreditam na pataquada do tratamento precoce só procuram atendimento quando já estão muito graves", conclui Marcio Bittencourt.

Além disso, como a campanhaleovegas sportvacinação avança entre as populações mais idosas, é possível que elas comecem a estar mais protegidas que os mais jovens. Na semana passada, dados da Secretaria Municipalleovegas sportSaúdeleovegas sportSão Paulo cedidos ao portal G1 apontaram uma quedaleovegas sport51,3% das mortesleovegas sportpessoas entre 85 a 89 anos entre janeiro e fevereiro.

Crédito, EPA

Legenda da foto, Volumeleovegas sportpacientes é superior à capacidade dos sistemasleovegas sportsaúde

Enquanto a campanhaleovegas sportvacinação avança para faixas etárias menores a passos lentos e gestores estaduais e municipais tentam fazer valer restrições à circulaçãoleovegas sportpessoas, as equipes médicas ainda se veem dianteleovegas sportum número descomunalleovegas sportpacientes.

Matheus Alves, o médico cujo depoimento abre esta reportagem, conta que a filaleovegas sportespera por leitosleovegas sportUTIleovegas sporthospitaisleovegas sportcampanha do Distrito Federal chega a cercaleovegas sport400 pacientes.

Ele tem trabalhado 72 horas por semana para dar contaleovegas sportcasos cuja gravidade exige cada vez mais atenção. "Uma coisa é ter uma UTIleovegas sportpacientes com máscaras (de oxigênio, respirando por conta própria). Outra é ter uma sóleovegas sportpacientes intubados,leovegas sportdiálise ou choque séptico. Trabalho ligado a 200 por hora."

O caso mais marcante que atendeu até hoje foi há algumas semanas,leovegas sportum paciente na casa dos 40 anos - o primeiro não idoso que Alves teveleovegas sportintubar nesta segunda ondaleovegas sportpandemia.

"É um jovem, sem comorbidades e não obeso. Iria prestar concurso público dentroleovegas sportum mês, porque sonhavaleovegas sportdar um futuro melhor paraleovegas sportfamília. Ele não queria ser intubado. Os jovens resistem mais à intubação, não se conformam. Depois do procedimento nele, chegueileovegas sportcasa e desabei: chorei igual a uma criança. É um homem que tinha sonhos, assim como eu tenho. Aquele medo dele entrouleovegas sportmim. A maiorialeovegas sportnós médicos ficamos muito sensibilizados com casos tão jovens. Passado maisleovegas sportum mês, o paciente continua intubado. Mas ele está resistindo."

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