Coronavírus: Brasil tem quase 30 fábricasroleta slotvacina para gado e só 2 para humanos:roleta slot

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Crédito, Owen Humphreys/PA Wire

Legenda da foto, Enquanto o setorroleta slotvacinas para humanos depende da importaçãoroleta slot90% dos insumos, quase 100% das vacinas para gado sào produzidas inteiramente no Brasil

Enquanto o Brasil importa a grande maioria das vacinas usadas pelo Sistema Únicoroleta slotSaúde (SUS), maisroleta slot90% das vacinas para gado são fabricadas no país, segundo o Sindicato Nacional da Indústriaroleta slotProdutos para Saúde Animal (Sindan).

"O problema do Brasil é que a gente importa tudo. Nos últimos anos, reduzimosroleta slot50% a capacidaderoleta slotprodução nacionalroleta slotvacinas. Temos só duas fábricas. No setor veterinário, temos inúmeras fábricas", diz Ana Paula Fernandes, pesquisadora do Centroroleta slotTecnologiaroleta slotVacinas e Diagnóstico da Universidade Federalroleta slotMinas Gerais (UFMG).

De fato, existem cercaroleta slot30 fábricas para vacina veterinária — a maioria no Sudeste do país, segundo o Sindan. Trata-seroleta slotum mercado que garantiu faturamentoroleta slotR$ 6,5 bilhões ao setor farmacêutico veterinário e que ajuda a manter a liderança mundial do Brasil na exportaçãoroleta slotgado.

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Crédito, REUTERS/Phil Noble

Legenda da foto, 'Para maisroleta slot90% das vacinas para gado, o ciclo completoroleta slotprodução ocorreroleta slotterritório brasileiro', diz Emílio Saldanha, vice-presidente do Sindan

"Todo o processoroleta slotfabricação, da sementeroleta slottrabalho do vírus vivo ao envase e distribuição, é feito aqui. Para maisroleta slot90% das vacinas voltadas a gado, o ciclo completoroleta slotprodução ocorreroleta slotterritório brasileiro", disse à BBC News Brasil o vice-presidente executivo do Sindan, Emílio Saldanha.

Mas quando foi que o setorroleta slotvacinas para humanos deixouroleta slotser prioridade, enquanto a vacinaçãoroleta slotgado se desenvolvia?

Da autossuficiência à dependência da China

Segundo o fundador e primeiro presidente da Agência Nacionalroleta slotVigilância Sanitária (Anvisa), Gonzalo Vecina Neto, foi na décadaroleta slot1980 que o setorroleta slotpesquisa e fabricação nacionalroleta slotvacinas para humanos viveu o augeroleta slotinvestimentos.

"No regime militar, foi implementado o modeloroleta slotsubstituiçãoroleta slotimportações. Os militares fizeram um esforço para ampliar capacidade produtiva localroleta slotinsumos farmacêuticos e o pico se deu no final dos anos 1980", recorda.

Em 1985, o regime militar lançou o Programaroleta slotAutossuficiênciaroleta slotImunobiológicos (Pasni), com a metaroleta slottornar o Brasil autossuficiente na produçãoroleta slotimunizantes. Recursos do Ministério da Saúde foram transferidosroleta slotpeso para quatro instituiçõesroleta slotpesquisa: Bio-Manguinhos, Instituto Butatan, Fundação Ezequiel Dias e Instituto Vital Brasil.

Em poucos anos, o Brasil passou a fabricar uma sérieroleta slotvacinasroleta slotterritório nacional, como a da tríplice viral, febre amarela, tríplice bacteriana, poliomielite, tuberculose (BCG), e hepatite B.

Idosa sendo vacinada

Crédito, REUTERS/Amanda Perobelli

Legenda da foto, Pandemia evidenciou dependência do Brasilroleta slotimportaçõesroleta slotinsumos da China

"Tanto para o Butantan quanto para a Fiocruz os investimentos da décadaroleta slot1980 foram um marco. O Brasil possuía um parque farmoquímico para produçãoroleta slotIFA (Insumo Farmacêutico Ativo)", disse à BBC News Brasil Tiago Rocca, gerenteroleta slotparcerias estratégicas e novos negócios do Butantan.

Mas a maré logo iria mudar para a indústriaroleta slotpesquisaroleta slotvacinas. A partirroleta slotmarçoroleta slot1990, a abertura comercial promovida pelo então presidente Fernando Collor permitiu a entrada maciçaroleta slotprodutos importados e muitas indústrias brasileiras não resistiram, inclusive o setorroleta slotimunizantes. Nesse meio tempo, China e Índia despontaram como grandes produtoresroleta slotinsumos farmacêuticos.

"O Brasil passou a importarroleta slotlarga escala IFA, moléculas pequenas e outras matérias-primas usadas para fazer vacina. O problema é que os investimentos não acompanharam a competitividade e abertura. Atualmente, importamos cercaroleta slot90% dos insumos imunobiológicos", explica Rocca, do Butantan.

Como consequência da abertura econômica, institutos e fábricas foram fechando as portas, restando apenas Fiocruz e Butantan com capacidade para produzir vacinasroleta slottecnologia nacional.

"A abertura da economia no governo Collor foi feita sem cuidado, sem verificar como os diferentes segmentos seriam afetados. Na indústria farmacêutica, o que fizemos foi secar a capacidaderoleta slotprodução nacional e passar a importar tudo através das multinacionais", acrescenta Vecina Neto, que é professor da Faculdaderoleta slotSaúde Pública da Universidaderoleta slotSão Paulo (USP).

Regulamentação mais rígida e necessária foi 'prego no caixão'

Outro momento importante na trajetória da indústriaroleta slotvacinas foi a criação da Agência Nacionalroleta slotVigilância Sanitária (Anvisa), no governo Fernando Henrique Cardoso,roleta slot1999.

O Brasil passou a adotar um regime mais criterioso para liberaçãoroleta slotmedicamentos e foram impostas regras para equiparar o Brasil aos padrões internacionaisroleta slotsegurançaroleta slotqualidaderoleta slotpesquisa.

Os pesquisadores ouvidos pela BBC News Brasil dizem que essas medidas foram importantes, mas destacam que elas não foram acompanhadasroleta slotinvestimentos para que institutos como Fiocruz e Butatan pudessem atualizarroleta slotinfraestrutura e continuar a fabricar vacinasroleta slotponta a ponta no país.

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Crédito, REUTERS/Rodolfo Buhrer

Legenda da foto, Abertura econômica no governo Collor prejudicou indústria nacionalroleta slotimunizantes

O resultado disso foi que imunizantes que antes eram produzidos no Brasil passaram a ser importados. O Butantan, por exemplo, fabricava a vacina Tríplice Bacteriana Acelular (contra difteria) e aroleta slothepatite B, mas passou a importar esses produtos porque é custoso atualizar as fábricas para que se adequem às exigências regulatórias.

"Nós registramos a patente, detemos a tecnologia, mas precisamosroleta slotuma nova fábrica para produzir essas vacinasroleta slotacordo com as melhores práticas da Anvisa", explica Tiago Rocca.

Atualmente, das sete vacinas que o Instituto Butantan fornece só a da gripe é fabricada inteiramente no Brasil, a partirroleta slotum acordoroleta slottransferênciaroleta slottecnologia. E das 10 vacinas fornecidas pela Fiocruz, só 4 não dependem da importaçãoroleta slotInsumo Farmacêutico Ativo, ou IFA.

Gonzalo Vecina Neto avalia que os governos que se seguiram aoroleta slotCollor, inclusive osroleta slotFernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, não tiveram uma visãoroleta slotlongo prazo e também não investiramroleta slotpesquisa farmacêutica eroleta slotvacinas.

"O boom das commodities estimulou os governos a navegarroleta slotáguas tranquilas e se fiar na exportaçãoroleta slotprodutos agrícolas. Por que FHC e Lula não investiram na autossuficiênciaroleta slotvacinas? Faltaroleta slotvisãoroleta slotlongo prazo. Nenhum dos dois tirou o pé do curto prazo, do populismo local, da reeleição no quarto ano."

"Vale da Morte"

Segundo a microbiologista Ana Paula Fernandes, que é professora da Universidade Federalroleta slotMinas Gerais (UFMG), o grande gargalo na indústria nacionalroleta slotvacinas está na ausênciaroleta slotlaboratórios tecnológicos e plantas fabris para viabilizar a transformação da pesquisaroleta slotproduto final.

"Temos capacidade técnica, pesquisadoresroleta slotponta, mas existem gargalos que impedem que as descobertas se transformemroleta slotvacina. Temos conhecimento técnico para fazer vacinas como a da Pfizer e Moderna contra a covid-19, mas não temos matéria-prima, investimentos e fábricas para produzir", resume.

Esses gargalos são chamados pelos cientistasroleta slot"vale da morte". Isso porque, entre a descoberta científica e o uso desse achado, existe um abismo atualmente intransponível.

Segundo o professorroleta slotimunologia da USP Jorge Kalil, faltam laboratórios e plantas fabris que permitam testar a descoberta das universidadesroleta slotanimais e, depois,roleta slotseres humanos.

"O que impede que isso aconteça é faltaroleta slotinvestimentos. Nós temos uma ciênciaroleta slotexcelência no Brasil, mas precisamos atravessar o vale da morte, que é ir da descoberta científica nos laboratórios acadêmicos para a fase final, da industrialização", diz Kalil, que também é diretor do Laboratório Incorroleta slotImunologia e ex-presidente do Instituto Butantan.

Interesse econômico alimenta vacinas veterinárias

Já o setorroleta slotvacinas veterinárias conseguiu sobreviver à aberturaroleta slotmercado e escapou às regulações criteriosas da Anvisa.

A liberaçãoroleta slotvacinas e medicamentos para uso animal é regulamentada pelo Ministério da Agricultura, que impõe regras mais flexíveis, diz o ex-presidente da Anvisa Gonzalo Vecina Neto.

Além disso, um amplo e lucrativo mercado privado garante a compra das vacinas para gado, suínos e aves, enquanto o maior compradorroleta slotvacinas humanas é o governo federal.

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Legenda da foto, Brasil chega a exportar vacinas veterinárias a paises da América do Sul, diz Ministério da Agricultura

O Brasil é o maior exportadorroleta slotgado do mundo e a quantidaderoleta slotbois no território brasileiro equivale ao tamanho da população brasileira. A vendaroleta slotlarga escalaroleta slotvacinas para uso animal garante que seja mais vantajoso fabricar o produto no Brasil a importarroleta slotoutros países, até porque o custoroleta slotfabricação é menor que oroleta slotvacinas para humanos, já que as regras são menos rígidas que as impostas pela Anvisa.

Otto Mozzer, dono da Allegro Biotecnologia, destaca ainda que parte da indústriaroleta slotvacina animal cresceu na garupa do programa do governo federalroleta sloterradicação, até 2026, da febre aftosa — doença altamente contagiosa que pode causar a morte do animal e que provocava grandes prejuízos aos produtores.

"O grande parque tecnológico industrial foi na trilha da produçãoroleta slotvacina contra febre aftosa. Todos captaram recursos para fabricação dessa vacina e foram produzidos, nos últimos 20 anos, maisroleta slotR$ 6,2 bilhõesroleta slotdoses aqui no Brasil", disse Mozzer, que é doutorroleta slotbiotecnologia pela USP.

Para se ter uma ideia, o Brasil tem cercaroleta slot220 milhõesroleta slotcabeçasroleta slotgado, segundo o vice-presidente-executivo do Sindan, Emilio Saldanha. Cada um desses animais, precisa tomar duas dosesroleta slotvacina contra febre aftosa — uma exigência do Ministério da Agricultura para todos os produtoresroleta slotgado do país.

"Faz 30 anos que somos autossuficientes nas principais vacinas para rebanho brasileiro. Vacinação é sinônimoroleta slotcompetividade", destaca Saldanha.

E para que investirroleta slotvacina brasileira para humanos?

O principal argumento contrário a investirroleta slotvacinas nacionais é oroleta slotque, atualmente, é mais barato importar produtos da Índia ou China do que construir laboratórios e fábricas para garantir autossuficiência. Atualmente, o déficit na balança comercial brasileiraroleta slotinsumos farmacêuticos éroleta slotR$ 2,1 bilhões (dadoroleta slot2019), segundo a Associação Brasileira da Indústriaroleta slotInsumos Farmacêuticos (Abiquifi).

Como o Brasil passou por maisroleta slot30 anosroleta slotdesinvestimentos no setor, seria preciso um investimento pesado do poder público para reverter esse cenário.

Por outro lado, a pandemia do coronavírus mostrou os riscosroleta slotdepender inteiramente da importaçãoroleta slotinsumos. A demora na entregaroleta slotmatéria-prima pela China pode significar mesesroleta slotatraso no cronogramaroleta slotvacinação da população contra covid-19.

Além disso, há doenças que existem no Brasil e que não despertam interesseroleta slotpesquisaroleta slotgrandes farmacêuticas estrangeiras, por serem um problema regional.

Mulher sendo vacinada

Crédito, REUTERS/Pilar Olivares

Legenda da foto, Para especialistas, investirroleta slotvacinas nacionais é estratégico para proteger populaçãoroleta slotdoenças regionais e reduzir dependência externa, especialmenteroleta slotmomentosroleta slotcrise, comoroleta slotpandemias

"Por exemplo, tem um tiporoleta slotmalária que é comum no Brasil, mas nãoroleta slotoutros países. Temos dengue, zika, chikungunya... Fabricar vacinas eficazes contra doenças que predominam aqui é importante para proteger a população", diz Ana Paula Fernandes, que participaroleta slotum projeto nacionalroleta slotvacina contra covid-19.

O gerenteroleta slotparcerias do Butantan, Tiago Rocca, também defende investimentosroleta slottecnologia nacional. "Não é só uma questãoroleta slotlucro,roleta slotcusto eroleta slotvenda. É uma questão estratégica não depender quase inteiramenteroleta slotimportações", diz.

"Hoje, nós temos uma parceria com uma empresa estrangeira para continuar fornecendo a vacina da Hepatite B. Mas é uma questão estratégica ter a produção nacional, porque todos os habitantes do Brasil precisam tomar e precisamroleta slotdoseroleta slotreforço a cada dez anos. É uma doença que está aí."

Cientistas brasileiros também argumentam que investir na infraestruturaroleta slotfabricação nacionalroleta slotimunizantes é importante para fazer frente ao coronavírus, especialmente dianteroleta slotevidênciasroleta slotque as vacinas contra a covid-19 terão que ser atualizadas constantemente para responder a variantes do vírus.

Butantan assinou contratoroleta slottransferênciaroleta slottecnologia para produzir no país a CoronaVac. E a Fiocruz negocia contrato similar com a Oxford-AstraZeneca. Os dois institutos investiram na atualização das suas fábricas e laboratórios para viabilizar esses acordos.

Enquanto isso, pesquisadores brasileiros tentam angariar recursos para colocar no mercado vacinas feitas com tecnologia 100% nacional.

O gruporoleta slotpesquisa da microbiologista Ana Paula Fernandes, da UFMG, já terminou a fase pré-clínicaroleta slotestudos para produçãoroleta slotuma vacina brasileira contra covid-19. "Tivemos uma resposta excelente. Usamos camundongos e eles responderam muito bem."

O professor Jorge Kalil, da USP, tenta desenvolver uma vacinaroleta slotformatoroleta slotspray nasal contra covid-19. Ele também já usou o produtoroleta slotcamundongos e tenta transpor o "vale da morte" para conseguir testar o produtoroleta slothumanos.

"Se a gente consegue dinheiro para a fase mais fundamental da descoberta, é difícil percorrer o caminho que leva ao desenvolvimento do produto industrializado. Estamos agora negociando parcerias com empresas brasileiras."

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