Suicídio: 8 temas que levam brasileiros a pedirem ajuda na pandemia — e por que estar triste é tão comum:gigantoonz slot
A entrevista que duraria 15 minutos acaba se estendendo por maisgigantoonz slotuma hora. O papo flui com serenidade.
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"Pensargigantoonz slotsuicídio faz parte da vida. Agora, pensargigantoonz slotsuicídio não significa necessariamente pensargigantoonz slotmorte", ele diz, tranquilizando aqueles que se veemgigantoonz slotsituaçãogigantoonz slotdesespero. "É pensar que às vezes a vida está muito difícil. E, então, não ver sentido na vida."
Aí entra o poder muitas vezes subestimado do diálogo sem julgamentos.
"Quando você consegue desabafargigantoonz slotum ambientegigantoonz slotcompreensão,gigantoonz slotacolhimento, sem crítica, sem julgar, sem condenar, muito menos desvalorizar o que a pessoa está fazendo, ela se alivia. Ela tem um olhar para o seu interior e pode ver seus recursos para lidar com situações que não são nada fáceis. O voluntário atende a todas as ligações com a maior importância. A pessoa que nos procura é a protagonista. Nós não avaliamos o tamanho da dor. Uma história que pode parecer simples para alguém para aquela pessoa égigantoonz slotsuma importância."
Desde meadosgigantoonz slotmarço do ano passado, quando a pandemia foi declarada pela Organização Mundial da Saúde, "o assunto está presentegigantoonz slotgrande parte desses contatos", conta o voluntário do CVV.
Fundadagigantoonz slot1962 e que hoje tem 4,2 mil voluntários atendendo a maisgigantoonz slot3,5 milhõesgigantoonz slotcontatos por ano - entre chamadas telefônicas pelo número 188 (ligação gratuita para telefones fixos e celulares), chats (pelo site https://www.cvv.org.br/) e e-mail (https://www.cvv.org.br/e-mail/).
À reportagem Batista descreve a matéria-primagigantoonz slotseu trabalho. "Conversar é saber ouvir e poder falar. Ouvir é estar atento. Nunca foi tão importante saber ouvir e se aproximargigantoonz slotquem está sofrendo. Entender que as pessoas estão sofrendo."
Da ansiedade pelo fim da pandemia que não chega aos novos conflitos domésticos que o coronavírus trouxe, Batista relata como as mudançasgigantoonz slotcomportamento impostas pela doença se refletem nos chamados ao CVVgigantoonz slotdiferentes temas.
Confira a seguir os principais:
Hiperconvivênciagigantoonz slotcasa
Em maior ou menor grau, famíliasgigantoonz slottodo o mundo estão passando muito mais tempo juntasgigantoonz slottemposgigantoonz slotcoronavírus.
"A convivência nos lares (mudou): nas famílias saíam a esposa e o marido para trabalhar, o filho ou a filha, para estudar, egigantoonz slotrepente eles estão convivendo agora muito mais próximos. E os sentimentos ficam muito mais presentes", diz Batista.
Assim, a interação que antes se restringia às manhãs e noites,gigantoonz slotmuitos casos, passa a ocupar todo, ou quase todo, o dia. Muitas vezesgigantoonz slotlares pequenos, apertados, sem opçãogigantoonz slot"fuga".
"Assim começam a surgir tensões."
Se isso afeta você ou pessoas próximas, aponta o especialista, tente não se preocupar: nada mais comum.
"É preciso que haja um rearranjogigantoonz slottarefas e funções, que antes eram mais ou menos estruturadas e agora precisam ser rediscutidas", diz Batista.
Por exemplo, quem faz a comida. Quem lava a louça. Quem cuida dos mais novos ou dos pets. Quem faz faxina. "No caso das mulheres, além das vezes do trabalho profissional, elas muitas vezes têm também o trabalho da casa. Isso se acumula. É preciso negociar uma nova redistribuiçãogigantoonz slottarefas."
O caminho é conversar sobre o tema com a famíliagigantoonz slotbuscagigantoonz slotum arranjo que seja mais confortável para todos. Ou falar com alguémgigantoonz slotconfiança: parentes, amigos, profissionaisgigantoonz slotsaúde ou voluntários do CVV.
Você não precisa esperar a situação se complicar ou estar pensandogigantoonz slotsuicídio ou para buscar ajuda.
O luto incompleto
A covid-19 se espalhou pelo mundo e já matou quase 2 milhõesgigantoonz slotpessoas.
Em média, cercagigantoonz slot5.000 pessoas morreram por dia, 35 mil por semana e 150 mil por mês.
O Brasil foi um dos países mais atingidos. A primeira morte foi registradagigantoonz slotSão Paulo no dia 12gigantoonz slotmarço. Desde então, maisgigantoonz slot200 mil pessoas morreram.
O totalgigantoonz slotmortos só é menor do que o dos Estados Unidos, com 375 mil óbitos.
A presença da morte mudou — e a forma como nos relacionamos com ela também.
"O luto também mudou", diz Batista. "Pessoas que perderam pessoas e comparecem aos enterros, que agora são limitados. Assim, as pessoas não conseguem oferecer apoiogigantoonz slotforma presente egigantoonz slotalguma forma não se despedem (como antes) da pessoa que perderam."
Segundo o voluntário do Centrogigantoonz slotValorização da Vida, "o luto hoje acontecegigantoonz slotforma diferente".
"Parece que falta a despedida", diz. "É uma despedida que você tem sem ver. Ela acontece pela notícia que você recebe, mas muitas vezes você não pode estar junto oferecendo o seu apoio."
"São formas diferentesgigantoonz slotluto e nós precisamos nos adaptar."
Faltagigantoonz slotseparação entre profissional e doméstico
O sonho do "home-office", ou trabalhogigantoonz slotcasa, se tornou, na prática, um pesadelo para muitos.
A mesagigantoonz slotjantar vira escritório, a cadeira é desconfortável, o vizinho (ou o quarto ao lado) é barulhento, as contas ficaram mais caras, as refeições acontecemgigantoonz slotmeio a computadores e documentos.
"Às vezes, a pessoa está realizando seu trabalho profissional emgigantoonz slotcasa egigantoonz slotrepente acontece uma invasão com um assunto familiar", exemplifica Batista.
Essas experiências vão se acumulando e podem chegar ao pontogigantoonz slotgerar sofrimento real entre familiares.
Ele recomenda cuidado.
"É preciso cuidar para que os horários estejam organizados para que se possa ter foco profissional, ou nos afazeres domésticos."
Muitas vezes as coisas se "atropelam" e as pessoas não pensam com clareza no impacto dessa faltagigantoonz slotlimites claros.
Mais uma vez, a sugestão é conversar — seja entre familiares ou com chefes e colegasgigantoonz slottrabalho.
"Quando se estágigantoonz slotfamília, é negociargigantoonz slotforma aberta. Para os pais, se aproximar dos filhos e negociar com eles. Perguntar como está sendo esse momento, como podem, juntos, criar um ambiente onde todos se sintam valorizados. A conversagigantoonz slotforma compreensiva, estabelecendo acordos, horários, limites, pode fazer a diferença", diz o voluntário.
"É preciso encontrar equilíbrio."
Faltagigantoonz slotprivacidade e saudade da vida lá fora
Transversal aos itens anteriores, a faltagigantoonz slotprivacidade é um dos temas recorrentes nas chamadas que Antônio Batista atende no CVV.
"O jovem, que estava acostumado a tergigantoonz slotprivacidadegigantoonz slotalguns momentos, vê que isso alguma forma mudou. Ele tinha as atividades dele na escola, e agora a escola está dentrogigantoonz slotcasa. Os contatos são virtuais. Então, é como se não tivesse um tempo para recarregar, para fazer novos contatos, para que a proximidade (com outras pessoas) ocupe um lugar adequado", diz o voluntário.
Ele diz que a redução da privacidade, "que é tão importante para o amadurecimentogigantoonz slotcada um", é uma das principais fontesgigantoonz slottensões.
A melhor resposta, nesse caso, é o respeito.
"É preciso estar atento e também respeitar a privacidadegigantoonz slotfilhos, dos cônjuges e , às vezes, até a privacidade com relação ao trabalho. E isso não é tão fácil, já quegigantoonz slotalgumas famílias se convive durante todo o períodogigantoonz slotque se está acordado, o dia todo", ele lembra.
Batista aponta que, a partirgigantoonz slotsua experiência, "essa alteraçãogigantoonz slotprivacidade causa conflitos e inseguranças".
"Desabafargigantoonz slotum ambientegigantoonz slotcalor humano,gigantoonz slotcontenção, é como se fosse um antídoto", diz Batista. "A pessoa 'esvazia', organiza seus sentimentos, seus pensamentos, e pode procurar caminhos. Às vezes a pessoa está tão fechada no seu mundo que não sabe da importânciagigantoonz slotpedir ajuda a outras pessoas."
Ansiedade
Quando as primeiras notícias sobre o novo vírus chegaram, muitos pessimistas lamentaram que a "vida mudaria nos próximos meses".
Maisgigantoonz slotum ano depois, mesmo com o desenvolvimento promissorgigantoonz slotvacinas, a pandemia está longegigantoonz slotum desfecho e o que se entendia como "vida normal" não deve voltar a acontecer tão cedo, segundo especialistas.
"Depoisgigantoonz slottomar a vacina, é preciso voltar para casa, manter o isolamento social, aguardar a segunda dose e depois esperar pelo menos 15 dias para que a vacina atinja o nívelgigantoonz sloteficácia esperado", explicou há algumas semanas a bióloga Natália Pasternak, presidente do Instituto Questãogigantoonz slotCiência,gigantoonz slotentrevista à BBC News Brasil.
"E mesmo depois, é preciso esperar que boa parte da população já tenha sido imunizada para a vida voltar ao normal."
Além disso, imunizar a maioria dos 7,8 bilhõesgigantoonz slothabitantes do mundo será uma tarefa imensa. Nada nesta escala foi tentado antes.
As vacinas e seus equipamentos — como os frascos para transportá-las — precisam ser fabricadosgigantoonz slotgrandes quantidades. O fornecimentogigantoonz slotvacinas pode não ser suficiente para atender a demanda por algum tempo.
"Está demorando muito para passar. Parece que no início havia uma expectativagigantoonz slotque duraria alguns meses, mas não está passando. E as pessoas começam a ficar irritadas", conta o voluntário.
"O jovem, por exemplo, está mais presente no chat e no email (em comparação ao telefone). Ele se sente mais à vontade — quem tem 14, 15, 16, 20 anos. E eles falam sem esperançagigantoonz slotvida. Tem um bom percentual que toca no tema que a vida não tem sentido, toca no tema suicídio como uma coisa presente, como se não vissem uma possibilidadegigantoonz slotperspectiva", diz.
"É um sinalgigantoonz slotdesesperança. E, às vezes, o jovem fala das dificuldades com a família e da própria agressividade interna com a qual eles passam a conviver, às vezes por discussões com os pais. Quando iam para a escola, eles tinham um fator atenuante. Eles sentem faltagigantoonz slotretornar à escola,gigantoonz slotter contato com seus pares, e com professores. No chat e no email, essa linguagem é bem explícita", diz o profissional.
"É preciso falargigantoonz slotuma forma que valoriza a pessoa, não ter receiogigantoonz slotse aproximar e conversar com ela: "Olha a vida está tão difícil, você já pensougigantoonz slotsuicídio?". Mas no sentidogigantoonz slotreconhecer que é uma pessoa que está sofrendo e que às vezes não sabe que pode pedir ajuda. Para que ela possa elaborar e falar. Isso pode fazer a diferença na vida dessas pessoas."
Economia
Já entre adultos, conversas sobre temas ligados à economia têm sido frequentes no último ano.
"Não só o desemprego, mas também a perdagigantoonz slotnegócios", diz Batista.
Ele dá exemplos. "Pessoas que estavamgigantoonz slotum crescente, que investiram egigantoonz slotrepente têm que fechar. Ou, às vezes, sofrem por como se relacionar com empregados e ter que dispensar empregados. Ou o sacrifíciogigantoonz slotmanter os empregados. A incerteza."
Até o fim do ano, o Ministério da Economia calculava que o impactogigantoonz slotmedidas econômicas adotadas na pandemia equivale a 8,6% do PIB (Produto Interno Bruto), a soma dos bens e serviços produzidos neste ano.
Um baque recente e rumoroso aconteceu na segunda-feira (11/1), quando a Ford anunciou que fechará suas três fábricas no país —gigantoonz slotCamaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE). Como resultado, quase 5.000 trabalhadores da Ford perderão o emprego. Mas, segundo cálculosgigantoonz slotgovernos locais, com as empresas agregadas, que prestam serviços para a Ford, serão mais cercagigantoonz slot7.000 empregos afetados: 12 mil sem empregos no total, fora o impacto no comércio que giravagigantoonz slottorno da empresa.
A ansiedade que o momento gera pode ser amenizada com uma simples conversa, sugere o voluntário do CVV
"A gente não para dois minutos para falar sobre o trabalho. Abrir um diálogogigantoonz slotum dois minutos sem interferir, e se mostrar interessadogigantoonz slotcomo a pessoa está naquele momento. É como regar uma planta — cada contatogigantoonz slotbom dia, uma conversa, é como um antídoto para a semente crescer, e ir florindo."
Silêncio
Alémgigantoonz slottodos os temas anteriores, boa parte dos chamados recebidos pelo voluntário não têm tema claro. São silenciosos.
"O CVV não tem trote. Muitas vezes, a formagigantoonz slota pessoa se comunicar é com uma brincadeira. E muitas pessoas ligam e ficamgigantoonz slotsilêncio."
Ele explica. "Nós entendemos que o silêncio é uma formagigantoonz slotcomunicação. E, nesse silêncio, eu preciso me fazer presente e compreender, porquegigantoonz slotsilencio (o interlocutor) está dizendo algo: que mesmo ligando, ela não consegue ainda falar sobre a dor ou o que motivou a ligar."
"Essas ligações silenciosas são um desafio porque eu preciso me fazer presente e ao mesmo tempo respeitar o tempo da pessoa, que não consegue nem se expressar."
É preciso ficar atento aos sinais, conta o experiente voluntário.
"Às vezes é uma respiração ofegante, às vezes se balbucia algumas palavras não claras, às vezes vem o choro. O silêncio comunica algo — eu liguei, tenho algo para falar e não consigo falar."
Ele conta que o caminho nessas horas é se mostrar presente e respeitar o tempo do interlocutor.
"A gente não consegue puxar, a gente consegue acolher. Porque se você puxa, a pessoa se fecha, desliga, vai embora. É como se eu não respeitasse o tempo dela e todos nós para elaborar alguma coisa precisamosgigantoonz slotum tempo", ele diz.
"Eu me mantenho presente e disponível."
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