Massacre dos Porongos: a história da chacina dos soldados negros no Rio Grande do Sul:aposta 10bet

Ilustração do Massacre dos Porongos, pintada pelo artista Thiago Krenning

Crédito, Reprodução/TVE-RS

Legenda da foto, Há 176 anos, um esquadrãoaposta 10betlanceiros negros acampado no Cerro dos Porongos foi surpreendido e arrasado pelas tropas imperais

Os negros, portanto, não lutavam pelos ideais farroupilhas, mas pela chanceaposta 10betliberdade. Embora também atuassem como infantes (soldadosaposta 10betpé), acabaram conhecidos na história como "lanceiros negros".

Estima-se que, no final da guerra, eles representavam até um terço das tropas farroupilhas, ou aproximadamente 10 mil homens. Era praticamente a metade do contingente imperial.

Para responder à crescente participação dos negros, os imperiais decretaramaposta 10bet1838 a "Lei da Chibata". Ela determinava que todo escravo que fosse preso fazendo parte das forças rebeldes receberiaaposta 10bet200 a 1.000 chibatadas.

A ameaça não arrefeceu o ímpeto dos escravos, que continuaram a engrossar as fileiras rebeldes. Mas, apesar da grande serventia nas batalhas, os negros acabariam se tornando um "problema" para os farroupilhas. Sobretudo quando ficou evidente que aquela seria uma guerra perdida.

A traiçãoaposta 10betPorongos

Diversos conflitos da Revolução Farroupilha se deram na região da campanha gaúcha, faixa do bioma pampa colada à fronteira com o Uruguai, com seus campos repletosaposta 10betserras e coxilhas.

Pois foi no altoaposta 10betuma delas, conhecida como Cerro dos Porongos, localizado no atual municípioaposta 10betPinheiro Machado, que aconteceu um dos ataques mais violentos da guerra dos farrapos.

Há 176 anos, na madrugadaaposta 10bet14aposta 10betnovembroaposta 10bet1844, um esquadrãoaposta 10betlanceiros negros acampado no Cerro dos Porongos foi surpreendido e arrasado pelas tropas imperais.

Pouco maisaposta 10betcem homens negros foram assassinados. Os que não escaparam para quilombos ou para o Uruguai acabaram enviados à corte, no Rioaposta 10betJaneiro, onde seguiram escravizados até a Lei Áurea, 43 anos depois.

Ilustração sobre a chacina, pintada pelo artista Thiago Krenning para o programa Nação da TVE-RS

Crédito, Reprodução/TVE

Legenda da foto, O Massacre dos Porongos ainda passa ao largo da memória da maioria dos gaúchos

Há controvérsias sobre o que teria facilitado o Massacre dos Porongos. A maioria das evidências históricas, porém, indica que a chacina é resultado da traição do general David Canabarro, homem forte dos farroupilhas.

À época, reconhecendo a iminente derrota, os rebeldes tentavam negociar uma anistia com o império. O governoaposta 10betDom Pedro 2º prometeu pensar na proposta. Entre as condições para o induto, constava a devolução dos escravos capturados.

O problema é que a exigência não agradaria muitos dos chefes rebeldes, envergonhados com a renúncia, e tampouco os negros a quem os farroupilhas tinham prometido liberdade.

Para resolver o impasse, Canabarro teria feito um conchavo com os imperiais. "Ele escreveu ao Barãoaposta 10betCaxias, tramando a data e o local para um ataque ao acampamento dos negros", diz o historiador Jorge Euzébio Assumpção, autoraposta 10betPelotas: Escravidão e Charqueadas 1780-1888 (FCM Editora, 2013).

Alémaposta 10betfazer um conluio com os imperiais, Canabarro relativizou alertasaposta 10betaproximação inimiga e desarmou os lanceiros negros na véspera do ataque. O general alegou que a munição velha seria substituída por outra mais nova e, assim, entregou os guerreiros negrosaposta 10betbandeja aos imperiais.

O general farroupilha nunca deu grandes explicações sobre o ocorrido. Seus defensores dizem que, no momento da investida, o general estava ocupado como uma das vivandeiras (mulheres que acompanham as tropas com a missãoaposta 10betcozinhar, curar ferimentos e orar pelos moribundos). E que, por essa razão, não teria flagrado a carnificina.

O ataque foi a páaposta 10betcal não apenas para os soldados negros como também para a própria Revolução Farroupilha.

"O combateaposta 10betPorongos, que mais foi uma matançaaposta 10betum só lado do que peleja, dispersou a principal força republicana, e manifestou estar morta a rebelião", escreveu Tristãoaposta 10betAlencar Araripe no livroaposta 10betmemórias A Guerra Civil no Rio Grande do Sul, publicadoaposta 10bet1881.

O tratadoaposta 10betpaz foi selado quatro meses depois do Massacre dos Porongos,aposta 10bet28aposta 10betfevereiroaposta 10bet1845, quando Canabarro assinou o acordo confiando na "palavra sagrada" e no "magnânimo coração"aposta 10betDom Pedro 2º.

O professor Jorge Euzébio Assumpçãoaposta 10betprotesto contra o racismo,aposta 10betPorto Alegre

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, 'Existe uma clara intenção políticaaposta 10betnão abordar esse tema nos festejos', diz o historiador Jorge Euzébio Assumpção

Herança maldita

Todos os anos, no Rio Grande do Sul, comemora-se a tradicional Semana Farroupilha, quando o povo gaúcho realiza festejos e acampamentos que celebram e rememoram os ideais, a república e o gritoaposta 10betguerra ecoadoaposta 10bet20aposta 10betsetembroaposta 10bet1835.

O Massacre dos Porongos, porém, ainda passa ao largo da maioria das atividades promovidasaposta 10betCentrosaposta 10betTradições Gaúchas (CTG) e acampamentos pelo Estado. Para se ter ideia, apenasaposta 10bet2004 foi erguido o Memorial Lanceiros Negrosaposta 10betPorongos, um pequeno monumentoaposta 10bethomenagem aos guerreiros mortos na emboscada.

"Existe uma clara intenção políticaaposta 10betnão abordar esse tema nos festejosaposta 10betsetembro", diz o historiador Jorge Euzébio Assumpção. "Essa sonegação histórica acontece porque os farroupilhas são um símboloaposta 10betpoder do Rio Grande do Sul , e falar da traição contra os negros é desmitificar o gauchismo."

Só que Porongos não foi, exatamente, a única traição dos farroupilhas contra o povo negro, segundo Juremir Machado da Silva. "Nessa revolução que muitos afirmam ser abolicionista, vários negros foram vendidos no Uruguai para financiar o movimento."

Apesaraposta 10betainda desconhecida para muitos brasileiros (e para muitos gaúchos, na verdade), a história do Massacre dos Porongos tem ganhado crescente relevância, sobretudoaposta 10betrazão das pesquisas históricas e do crescimento do movimento negro.

Para Juremir Machado, a chacina dos lanceiros é apenas um tijolo do racismo estrutural construído ao longo o tempo.

"A traição dos farrapos, a aprovaçãoaposta 10bet1854 da lei que previa a prisãoaposta 10betquem alfabetizasse negros, a faltaaposta 10betum planoaposta 10betinclusão após a abolição: essas e outras situações são heranças que alimentam o desrespeito que ainda coloca o negro, digamos assim, numa posição secundária", diz o jornalista.

"No entanto", ele complementa, "ver o empoderamento dos negros na TV, na literatura ou a massaaposta 10betpessoas nos protestos do João Alberto Freitas (homemaposta 10bet40 anos que morreu após ser espancado por segurançasaposta 10betuma unidade do Carrefour,aposta 10betPorto Alegre) mostra que as coisas estão mudando. Devagar, mas estão mudando."

* Este texto foi publicado originalmenteaposta 10bet13 dezembro 2020 e republicadoaposta 10bet20aposta 10betsetembroaposta 10bet2022aposta 10bethttp://vesser.net/brasil-55236674

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