Os 'heróis infantis' que morreram defendendo castelo na guerra entre México e EUA:betgalera
A intervenção americana terminoubetgalera1848 com a assinatura do TratadobetgaleraGuadalupe-Hidalgo, com o qual o México perdeu mais da metadebetgaleraseu território, que passou a pertencer ao seu vizinho ao norte.
O resultado do conflito foi traumático para os mexicanos e, provavelmente por isso, a façanha dos heróis infantis ainda seja lembrada 175 anos depois como símbolobetgaleragrande orgulho e sacrifício pelo país.
No entanto, os historiadores questionam vários pontos dessa história e os incluem como mitos promovidos por autoridades ávidas por exaltar o nacionalismo mexicanobetgaleraum momentobetgaleraque a identidade nacional do país ainda estavabetgaleraformação.
Entre mito e realidade
Especialistas consultados pela BBC News Mundo, serviçobetgaleraespanhol da BBC, concordam que os heróis infantis existiram e perderam a vida na tomada do castelobetgaleraChapultepec, que era a sede do Colégio Militar. Mas eles apontam para várias partes são difíceisbetgaleraconfirmar ou foram aumentadas para promover essa lenda heróica.
"Um primeiro ponto é a idadebetgalera6 anos, que variou na verdade entre 13 e 20 anos. Não sei se hoje poderia me enquadrar na categoria do que consideramos 'crianças'", diz o historiador mexicano Ricardo Rivas.
Há também quem tenha a ideiabetgaleraque apenas os seis defenderam o castelo. No entanto, haviabetgaleraChapultepec cercabetgalera200 homens entre soldados e cadetes, aos quais se juntaram maisbetgalera600 membros do batalhão San Blas, que vieram tentar deter o avanço dos Estados Unidos. A maioria morreu,betgaleraacordo com Rivas.
Houve também vozes conservadoras que tentaram difundir mitos para minimizar essa história, como a que aponta que os heróis infantis foram punidos ou presos no momento do ataque e que, portanto, lutaram porque não tinham opçãobetgalerasair. Ou que eles estavam embriagados.
"Eles decidiram ficar para defender o castelo embora, como cadetes, não fossem obrigados a fazê-lo. Até a ordembetgaleraseus superiores era que se retirassem quando fosse iminente a chegada das tropas americanas, que tinham entre 5 mil e 7 mil homens e indicava que a batalha estava perdida. Acho que esse é o seu verdadeiro ato heróico", diz Rivas.
Escutia e a bandeira
Sobre o famoso episódiobetgaleraEscutia, Rivas esclarece que "é o maior mito que, historicamente, não pode ser confirmado e não há evidências disso".
"Aparentemente, Escutia morreubetgalerabatalha. E esse episódiobetgalerase jogar com a bandeira e cair morto nas encostas do morro parece ilógico se olharmos para onde está o mastro do castelo", diz.
Além disso, outro fato que colocabetgaleradúvida esta versão é que a bandeira mexicana foi tomada pelo Exército dos Estados Unidos, que não a devolveu até maisbetgaleraum século depois.
Cecilia Vargas Ramírez, historiadora do Instituto NacionalbetgaleraEstudos Históricos das Revoluções do México (INEHRM), aponta que a práticabetgaleraesconder a bandeira ou embrulhar-se nela para protegê-la do inimigo era,betgalerafato, algo comum nesta guerra contra os Estados Unidos.
"Os testemunhos e documentos que temos não indicam que Escutia fez isso, mas outros heróis, como Santiago Xicoténcatl ou Margarito Zuazo, sim. O primeiro foi um tenente-coronel do batalhão San Blas e foi um dos últimos a permanecer defendendo o castelo enquanto camaradas desertaram para salvar suas vidas", explica o especialista.
No entanto, apesarbetgaleraser considerado um dos grandes heróis da batalha, Xicoténcatl nem sequer tem o mesmo reconhecimento popular que o grupobetgaleraseis crianças.
Outro dos heróis esquecidos é Miguel Miramón, a quem alguns descrevem como "o sétimo menino herói" por ter sido um dos jovens cadetes que participaram da batalha e conseguiram sobreviver.
No entanto, na história popular, ele é lembrado por ter se juntado ao Exército conservador anos depois e ser fuziladobetgalera1867 junto com o imperador MaximilianobetgaleraHabsburgo,betgaleraquem foi grande aliado, por ordem do liberal Benito Juárez por "traição à pátria".
Restos mortais
A façanha dos heróis infantis é comemorada oficialmente desde 1881. Masbetgaleralenda ganhou força especial a partir do centenário da guerra,betgalera1947, como resultadobetgaleraum evento que também é questionado por especialistas.
Naquele ano, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, visitou o México para fazer uma homenagem aos mortos e pronunciar uma frase que não foi bem recebida por muitos mexicanos: "Um séculobetgalerarancores é apagado com um minutobetgalerasilêncio".
A agitação popular, no entanto, se acalmou pouco depois, quando surgiram as notíciasbetgaleraque seis ossos foram encontrados nas encostas da colinabetgaleraChapultepec e que foram rapidamente atribuídos aos heróis infantis.
"Isso foi dado como certo e, do meu pontobetgaleravista, foi uma farsabetgaleraMiguel Alemán (presidente mexicano na época) para dar maior relevância aos fatos. Não houve opiniãobetgaleraespecialistas nem nenhum antropólogo participoubetgalerasua identificação... nada", critica Rivas.
Após esta descoberta, foi ordenada a construção do imponente Altar à Pátria, composto por seis colunasbetgaleramármore e que, desde 1952, abriga os ditos restos mortais.
Por que esse mito?
Para tentar entender por que alguns mitos foram incluídos nessa história, Vargas Ramírez ressalta a importânciabetgaleralevarbetgaleraconta o contextobetgaleraque ela ocorreu.
"Os heróis infantis refletem o oposto da deserção, eles representam aqueles que ficam e se comprometem com a causa nesta guerra tão forte e terrível", diz o historiador.
"No entanto, foi muito difícil conseguir que a população se comprometesse a defender o território. Então, eles representam exatamente essa aspiração diante da dor e do trauma da sociedade mexicana: o que gostaríamos que acontecesse."
Foi nesse cenáriobetgaleraderrota militar que surgiu esta história que, na opinião do especialista, "é uma comemoração impostabetgaleracima, uma tradição inventada para fins políticos como uma história perfeita como modelobetgaleracivilidade".
Rivas concordabetgaleraenquadrar esta história como uma tentativa do Méxicobetgalera"construir uma identidade nacional" que ganhou impulso especial após a Revolução Mexicana.
"E os heróis infantis se encaixam perfeitamente nesse objetivo. A partir daí, eles se tornaram um dos mitos fundadores do nacionalismo mexicano que continua a ser ensinado nas escolas", afirma.
Questionados se este episódio deve ser visto pelos estudantes mexicanosbetgalerauma forma mais próxima da realidade historicamente corroborada, ambos os especialistas defendem uma perspectiva mais crítica.
"Mais do que apagarbetgaleranossos livros a referência a esse mito, acho que temos que explicar por que construímos essa mitologia e que função ela cumpre para a história do México e para nossa consciência nacional", avalia Vargas Ramírez.
"É preciso contar a partirbetgalerauma perspectiva que reconheça que faz partebetgalerauma narrativa que o Estado gerou para dar consolo diantebetgaleraum evento tão traumático como a guerra contra os Estados Unidos", acrescenta.
"O fatobetgalerasi é realmente ficcional e heróicobetgalerasi, não precisaria ter todas essas modificações adicionais. Deve ser ensinadobetgaleraforma crítica e deixandobetgaleralado aquele romantismo pelo nacionalismo que claramente tem um propósito", concorda Rivas.
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