Os relatosbetano no iphonequem vê crescer númerobetano no iphonecrianças desnutridas no Brasil: 'dava para ver todos os ossos do corpo do bebê':betano no iphone
O casobetano no iphoneLucas acendeu um alerta dentro da coordenação geral da entidade beneficente, que atende criançasbetano no iphonesituaçãobetano no iphonevulnerabilidade no Brasil desde a décadabetano no iphone1980.
"Já no ano passado, mesmo antes da pandemia, a gente vem percebendo que o pessoal (equipes nas esferas estaduais) está voltando a relatar casos gravesbetano no iphonesubnutridos", diz à BBC News Brasil o médico Nelson Arns Neumann, coordenador da Pastoral da Criança.
"No começo da Pastoral era muito frequente ver criançasbetano no iphoneapenas pele e osso, e depois a gente não tinha mais visto isso. Tanto que esses casos (novos) escalaram rápido para a coordenação nacional, porque as equipes tinham perdido a habilidadebetano no iphonelidar com eles."
Embora o calvário do bebê Lucas — que será contadobetano no iphonemais detalhes ao longo desta reportagem — seja extremo e não represente a situação nutricional geral do país, ele reflete uma piora nas condiçõesbetano no iphonevida das famílias mais pobres. Algo que é respaldado tanto por dados estatísticos quanto pela observaçãobetano no iphoneagentes comunitários, como Maria José, que atua na Pastoral da Criança do Acre há 20 anos.
"Esse foi um casobetano no iphoneuma família muito desestruturada, mas, no contextobetano no iphonepobreza, não acho que seja um caso isolado", diz ela à BBC News Brasil.
Efeitos para a vida toda
Para fetos, bebês e crianças pequenas, essa desnutrição (ou mesmo a má nutrição) vivenciada no início da vida pode deixar sequelasbetano no iphonelongo prazo. Isso porque a ausência da comida muda o metabolismo do corpo infantil, influenciando o funcionamento e o tamanhobetano no iphoneórgãos como fígado e coração.
"Desde a fome holandesa (episódiobetano no iphone1944, durante a Segunda Guerra), vimos que, quando vivida na gestação, a fome tem efeitos para o resto da vida: os holandeses que nasceram naquela época viviam 10% a menos, tinham mais esquizofrenia e doenças metabólicas", afirma Arns Neumann.
"No Brasil, a criança que nasceu com baixo peso tem o dobrobetano no iphonechancebetano no iphoneser diabética e ter pressão alta, (justamente comorbidades associadas a) quem morre maisbetano no iphonecovid-19. As criançasbetano no iphone40 anos atrás (que tiveram má alimentação) estão morrendo mais por covid hoje", conclui ele.
Isso não quer dizer, no entanto, que não seja possível minimizar esses danos nem proporcionar uma vida plena a essas crianças — principalmente se as intervenções ocorrerem cedo, quando a chancebetano no iphoneeficácia é maior.
Arns Neumann explica que o corpo também cria mecanismos próprios para preservar o cérebro da desnutrição. "Temos relatos do início dos trabalhos da Pastoral,betano no iphonecrianças ultradesnutridas, que com um anobetano no iphonevida, pesavam menos do que quando tinham nascido. E elas se recuperaram, passaram (no vestibular)betano no iphoneuniversidades federais. Mas,betano no iphonecompensação, aos 40 anos, tinham colesterol alto e obesidade, efeitos ligados (ao que tinham vivido nos) seus primeiros mil diasbetano no iphonevida."
Agora, a esperança ébetano no iphoneque o bebê Lucas supere essas perspectivas. Maria José ainda o acompanhabetano no iphonelonge: hoje, com pouco maisbetano no iphone2 anos, ele "está tão lindo, caminha e fala normalmente", conta ela.
Uma grande diferençabetano no iphonerelação ao ano passado, quando a agente comunitária o acompanhou durante semanasbetano no iphoneinternações hospitalares, e quando ele chegou a pesar 4 quilos — metade do peso médiobetano no iphoneum bebêbetano no iphonenove meses, a idade que tinha na época.
Durante uma das internações, Maria José lembra que viu o bebê desfalecer. Naquele dia, a equipe médica alertou que ele corria riscobetano no iphonemorrer.
"Além da nutrição, a gente achava que ele sentia faltabetano no iphoneafeto", conta ela. "Então eu abraçava e beijava ele o tempo todo. Ele dormiabetano no iphonecima da gente (voluntárias). A gente via a vida dele indo embora do corpo, mas ele continuava com um olhar vivo."
Aos poucos, o menino foi recuperando o peso até conseguir a alta hospitalar, e Maria José e as demais voluntárias da Pastoral se revezavam para visitá-lo e alimentá-lobetano no iphonecasa.
Mas a famíliabetano no iphoneLucas, que tem outros seis irmãos, ainda vivebetano no iphonegrande vulnerabilidade e segue sendo monitorada pelo conselho tutelarbetano no iphoneRio Branco.
Empobrecimento nos centros urbanos
A piora na nutrição infantil também é observada nas grandes áreas urbanas das cidades mais ricas do país — e uma das ausências mais sentidas dos últimos meses é a da merenda escolar, que tem um papel muito importante na vida das crianças mais pobres.
Desde 2009, uma resolução do Fundo Nacionalbetano no iphoneDesenvolvimento da Educação, órgão do Ministério da Educação, determina que as refeições escolares supram 70% das necessidades nutricionais diárias das criançasbetano no iphonezero a três anos que estudembetano no iphoneperíodo integral, e 30% das que estudem meio período.
Essa ausência, junto ao empobrecimento das famílias, a mudanças (para pior) nos hábitos alimentares e à dificuldade no acesso à saúde pública básica — que teve serviços diminuídos ou suspensos por causa do coronavírus —, tem criado um contexto preocupante na saúde física, mental e nutricional das crianças, afirma Maria Paulabetano no iphoneAlbuquerque, gerente médica do Centrobetano no iphoneRecuperação Educação Nutricional (Cren).
A ONG, conveniada à Prefeiturabetano no iphoneSão Paulo, atende crianças e adolescentesbetano no iphonemá situação nutricional que morambetano no iphoneáreas vulneráveis da capital paulista.
"Tem havido um consumobetano no iphonemais alimentos processados (como salgadinhos e doces), porque muitas mães têm dificuldadebetano no iphonecozinhar", afirma a médica.
Esses alimentos, alémbetano no iphoneserem pobresbetano no iphonenutrientes, têm sal, açúcar e gordurabetano no iphoneexcesso. "As nossas crianças com excessobetano no iphonepeso pioraram muito."
E essa nem é a questão mais urgente, prossegue Albuquerque.
"Embora não tenhamos os dados estatísticos, percebemos claramente duas coisas durante a pandemia: 1) as famílias estão bem mais desorganizadas quanto à oferta, frequência e quantidadebetano no iphonealimentosbetano no iphonecasa. 2) Todos estão com a saúde mental muito prejudicada, principalmente as mães e os adolescentes. E, no Brasil, a desnutrição não é só resultado da faltabetano no iphoneacesso à comida: se o cuidador não tem como cuidar das crianças, a situação delas fica muito complicada."
Ela também teme que as crianças sejam prejudicadas para além da duração da pandemia.
"O impacto da desnutrição é muito ruim na primeira infância. As crianças anêmicas têm pior rendimento escolar. E tanto o excessobetano no iphonepeso quanto a perdabetano no iphonepeso estão programando adultos mais doentes: teremos mais hipertensão, diabetes e obesidade daqui a três décadas."
Tanto a Pastoral quanto o Cren tiveram que reduzir drasticamente suas ações presenciais por causa da pandemia, o que dificultou a coletabetano no iphonedados importantes, como peso e altura das crianças. Albuquerque afirma também que há um "apagão"betano no iphoneparte dos dados da primeira infância — alguns estão desatualizados há anos, dificultando diagnósticos mais amplos.
Mas um conjuntobetano no iphonenúmeros disponíveis traz razões para preocupação.
Insegurança alimentar no Brasil e no mundo
Metade das crianças com menosbetano no iphonecinco anos (6,5 milhões) do Brasil viviabetano no iphonelares com algum graubetano no iphonesegurança alimentar, segundo a Pesquisabetano no iphoneOrçamento Familiar 2017-2018, divulgada no último mêsbetano no iphonesetembro pelo IBGE.
No total, 10,3 milhõesbetano no iphonebrasileiros morambetano no iphonecasas onde houve privação severabetano no iphonealimentosbetano no iphonepelo menos alguns momentosbetano no iphone2017 e 2018.
Em julho, o Unicef (braço da ONU para infância) e o Ibope perguntaram a 1,5 mil famílias sobre como seus hábitos alimentares haviam mudado na pandemia. E a resposta é que umbetano no iphonecada cinco brasileiros com 18 anos ou mais passou por algum momentobetano no iphoneque não tinha dinheiro para comida quando os alimentos da casa acabaram.
Nas casas com crianças ou adolescentes, um terço dos entrevistados declarou ter aumentado o consumobetano no iphonecomida industrializada, como macarrão instantâneo, biscoitos recheados e enlatados.
No mundo, um estudo publicadobetano no iphonejulho na revista científica The Lancet estimou que a pandemia levará à desnutrição 6,7 milhõesbetano no iphonecrianças a mais neste ano.
Ações à distância
E como combater isso, sem poder realizar visitas domiciliares e tendobetano no iphonediminuir os atendimentos presenciais por causa da pandemia?
"Estamos apostando muito no fortalecimento da economia local", afirma Albuquerque, do Cren,betano no iphoneSão Paulo. Com a ajuda financeirabetano no iphoneparceiros e doadores, a entidade está ajudando a comprarbetano no iphoneagricultores orgânicos que antes vendiambetano no iphoneprodução para escolas.
"Com isso, conseguimos fazer cestas básicasbetano no iphonefrutas, verduras, legumes e ovos orgânicos" para famíliasbetano no iphonevulnerabilidade nutricional, diz a médica.
"Daí fizemos vídeos curtos para ajudá-las na nova rotina da casa, ensinando desde a fazer uma omelete até a acessar os benefícios oferecidos pelo governo."
Na Pastoral da Criança, a principal ferramenta para trabalhar à distância tem sido um app própriobetano no iphonecelular, que a entidade fez para passar informações às famílias — por exemplo, dicasbetano no iphonebrincadeiras, alimentação e higiene com as criançasbetano no iphonecasa — e para ajudar a capacitar as equipesbetano no iphonevoluntários, explica a nutricionista Caroline Dalabona.
Como o app precisa ser sincronizado com os dados nutricionais das famílias atendidas, a Pastoral pleiteia com as empresasbetano no iphonetelefonia que permitam que o aplicativo rode sem precisar usar dados dos planosbetano no iphonecelular.
A entidade também conta com os olhos e ouvidosbetano no iphoneagentes comunitários e voluntários locais para identificar os casos mais graves e ajudá-los.
"Em Campo Grande (MS), temos uma líder comunitária que ela própria estava passando dificuldades (por estar sem emprego). Mas, quando ela conseguiu uma cesta básica para si, a dividiu com uma mãe, que passava fome com duas crianças e já falavabetano no iphonesuicídio", afirma Nelson Arns Neumann.
"Então temos muita solidariedade entre os mais pobres. O problema é que é pobre dividindo com pobre."
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