Os jovens infratores que se tornaram campeõescodigo bonus bwinxadrez: 'É como a vida. Você pensa agora e o resultado vem depois':codigo bonus bwin
Pedro chegou na sexta colocação, e hoje joga xadrez por duas horas diárias. Mas seu começo no tabuleiro não foi fácil, conta. "Não ganhei nenhum jogo, perdia todos. Mas me interessei bastante, e resolvi continuar tentando".
Ele saiucodigo bonus bwinsua primeira internação sem vencer uma partida sequer. Voltou para seu bairro e para a mesma vidacodigo bonus bwinantes. Chegou a competir com um tio, e, ainda assim, não foi bem.
Pedro conta que a mãe, diarista, nunca deixou faltar o essencialcodigo bonus bwincasa, mas as condições da família não permitiam que os desejos dos filhos fossem satisfeitos. Pedro queria mais, como muitos adolescentes dacodigo bonus bwinidade. E decidiu entrar para o tráfico.
"Eu traficava porque queria comprar várias coisas que eu não tinha, e minha mãe não podia pagar: tênis, roupas, boné, maconha.", conta ele, que abandonou a escola no 6º ano do ensino fundamental.
Pedro vendeu drogas na rua, mas logo foi alçado a gerente do ponto. "Cheguei a ganhar R$ 2 mil por dia, mais do que minha mãe recebia no mês inteiro. Às vezes eu gastava tudo no mesmo dia, comprando roupas,codigo bonus bwinfestas, pagando bebida para meus amigos", diz.
Tudo isso acabou quando ele foi novamente preso. De volta à Fundação Casa, reencontrou-se com o tabuleiro. Foi quando venceucodigo bonus bwinprimeira partida. "Fiquei observando os moleques jogarem, e vi o que eu precisava fazer. Quando ganhei, foi bem conquistado. Fiquei muito feliz. Hoje sou bom, um dos melhores da casa. Até ensino quando um moleque novo quer aprender a jogar", diz.
Quando sair, Pedro pensacodigo bonus bwintrabalhar no comércio, como o pai. Depois, quer terminar o ensino médio e cursar engenharia civil. "O xadrez me deu isso, aprendi a raciocinar melhor, a analisar minha situação. Hoje quero sair desse mundão, pararcodigo bonus bwinfazer coisa errada, quero constituir família, ser uma pessoa normal", diz.
Xadrez levado a sério
O campeão deste ano foi Thiago*,codigo bonus bwin16 anos, que, entre idas e vindas, já passou dois anos dacodigo bonus bwinvida na Fundação Casa. "Comecei a furtar no mercado", conta o menino, cuja família vivecodigo bonus bwinuma favelacodigo bonus bwinSão Paulo.
De pequenos furtoscodigo bonus bwincomida, o jovem passou a roubar benscodigo bonus bwinmaior valor. "Você conhece umas pessoas, que te chamam pra fazer uma coisa errada, e você vai indo no embalo, sem pensar direito. Eu roubava mesmo era para conseguir coisas imediatas, principalmente roupas. Uma vez eu queria um (tênis) Mizuno que custava R$ 800, e eu não tinha esse dinheiro."
Para Thiago, o xadrez apareceu antescodigo bonus bwinser preso — aprendeu a jogarcodigo bonus bwinuma ONG que atua com crianças pobres emcodigo bonus bwincomunidade. "Mas eu só sabia mesmo movimentar as peças. Não tinha estratégia, não sabia me defender no jogo. Isso aprendi aqui, jogando com outros moleques. Hoje, já começo a partida com uma ideia: 'vou iniciar com o peão na frente do rei, depois mexo o cavalo pra dar uma proteção maior, e assim vai..."
No campeonato, ele venceu 10 adversários até chegar à final. "Fiquei muito nervoso, sob pressão. Eu queria muito ganhar. Mas perdi a rainha, perdi um montecodigo bonus bwinpeças, achei que iria perder. Mas então consegui a rainha do outro moleque, e dei xeque-mate. Nem sei dizer o que passou pela cabeça. Só fiquei muito feliz", conta.
Mesmo campeão no tabuleiro, Thiago pensacodigo bonus bwinseguir carreiracodigo bonus bwinoutro campo: quer ser jogadorcodigo bonus bwinfutebol profissional. "O xadrez foi muito bom para mim, porque aprendi a levar a sério algo que eu gosto. Nunca levei o futebol muito a sério. Quando eu sair daqui, vou correr atráscodigo bonus bwinrealizar meu sonho."
'Eles sabem que podem ser presos'
Além da escola formal, atividades extracurriculares fazem parte da vidacodigo bonus bwintodo adolescente no sistema socioeducativo, como o da Fundação Casacodigo bonus bwinSão Paulo.
"Todos os adolescentes praticam semanalmente três atividades esportivas", explica Carlos Alberto Robles, gerentecodigo bonus bwineducação física da Fundação Casa. "O xadrez surgiucodigo bonus bwinuma parceria que fizemos com a federação paulistacodigo bonus bwinxadrez, anos atrás. Muitos adolescentes gostamcodigo bonus bwinjogar, porque é uma atividadecodigo bonus bwinraciocínio, complexa."
Menorescodigo bonus bwin18 anos podem ficar internados no máximo três anos. O tempo exato é determinado pela gravidade do ato infracional, a partircodigo bonus bwinuma análise feita por agentes, psicólogos, promotores e juízes.
Das 5 mil pessoas cumprindo medidas socioeducativas no Estadocodigo bonus bwinSão Paulo, 49% cometeram infrações relacionadas ao tráficocodigo bonus bwindrogas — roubos representam 37%; furtos 3% e homicídios, 2,6%. Do total, 69% dos adolescentes são negros (pardos + pretos) e 30%, brancos.
Para Fernando Henriquecodigo bonus bwinFreitas Simões, promotorcodigo bonus bwinJustiça da Infância e Juventudecodigo bonus bwinSão Paulo, pobreza e a vulnerabilidade explicamcodigo bonus bwinparte a ligação entre os adolescentes e o crime. "Nossa experiência mostra que a grande maioria dos jovens é bastante pobre,codigo bonus bwinbairros periféricos. Dentro das próprias comunidades, que já são vulneráveis, eles são pessoas ainda mais vulneráveis que a média", diz.
"Em geral, eles vivemcodigo bonus bwinfamílias monoparentais, enfrentam situaçõescodigo bonus bwinviolência doméstica, às vezes com vários irmãos. Muitos abandonaram a escola ou estão atrasados, pouco sabem ler e escrever. Costumo dizer que, quando esses problemas não são tratados até os 15 anos, esses jovens aparecem na Fundação Casa", explica.
Segundo o promotor, roubos e o tráficocodigo bonus bwindrogas surgem como alternativa para os adolescentes conseguirem dinheiro mais facilmente.
"Algumas pessoas não concordam, mas eu acho que a decisãocodigo bonus bwinentrar no crime é uma decisão racional para esses jovens, não é algo que acontece do nada. Eles ganham dinheiro, mais que os próprios pais, mas sabem que há vários riscos envolvidos: violência, confrontos com a polícia, e prisão. Eles sabem disso, sabem que podem ser presos. Em casoscodigo bonus bwinreincidência, há adolescentes que passam três anos internados", diz.
'O xadrez é como a vida'
Com duas passagens pela Fundação Casa, Rodrigo*,codigo bonus bwin17 anos, vai completar três internado. Na primeira, ficou maiscodigo bonus bwindois anos depoiscodigo bonus bwinse envolvercodigo bonus bwinum assalto.
No campeonatocodigo bonus bwinxadrez deste ano, ele terminou na terceira colocação.
"Eu gostavacodigo bonus bwinjogar dama, e aprendi xadrez com um funcionário da unidade. No campeonato, me desesperei várias vezes porque cometi muitos erros. Mas fui avançando. Nunca imaginei onde chegaria", conta.
Rodrigo foi criado apenas pela mãe.
Quando o jovem tinha 14 anos, foi preso cometendo um roubo junto com um parente maiorcodigo bonus bwinidade.
Depois do primeiro períodocodigo bonus bwininternação, Rodrigo voltou para casa e para o crime, dessa vez como traficantecodigo bonus bwindrogas. Aceitou a tarefacodigo bonus bwinser gerentecodigo bonus bwinum pontocodigo bonus bwinvendacodigo bonus bwinuma comunidade. Conta que ganhava R$ 3 mil por semana, mas isso durou só 15 dias, pois logo foi preso.
"Comecei a namorar uma menina, e a gente foi morar junto. Eu precisava comprar coisas para casa. Então, comecei no tráfico e fui progredindo, mas, se você for ver, foi uma regressão. Fiz muita coisa errada sem pensar direito, no impulso", conta.
Hoje, Rodrigo diz que não se enxerga mais no crime: sonhacodigo bonus bwinterminar o ensino médio (está no 1º ano) e quer estudar medicina.
Ele explica que jogar xadrez — o movimento calculado das peças — o ajudou a refletir sobre suas ações até aqui. "O xadrez é como a vida: você pensa sobre o que vai fazer agora para ter um bom resultado depois. Aprendi a pensar antescodigo bonus bwinagir."
*O Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe a divulgaçãocodigo bonus bwindados pessoais que possam identificar menores infratores. Por isso, os nomes dos jovens citados nesta reportagem são fictícios.
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