Pai que deixafortaleza palpite hojevacinar não quer o bem do filho, diz mãe do último casofortaleza palpite hojepólio do Brasil:fortaleza palpite hoje
Deivson passou meses internado no Hospital Universitáriofortaleza palpite hojeJoão Pessoa, onde passou por diversas sessõesfortaleza palpite hojefisioterapia até "começar a fazer tudofortaleza palpite hojenovo, sentar, engatinhar, andar se segurando e depois andar sozinho", relembrafortaleza palpite hojemãe.
Sem sequelas físicas, Deivson, hoje com 32 anos, está prestes a se tornar bacharelfortaleza palpite hojeeducação física e realizar o sonhofortaleza palpite hojeser personal trainer.
A recuperação não significa que doença se tornou só uma lembrança para a família. Eles já participaramfortaleza palpite hojeeventos para incentivar a vacinação, e Deivson faz parte da entidade G14, associaçãofortaleza palpite hojeapoio a pacientesfortaleza palpite hojepoliomielite e síndrome pós-pólio, voltada para orientação, capacitação e suporte a pacientes, familiares e profissionaisfortaleza palpite hojesaúde.
"A participação nesses eventos na Paraíba, por exemplo, é realmente para dar uma reforçada e uma alertada aos pais para vacinar seus filhos. É importante o meu testemunho para dar um incentivo para levar ao postofortaleza palpite hojevacinação", afirma Deivson.
Para ele, as pessoas perderam a noção da gravidade da doença porque ela não circula mais há décadas. "O vírus é agressivo, ele deixa sequelas e as pessoas não estão ligando mais, ficaram relaxadas, mas corre muito riscofortaleza palpite hojevoltar. Não se deve baixar a guarda, principalmente com as crianças."
Mãe e filho defendem que a vacinação seja obrigatória para todos, ao contrário do que defendeu o presidente Jair Bolsonaro (em relação a vacinas contra o novo coronavírus).
"O presidente é um pouco radical, né, mas é importantíssimo vacinar para evitar que aconteça o pior. É obrigação dos pais vacinar os filhos. Se for questãofortaleza palpite hojeamor mesmo, tem que vacinar. Ninguém quer ver seus entes queridos doentes, com sequelas ou morrendo. Para mim, deveria ser obrigação vacinar", diz Deivson.
Vacinas contêm geralmente formas enfraquecidas ou inativadasfortaleza palpite hojevírus ou bactérias que não colocam a saúdefortaleza palpite hojerisco. O corpo então identifica esses micróbios, produz defesas contra eles e cria uma espéciefortaleza palpite hojememóriafortaleza palpite hojecombate que servirá contra ataques futuros por anos ou décadas.
"Só quem não sabe o que eu passei deixafortaleza palpite hojevacinar seus filhos", diz Devaneide. Nafortaleza palpite hojeopinião, "quem não leva eles para tomar vacina é porque não quer o bem deles", mas é dever do poder público fazerfortaleza palpite hojeparte e incentivar, educar e fazer campanhasfortaleza palpite hojevacinação.
"Em 2020, o Brasil deveria comemorar 30 anos sem pólio, mas, a nossa realidade é assustadora, com grande parte dos 5.570 municípios brasileiros com alto riscofortaleza palpite hojereintrodução da doença por apresentarem cobertura vacinal abaixo dos níveis mínimos esperados", afirma boletim da Secretaria da Saúde do Estado da Paraíba.
Segundo reportagem do jornal Folhafortaleza palpite hojeS.Paulo,fortaleza palpite hoje2019, pela primeira vezfortaleza palpite hojequase 20 anos, o Brasil não atingiu a meta para nenhuma das principais vacinas indicadas a criançasfortaleza palpite hojeaté um ano.
A vacina contra a pólio, que tinha quase 100%fortaleza palpite hojecobertura vacinalfortaleza palpite hoje2008, atingiu o patamarfortaleza palpite hoje82,7%fortaleza palpite hoje2019.
Recuperação e vacinação
Devaneide atribui a recuperação do filho caçula a um milagre divino e às três doses da vacina que ele já havia recebido antesfortaleza palpite hojeficar doente. Ela diz só não sentir culpa porque seu filho estava com a carteirafortaleza palpite hojevacinaçãofortaleza palpite hojedia.
Não é possível concluir, décadas depois, o que exatamente aconteceu com Deivson, mas há algumas hipóteses.
"A vacinafortaleza palpite hojepólio tem grande eficáciafortaleza palpite hojemaneira geral. Obviamente pode haver casosfortaleza palpite hojeque a pessoa não desenvolve a imunidade adequadamente: predisposição genética, falha vacinal por não ter cumprido o calendário completamente ou corretamente, e no caso da vacina oral algum problema na hora da administração (criança cuspiu, por exemplo) ou interação com alimentos ou medicamentos", explica o imunologista Renato Astray, pesquisador do setorfortaleza palpite hojevacinas do Instituto Butantan.
Segundo Astray, o fatofortaleza palpite hojeDeivson ter recuperado os movimentos plenamente pode significar que ele tinha algum nívelfortaleza palpite hojeimunidade previamente à infecção. Provavelmente por causa das doses da vacina que tomou.
Para Astray, a possibilidadefortaleza palpite hojea infecção ter sido causada pela vacina ou por problemasfortaleza palpite hojearmazenamento é bem baixa.
"Não acredito no armazenamento inadequado nesse caso pois a vacina é multidose aplicadafortaleza palpite hojecampanhas. Ou seja, ele não seria um caso isolado. Existe ainda a chancefortaleza palpite hojepólio vacinal, mas isso deveria ter sido investigado durante a doença. Como é caso isolado, eu também tenderia a descartar."
Segundo um estudofortaleza palpite hojedois pesquisadores da Universidade Federal da Bahia efortaleza palpite hojeum do Ministério da Saúde, o risco observado para a poliomielite associada ao vírus vacinal (VAPP) entre 1995 e 2001 foifortaleza palpite hoje1fortaleza palpite hoje10 milhões para todas as doses tomadas. Apenas dez casosfortaleza palpite hojeVAPP foram registrados no Brasil nesse períodofortaleza palpite hojequase sete anos.
A vacinação contra a pólio continua ao redor do mundo porque 1 dos 3 tiposfortaleza palpite hojepoliovírus selvagem ainda circula pelo mundo, mais especificamente no Afeganistão e no Paquistão. Em agosto deste ano, após décadasfortaleza palpite hojecampanhas, o continente africano conseguiu ser declarado livre da doença por um órgão independente.
Sem a erradicação completa desses 3 tipos, a doença tem o potencialfortaleza palpite hojeafetar até 200 mil crianças por ano, segundo a Opas, braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) para América Latina e Caribe.
Vacina reduziu 99% dos casos
Conhecida também como paralisia infantil, a poliomielite é uma doença infecciosa, contagiosa, viral e aguda. Os sintomas incluem febre, mal-estar, dorfortaleza palpite hojecabeça, dorfortaleza palpite hojegarganta, dores no corpo, vômitos, diarreia, espasmos, rigidez na nuca e até mesmo meningite. De 90% a 95% dos casos são assintomáticos.
A característica mais conhecida da doença é o quadrofortaleza palpite hojeparalisia flácida que surgefortaleza palpite hojeaté três dias,fortaleza palpite hojegeralfortaleza palpite hojeforma permanente nos membros inferiores. Essas sequelas físicas, que atingem menosfortaleza palpite hoje1% dos pacientes, incluem dores nas articulações, pé torto, osteoporose, dificuldadefortaleza palpite hojefalar, atrofia muscular, crescimento diferente das pernas, entre outros.
Segundo a Opas, "1fortaleza palpite hojecada 200 infecções leva a uma paralisia irreversível (geralmente das pernas), e entre eles, 5% a 10% morrem por paralisia dos músculos respiratórios".
Há duas décadas, pesquisadores descobriram também a existênciafortaleza palpite hojeuma síndrome pós-poliomielite (SPP), que pode atingir pessoas que tiveram a doença com ou sem sintomas. Essa condição as afeta quando elas completam 40 anosfortaleza palpite hojeidade, mais ou menos.
Não há estatísticas sobre o número totalfortaleza palpite hojepessoas atingidas por essa síndrome, que pode apresentar sintomas como fraqueza muscular, problemas respiratórios e depressão.
Não há tratamento nem para a poliomielite, nem para a SPP, causada pelo desgaste dos neurônios motores que precisaram compensar os neurônios destruídos anos antes pelo vírus.
Apesarfortaleza palpite hojeser uma doença antiga, a pólio não chamava a atenção da comunidade médica até o século 19, quando a medicina começou a se dividirfortaleza palpite hojeespecialidades.
Foi na segunda metade daquele século que começaram a surgir hospitais e clínicas dedicados a áreas como a ortopedia, a neurologia e a pediatria.
Nesse novo contexto, as vítimas da pólio passaram a chamar a atenção dos médicos - especialmente os casosfortaleza palpite hojeparalisia infantil que afetavam crianças menoresfortaleza palpite hoje6 anosfortaleza palpite hojeidade, e principalmente quando os afetados eram meninos.
Muitos deles começavam a demonstrar os sintomasfortaleza palpite hojeforma repentina: iam dormir com a saúde perfeita, começavam a ter febre efortaleza palpite hojemanhã acordavam sem conseguir sentir ou mover as pernas.
O modofortaleza palpite hojetransmissão mais comum éfortaleza palpite hojeuma pessoa infectada para outra via rota fecal-oral, a exemplo do contato direto com água e comida contaminadas com fezes ou falhasfortaleza palpite hojehigiene pessoal. A doença também pode ser transmitida pela via oral-oral, por meiofortaleza palpite hojetosse, espirro ou mesmo gotículasfortaleza palpite hojeágua que saem ao falarmos.
As principais medidas preventivas são saneamento básico e vacinação, que levou à reduçãofortaleza palpite hoje99% dos casos no mundo desde 1988.
Zé Gotinha e a estratégia bem-sucedida do Brasil
O Brasil recebeu o certificadofortaleza palpite hojepaís livre do vírusfortaleza palpite hoje1994, quase 90 anos depois dos primeiros casos relatadosfortaleza palpite hojeterritório nacional. Ao longo desse período, houve surtos inicialmentefortaleza palpite hojegrandes cidades e depoisfortaleza palpite hojelocalidades do interior, movimentofortaleza palpite hojegeral associado à urbanização.
A primeira vacina contra a poliomielite chegou ao paísfortaleza palpite hoje1955. Era a vacina injetável desenvolvida pelo médico americano Jonas Salk a partir do vírus inativado. Após três doses, 99% das pessoas desenvolviam imunidade. Na década seguinte chegaria a versãofortaleza palpite hojegotinhas, desenvolvida por Albert Sabin com um vírus atenuado. Com ela, 95% das pessoas que receberam três doses ficavam imunes.
O primeiro plano do paísfortaleza palpite hojecontrole a doença surgiu no início dos anos 1970. Um artigofortaleza palpite hojetrês pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre a erradicação da doença no país cita dados levantadosfortaleza palpite hojemeados daquela década.
Foram identificados 1.643 casosfortaleza palpite hoje18 Estados. "As principais características da doença no país, naquele momento, eramfortaleza palpite hojedistribuição predominantemente urbana (74%), a concentraçãofortaleza palpite hojemenoresfortaleza palpite hojecinco anos, uma elevada proporçãofortaleza palpite hojecasosfortaleza palpite hojecrianças não vacinadas (76%), a predominância do poliovírus do sorotipo 1 (87%) e uma elevada letalidade."
A primeira campanha nacionalfortaleza palpite hojevacinação contra a poliomielite ocorreriafortaleza palpite hojejunhofortaleza palpite hoje1980. Até então, a imunização nos Estados só atingia metade das crianças,fortaleza palpite hojemédia. O plano então seria vacinar todas as crianças do paísfortaleza palpite hojezero a cinco anosfortaleza palpite hoje14fortaleza palpite hojejunho e 16fortaleza palpite hojeagosto, independentementefortaleza palpite hojejá ter tomado a vacina ou não. E assim elevar para 80% a cobertura vacinal.
Defendida por Albert Sabin, a estratégiafortaleza palpite hojecampanhasfortaleza palpite hojevacinaçãofortaleza palpite hojemassa deu certo, e o númerofortaleza palpite hojecasos caiufortaleza palpite hoje1.290fortaleza palpite hoje1980 para 122 no ano seguinte. Naquela década, a vacinafortaleza palpite hojegotas ficou tão associada ao combate à poliomielite que deu origem ao personagem Zé Gotinha, criadofortaleza palpite hoje1986 pelo artista plástico Darlan Rosa. O mascote se tornaria o principal rosto das campanhasfortaleza palpite hojevacinação.
O país ainda enfrentaria surtos isoladosfortaleza palpite hojepólio até registrar seu último caso,fortaleza palpite hojemarçofortaleza palpite hoje1989. A estratégia bem-sucedida contra pólio seria exportada para outros países e teria outras consequências positivas, como o fortalecimento do programa nacionalfortaleza palpite hojeimunização.
Desde 2011, entretanto, a vacinação contra a poliomielite não é só oral. Agora, a criaçãofortaleza palpite hojeSabin é apenas o reforço da versão injetável, considerada por alguns especialistas como mais segura e com menos efeitos colaterais.
Segundo o bioquímico Ricardo Gazzinelli, coordenador do Instituto Nacionalfortaleza palpite hojeCiência e Tecnologiafortaleza palpite hojeVacinas, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e professor da Universidade Federalfortaleza palpite hojeMinas Gerais (UFMG), essa mudança na vacina só foi possível porque a doença está erradicada no Brasil.
"A vacina por via oral usa vírus vivo; a injetada contém o vírus 'morto'. Ainda que as vacinas vivas induzam imunidade mais duradoura, quando você chega numa fasefortaleza palpite hojeerradicar uma doença, a viva é indesejada, pois a atenuação do vírus pode reverter, tornando-se patogênicofortaleza palpite hojenovo. E se espalhar na natureza novamente", explicoufortaleza palpite hojeentrevista à BBC News Brasilfortaleza palpite hojejulho. "Neste caso, se opta por vacinas 'mortas'."
Por outro lado, as gotinhas têm um efeito da chamada "proteçãofortaleza palpite hojerebanho" — a criança que a ingere, acaba contribuindo para que o vírus não se espalhe. Isto porque na versão injetável, com o vírus inativado direto na corrente sanguínea, não ocorre uma colonização da mucosa intestinal.
A gotinha, porfortaleza palpite hojevez, faz isso com o vírus atenuado — que, eliminado pelas fezes espalha-se no ambiente, imunizando terceiros que tenham contato com ele. De quebra, esse vírus atenuado compete com o selvagem na natureza.
Para além da vacina utilizada, a queda na cobertura vacinal como um todo preocupa autoridades e especialistas quanto a um possível retorno da doença.
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