Altos salários e 'regalias': por que a reforma administrativabet 265Bolsonaro é mais branda do que desejava Paulo Guedes:bet 265

Jair Bolsonaro

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Governo Jair Bolsonaro apresentou nesta quina-feira a primeira fase da reforma administrativa

"A função que ele desempenha é uma função que perpassa os governos, que permanece ao longo dos anos? E também o trabalho que ele realiza está exposto a pressãobet 265fazer algo que é flagrantemente contrário ao interesse público? Se essa atividade atende a essas duas características, então, sim, é necessário manter a estabilidade desse profissional", explicou.

Proposta exclui 'membros'bet 265outros Poderes e militares

Nessa primeira fase, o governo também propõe acabar com alguns benefícios, que críticos consideram regalias, como a possibilidadebet 265tirar maisbet 26530 diasbet 265férias no ano e a aposentadoria compulsória como modalidadebet 265punição.

Essas mudanças, porém, não devem atingir algumas carreiras da elite dos servidores, como os juízes, promotores e procuradores, que alémbet 265terem benefícios como o direito a 60 diasbet 265férias por ano, também estão entre as que recebem os maiores salários do funcionalismo.

Segundo Gleisson Rubin, a propostabet 265reforma administrativa do governo inclui servidores dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) nas esferas municipal, estadual e federal, mas não alcança os membros dos Poderes Legislativo e Judiciário (parlamentares, juízes e integrantes do Ministério Público). Na leitura do governo, a Constituição não permite que parta do Executivo a iniciativabet 265mexer na estruturabet 265carreira dos outros Poderes.

Paulo Guedes, ministro da Economia

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Propostabet 265reforma tem impacto mais brando do que gostaria Paulo Guedes, ministro da Economia

"Uma eventual inclusão deles dependebet 265que cada Poder faça uma proposta ou que a nossa proposta seja ampliada, mas essa decisão cabe ao Congresso", disse.

No entanto, há muita resistência dentro do Poder Judiciáriobet 265reduzir benefícios como os 60 diasbet 265férias. Na semana passada, o presidente do Conselho Nacionalbet 265Justiça (CNJ) e do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, inclusive determinou que os juízes federais e do trabalho têm direito a vender um terço dos dois mesesbet 265férias, criando mais gastos para tribunais regionais.

Já o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, defendeu as férias maiores dos membros do Ministério Públicobet 265nota divulgada no ano passado, quando a reforma administrativa começou a ser debatida.

"Tratam-sebet 265agentes políticos que, tanto quanto parlamentares e chefes do Executivo, não podem estar submetidos a jornadasbet 265trabalho pré-estabelecidas. (...) Reduzir as fériasbet 265promotores e procuradores para 30 dias, igualando-os ao servidor públicobet 265geral seria ignorar as importantes atribuições que lhe foram conferidas pela Constituição", argumentou.

Exclusãobet 265categorias é criticada

Para o economista Nelson Marconi, professor nos cursosbet 265Administração Pública e Governo da FGV-SP, realmente não faria sentido incluir parlamentares na reforma administrativa, já que são cargos políticos eletivos, com duração fixa (oito ano para senadores e quatro anos para deputados federais e estaduais e vereadores).

No caso do Judiciário, Marconi reconhece que membros do Ministério Público e juízes precisam ter uma proteção maiorbet 265estabilidade, para poder investigar e julgar com independência. No entanto, ele considera importante que a reforma administrativa atinja os privilégios dessas carreiras, assim como mexa na remuneração.

"Faz sentido algumas normas (da reforma administrativa) não se aplicarem a eles. Agora, qual a lógicabet 265terem férias maiores?", questiona.

Augusto Arasbet 265sessão do STF

Crédito, ABR

Legenda da foto, O Procurador-Geral da República, Augusto Aras, defendeu as férias maiores dos membros do Ministério Público

Outros que ficarambet 265fora da reforma administrativa são os militares, grupo que tem sido beneficiado no governo Bolsonaro, capitão reformado do Exército. No ano passado, o Congresso aprovou uma reestruturação das carreiras das Forças Armadas com elevaçãobet 265salários, proposta pelo presidente com compensação à reforma da previdência.

O Ministério da Defesa justifica o tratamento diferenciado argumentando que a carreira tem características distintas das civis. Integrantes das Forças Armadas não têm direito, por exemplo, a pagamentobet 265hora extra, fazer greve e ao FGTS.

"Também é uma categoria que precisa ter estabilidade maior, mas a proposta já prevê diferenças (para as carreirasbet 265Estado e as que não são)", afirma Marconi.

"Por que os militares não podem se submeter à avaliaçãobet 265desempenho, por que eles não têm que cumprir metas, por que não pode se aplicar a eles as mesmas regras (de progressão)bet 265salários que a reforma cria para outras carreiras? É uma escolha política do governo", crítica também.

Câmara propõe cortebet 265salários, e governo deixa para depois

Ficou para a segunda fase da reforma a propostabet 265mexer nos salários do funcionalismo público, um ponto defendido pelo Ministro da Economia, Paulo Guedes, e pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Ambos consideram que os servidores — com destaque para carreiras exclusivasbet 265Estado como gestão tributária, Justiça, diplomacia — já começam ganhando alto para padrões brasileiros e progridem rapidamente para o tetobet 265remuneraçãobet 265cada categoria. Nesse sentido, eles querem uma reforma que reduza os salários iniciais, torne mais gradativa a evolução na carreira e atrele a progressão a avaliaçõesbet 265desempenho.

Segundo o secretário Gleisson Rubin, a sugestão do governo para redução dos salários iniciais será encaminhada por meiobet 265projetobet 265lei conforme avance no Congresso a propostabet 265alteração da Constituição encaminhada nesta quinta.

Rodrigo Maia, porém, apresentou na quarta-feira (02/09) uma propostabet 265reforma administrativa específica para os servidores da Câmara dos Deputados já prevendo redução dos salários iniciais dos concursadosbet 265até 40%.

Casobet 265sugestão seja aprovada pelos deputados, a remuneração inicialbet 265consultores legislativos na Câmara cairiabet 26532.844,88 para R$ 21.977,10, enquanto a dos analistas diminuiriabet 265R$ 24.716,88 para R$ 13.849,10.

A proposta também prevê que o servidor da Câmara só possa alcançar a maior faixa salarial dabet 265carreirabet 265pelo menos 25 anos, com novos critériosbet 265avaliação. Hoje, isso é possívelbet 265dez anos.

O Senado ainda não apresentoubet 265proposta.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia

Crédito, Marcelo Camargo/Agência Brasil

Legenda da foto, O deputado federal Rodrigo Maia apresentou uma propostabet 265reforma administrativa específica para os servidores da Câmara dos Deputados

Servidor federal no topo

Segundo o Atlas do Estado Brasileiro, uma publicação do Ipea (Institutobet 265Pesquisa Econômica Aplicada),bet 265média os salários dos servidores federais (R$ 9.186) são mais altos que dos servidores estaduais (R$ 5.040) e municipais (R$ 2.865).

No Poder Executivo, algumas das carreiras que se destacam pela elevada remuneração paga aos recém-concursados são asbet 265delegado da Polícia Federal (R$ 23.692,74), auditor-fiscal da Receita Federal (R$ 21.029,09), advogado da União (R$ 21.014,49), diplomata (R$ 19.199,06) e analista do Banco Central oubet 265Planejamento e Orçamento (R$ 19.197,06). São valores que colocam esses servidores entre os brasileiros mais ricos, no instante que ingressam na carreira.

De acordo com a Oxfam Brasil, partebet 265uma confederação internacional que atua na reduçãobet 265desigualdades, trabalhadores com salário mensal a partirbet 265R$ 15 mil já estão entre os 2%bet 265maior renda no país, quando consideradas pessoasbet 265maisbet 26518 anos que possuam alguma fontebet 265recursos. Já uma remuneração a partirbet 265R$ 23 mil coloca o indivíduo entre o 1% mais rico.

Os salários pagos à elite do Poder Executivo não estão apenas muito acima da renda per capita do país (R$ 1.439, segundo o IBGE), mas superam também largamente abet 265pessoas altamente escolarizadas. De acordo com o Relatório Anualbet 265Informações Sociais (Rais) do Ministério da Economia, a remuneração médiabet 265profissionais com doutorado no Brasil, seja no setor privado ou público, estavabet 265R$ 12.141bet 265dezembrobet 2652018.

Mas há salários iniciais ainda mais altos nos Poderes Judiciário e Legislativo. A remuneração mais baixa oferecida hoje para juízes federais no Brasil, por exemplo, ébet 265R$ 32 mil, um patamar acima do salário pagos a novos magistradosbet 265países ricos.

Um estudobet 2652018 da Comissão Europeia para a Eficiência da Justiça (Cepej, na siglabet 265francês) mostra que o salário inicial médio pago a juízesbet 26548 países (a maioria europeus) erabet 26550.529 euros anuais (cercabet 265R$ 236 mil)bet 2652016.

Naquele ano, o juiz federal brasileiro ganhava no mínimo R$ 27.500 ao mês, alémbet 265auxílio moradiabet 265R$ 4.377. Considerando o 13º salário e o adicional equivalente a dois mesesbet 265férias aos quais a categoria tem direito, o ganho anualbet 265um magistrado federal erabet 265ao menos R$ 428 mil.

Após o envio da proposta inicial do governo, Rodrigo Maia cobrou nesta quarta que o Judiciário seja incluído na reforma. "O Judiciário também precisabet 265reforma administrativa para os seus novos servidores. Estamosbet 2652020, e as regras sãobet 2651988", disse, depoisbet 265se reunir com secretários estaduais da Fazenda no Recife.

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