Tamanho continental e desigualdade social aumentam desafios do Brasil no controle da covid-19:bf slot
Longas distâncias
Nas regiões onde há pouca ofertabf slotleitos e respiradores, por exemplo, os pacientes graves precisarão ser encaminhados para outras cidades, algumas a até 200 kmbf slotdistância, que ofereçam o tratamento necessário.
O virologista Paulo Michel Roehe, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), diz que, naturalmente, um país do tamanho do Brasil tem o controlebf slotqualquer enfermidade,bf slotcaráter epidêmico ou não, prejudicado.
"Tudo é longe para quem está fora dos grandes centros", explica. "Postosbf slotsaúde, assistência médica, acesso a medicamentos, hospitais adequados, laboratórios para diagnóstico e tudo o que se refere à saúde é complicado para quem está distantes dos municípios maiores. Então, para estas pessoas, o acesso a assistência vai sempre ser difícil."
Para a pesquisadora Margareth Portela, da Escola Nacionalbf slotSaúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os desafios no combate à covid-19 são a necessidadebf slotenfrentar dificuldades diferentesbf slotcada local e trabalhar sobre múltiplas estratégias.
"Temos hoje partes do paísbf slotdistintos momentos da pandemia, com locais já vislumbrando o riscobf slotpropagação descontrolada e outrosbf slotque a percepção sobre ela talvez ainda não dê conta da ameaça que pode representar", diz.
A historiadora Anny Jackeline Torres Silveira, da Universidade Federalbf slotOuro Preto (UFOP), pensabf slotmaneira semelhante. "A extensão do país interfere na capacidadebf slotação das autoridades na tentativabf slotcontrolar a expansão e o impacto da doença", diz.
"Gerenciar uma crise sanitáriabf slotum país continental, que tem historicamente negligenciado a saúde da população, não é fácilbf slottemposbf slotbonança econômica e certamente será ainda mais complicado na situação na qual nos encontramos atualmente."
Diversidade e desigualdade
O pesquisador Christovam Barcelos, do Institutobf slotComunicação e Informaçãobf slotSaúde (ICICT, da Fiocruz), acrescenta mais um obstáculo à lista.
De acordo com ele, que coordena a plataforma MonitoraCovid-19, que agrupa e integra dados sobre o novo coronavírus no Brasil e no mundo, o Sistema Únicobf slotSaúde (SUS), criadobf slot1988, tem como princípios a universalidade, a integralidade e a equidade dos serviçosbf slotsaúde,bf slotforma descentralizada, hierarquizada e com participação popular.
Tudo isso, diz Barcelos, estábf slotjogo, mais do que nunca, nesta pandemia. "Como garantir que os serviços sejam ofertados à população, considerando a diversidade nacional e ao mesmo tempo as particularidadesbf slotcada lugar e grupo social?", indaga. "Este é o nosso grande desafio no momento."
O gigantismo do Brasil não é, no entanto, o único problema que dificulta o controle da epidemia no país. O médico Expedito Josébf slotAlbuquerque Luna, da áreabf slotepidemiologia e controle das doenças transmissíveis do Institutobf slotMedicina Tropical da Universidadebf slotSão Paulo (USP), aponta ainda "a diferente distribuição da população e da riqueza entre as distintas regiões brasileiras".
"A distribuição dos recursos médico-sanitários acompanha a da riqueza", explica. "Há maior concentraçãobf slotprofissionaisbf slotsaúde ebf slotequipamentos (hospitais, laboratórios, leitos hospitalares ebf slotUTI) nas regiões mais ricas. E dentrobf slotcada uma a distribuição também é desigual, com recursos se concentrando nas cidades maiores."
De acordo com geógrafa Luiza Losco, doutoranda do Programabf slotPós-Graduaçãobf slotDemografia, da Universidade Estadualbf slotCampinas (Unicamp), o maior problema para o controle da covid-19 no Brasil são as profundas desigualdades regionais, encontradas na extensão territorial do país, com os recursos financeiros e econômicos ebf slotsaúde concentradosbf slotpoucos municípios.
"Os três que apresentam maior númerobf slotleitos se encontram na região Sudeste: São Paulo, Riobf slotJaneiro e Belo Horizonte", diz.
Ela cita dados do Cadastro Nacionalbf slotEstabelecimentosbf slotSaúde, segundo os quais, essas três capitas tinham,bf slotfevereirobf slot2020, respectivamente, 6.669, 4.043 e 1.816 leitosbf slotcuidados intensivos (UTI). "Além disso, dentre os 5.571 municípios brasileiros, 4.221 não apresentam nenhum", lamenta.
A pesquisadora Helena Akemi Wada Watanabe, do Departamentobf slotPolítica, Gestão e Saúde, da Faculdadebf slotSaúde Pública da USP, reforça que os "diferentes Brasis", ou as distintasbf slotcondiçõesbf slotvida, prejudicam o acesso à informaçãobf slotuma forma que todos realmente consigam entender os desdobramentos da pandemia. "Há ainda muitos analfabetos funcionais no país".
Além disso, um grande contingente tem dificuldadebf slotacesso à água potável, ou as condiçõesbf slotmoradia são insalubres, sem possibilidadebf slotmanter os cômodos ensolarados e ventilados, ou que possibilitem o isolamento domiciliar.
"E há ainda, a questão financeira, que acaba muitas vezes 'empurrando' a pessoa para forabf slotcasa na buscabf slotalimento", diz. "Por isso, as políticas públicasbf slotdistribuiçãobf slotrenda neste momento são tão importantes."
Diante desse quadro, não seria absurdo afirmar que as pessoas têm menos chancebf slotserem infectadas no interior, mas se o forem possuem menos oportunidadebf slottratamento e terãobf slotse deslocar para cidades maiores.
"Hábf slotfato menor possibilidadebf slotcontaminação nas pequenas cidades, mas só até certo ponto, já que dependebf slotseu graubf slotarticulação com municípios maiores e os grandes centros", diz o geógrafo e doutorbf slotdemografia Ricardo Dantas, do ICICT, da Fiocruz, no qual atua no projetobf slotAvaliação do Desempenho do Sistemabf slotSaúde (Proadess).
Por isso, defende ele, é fundamental manter o isolamento social e restringir os deslocamentos às necessidades e aos serviços fundamentais. "Outro ponto problemático é se o númerobf slotinfectados que necessitambf slotleitos clínicos for maior do que a capacidade desses pequenos municípios", alerta.
"Além disso, cabe recordar que outras questões que podem requerer internações (complicaçõesbf slotdoenças crônicas, acidentes, agressões, entre outras) não necessariamente reduzirão nesse período."
Para Luna, pode-se esperar que a transmissão seja mais intensa nas maiores cidades, o que pode significar uma duração mais curta dessa primeira onda da pandemia, dependendo também da adesão maior ou menor às medidasbf slotdistanciamento social.
"Deve ocorrer nos grandes centros uma maior concentraçãobf slotcasos graves, mas com melhores oportunidadesbf slotcuidadobf slotalta complexidade, o que pode contribuir para uma redução da letalidade da doença", prevê.
"Nas cidades menores, pode-se esperar menor riscobf slottransmissão, com mais dificuldadebf slotacesso ao cuidado terciário, o que pode levar a uma maior mortalidade. Lembrando ainda as grandes diferenças regionais, com maior concentraçãobf slotserviçosbf slotalta complexidade nas grandes metrópoles das regiões Sudeste e Sul."
Ministério defende o distanciamento social
Em nota, o Ministério da Saúde reconhece que o tamanho continental do Brasil é um grande desafio para o combate ao coronavírus. "Temos cenários epidemiológicos distintos nas diferentes regiões geográficas do país", dizbf slotcomunicado.
"Dessa forma, a curvabf slottransmissão pode ser impactadabf slotmaneira diferentebf slotcada região, principalmente no Sudeste e Sul, durante a sazonalidade das doenças respiratórias, principalmente relacionadas à densidade populacional nessas regiões e variações climáticas."
"O Ministério da Saúde", continua a nota, "orienta as açõesbf slotacordo com parâmetros criados para o enfrentamento da circulação do vírus no território nacional. É preciso esclarecer que as recomendações não farmacológicas valem para todo o Brasil, mas devem ser adotadas pelos gestores estaduais e municipaisbf slotacordo com realidadebf slotcada localidade. As autoridades locais devem observar a situação embf slotregião e modular as ações, levandobf slotconsideração o cenário epidemiológico, quantidadebf slotinsumos, além da capacidadebf slotleitos e profissionaisbf slotsaúde para o enfrentamento à pandemia."
"Ou seja", acrescenta o texto "cabe aos gestores locais avaliarem o momentobf slotadotar as ações e o Ministério da Saúde está à disposição para discutir as medidas. Por isso, para evitar a circulação do vírus entre as localidades, como dos grandes centros para o interior, o Ministério da Saúde recomenda o distanciamento social. No entanto, a decisão é sempre do gestor local. Mas é bom lembrar que não adianta fazer isso no pico da curva. (...) Sendo assim, o momento ébf slotmanter distanciamento social e medidasbf slothigiene, que são as armas mais eficientes à disposição para o enfrentamento ao vírus."
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