Coronavírus: a festa que pode ter espalhado o vírusdouble betspeeduma famíliadouble betspeedSP e levado à mortedouble betspeed3 pessoas:double betspeed
A festadouble betspeedVera, realizada no quintaldouble betspeedsua casa, teve 28 convidados. O prato principal era o churrasco. Entre as pessoas que foram ao evento estavam os irmãos do marido dela, o servidor público Paulo Vieira,double betspeed61 anos. "Também convidamos minhas irmãs e nossos sobrinhos. Foram apenas os parentes mais próximos, para evitar que viessem muitas pessoas", diz Vera.
Nos dias seguintes ao evento, os familiares começaram a apresentar sintomas como tosse, febre, dificuldades para respirar ou diarreia — características associadas à covid-19. No grupo da família no WhatsApp, compartilharam suas dificuldades. A estimativa da família édouble betspeedque metade dos convidados teve algum problemadouble betspeedsaúde dias após a comemoração.
Pouco maisdouble betspeedduas semanas após o aniversário, a alegria deu lugar ao luto. Na semana passada, três irmãos da mesma família morreram com suspeita do novo coronavírus. Um deles testou positivo para a covid-19 e a família aguarda os resultados dos outros dois — ainda não há prazo para que os exames fiquem prontos,double betspeedrazão da grande demandadouble betspeedtodo o país.
"Os médicos que os acompanharam disseram ter 99%double betspeedcertezadouble betspeedque era covid-19, pelo quadro clínico deles e pela forma como se deu toda a situação", pontua Vera. Ela, assim como o único filho, também apresentou sintomas para o vírus, mas se recuperou. "Fisicamente, estou bem, apenas com um poucodouble betspeedtosse. Mas têm sido uma fase muito difícil. A gente tem vivido diasdouble betspeedterror. Tudo isso é uma tragédia", declara a servidora pública.
Os irmãos Vieira
Unidos e adoráveis. Assim os parentes definem os irmãos Vieira. Eram sete. As reuniõesdouble betspeedfamília eram momentosdouble betspeedextrema felicidade. "Nós vivíamos juntos. Tudo era motivo para que nos reuníssemos", relata a aposentada Maria do Carmo Vieira,double betspeed58 anos. Ela conta que o aniversáriodouble betspeedVera foi um momentodouble betspeedque ela e os seis irmãos aproveitaram para se reunir. "Estávamos há alguns dias sem nos ver, porque nem sempre era fácil reunir todosdouble betspeedum lugar", comenta.
O aniversário no quintal da casadouble betspeedVera e Paulo foi o último evento que reuniu os sete irmãos Vieira.
Dois dias depois, Maria Salete, uma das três mulheres da família Vieira, começou a passar mal. A aposentada,double betspeed60 anos, relatou aos irmãos que estava com diarreia intensa. "Depois, ela começou a ter febre, como se estivesse com alguma infecção. Eu e meu marido a levamos ao hospital, ela recebeu medicamentos e voltou para casa", explica Maria do Carmo.
Diabética e hipertensa, a situaçãodouble betspeedSalete piorou com o passar dos dias. Depois dela, diversos familiares também relataram problemasdouble betspeedsaúde. A maioria teve sintomas leves, que podem ser associados à covid-19. Nem todos, porém, necessitaramdouble betspeedajuda médica.
"Estávamos fazendo as contasdouble betspeedrelatos e pelo menos 14 pessoas que foram ao aniversário podem ter sido infectadas pelo coronavírus", diz Maria do Carmo.
"Alguns ficaram debilitados, principalmente os mais velhos", revela Vera, que teve febre, tosse e dores pelo corpo. Ela fez exames para a covid-19 há quase duas semanas, mas não ficaram prontos até o momento.
A princípio, os familiares não acreditaram que pudesse se tratar do novo coronavírus. "Ainda havia poucos registros no Brasil, então a gente achava que fosse algo distante", afirma Maria do Carmo. Ela conta que nenhum familiar apresentou sintomas durante a festa, por isso não ficou claro quem pode ter transmitido o novo coronavírus. "Descobrir isso agora não vai mudar nada para a gente", declara Carmo.
Eles passaram a cogitar a possibilidadedouble betspeedque a família pudesse ter sido infectada pelo Sars-Cov-2, como o vírus é conhecido oficialmente, somente uma semana depois dos primeiros sintomas dos parentes.
"Os casos começaram a aumentardouble betspeedtodo o país, principalmente São Paulo, e a gente percebeu que não era algo tão distante. E como os sintomas que muitos tiveram eram muito parecidos com os do coronavírus, passamos a entender que os meus irmãos, sobrinhos e familiares da Vera poderiam ter sido infectados", diz Maria do Carmo.
O segundo irmão Vieira a apresentar quadro gravedouble betspeedcovid-19 foi o mecânico Clóvis,double betspeed62 anos. "Três dias depois da festa, o meu pai começou a tossir muito, teve dordouble betspeedcabeça, febre e perdeu o olfato e o paladar", explica o gerentedouble betspeedrelacionamento Arthur Ribeiro,double betspeed30 anos, filho caçula do idoso. A saúdedouble betspeedClóvis, que não tinha comorbidades, também piorou com o passar dos dias.
Arthur conta que levou o pai a um hospital no dia 23double betspeedmarço, quando os problemas pioraram. Os médicos receitaram alguns medicamentos e liberaram Clóvis. "Sequer cogitaram que pudesse ser coronavírus", diz o rapaz, que também esteve no aniversário, teve sintomasdouble betspeedcovid-19, mas não conseguiu fazer exames.
Salete passou maisdouble betspeeduma semanadouble betspeedcasa. Ela tinha tosse, febre e doresdouble betspeedtodo o corpo. "A médica tinha me dito que era para procurar novamente atendimento médico somente se ela tivesse faltadouble betspeedar, porque seria um claro sinaldouble betspeedcoronavírus", diz Maria do Carmo, que é vizinha da irmã e a acompanhou desde os primeiros sintomas.
"A minha irmã não teve faltadouble betspeedar, mas a situação piorou muito e a levamos para um hospital particular, da rede na qual ela trabalhava, na região do ABC Paulista", relata Carmo. Mesmo aposentada, Salete trabalhava na área administrativadouble betspeeduma operadoradouble betspeedsaúde.
As suspeitasdouble betspeedcoronavírus
A família acompanhava o quadrodouble betspeedsaúdedouble betspeedSalete à distância, somente Maria do Carmo estava junto com a irmã. Ela foi internada na noitedouble betspeed25double betspeedmarço. Os médicos fizeram uma tomografia que apontou que 60% dos pulmões dela estavam comprometidos — uma característica associada à covid-19.
"Os médicos a entubaram e a colocaramdouble betspeedisolamento, porque disseram que era 99%double betspeedchancedouble betspeedser covid-19", relata Carmo. As irmãs se despediram, com o usodouble betspeedmáscaras. "Eu disse para a Salete que a filha dela estava bem e que iria ficar tudo bem. Falei para a minha irmã que as coisas iriam melhorar, mas depois dali a gente nunca mais se viu", diz Carmo,double betspeedmeio às lágrimas.
A internaçãodouble betspeedSalete na Unidadedouble betspeedTerapia Intensiva (UTI) logo acendeu o alerta na família. Horas mais tarde, Clóvis foi levado para um hospital públicodouble betspeedItapecerica. "Ele estavadouble betspeeduma situação muito triste. O quadrodouble betspeedsaúde dele piorou muito três dias depois que ele foi ao hospital. O meu pai estava completamente fraco e abatido, não conseguia comer e tinha muitas dificuldades para respirar. Quase não conseguia ficardouble betspeedpé sozinho. Ele não deveria ter sido liberado pelos médicos na primeira vezdouble betspeedque procuramos ajuda", diz Arthur.
Clóvis foi internado e logo foi entubado. A tomografia dos pulmões também apontou para situação semelhante à causada pela covid-19. "Coletaram amostras dele para o teste do coronavírus, que ainda não ficou pronto. Não há sequer previsão, porque disseram que há maisdouble betspeed10 mil pedidosdouble betspeedexames atrasados", relata.
No dia seguinte, Paulo também foi ao hospital. Com históricodouble betspeedatleta, ele era considerado o mais saudável entre os irmãos. Tinha hipertensão controlada. Diariamente praticava exercícios físicos e com frequência fazia longos percursosdouble betspeedbicicleta e caminhava por trilhas.
Quando Paulo deu entrada no hospital, o estadodouble betspeedsaúde dele era avaliado como bom. Ele foi à unidadedouble betspeedsaúde porque estava com faltadouble betspeedar. "O meu marido chegou muito bem, foi apenas para a internação, para que pudesse ficardouble betspeedobservação. Mas dois dias depois o quadro dele piorou muito e ele foi para a UTI", relata Vera.
Assim como toda a vida, Clóvis e Paulo ficaram juntosdouble betspeedseus últimos dias. Os dois, considerados casos altamente suspeitos para o novo coronavírus, foram colocadosdouble betspeedcamas próximas na UTI destinada a pacientes com o Sars-Cov-2,double betspeedum hospital públicodouble betspeedItapecerica. Ali, passaram seus últimos dias.
Na manhã da última quarta-feira (01/04), Salete teve parada cardiorrespiratória. Não resistiu. No dia seguinte, Clóvis também faleceu após uma parada cardiorrespiratória. Na noitedouble betspeedsexta-feira (3), Paulo morreu.
"Foi tudo muito horrível. Nós éramos sete irmãos muito unidos. Nos amávamos muito. A vida da família virou um pesadelo. Tenho vivido à basedouble betspeedcalmantes. Ainda me pergunto se tudo isso foi real. Acompanheidouble betspeedperto o sofrimento dos meus irmãos, principalmente o da minha irmã, e não desejo isso para ninguém", desabafa Maria do Carmo.
Carmo acompanhou as três cerimoniasdouble betspeeddespedidas dos irmãos. Salete e Paulo foram enterradosdouble betspeedcaixão lacrado, conforme recomendação da Agência Nacionaldouble betspeedVigilância Sanitária (Anvisa) para casos suspeitos ou confirmadosdouble betspeedcovid-19. Eles foram deixados no jazigo da família. Ali, também estão enterrados os pais deles, que décadas atrás deixaram o Nordestedouble betspeeddireção a São Paulo,double betspeedbuscadouble betspeeduma vida melhor para os sete filhos.
Clóvis foi cremado, desejo que ele havia manifestado à família. As três cerimônias foram realizadas separadamente, nos dias seguintes a cada uma das mortes. As despedidas foram breves, duraram alguns minutos, e reuniram no máximo 10 pessoas, conforme orientação da Anvisa.
Família pede cuidado
Os convidados da festadouble betspeed13double betspeedmarço permanecemdouble betspeedisolamento. Aqueles que tiveram problemasdouble betspeedsaúde já se recuperaram. Todos optaram por permanecer isolados por precaução. Hoje, eles pedem que as pessoas se preocupem com o coronavírus e evitem sair nas ruas por motivo desnecessário.
"Isso não é uma gripezinha. É uma catástrofe. É um vírus horroroso e muito cruel. Ele pode levar as pessoas muito rapidamente. As pessoas precisam entender a importânciadouble betspeedse cuidar,double betspeedse isolar edouble betspeedcuidar dos seus. É fundamental ter mais empatia e respeito com os outros neste momento", afirma a zootecnista Rafaela Hanae,double betspeed33 anos, única filhadouble betspeedSalete.
Ela critica a demora para que os resultados dos exames do novo coronavírus fiquem prontos — odouble betspeedSalete, que ficou pronto nesta quarta-feira (08/04), demorou duas semanas, e ainda não há previsão para a entrega dos resultadosdouble betspeedClóvis e Paulo.
"Isso é mais um problema enfrentado pelas famílias, porque essa demora para o resultado do exame dificulta ainda mais as coisas. Isso mostra que os números divulgados oficialmente não demonstram a realidade do coronavírus no Brasil. Há muito mais casos", declara Rafaela.
Vera também pede que as pessoas se cuidem e permaneçamdouble betspeedcasa sempre que possível. Ela considera que uma das maiores dificuldades no enfrentamento ao novo coronavírus no Brasil é o discurso do presidente Jair Bolsonaro. "Ele fala um montedouble betspeedbesteira. Ele é uma autoridade e precisa ter consciência disso. As pessoas não podem seguir o que ele diz ao comparar o coronavírus com uma gripezinha. Os brasileiros precisam se cuidar", diz.
Para ela, o maior desafio a partirdouble betspeedagora será seguirdouble betspeedfrente sem o marido. "Mas temos que continuar a vida, apesardouble betspeedtudo. Não queremos que nenhuma família passe pela mesma situação que passamos", declara.
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