Sair do isolamento agora é querer voltar a mundo que não existe mais, diz virologista Atila Iamarino:jogo da fruta
O consenso entre cientistas da área, no entanto, éjogo da frutaque é fundamental manter medidasjogo da frutaisolamento social por enquanto, diz Atila — inclusive para ganhar tempo a fimjogo da frutatrabalharjogo da frutaalternativas.
"Manter as medidas que a gente tem agora é o que vai fazer dar tempo para buscarmos outras medidas lá na frente. Na verdade, parar agora é ganhar o tempo para fazer escolhas", diz ele.
Doutorjogo da frutamicrobiologia pela Universidadejogo da frutaSão Paulo (USP), Atila concluiu dois pós-doutorados estudando a disseminação (ele prefere o termo "espalhamento") dos vírus e a forma como esses organismos evoluem. Um desses pós-doutorados foi na própria USP, e o outro na Universidade Yale, nos Estados Unidos.
Emjogo da frutacarreira, o pesquisadorjogo da fruta36 anos estudou vírus como ebola e HIV. A ideia desse tipojogo da frutapesquisa, explica ele, é analisar o material genético dos vírus para entender como eles se propagam entre os humanos.
Atila se tornou conhecido porjogo da frutaparticipação no canaljogo da frutaYouTube do Nerdologia, um dos maiores do país. Nos últimos dias, tem feito transmissões ao vivo sobre o novo coronavírus.
Uma delas atingiu a marcajogo da fruta5,2 milhõesjogo da frutavisualizaçõesjogo da frutamenosjogo da frutauma semana e fez com que o nome do biólogo chegasse à listajogo da frutaassuntos mais comentados pelos brasileiros no Twitter.
Atila conversou com a BBC News Brasil por telefone, na última quarta-feira (25/02). Confirma a seguir alguns dos principais trechos da entrevista.
jogo da fruta BBC News Brasil - À luz do que já se sabe sobre a pandemia, o que você acha das últimas intervenções presidente da República, Jair Bolsonaro, dizendo que o país precisa "voltar à normalidade"?
jogo da fruta Atila Iamarino - Eu acho que não importa (o discurso do presidente). Felizmente, isso vai contra o que todos os países estão fazendo. Quase que sem exceção. Todos os países sobre os quais estou informado estão tomando medidas na direção contrária,jogo da frutafecharjogo da frutadiferentes graus, e atéjogo da frutadeixar a populaçãojogo da frutacasa, como a Índia acaboujogo da frutafazer com maisjogo da fruta1 bilhãojogo da frutapessoas.
Então,jogo da frutarelação às políticas internacionais, não faz sentido (o discursojogo da frutaBolsonaro).
E, aqui dentro do país, não nos importa, porque os Estados e as cidades estão tomando medidas para fecharjogo da frutadiferentes graus. Todos os Estados adotaram medidas para restringir o comércio não essencial, e restringir a circulação das pessoas. Estãojogo da frutaacordo com a orientação internacional.
Portanto,jogo da frutaúltima análise, tanto faz o que o presidente falar, desde que as cidades e os Estados continuem agindo como estão agindo.
A esta altura, dado o pouco tempo que a gente tem, a gente precisa focar, na verdade,jogo da frutaatitudes. O país, os Estados e as cidades estão tomando atitudes que vão proteger as pessoas? Estão. Então, tá ótimo, tanto faz o que estão falando.
A gente tem três, quatro meses para agir, dado qualquer estudo sobre como é o espalhamento desse vírus.
jogo da fruta BBC News Brasil - A exemplo do presidente da República, outras pessoas se mostram preocupadas com o efeito econômico do isolamento. jogo da fruta Ne jogo da fruta sta semana você disse ao podcast Xadrez Verbal que essa perspectiva é um tanto "inocente". Por quê?
jogo da fruta Iamarino - Existe uma preocupação séria com a economia, claro. E uma preocupação legítima seria ajogo da frutacomo adequar a economia a essa nova realidade (imposta pelo vírus). O que a gente pode fazer para que os comércios consigam vender online e fazer entregas da melhor maneira possível; o que a gente pode fazer para que as pessoas consigam trabalhar à distância da melhor maneira possível.
Que medidas econômicas a gente pode tomar para que as pessoas continuemjogo da frutacasa e continuem com uma vida produtiva, e tenham condiçõesjogo da frutase manter, porque nem todo mundo pode continuar trabalhandojogo da frutacasa.
Existe um problema econômico, muitos países estão cientes e tomando medidas sérias para saná-lo.
Isso é diferentejogo da frutater uma preocupação econômicajogo da frutanão deixar a situação mudar. Isso pra mim é muito mais um luto do que uma preocupação séria. E não acho que seja uma decisão deliberada das pessoas fazer isso.
Mas quem ainda está pensandojogo da frutanão deixar a economia atual desandar, na verdade, está tentando resgatar um mundo que não existe mais. Que é o mundojogo da frutajaneirojogo da fruta2020.
O mundo mudou, e aquele mundo (de antes do coronavírus) não existe mais. A nossa vida vai mudar muito daqui para a frente, e alguém que tenta manter o status quojogo da fruta2019 é alguém que ainda não aceitou essa nova realidade.
jogo da fruta BBC News Brasil - Mas o que será diferente? Por que você diz que o mundo do fimjogo da fruta2019 "acabou"?
jogo da fruta Iamarino - Bem ou mal, involuntariamente, o mundo inteiro está passando por um experimento agora. A gente está vendo como diferentes regimes políticos, sistemasjogo da frutaorganização social e diferentes medidas funcionam contra o coronavírus e grandes problemasjogo da frutasaúde pública.
A gente está vendo países que jamais cogitariam issojogo da frutaoutras situações, como os Estados Unidos, aceitando que é necessário dar um suporte financeiro grande para seus cidadãos e distribuindo dinheiro. Empresas descobrindo o quanto as pessoas produzem ou não trabalhandojogo da frutahome office. Escolas descobrindo o quanto os alunos aprendem ou não por conta própria,jogo da frutacasa, e qual o valor ou nãojogo da frutausar o ensino à distância.
A gente está descobrindo o que são os serviços essenciais, e estamos voltando a entender o valorjogo da frutaciência, da mídia (profissional) e dos serviçosjogo da frutasaúde. Ejogo da frutasistemas que são fundamentais desde sempre, mas que,jogo da frutaperíodosjogo da frutabonança, são fáceisjogo da frutanegligenciar.
O sistemajogo da frutasaúdejogo da frutavários países vai ter que ser reavaliado. Garanto para você que o sistemajogo da frutasaúde norte-americano vai ter um estresse maior que o do resto do mundo, inclusive pelo modelo (sem saúde publica universal)jogo da frutatratamento que eles seguem.
A gente vai descobrir quais são as vulnerabilidades que o regimejogo da frutatrabalho moderno, com terceirização, com trabalho por aplicativo, cria num momento desses. A gente vai descobrir mais cedo também a importânciajogo da frutase usar sistemasjogo da frutavenda online,jogo da frutapagamentos sem contato e outras coisas.
Mudanças que o mundo levaria décadas para passar, que a gente levaria muito tempo para implementar voluntariamente, a gente está tendo que implementar no susto,jogo da frutaquestãojogo da frutameses.
Então, independentemente da progressão da pandemia e das mortes que podem acontecer ou não, só as mudanças para se adaptar a ela já estão adiantando ou atrapalhando alguns passos que a humanidade daria nas próximas duas décadas.
E ainda tem — e isto estájogo da frutaaberto e a resolver — qual vai ser o trauma das pessoas. O que é que este períodojogo da frutaconfinamento fará conosco, se a relação entre os familiares aumenta ou diminui. Como as pessoas vão suportar esse períodojogo da frutaisolamento, que valor que a gente vai dar para uma reunião, um almoço, uma festa, algo assim.
Tudo isso vai ser muito diferente quando a gente sair do surto.
jogo da fruta BBC News Brasil - O que aconteceria com a economia se nada fosse feito?
jogo da fruta Iamarino - Vamos supor que a gente seguisse a recomendaçãojogo da frutaalguns e, no máximo, isolasse os idosos ou fizesse algo assim.
Numa realidade dessa, se você é donojogo da frutauma empresa e os seus funcionários pegam a covid-19,jogo da frutamenosjogo da frutaum mês a empresa inteira estaria contaminada, pelo menos 10 a 20% dos seus funcionários precisariam ser hospitalizados.
Os outros 80% vão ter graus diferentesjogo da frutacomplicação, e alguns vão precisar trabalharjogo da frutacasa, ou pararjogo da frutatrabalhar por causajogo da frutafebre, dorjogo da frutacabeça, dor no corpo.
Então, mesmo se a gente não fizer nada, se a covid-19 chega numa empresa, parte dos funcionários some. Parte não vai ter condiçõesjogo da frutatrabalhar, e a parte que ficar trabalhando não vai ter nem a moral, nem o estadojogo da frutasaúde para render o que rendia. Mesmo que a gente não fizesse nada, a economia já ia sofrer e muito com a quedajogo da frutaprodutividade.
Então, é uma realidade que nos foi imposta, na verdade. Quem está tentando manter a economiajogo da fruta2019 está se recusando a aceitar essa realidade. Na verdade a gente já deveria estar virando a chave e tentando entender como sair do outro lado.
Dando um exemplo meu: tem um restaurante aqui pertojogo da frutacasa que frequento regularmente. Não cheguei para eles e falei "Olha, quando o covid-19 vier, não feche". Porque eu sei que não existe essa possibilidade. Eu falei para eles: "Avise seus clientes que você faz entrega. Já vai testando os diferentes aplicativosjogo da frutaentrega para ver quem cobra a melhor taxa. Já prepara as pessoas que trabalham na cozinha para revezar turnos, e se prepara financeiramente, por que vai ser um impacto grande". Tenho que aceitar que isso aconteceu e mudou.
jogo da fruta BBC News Brasil - A Coreia do Sul parece estar tendo sucesso com uma abordagem que combinou testesjogo da frutamassa, usojogo da frutaaplicativosjogo da frutacelular e isolamento dos doentes. E que permitiu manter a economia funcionando. Algo parecido teria sido feito no Japão. Uma abordagem desse tipo seria viável aqui?
jogo da fruta Iamarino - Ela pode ser viável. A questão é que a gente ainda não tem a infraestrutura pronta aqui no Brasil para produzir o volumejogo da frutatestes necessário. E importar esses testes leva tempo, porque o mundo inteiro está tentando comprá-los agora.
Então, parar, manter as pessoasjogo da frutacasa, manter essa quarentena, manter esse isolamento e esse distanciamento dá o tempo necessário para a gente poder chegar nessa situação, inclusive.
Tem diferentes respostas, e parar o país não precisa ser a única coisa que a gente vá fazer. A questão é que,jogo da frutaqualquer estimativajogo da frutacrescimento da covid-19, o problema vai se imporjogo da frutaquestãojogo da frutameses, até o fimjogo da frutaagosto provavelmente, se nada for feito.
Manter as medidas que a gente tem agora é o que vai fazer dar tempo para buscarmos outras medidas lá na frente. Na verdade, parar agora é ganhar o tempo para fazer escolhas.
jogo da fruta BBC News Brasil - Dias atrás, seu nome chegou aos assuntos mais comentados do Twitter, depois que você mencionou a possibilidadejogo da fruta1 milhãojogo da frutamortos no país. Que avaliação você faz hoje desse episódio?
jogo da fruta Atila Iamarino - Essa experiência me mostrou como uma mensagem pode ser fragmentada e pulverizada na internet. Porque, por mais que tenha feito um vídeo com todos os cuidados, para dizer "isso não é um destino, não é uma profecia, é o cenáriojogo da frutaque nada é feito, ou pouco é feito, e o que a gente quer é não ter esse cenário".
Não estava fazendo previsões, estava extrapolando (para o Brasil) os númerosjogo da frutaum estudo que estava prevendo o que acontece. E são números com os quais o Ministério da Saúde e as secretariasjogo da frutaSaúde (de Estados e municípios) estão trabalhando também. Se você levajogo da frutaconta quando eles falam, por exemplo, que até metade do país pode pegar, isso é o consenso (científico), na verdade.
Pelo menos metade das pessoas precisaria pegar covid-19 e se imunizar para o problema se resolver sozinho. Na faltajogo da frutauma vacina, na faltajogo da frutauma soluçãojogo da frutalarga escala, a transmissão começa a cair quando pelo menos metade das pessoas pega o vírus. E tende a acabar quando lá pelos 60, 70, 80% (das pessoas desenvolveram imunidade), dependendo da simulação.
Isso é o consenso, e digo que é porque já foi inclusive dito pelo Ministério da Saúde. E quando você lida com esses números e imagina o que é 1%jogo da frutamortalidadejogo da fruta50% dos brasileiros, fica evidente que a escala é essa mesmo. Está todo mundo lidando (com estes números).
O choque do que eu falei foi simplesmente colocar isso 'na lata' e falar para as pessoasjogo da frutauma forma que, por mais que estivesse dentrojogo da frutaum contexto ali, foi picotado e espalhadojogo da frutaoutra forma na internet.
O grande problema éjogo da frutaquanto tempo isso (as mortes) tendem a acontecer. Vou pegar um exemplo que está todo mundo dando. "Acidentesjogo da frutacarro matam 300 mil pessoas por ano e nem por isso a gente diz para as pessoas não andaremjogo da frutacarro." Com razão: a gente toma uma sériejogo da frutamedidas para proteger as pessoas, para diminuir esse número. Agora, se todas essas mortes acontecessem num intervalojogo da frutaum mês,jogo da frutauma semana,jogo da frutauma única região, isso com certeza seria uma coisa traumática e preocupante.
Esse é o ponto da covid-19: se ela for espalhada ao longojogo da frutaum ano,jogo da frutadois anos, porque a gente tomou medidas para que isso, porque deu tempojogo da frutasurgir uma vacina, deu tempojogo da frutaum tratamento ser validado, isso é uma coisa que a sociedade absorve e sai do outro lado como se fosse uma gripe mais séria mesmo. Mas, para que isso seja uma gripe mais séria, a gente tem que trabalhar muito.
Meu ponto era esse, na verdade. Estava querendo comunicar não o número (de um milhãojogo da frutamortes), que pode mudar, mas a ideiajogo da frutaque esse número mude. As medidas que foram tomadas no dia seguinte ao que eu falei (como o fechamento do comércio) já contribuem, e muito, para isso, para mudar o cenário, para que este número não aconteça.
O importante era que as pessoas entendessem que a situação mudou. E que elas não estão ficandojogo da frutacasa porque é só um probleminha, é que a vidajogo da frutamuita gente depende disso. E a gente tem que começar a trabalhar e pensar sobre como viabilizar essa nova vidajogo da frutauma maneira que seja mais próxima do normal que a gente tinha antes. Porque aquele normal não existe mais.
jogo da fruta BBC News Brasil - Brasília foi uma das primeiras cidades a fechar o comércio,jogo da fruta19jogo da frutamarço. Muita gente na época considerou essa medida precipitada, diante da possibilidadejogo da frutavários mesesjogo da frutaisolamento. Hoje ainda dá para dizer isso?
jogo da fruta Iamarino - Pelo contrário. A diferença entre a Itália e a China foijogo da frutamenosjogo da frutauma semana, do momentojogo da frutaque passaramjogo da frutacem casos para o momento do isolamento. E a Itália foi pelo caminho que foi. Esse é o problema, na verdade. A covid-19 se espalha muito rápido. E causa problemas muito cedo. O ideal é que a gente pare o quanto antes e, depois, revise para ver se aquilo era o idealjogo da frutater sido feito ou não. No caso dessa doença, pela velocidade com que ela se espalha, é preferível errar pela (pelo excesso de) precaução, na verdade.
A gente tem o privilégio, aqui no Brasil,jogo da frutater recebido poucos visitantesjogo da frutafora,jogo da frutaestarmos distantes o suficiente da China para a doença não chegar aqui antes. Então, a gente está a um mês, vinte dias, dez dias atrás da situaçãojogo da frutavários países,jogo da frutamodo que a gente pode acompanhar o crescimento deles e ver o quanto poderemos ser afetados.
Um exemplo bem prático e muito direto para o Brasil: o nosso crescimento do númerojogo da frutacasos, até aqui pelo menos (quarta-feira, 25jogo da frutamarço) está dobrando a cada três dias. Esse é um ritmojogo da frutacrescimento pior do que o da Itália. E muito parecido, muito próximo do da Espanha. Que demorou até mais tempo que a Itália, desde os cem casos, para parar (as atividades).
Então, a gente já tem uma régua para medir. A gente está 11 ou 12 dias atrás da Espanhajogo da frutatermos epidemiológicos,jogo da frutanúmerojogo da frutacasos e evolução da doença. E a gente leva um tempo para ver se as medidas funcionaram. Se daqui a um mês, no começojogo da frutaabril, a gente estiver crescendo menos que o surto espanhol cresceu até lá, a gente vai saber que as medidas estão funcionando.
Tem outros países que entraram no surto antes da gente e que estãojogo da frutasituação melhor ou pior e nos quais a gente pode se espelhar. Se nosso crescimento deixarjogo da frutaser um dos piores, como o da Espanha, e passar a ser um dos melhores ou cair para outro patamar, a gente tem como saber que as nossas medidas funcionaram, porque já temos a experiência deles para comparar.
Também vamos ver a diferença entre regiões. Se Brasília, que adotou medidas antes, tiver um crescimento menor do quejogo da frutaSão Paulo, ou do Rio, que levou um pouco maisjogo da frutatempo, oujogo da frutaoutro lugar, a gente vai saber disso. E,jogo da frutarepente, podem voltar a relaxar mais cedo, porque a coisa funcionou. Mas o ponto é: parar antes te dá essa liberdadejogo da frutaolhar, respirar, ver o que aconteceu e decidir. Não parar é o que a Itália fez. E, se você não para, a covid-19 para você.
jogo da fruta BBC News Brasil - Uma quarentena formal, com a polícia impedindo as pessoasjogo da frutasaíremjogo da frutasuas casas, seria apropriado ou necessário?
jogo da fruta Iamarino - Talvez seja necessário, mas não sei se seria apropriado. Foi o que a China fez, e o corpo técnico e científico da Organização Mundialjogo da frutaSaúde que avaliou a resposta chinesa classificou a ação deles como a mais coordenada, a mais rápida, mais agressiva e intensiva que a humanidade já viu para conter uma doença.
Acho inclusive que isso descalibrou o que o mundo esperava da covid-19. Não estando na realidade da China, é difícil entender a escala massiva do que eles fizeram. O que os outros cientistas que leram esse relatório técnico questionaram é quais são os princípios humanos e éticos violados para isso. E quem questiona isso diz que justamente o resto do mundo não necessariamente toleraria alguma coisa nessa escala. O que a Europa está tentando agora é alguma coisa próxima disso, dentro do que a realidade europeia permite. E a gente tem como acompanhar,jogo da frutaum mês atrás ou vinte dias atrás, o quanto está sendo efetivo ou não.
Talvez seja necessário, mas eu sinceramente não sei dizer. A gente vai descobrir com a Itália e a Espanha agora. A Itália tomou meias medidas e está conseguindo reduzir um pouco da mortalidade, mas não necessariamente conter (a epidemia). Talvez a gente descubra com o tempo que seja a única saída (a quarentena). Mas,jogo da frutanovo: precisamos ganhar tempo para poder descobrir isso antesjogo da frutater um problema maior.
jogo da fruta BBC News Brasil - Por enquanto, a abordagem brasileira é ajogo da frutareservar os testes para quem está internado,jogo da frutamau estadojogo da frutasaúde, e para os profissionaisjogo da frutasaúde. Essa estratégia não seria contraproducente, no sentidojogo da frutaque poderemos acabar gastando mais com UTI depois?
jogo da fruta Iamarino - Não chamariajogo da frutaestratégia, na verdade. Isso é o último recurso. Quando você não tem testes suficientes, é obrigado a reservar eles para o pior momento, que é quem está sendo internado. Ou, se a situação ficar mais crítica e o volumejogo da frutatestes continuar sendo pequeno, para diagnosticar quem morre, na verdade.
Não acho que essa situação seja uma opção. É o que a gente consegue fazer com os poucos recursos que a gente tem. Daí (a importância de) ganhar mais tempo para produzir e distribuir esses testes por aqui. Porque se a gente comprar agora 200 milhõesjogo da frutakits para testar cada brasileiro, mas os kits levarem 3 meses para chegar, quando eles chegarem, a gente arrisca que boa parte dos brasileiros esteja com covid-19.
Por isso meu pragmatismo. A única saída agora é tentar ganhar tempo para buscar novas soluções. Qualquer coisa que não contribui para isso não importa mais.
jogo da fruta BBC News Brasil - Como ajogo da frutapercepção sobre o novo coronavírus mudou desde o começo da crise? Qual informação ou detalhe fez você mudarjogo da frutaideia?
jogo da fruta Iamarino - Tudo o que a gente estava entendendo sobre o espalhamento da covid-19 no mêsjogo da frutajaneiro era baseado na experiênciajogo da frutaum país, a China, que implementou uma solução que é impraticável (na maioria dos lugares) e inédita no mundo.
Então, as estimativasjogo da frutanúmerojogo da frutacasos,jogo da frutacontágios,jogo da frutanúmerojogo da frutamortos e qualquer coisa do tipo que a gente tinha no primeiro mês foram feitas dentrojogo da frutaum cenário que é impraticável para o resto do mundo. A gente estava muito descalibrado do que esperar da covid-19. Quando ela saiu da China para a Itália, para a Coreia do Sul e para o Irã, a coisa explodiu nos países todos. (A exceção é) a Coreia do Sul, que já teve problemas com a Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio) e, por isso, estava muito preparada para a covid-19 agora.
Foi aí (com a chegada aos outros países) que a gente teve noção do tamanho do problema,jogo da frutafato. E aí a estimativajogo da frutaquanto tempo ia levar para a covid-19 se espalhar num país, que poderia serjogo da frutaaté um ano, dois anos, caiu para três a cinco meses. Esse é um tempo que não dá nem para distribuir qualquer coisa, mesmo que a gente já tivesse uma solução na manga.
Minha opinião mudou muito, mesmo, quando começaram a sair os primeiros grandes estudos olhando para o espalhamento da doença fora da China e dizendo que ela toma conta da populaçãojogo da frutatrês a cinco meses. Isso é menos que qualquer tempojogo da frutarespostajogo da frutaqualquer país,jogo da frutaqualquer infraestrutura, a não ser da China. Minha opinião mudou muito não quanto ao perigo do vírus — sobre isso a gente já tinha estimativas boas —, não sobre a seriedadejogo da frutaum problema desses, porque eu já estudo espalhamentojogo da frutavírus há muitos anos, mas quanto ao tempojogo da frutaresposta que a gente tem.
jogo da fruta BBC News Brasil - O que se sabe até agora sobre a imunidade ao vírus? Uma vez que você tenha a doença e se cure, você parajogo da frutatransmitir?
jogo da fruta Iamarino - O que a gente sabe é que, para a maioria das pessoas,jogo da frutaaté 14 dias depois dos sintomas surgirem você está curado. E não transmite mais. A China, por precaução, prorrogou esse período para 28 dias, porque algumas pessoas continuavam com o vírus incubado no corpo por mais tempo e acabavam desenvolvendo os sintomas mais na frente. Eles não viram muita transmissão (vindo) destas pessoas, mas, para poder garantir a interrupção da cadeiajogo da frutatransmissão, eles as estavam isolandojogo da frutaqualquer forma.
O que a gente entendeu, olhando para as pessoas, é que acontecejogo da frutaelas testarem negativo para o vírus, depoisjogo da fruta14 dias, mas mesmo assim ter uma produção pequenajogo da frutavírus no pulmão e depoisjogo da frutaum tempo voltarem a testar positivo.
A gente não pode fazer experimentosjogo da frutapessoas para saber se a imunidade protege 100%. Mas,jogo da frutamacacos, já fizeram, e eles estavam totalmente imunes ao Sars-Cov-2. O macaco rhesus (primata originário da Índia e amplamente usadojogo da frutalaboratórios) que pega a covid-19, quando se cura, não pega mais.
E tem uma possibilidade, que é o que acontece com a Mers, também causada por (um outro tipo de) coronavírus. Por voltajogo da frutaum ano ou dois depois que a pessoa pega, ela pode voltar a contrair, mas desenvolve sintomas muito mais leves. Esse é o precedente que a gente tem, mas ainda não tem um anojogo da frutacovid-19 para saber se isso vai acontecer com a gente.
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