Entre infartos, falências e suicídios: como foi o confisco da poupança no governo Collor, há maiszebet welkomstbonus30 anos:zebet welkomstbonus

O novo pacote econômico, batizadozebet welkomstbonusBrasil Novo e popularizado como Plano Collor, incluía, entre outras medidaszebet welkomstbonusestabilização, a troca da moeda (de cruzado novo para cruzeiro, sem cortezebet welkomstbonuszeros), a criaçãozebet welkomstbonusum imposto sobre operações financeiras, o congelamentozebet welkomstbonuspreços e salários por 45 dias, o aumento das tarifaszebet welkomstbonusserviços públicos (gás, luz e telefone, entre outros), a extinçãozebet welkomstbonus24 empresas estatais e a demissãozebet welkomstbonus81 mil funcionários públicos.

Nenhuma das 27 medidas anunciadas naquele dia, porém, surpreendeu tanto Miriam Leitão — e os 149,4 milhõeszebet welkomstbonusbrasileiros que assistiram à coletivazebet welkomstbonuscadeia nacionalzebet welkomstbonusrádio e TV - quanto o bloqueio das cadernetaszebet welkomstbonuspoupança.

Cercazebet welkomstbonus80% do dinheiro aplicado, não sózebet welkomstbonuscadernetaszebet welkomstbonuspoupança ezebet welkomstbonuscontas correntes, mas, também,zebet welkomstbonusaplicações financeiras, como o famoso "overnight", ficou retido no Banco Central por 18 meses. Estima-se que o governo tenha confiscado o equivalente a cercazebet welkomstbonusUS$ 100 bilhões, o equivalente a 30% do Produto Interno Bruto (PIB).

"Na hora da coletiva, senti um mistozebet welkomstbonusrevolta e perplexidade. Sabia que aquele plano provocaria um trauma na população. No fim do dia, chorei muito. O governo cometeu uma violência econômica muito grande contra o povo brasileiro. Foi o pior dos planos econômicos já feitos no Brasil", avalia a jornalista Miriam Leitão que, no livro Saga Brasileira: A Longa Lutazebet welkomstbonusUm Povo por Sua Moeda (2011), se refere ao pacote como "arbitrário", "ditatorial" e "tresloucado".

Um diazebet welkomstbonusfúria

Do dia 19zebet welkomstbonusmarçozebet welkomstbonusdiante, correntistas e poupadores, pessoas físicas e jurídicas, só conseguiram sacar 50 mil cruzados novos, cercazebet welkomstbonusR$ 8,3 milzebet welkomstbonusvalores atuais.

O restante seria devolvido,zebet welkomstbonus12 parcelas iguais, a partirzebet welkomstbonus16zebet welkomstbonussetembrozebet welkomstbonus1991, acrescidaszebet welkomstbonuscorreção monetária e juroszebet welkomstbonus6% ao ano.

Na semana da posse do presidente Collor, o ministro da Fazenda do governo Sarney, Maílson da Nóbrega, decretou feriado bancáriozebet welkomstbonustrês dias: 14, 15 e 16zebet welkomstbonusmarço.

Na terça, dia 13, o presidente do Banco Central, Wadico Bucchi, deu uma entrevista a Folhazebet welkomstbonusS. Paulo para tranquilizar a população: "A cadernetazebet welkomstbonuspoupança é garantida por dois governos: o que entra e o que sai. Ninguém vai confiscá-la", garantiu. Na dúvida, correntistas e poupadores formaram longas filas nos caixas eletrônicos durante o feriado bancário.

Na segunda, 19, a situação nas agências se agravou. Dez milhõeszebet welkomstbonusbrasileiros, segundo estimativas da Federação Brasileirazebet welkomstbonusBancos (Febraban), queriam tirar dúvidas com o gerente, conferir o valor do saldo ou sacar o dinheiro da conta.

Boa parte preferiu gastar o que sobrou no supermercado ou guardá-lozebet welkomstbonuscasa. Em muitas agências, faltou dinheiro para tanta retirada. Por essa razão, muitos gerentes chegaram a ser presos por não terem dinheiro suficientezebet welkomstbonuscaixa para pagar os saqueszebet welkomstbonusseus clientes.

Em Campo Grande (MS), um agricultor teve um diazebet welkomstbonusfúria ao confirmar que seu dinheiro estava bloqueado. Ele tinha acabadozebet welkomstbonusvender uma propriedade da família e, com o objetivozebet welkomstbonuspagar os estudos dos filhos, depositado o dinheiro na cadernetazebet welkomstbonuspoupança. Indignado com o confisco, entrou no carro, avançou na direçãozebet welkomstbonusuma agência do Banco Safra e estilhaçou a portazebet welkomstbonusvidro.

"O dinheiro aplicado nas cadernetaszebet welkomstbonuspoupança não era um dinheiro qualquer. Para muitos, era a motivação para se viver, o meio para se atingir um sonho ou a esperançazebet welkomstbonuscura para uma doença grave. Era a garantiazebet welkomstbonusuma velhice digna ou a chancezebet welkomstbonusajudar um ente queridozebet welkomstbonusdificuldade", afirma a jornalista e historiadora Francinezebet welkomstbonusLorenzo Andozia, autora da dissertaçãozebet welkomstbonusmestrado Passaram a Mão na Minha Poupança - Um Estudo sobre o Impacto do Plano Collor no Cotidiano da População Brasileira Urbanazebet welkomstbonus1990 (2019), da USP.

"Ao anunciar o bloqueio das poupanças, a ministra Zélia confiscou não apenas o dinheiro, mas, também, a dignidade das pessoas", disse Andozia.

Sonhos interrompidos

No comércio, a situação não era lá muito diferente. Sem dinheiro, os consumidores mudaram seus hábitos e as lojas ficaram completamente vazias. O que não foi confiscado pelo governo era usado para fazer supermercado, pagar contas e comprar remédios.

Para não fechar as portas, donoszebet welkomstbonusbares e restaurantes passaram a aceitar cheques e a vender fiado. De Norte a Sul, negócios foram desfeitos, viagens canceladas, casamentos adiados. O prejuízo, dizem os especialistas, foi incalculável. E, na maioria dos casos, irreversível.

Um empresáriozebet welkomstbonusBlumenau (SC), prestes a expandir seus negócios, ficou só com uma loja. Endividado, passou a tomar empréstimos e a hipotecar bens. Não aguentou. Em 1999, aos 60 anos, morreuzebet welkomstbonusinfarto. Não foi um caso isolado. Pelo Brasil afora, milhareszebet welkomstbonusempresários não tiveram como honrar seus compromissos. Foram obrigados a suspender pagamentos e a demitir funcionários. A maioria foi à falência.

No dia 19zebet welkomstbonusmarço, apenas três dias depois do anúncio do pacote econômico, um dentistazebet welkomstbonusCampos (RJ) tirou a própria vida, com um tiro no ouvido. Sua família relatou à polícia que ele caiuzebet welkomstbonusdepressão ao saber que suas economias, depositadas na cadernetazebet welkomstbonuspoupança, tinham sido bloqueadas. Com o dinheiro, ele planejava comprar um apartamentozebet welkomstbonusNiterói (RJ) para os filhos.

"Não tenho conhecimentozebet welkomstbonusaumento das taxaszebet welkomstbonussuicídio, que possa ser associado às medidas econômicas. Falências podem ter havido, mas são parte da dinâmica naturalzebet welkomstbonusuma economia competitiva", minimiza o ex-presidente Fernando Collorzebet welkomstbonusMello.

"Não foram os eventuais erros, se os houve, mas os acertos do Plano Collor que possibilitaram a estabilização da economia brasileira. Sem ele, a contenção da escalada inflacionária e a modernização do país teriam sido adiadas talvez por anos, com consequências irreversíveis para o desenvolvimento nacional", disse Collor.

Os bastidores do plano

A ministra Zélia não foi a única a participar da coletivazebet welkomstbonusimprensa que anunciou o Plano Collor. Antônio Kandir, o secretário especialzebet welkomstbonusPolítica Econômica; Eduardo Modiano, o presidente do Banco Nacionalzebet welkomstbonusDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e Ibrahim Eris, o presidente do Banco Central, fizeram parte da mesa.

A escolhazebet welkomstbonusIbrahim Eris para integrar a equipe econômica, aliás, se deu da maneira mais inusitada possível. Quem conta é o escritor Fernando Sabino no livro Zélia, Uma Paixão (1991): "Zélia pretendia falar com Ibrahim Elias, antigo colega seu, mas a secretária, por engano, ligou para Ibrahim Eris. - Bom, já que é você - disse ela, surpreendida -, precisamos conversar".

O livrozebet welkomstbonusSabino, escrito a partirzebet welkomstbonusinformações dadas pela própria Zélia, traz pelo menos mais duas revelações curiosas: a poupança só foi incluída no bloqueio no último momento - a princípio, a medida atingiria apenas as aplicações do "overnight" - e o valor a ser confiscado só foi decidido na noite anterior ao anúncio, durante uma festa-surpresa no resort Academiazebet welkomstbonusTênis, às margens do Lago Paranoá,zebet welkomstbonusBrasília - os valoreszebet welkomstbonus20 mil e 70 mil também foram cogitados.

"Sempre que tem um problema, Zélia gostazebet welkomstbonusdar uma trégua para se distrair, deixando o subconsciente trabalhar. Escreveu num papel os números 20, 50 e 70 e voltou à festa", escreveu Sabino. "Ao regressar, havia optado pelos 50 mil".

Hoje, será que a ex-ministra da Fazenda, Zélia Cardosozebet welkomstbonusMello, se arrependezebet welkomstbonusalgumas das medidas tomadaszebet welkomstbonus1990? Se pudesse voltar no tempo, faria algo diferente?

"Se pudesse voltar atrás com as informações que tinha naquele momento, não mudaria nada", avalia a economista. "Trinta anos depois, provavelmente, não teria tomado algumas medidas e teria tomado outras", disse a ex-ministra.

O dramazebet welkomstbonusmilhõeszebet welkomstbonusbrasileiros que tiveram seus sonhos interrompidos pelo Plano Collor ganhou as telas da TV,zebet welkomstbonusnovelas como Rainha da Sucata (1990),zebet welkomstbonusSilviozebet welkomstbonusAbreu; as salaszebet welkomstbonuscinema,zebet welkomstbonusfilmes como Terra Estrangeira (1996),zebet welkomstbonusWalter Salles e Daniela Thomas; e as prateleiras das livrarias,zebet welkomstbonusromances como A Felicidade é Fácil (2011),zebet welkomstbonusEdney Silvestre. Neste, Bárbara é "uma das milhares, se não milhões,zebet welkomstbonusvítimas do Plano Collor". Aos 17 anos, ela resolve entrar ilegalmente nos EUA, para ganhar a vida como faxineira e manicure. Ex-correspondente internacional do jornal O Globo e da TV Globo, Silvestre garante ter conhecido muitas "Bárbaras"zebet welkomstbonusNova York, onde morouzebet welkomstbonus1991 a 2002.

"Suas histórias eram dolorosamente parecidas. Eram mulheres jovens e bonitas, ex-universitáriaszebet welkomstbonusdiversos Estados do Brasil, que tinham abandonado seus cursos por não poderem pagá-los e se sustentavamzebet welkomstbonusNova York como call girls", relata o jornalista e escritor.

"A vidazebet welkomstbonusuma pessoa expatriada numa cidade competitiva como Nova York não tem um pingozebet welkomstbonusglamour. Na maioria dos casos, elas se alimentam mal, não dormem direito e vivem com medozebet welkomstbonusdeportação".

Se arrependimento matasse

Uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no dia 23zebet welkomstbonusmarçozebet welkomstbonus1990, apenas uma semana depois do anúncio, revelou que 81% dos entrevistados avaliaram o Plano Collor como "bom".

Em um primeiro momento, o pacote econômico surtiu efeito. De 84%, a inflação despencou para 3%. Mas, por pouco tempo. Em junho, subiu para 9% e, no mês seguinte, voltou para a casa dos dois dígitos: 12%.

À medida que o custozebet welkomstbonusvida subia, o índicezebet welkomstbonusaprovação do Plano Collor caía. Em abrilzebet welkomstbonus1990, o Instituto Datafolha registrou 71% e,zebet welkomstbonusjaneirozebet welkomstbonus1991, 23%.

Em um mistozebet welkomstbonusraiva e desespero, os cidadãos expressavamzebet welkomstbonusinsatisfação das mais diferentes maneiras: enquanto uns recorriam à Justiça, solicitando a restituiçãozebet welkomstbonussuas perdas no Plano Collor; outros preferiam escrever cartas indignadas para as redaçõeszebet welkomstbonusjornais e revistas.

"Como eu me sinto? Como um réu que foi julgado e condenado por si mesmo. Votei no homem e ele me condenou a passar fome", escreveu um leitor da Folhazebet welkomstbonusS. Paulo, na edição do dia 15zebet welkomstbonusabrilzebet welkomstbonus1990.

Menoszebet welkomstbonusum ano depois, no dia 31zebet welkomstbonusjaneirozebet welkomstbonus1991, a ministra Zélia Cardosozebet welkomstbonusMello lançou um segundo plano econômico: o Collor II. De nada adiantou.

No dia 10zebet welkomstbonusmaiozebet welkomstbonus1991, apenas um ano e dois meses depoiszebet welkomstbonussua nomeação para o cargo, foi substituída pelo economista Marcílio Marques Moreira.

"O desgastezebet welkomstbonusZélia foi muito grande com o bloqueio da poupança, com questões pessoais e com o fatozebet welkomstbonusser uma mulher jovem no comando da economia, mas, principalmente, com a decisãozebet welkomstbonusmanter a moratória da dívida externa.

A pressão dos credores externos (bancos,zebet welkomstbonusespecial) e do governo dos EUA foi enorme e Collor desistiuzebet welkomstbonusmanter Zélia", analisa o economista Carlos Eduardo Carvalho, professor da PUC-SP e autor do artigo As Origens e a Gênese do Plano Collor (2006).

Desde 1997, Zélia Cardosozebet welkomstbonusMello morazebet welkomstbonusNova York, onde trabalha como consultorazebet welkomstbonuseconomia.

"Até hoje, ouço críticas ao confisco da poupança, mas isto não tem nada a ver com a minha mudança para os EUA. Na época, eu estava casada com o Chico Anysio e a decisãozebet welkomstbonusse mudar para os EUA partiu dele, que sofreu um acidente e, por essa razão, se ausentou da TV por um ano", explica a economista.

O governo do presidente Collor também teve um desfecho melancólico. Acusadozebet welkomstbonusliderar um esquemazebet welkomstbonuscorrupção, o ex-presidente sofreu um processozebet welkomstbonusimpeachment e foi afastado do cargo no dia 29zebet welkomstbonussetembrozebet welkomstbonus1992. Em seu lugar, assumiu o vice, Itamar Franco.

Depoiszebet welkomstbonusrenunciar à presidência no dia 29zebet welkomstbonusdezembrozebet welkomstbonus1992, Collorzebet welkomstbonusMello teve seus direitos políticos cassados por oito anos. Cumprida a punição, conseguiu se eleger senador por Alagoas,zebet welkomstbonus2006.

"Mais do que a imagemzebet welkomstbonusum jovem idealista e visionário que assumiu a chefia do Poder Executivo aos 40 anos, gostariazebet welkomstbonusser lembrado como um presidente à frente do seu tempo, que propôs e implementou medidas duras, corajosas e fundamentais para a modernização do país", afirma o senador.

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