Por que não é correto comparar os incêndios na Amazônia aos que ocorrem na Austrália:1xbet kya hai

Montagem1xbet kya haiincêndio na Amazônia (à esq) e incêndio na Austrália

Crédito, EPA/Getty Images

Legenda da foto, Incêndios têm causas completamente distintas, portanto, especialistas dizem que comparação não é cabível

Na opinião do biólogo Alexander Lees, professor da Manchester Metropolitan University, "há mais diferenças que semelhanças" entre os dois eventos. A influência do aquecimento global sobre a intensidade das situações é uma das poucas semelhanças possíveis. "Os fogos na Austrália, na Sibéria e no Brasil vão ficar piores com o aquecimento do planeta", afirma.

A BBC News Brasil ouviu especialistas que explicam1xbet kya haidetalhes por que a comparação não é cabível.

incêndios na Austrália

Crédito, AFP

Legenda da foto, Os incêndios na Austrália deixaram milhões1xbet kya haihectares arrasados por chamas

Causas

É principalmente devido a causas tão distintas que não se pode comparar os fogos na Amazônia e na Austrália.

Jos Barlow, pesquisador da Universidade1xbet kya haiLancaster e da Universidade Federal1xbet kya haiLavras, explica que a flora australiana evoluiu com o fogo, que ocorre naturalmente1xbet kya hairegiões do país.

"É um ecossistema que queima1xbet kya haitempos1xbet kya haitempos." Ou seja, as queimadas acontecem em1xbet kya haimaior parte1xbet kya haiforma natural, pela incidência1xbet kya hairaios. Também há uma minoria1xbet kya haicasos1xbet kya haiincêndios causados1xbet kya haiforma proposital.

"Os incêndios1xbet kya haidiversos ecossistemas australianos, como os outbacks, ocorrem naturalmente. Faz parte ter fogo com uma certa frequência, como nas florestas costeiras da Califórnia, nas savanas na África ou no cerrado brasileiro. Tem um regime1xbet kya haifogo", afirma Berenguer.

Mas isso, diz ela, está sendo exacerbado pelo efeitos das mudanças climáticas. "As temperaturas já estão mais altas e o período1xbet kya haisecas mais prolongado na Austrália, o que favorece a propagação do fogo."

Também houve influência do Dipolo do Oceano Índico (conhecido como El Niño do Índico), que se refere à diferença nas temperaturas da superfície do mar1xbet kya hairegiões opostas do oceano. No ano passado, foi "extraordinariamente forte", segundo Lees.

Isso significa que a região a oeste do Índico ficou mais quente que o normal e, a leste, mais fria, causando enchentes na África e na Indonésia e condições secas na Austrália.

"Foi mais forte que o normal, e isso é um efeito das mudanças climáticas. Está empurrando a Terra para seus limites", afirma Lees.

Já a floresta amazônica, diz ele, "sem interferência, nunca queima naturalmente". Berenguer explica que a floresta é úmida —como diz o nome1xbet kya haiinglês, "rainforest", ou "floresta1xbet kya haichuvas". "O fogo não ocorre naturalmente nesse ambiente ultraúmido que é a Amazônia. Precisa ser iniciado por alguém", afirma.

Então, o fogo no Brasil teria sido iniciado em1xbet kya haimaior parte como parte do processo1xbet kya haidesmatamento, quando a vegetação é derrubada, colocada ao sol para secar e depois queimada para limpar a área. As árvores viram cinzas.

Fogo na Amazônia

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Números que comparam incêndios nos dois locais têm base diferente e não poderiam ser usados para comparação; na imagem, fogo na Amazônia

Tamanho e período

A comparação entre a dimensão das queimadas nos dois países — feita anteriormente pela BBC News, outros veículos e usuários1xbet kya hairedes sociais — tampouco poderia ter sido feita. Isso porque não só são incêndios com causas bastante diferentes, como também diferentes períodos e metodologias para a medição das dimensões.

Segundo dados do programa Queimadas, do Inpe (Instituto Nacional1xbet kya haiProgramas Espaciais), entre janeiro e novembro1xbet kya hai2019, uma área1xbet kya hai70.698 km² foi queimada na Amazônia brasileira. Isso equivale a 7 milhões1xbet kya haihectares. O Inpe usa dados1xbet kya haisatélite, e ainda está processando o mês1xbet kya haidezembro.

Já na Austrália,1xbet kya haiacordo com o jornal The Guardian, total queimado desde o início da temporada,1xbet kya haijunho1xbet kya hai2019, até esta quarta-feira (8) é1xbet kya hai10,7 milhões1xbet kya haihectares. O jornal está compilando dados comunicados por cada Estado da Austrália.

Então, um dado é referente a quase um ano inteiro no Brasil; o outro, à temporada1xbet kya haiincêndios na Austrália que começou1xbet kya haijunho. E comparar o que aconteceu nos dois países no mesmo ano não seria justo, segundo Barlow, porque o Brasil teve um ano "normal"1xbet kya hairelação à temperatura, "até bastante úmido", enquanto a Austrália teve "condições climáticas excepcionais" neste ano.

Jesse Collins organizando doações1xbet kya haium centro1xbet kya haievacuação na Austrália enquanto fala sobre o quão difícil é buscar água

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Muitos residentes da Austrália foram para abrigos temporários depois1xbet kya haideixar suas casas

Para ele, seria menos injusto comparar o fogo na Amazônia1xbet kya hai2015 com a atual temporada1xbet kya haiqueimadas da Austrália. Em 2015, o fenômeno El Niño causou secas extremas na Amazônia, dando condições para que incêndios prosperassem.

Um gráfico com comparação numérica incorreta entre os incêndios nos dois países foi usado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para acusar jornalistas e ONGs1xbet kya hai"seletividade" ao abordar os dois temas. A imagem, feita a partir1xbet kya haidados divulgados pela BBC News, mostrava o Brasil com uma área muito menor1xbet kya haiincêndios do que a realidade.

A BBC News havia publicado na semana passada um gráfico com dados incorretos não retirados do INPE e avisou o veículo autor do gráfico utilizado por Salles sobre o erro. O gráfico foi retirado do ar pela BBC News.

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O programa Queimadas, do Inpe, dá uma estimativa "ampla e visão geral das áreas queimadas nos biomas brasileiros". Desenvolvido1xbet kya haiparceria com o Laboratório1xbet kya haiAplicações1xbet kya haiSatélites Ambientais - LASA, do Departamento1xbet kya haiMeteorologia da UFRJ, está1xbet kya hai"constante atualização e validação".

Além1xbet kya haidatas e metodologias distintas, outros aspectos que esses dados não podem traduzir complicam a comparação entre o fogo na Austrália e no Brasil.

Especialistas dizem que os números do Inpe subestimam a área queimada na região amazônica porque "os satélites têm dificuldade1xbet kya haidetectar fogo debaixo da copa das árvores", segundo Berenguer. Os satélites detectam melhor fogo1xbet kya haiáreas abertas ou1xbet kya haibiomas como o cerrado ou a savana.

"A extensão da queimada na Austrália é mais clara", diz Barlow. "Mas no Brasil, no momento, ainda não sabemos quanto queimou1xbet kya hai2019."

Isso porque os dados do Inpe não fazem distinção entre os tipos1xbet kya haifogo na região amazônica: fogos após desmatamento (quando a vegetação é derrubada, deixada para secar ao sol e depois queimada), fogos1xbet kya haiáreas1xbet kya haipastagens (que foram desmatadas1xbet kya haium período anterior, utilizadas para agricultura e cuja queima pode servir para eliminar ervas daninhas, por exemplo), e fogos florestais (quando o incêndio é descontrolado e foge dos limites1xbet kya haiquem faz a queima, podendo ser acidental ou intencional).

Essas diferenças entre tipos1xbet kya haiincêndio está explicada no estudo Clarifying Amazonia's Burning Crisis (Esclarecendo a Crise dos Incêndios na Amazônia,1xbet kya haitradução livre), publicado na revista científica Global Change Biology1xbet kya hainovembro do ano passado,1xbet kya haiautoria1xbet kya haiBarlow, Berenguer, os pesquisadores Rachel Carmenta e Filipe França, e outros que preferiram se manter anônimos.

Os pesquisadores fizeram uma análise dos dados1xbet kya haiqueimada e desmatamento que contradizem o discurso oficial do governo1xbet kya haiJair Bolsonaro, que minimizou os incêndios na Amazônia. Segundo o estudo, os incêndios1xbet kya haiagosto1xbet kya hai2019 na região foram quase três vezes maiores do que1xbet kya hai2018.

incêndios na Austrália

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Região1xbet kya haiNew South Wales, na Austrália, é uma das mais afetadas pelas chamas

Impacto

Os incêndios também têm impacto diferente nos dois ecossistemas.

"Em ecossistemas que evoluíram com o fogo, ele não causa um impacto tão grande", diz Berenguer,1xbet kya hairelação à Austrália. "Um fogo dessa severidade vai levar à mortalidade1xbet kya haiárvores e1xbet kya haianimais, só que o ecossistema é mais resiliente ao fogo. Ele vai se recuperar numa taxa mais rápida", afirma.

Ela dá um exemplo:1xbet kya haiecossistemas que evoluíram com o fogo, as árvores têm casca bem grossa, formando uma barreira contra chamas. Já as cascas das árvores na Amazônia são bastante finas.

Segundo ela, o fogo, quando entra na Floresta Amazônica, causa uma mortalidade1xbet kya haicerca1xbet kya haimetade das árvores. "A floresta fica como um queijo suíço, esburacada. Vai entrar mais vento, mais sol, e deixar a floresta mais quente e seca", afirma.

"Não sabemos ainda o tempo que demora para a Amazônia se recuperar", diz Berenguer. Quando a vegetação nativa queima, ocorre uma substituição1xbet kya haiespécies, adaptadas a esse tipo1xbet kya haicondição. Após o fogo, nos 10, 20 anos seguintes, ocorre uma mudança nas espécies presentes na floresta.

Queimada na Amazônia

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Árvores na Amazônia têm casca bastante fina e não resistem ao fogo

Reação política

Há mais semelhanças na maneira como o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, e o presidente Bolsonaro, lidaram com os eventos do que entre os próprios eventos, opina Lees. "A semelhança está no caráter negacionista nos dois governos", diz Berenguer.

Em agosto do ano passado, quando os incêndios na Amazônia ganharam manchetes1xbet kya haitodo o mundo, Bolsonaro minimizou os dados da Nasa (agência espacial dos EUA) e do Inpe. Ambos apontavam maior número1xbet kya haifocos1xbet kya haiincêndio no Brasil1xbet kya hainove anos.

Depois, o presidente também afirmou que ONGs teriam causado o fogo como resposta à redução1xbet kya hairepasses1xbet kya haiverbas federais a elas.

Quando o caso ganhou ampla repercussão nacional e internacional —sendo debatido até por líderes na cúpula do G7—, o governo brasileiro decidiu enviar tropas do Exército para combater os incêndios.

O primeiro-ministro australiano também foi acusado1xbet kya haiestar sendo negligente perante a crise —passou, inclusive, alguns dias1xbet kya haiférias no Havaí — e tem sido criticado por subestimar os efeitos do aquecimento global nos incidentes.

Só1xbet kya haidezembro Morrison admitiu haver uma conexão entre os incêndios e as mudanças climáticas, "entre outros fatores".

A influência da ação humana sobre as mudanças climáticas não é um consenso entre integrantes do governo Bolsonaro. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, por exemplo, já disse ser contrário ao "alarmismo climático".

Para Barlow, das universidades1xbet kya haiLavras e1xbet kya haiLancaster, estão "tentando fazer com que as pessoas joguem um jogo1xbet kya hai'o que é pior'. Os dois são ruins. Dizer que um é pior que o outro não vai nos ajudar. Os dois governos têm o dever1xbet kya haiatacar os problemas".

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