A história da rixa entre Gilmar Mendes e Deltan Dallagnol, que virou processo judicial:espèce 1xbet

O ministro do STF nega esta versão. Em entrevista recente à BBC News Brasil, Mendes disse que uma suposta mudançaespèce 1xbetposiçãoespèce 1xbetem relação à Lava Jato é "lenda urbana". Ele afirma que sempre foi críticoespèce 1xbettécnicas empregadas pelos investigadoresespèce 1xbetCuritiba, como o usoespèce 1xbetprisões preventivas.

Ainda segundo procuradores, a disposição do ministro com a Lava Jato teria piorado no episódio da delaçãoespèce 1xbetJoesley Batista,espèce 1xbetmaioespèce 1xbet2017 - o que o próprio Gilmar admite. O episódio envolvendo Joesley foi "marcante", diz ele, e a delação do empresário foi homologadaespèce 1xbetforma "ilegal".

Outro fatorespèce 1xbetdesgaste teria sido a relaçãoespèce 1xbetGilmar com o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot - o ex-PGR, inclusive, costumava rebater falasespèce 1xbetGilmar no plenário do STF durante reuniões privadas com outros procuradores.

A BBC News Brasil procurou Gilmar Mendes por meioespèce 1xbetmensagensespèce 1xbettexto, mas ele não fez novos comentários até o momento.

O ministro, porém, encaminhou à reportagem o linkespèce 1xbetum textoespèce 1xbetopinião do site especializado Conjur, segundo o qual Deltan teria iniciado o processoespèce 1xbetdanos morais para desviar a atençãoespèce 1xbetsua iniciativa recenteespèce 1xbetcriar uma fundaçãoespèce 1xbetdireito privado com a multaespèce 1xbetR$ 2,5 bilhões paga pela Petrobras.

"A cortinaespèce 1xbetfumaça (o processo por danos morais) é bem vinda para quem foi denunciado pela própria Procuradoria-Geral da República por fraudar acordo internacional (no caso da fundação), com dinheiro dos brasileiros", diz o texto, assinado pelo editor do Conjur, Márcio Chaer.

'Virou a chave'

"Gilmar virou a chave (contra a Lava Jato) porque não esperava que (a investigação) chegasse no PSDB e no PMDB. Isso é claro", diz à BBC News Brasil um procurador próximo ao caso, sob condiçãoespèce 1xbetanonimato.

"Numa entrevista dele (Gilmar) isso ficou claro. Referindo-se ao dinheiro que o PT tinha da corrupção, ele fala 'eles', como se fossem opositores", diz o procurador. Ele se refere a uma declaração do ministroespèce 1xbetsetembroespèce 1xbet2015, na qual Gilmar diz que as investigações revelaram "um modeloespèce 1xbetgovernança corrupta"espèce 1xbetparte do PT.

"A Lava Jato revelou o quê? (...) R$ 6,8 bilhões destinaram-se à propina. Se um terço disso foi para o partido, o partido têm algoespèce 1xbettornoespèce 1xbetR$ 2 bilhões,espèce 1xbetcaixa. É fácil disputar eleição com isto", diz Gilmar, na gravação.

Segundo o procurador, a Lava Jato começou a chegar a atingir políticosespèce 1xbetoutros partidos com mais força no fimespèce 1xbet2016 e no começoespèce 1xbet2017. Outro investigador reafirma a tese.

Os ataquesespèce 1xbetGilmar começaram quando percebeu-se que a Lava Jato "não era simplesmente contra o PT, mas contra uma formaespèce 1xbetfazer política, da qual ele é um representante. Como começamos a ir atrásespèce 1xbetcorrupçãoespèce 1xbetAécio e Cabral, houve a mudança", sustenta este segundo procurador, também sob anonimato.

Em novembroespèce 1xbet2016, o próprio Supremo Tribunal Federal homologou a delação premiadaespèce 1xbetexecutivos da empreiteira Odebrecht, na qual diversos políticos da cúpula do PSDB são mencionados.

Uma das principais acusações dos executivos era aespèce 1xbetque a empreiteira teria custeado despesasespèce 1xbetcampanha do hoje senador José Serra (SP),espèce 1xbet2010 - o que o tucano nega.

Outro antigo cacique da legenda, o ex-governadorespèce 1xbetSão Paulo Geraldo Alckmin, aparece nos arquivos da empreiteira sob o codinome "Santo".

Gilmar Mendes nega esta interpretação. No começoespèce 1xbetoutubro, a BBC News Brasil questionou o ministro sobre o assunto - ele diz que é "lenda urbana" a mudançaespèce 1xbetposição sobre o tema.

"Existe uma disputaespèce 1xbettermosespèce 1xbetlenda urbana, dizendo 'ah, o ministro Gilmar apoiava a Lava Jato, depois deixouespèce 1xbetapoiar', e acho que são duas questões que temos que tratarespèce 1xbetmaneira clara e explícita. Uma coisa é reconhecer os méritos da operação, queespèce 1xbetfato existem. (...) De fato isso (corrupção) tinha chegado a determinados limites", disse ele, à época.

"Agora, eu, jáespèce 1xbet2014, 2015, começo a questionar, por exemplo, os excessos das prisões provisórias. Até cunhei uma expressão dizendo: 'nós temos um encontro marcado com as prisões alongadasespèce 1xbetCuritiba' e percebi que elas estavam sendo usadas para induzir delações", disse Gilmar.

Em maioespèce 1xbet2017, mais um episódio fez Gilmar elevar o tom contra a Lava Jato, segundo procuradores: veio a público a colaboraçãoespèce 1xbetJoesley Batista, envolvendo diversos políticosespèce 1xbetvários partidos.

O episódio ficou célebre graças a uma frase dita pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) a Joesley Batista, durante um encontro dos dois no Palácio do Jaburuespèce 1xbetBrasília, fora da agenda oficial.

Depoisespèce 1xbetouvir sobre a relação entre Joesley e o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, Temer diz ao empresário: "Tem que manter isso aí, viu?". Para os investigadores, Temer se referia a pagamentosespèce 1xbetJoesley a Cunha - o que não foi comprovado, e Temer nega.

Na época, Gilmar questionou a "benevolência" do Ministério Público para com os delatores - os acordosespèce 1xbetdelaçãoespèce 1xbetJoesley eespèce 1xbetseu irmão, Wesley Batista, foram canceladosespèce 1xbet2018, na gestão da ex-PGR Raquel Dodge.

"Eu falei claramente no plenário do Supremo que aquilo (o acordo) era ilegal e que nós não deveríamos referendar aquele tipoespèce 1xbetprática", disse Gilmar à BBC, sobre a delaçãoespèce 1xbetJoesley.

Revelações do Intercept e investigação da Receita

Se Gilmar Mendes já estava irritado com a Lava Jato, dois acontecimentosespèce 1xbet2019 contribuíram para que o ministro se tornasse ainda mais crítico da operação: o vazamentoespèce 1xbetuma investigação da Receita federal e reportagens publicadas como parte da série que ficou conhecida como Vaza Jato, iniciada pelo site The Intercept Brasil.

Em fevereiro deste ano, um vazamento Receita Federal trouxe a público um procedimento que mirava o próprio Gilmar e tambémespèce 1xbetesposa, a advogada Guiomar Mendes.

Na verdade, segundo um profissional da Receita ouvido pela BBC News Brasil, tratava-seespèce 1xbetuma investigação mais ampla, envolvendo os CPFsespèce 1xbet134 "pessoas politicamente expostas", ou "PEPs", como são chamadas autoridades, políticos e pessoas ligadas a eles no jargão do Fisco.

O material relativo a Gilmar foi enviado por engano a uma pessoa que não tinha relação com o caso, e que foi responsável pelo vazamento, segundo o servidor da Receita.

Quando o assunto veio a público, Mendes enviou ofício ao presidente do STF, Dias Toffoli, cobrando providências. Também disse que a apuração era "esdrúxula e inusitada".

"De fato é uma coisa preocupante, não por mim, mas por um conjuntoespèce 1xbetpessoas. No caso, listam como 17 pessoas agregadas, ligadas a mim, que deveriam ser investigadas, inclusive minha mãe que morreuespèce 1xbet2007", disse ele, à época.

"A mim me parece que aqui há um tipoespèce 1xbetaparelhamento para outras finalidades, precisa realmente verificar", disse Gilmar.

Em suas falas mais recentes contra os procedimentos da Lava Jato, Gilmar cita com frequência supostas conversasespèce 1xbetprocuradores no aplicativoespèce 1xbetmensagens Telegram. O material veio à público na série publicada pelo The Intercept Brasil e, posteriormente, por outros veículos.

Dois textos atingiram diretamente o ministro.

Uma das reportagens, publicadaespèce 1xbetagosto pelo El País, afirma que Deltan e outros procuradores discutiram a possibilidadeespèce 1xbetiniciar uma investigação contra Gilmar - a lei brasileira não permite a procuradores que atuam na primeira instância investigar ministros do Supremo.

As conversas teriam ocorridoespèce 1xbetfevereiro deste ano, e os integrantes da Lava Jato teriam cogitado inclusive contatar investigadores da Suíça, para procurar indícios sobre o ministro.

Os procuradores negam o ocorrido - e não reconhecem a legitimidade das mensagens da Vaza Jato.

A outra reportagem que diz respeito a Gilmar foi divulgadaespèce 1xbetsetembro pelo jornalista Reinaldo Azevedo.

A suposta trocaespèce 1xbetmensagens mostraria a procuradora Thaméa Danelon, que chegou a coordenar a força-tarefa da Lava Jatoespèce 1xbetSão Paulo, dizendo a Deltan que ajudaria o advogado Modesto Carvalhosa a redigir um pedidoespèce 1xbetimpeachmentespèce 1xbetGilmar Mendes.

"Ele (Carvalhosa) pediu para eu minutar (escrever um esboço) para ele", teria dito a procuradora, no dia 3espèce 1xbetmaioespèce 1xbet2017. "Sensacional, Tamis!", responde Deltan, conforme a reportagem. O coordenador da Lava Jato paranaense vai além, e se oferece para corrigir o texto para Thaméa. "Se quiser olhamos depoisespèce 1xbetvc redigir", teria escrito ele.

"Eba!!! Obrigado!!! Já estou escrevendo!!! Quero sim!!! Lógico!! Obrigada!!", teria dito Thaméa, numa sequênciaespèce 1xbetmensagens.

O pedidoespèce 1xbetimpeachmentespèce 1xbetGilmar, com 150 páginas, foi finalmente protocolado por Carvalhosa no Senadoespèce 1xbetmarço deste ano, mas se encontra parado.

Trocaespèce 1xbetacusações

Em seu pedido à Justiça, Deltan relaciona quatro falas específicasespèce 1xbetGilmar Mendes: uma entrevista à Rádio Gaúcha, da rede RBS, no dia 07espèce 1xbetagosto deste ano; falas do ministro no plenário do STF,espèce 1xbetmarço e fevereiroespèce 1xbet2019; e uma entrevistaespèce 1xbetGilmar ao Uol,espèce 1xbetsetembro.

Em outubro, durante o julgamentoespèce 1xbetum habeas corpus no STF, Gilmar se referiu à força-tarefa como "organização criminosaespèce 1xbetCuritiba", que estaria usando "uma verdadeira máquinaespèce 1xbetprovas ilícitas", inclusive para "enganar o Judiciário e o próprio Supremo Tribunal Federal".

O advogadoespèce 1xbetDeltan, Francisco Otávio Xavier, disse à BBC News Brasil esperar que o caso tenha um desfecho, na primeira instância, aindaespèce 1xbet2020. "Tudo que o ministro disse está documentado. Não é preciso perícia e nem a produçãoespèce 1xbetoutras provas", disse ele.

A norma no direito brasileiro é que a União responda pelos atos dos agentes públicos, explica o advogado - é por isso que o processo se dirige ao Estado brasileiro, não à pessoa físicaespèce 1xbetGilmar Mendes.

"Mas a União, caso seja obrigada a indenizar (Deltan), tem depois o deverespèce 1xbetentrar com o que chamamosespèce 1xbet'açãoespèce 1xbetregresso' contra o agente público (Gilmar Mendes, no caso). Depoisespèce 1xbetreembolsar o particular, temespèce 1xbetir atrás do agente público e cobrar que ele pague", diz o advogado.

"Se for realmente o caso, e espero que seja, ficaremos muito atentos para garantir que se faça essa cobrança (a Gilmar Mendes) e não saia a indenização, no final das contas, do erário (dos cofres públicos)", diz Xavier.

A ação judicial movida por Deltan é apenas o último passo na sérieespèce 1xbetatritos entre pessoas ligadas à Lava Jato - especialmente no Paraná - e o grupoespèce 1xbetministros do Supremo que criticam os métodos da operação e costumam votar contra os pleitos da Lava Jato no STF, do qual Gilmar Mendes é um dos integrantes.

No fimespèce 1xbetnovembro, por exemplo, Deltan foi punido pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) por uma entrevista a uma rádio, concedidaespèce 1xbetagostoespèce 1xbet2018.

Naquela ocasião, ele disse que os ministros não-alinhados à Lava Jato (às vezes chamadosespèce 1xbet"garantistas") integravam uma "panelinha" e tomavam decisões que tinham uma mensagem "muito forteespèce 1xbetleniência a favor da corrupção".

A fala rendeu a Deltan uma advertência do CNMP, aprovada por 8 votos a 3. Trata-se da sanção mais leve que um procurador pode receber.

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