Biorremediação: os métodos naturais que podem ajudar a recuperar áreas manchadas pelo petróleo:site do blaze

O óleo já atingiu maissite do blaze450 praias do litoral nordestino, como asite do blazePaulista (PE), e chegou ao Espírito Santo

Crédito, Leo Malafaia/AFP

Legenda da foto, O óleo já atingiu maissite do blaze450 praias do litoral nordestino, como asite do blazePaulista (PE), e chegou ao Espírito Santo

"O momento idealsite do blazeutilizar essas técnicas é agora. Quanto mais rápido agirmos, mais êxito se tem na remediação. Com o passar do tempo, essas substâncias vão se diluindo ou se misturando aos sedimentos, o que torna mais difícil a limpeza efetiva", diz Olívia Oliveira, que é diretora do Igeo e há 12 anos coordena pesquisas para desenvolver métodossite do blazeremediação.

O superintendente do Ibama na Bahia, Rodrigo Alves, afirmou que todas as sugestões recebidas (não só as da minuta) foram encaminhadas à Secretaria Nacionalsite do blazeProteção e Defesa Civil (Sedec), ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).

"Os métodos que envolvem o usosite do blazeprodutos químicos são logo descartados. Mas os que são naturais estãosite do blazeanálise pela Defesa Civil", disse Alves.

Na sexta-feira (8/11), a BBC News Brasil enviou questionamentos para o Ministério do Desenvolvimento Regional, com o objetivosite do blazesaber o andamento das análises dos métodossite do blazeremediação e se já está definido quando algum será implementado. A reportagem perguntou também qual o valor dos recursos destinados a essa finalidade.

A assessoriasite do blazecomunicação do MDR confirmou por telefone o recebimento da demanda, mas não respondeu aos questionamentos até a conclusão desta reportagem.

Métodos naturais

Pesquisadoressite do blazelaboratório manuseiam um tanque cheiosite do blazeágua contaminada

Crédito, Victor Uchôa/BBC

Legenda da foto, Na limpeza, a água contaminada entrasite do blazeum tanque (reator) onde estão as microalgas, que se abastecem do carbono. Em seguida, a água limpa é liberadasite do blazevolta no ambiente

As técnicas desenvolvidas pelo Igeo e patenteadas pela UFBA, individualmente ousite do blazeparceria com a Unifacs (uma universidade privadasite do blazeSalvador), aliam tecnologia e insumos encontrados facilmente nas costas baiana e nordestina, fazendo cair o custo e evitando o usosite do blazeprodutos químicos — o que lançaria novas substâncias possivelmente tóxicas nas biotas já impactadas.

Todos os métodos já foram, inclusive, testados com amostras do próprio óleo que chega ao litoral brasileiro desde 30site do blazeagosto.

"O que fazemos é usar organismos vivos para remover os poluentes do ambiente. Não adianta só tirar a poluição visual, é preciso eliminar os compostos invisíveis, como benzeno, tolueno e xileno, ou no mínimo diminuir a presença deles. Aí entra a biotecnologia, com diferentes indicações para cada ambiente", explica Ícaro Moreira, que é professor da UFBA e já atuou na agência ambiental do governo canadense, justamente na áreasite do blazeremediaçãosite do blazeepisódiossite do blazederramamentosite do blazepetróleo.

Para os casossite do blazeque o petróleo já se dissolveu na água, a indicação é utilizar microalgas que se alimentam do carbono contido nas substâncias tóxicas, o que elimina tais substâncias e a conseqüente contaminação.

Funciona como uma máquinasite do blazediálise: a água contaminada entrasite do blazeum tanque (reator) onde estão as microalgas, que se abastecem do carbono. Em seguida, a água limpa é liberadasite do blazevolta no ambiente.

Devidamente alimentadas e crescidas, as microalgas viram uma biomassa que pode ser utilizada para produçãosite do blazebiodiesel. "É um processo que não gera resíduo. A água fica limpa e a microalga pode virar um combustível também limpo", explica Moreira.

Integrante da pesquisasite do blazeque tal método foi desenvolvido, Isadora Machado mostrou,site do blazeseu mestradosite do blazeGeoquímica, que num períodosite do blaze28 dias as microalgas conseguiram eliminar 94% dos poluentessite do blazeamostras da chamada "água do petróleo" — um efluente resultante da produção petrolífera que é apontado como uma das "águas" mais poluídas do mundo.

"Torcemos para que esses métodos sejam aplicados, pois a pesquisa é pra isso. Pra dar um retorno para o meio ambiente e a sociedade", observa Machado.

Em uma estimativa feita pelo professor Ícaro Moreira, um conjuntosite do blazereatores capazsite do blazetratar 1,5 mil litrossite do blazeágua marinha a cada três dias custaria cercasite do blazeR$ 50 mil para implantação, com manutençãosite do blazeR$ 7 mil por mês. Ao final do processo, entretanto, cada quilosite do blazebiomassa gerada poderia ser vendido por R$1 mil.

"No final das contas, a biomassa gerada paga as contas e ainda dá lucro. Isso é um exemplo bem claro do que nós chamamossite do blazeeconomia circular", aponta Moreira.

Areia e manguezais

Raízes manchadassite do blazeóleosite do blazemangue na Bahia

Crédito, Mateus Morbeck

Legenda da foto, Areassite do blazemanguezais baianos também foram atingidas, como as barras dos rios Itapicuru e Pojuca, no litoral norte; na foto, manguesite do blazeItacimirim, nessa região

Para a areia da praia ou áreassite do blazemangue e superfícies lamosas, cujas características físicas dificultam a limpeza manual e favorecem a impregnação das substâncias tóxicas, o remédio previsto na minuta entregue há um mês ao governo é a fitorremediação, ou seja, o usosite do blazeplantas, que devem ser identificadas no próprio ambiente atingido.

Ali, o cientista detecta qual espécie consegue se dar melhor na presença do contaminante, o que significa uma alta capacidadesite do blazefixação do carbono. Após tratamentosite do blazelaboratório, várias dessas plantas são inseridas no ecossistema impactado, onde devem ser monitoradas por um período que vaisite do blazetrês a seis meses.

Assim como as microalgas, essas plantas vão se alimentar do poluente, tirando-o do ambiente. Ao final da limpeza natural, elas também podem ser destinadas para a produçãosite do blazebiocombustível.

Experimentos já realizados com o métodosite do blazeáreas contaminadas por petróleo no entorno da Baíasite do blazeTodos os Santos mostram a eliminaçãosite do blaze89% dos compostos tóxicossite do blazeum intervalosite do blaze90 dias.

Um detalhe: esse método serve também para áreas atingidas por esgoto (com limpezasite do blaze100%site do blazepoluentes) e metais pesados, com êxitosite do blaze70% na eliminação, por exemplo,site do blazechumbo, cobre e zinco.

Na minuta, consta ainda a possibilidade do usosite do blazefibrassite do blazecôco e sisal para retenção do óleo na água — técnica que poderia ter sido adotada pelo governo até mesmo para a construçãosite do blazecontençõessite do blazediferentes formatos e disposições, com o objetivosite do blazeproteger áreas mais sensíveis, como manguezais.

Nesse caso, as fibras utilizadas pelo Igeo são originárias do descarte das indústrias sisaleira e do côco. Tudo viraria lixo, mas, após tratamentosite do blazelaboratório com produtos não tóxicos, os poros dessas fibras ganham 20 vezes mais capacidadesite do blazeabsorção.

Então, basta "empacotar"site do blazepequenos ou grandes formatos para deter o óleo, que pode, mais uma vez, ser reaproveitado.

"Quando o petróleo começou a chegarsite do blazeSalvador, nós mesmos pegamos a fibra e fomos para as praias. E foi muito eficiente para barrar o óleo ainda na água. O problema é que temos essas bolsas pequenas. Barreiras desse material poderiam ter evitado que muitos mangues fossem atingidos", diz a mestranda Célia Maia, que desenvolveu o método junto com a colegasite do blazemestrado Rebeca da Paixão.

"Confesso que nunca imaginei ver algo desse tamanho no Brasil, mas aconteceu e estamos percebendo um despreparo do governo para lidar com a situação", avalia Ícaro Moreira.

"Essa contaminação invisível pode levar muitos anos para metabolizar sozinha, influenciando no uso das praias, na economia da pesca e na alimentação das pessoas, pois vai sempre existir a dúvida sobre a contaminação ou não dessas áreas. Não dá pra ficarsite do blazebraços cruzados esperando o tempo passar", completa.

Patentes prontas à esperasite do blazerecursos

Com Farolsite do blazeItapuã ao fundo, voluntários trabalham na limpeza do óleosite do blazeSalvador

Crédito, Victor Uchôa/BBC News Brasil

Legenda da foto, Com Farolsite do blazeItapuã ao fundo, voluntários trabalham na limpeza do óleosite do blazeSalvador

Para além dos métodos descritos na minuta elaborada pelo Igeo, as técnicas biológicas mais difundidassite do blazeremediação — sem usosite do blazesubstâncias químicas — envolvem a aplicaçãosite do blazefungos e bactérias nas áreas a serem descontaminadas.

Esse é o foco da pesquisasite do blazeCristina Quintella, titular da UFBA que neste momento estásite do blazePortugal como professora visitante, testando novos métodos no Centrosite do blazeInvestigaçãosite do blazeEnergia e Ambiente do Instituto Politécnicosite do blazeSetúbal (IPS).

"As técnicas existem e não são poucas. Estão todas testadas e patenteadas, prontas para aplicação. A maior parte das patentes é registrada na China, mas são tecnologias jásite do blazedomínio público", diz Quintella, co-autora da mais atualizada revisão globalsite do blazepatentessite do blazebiorremediação para áreas atingidas por óleo, publicadasite do blazejulho deste ano pelo Journal of Environmental Management.

Ela explica que, com os fungos e bactérias, o processo é semelhante ao das microalgas e plantas.

Primeiro, o pesquisador identifica os microorganismos na praia ou no manguezal impactado — nunca se deve usar microorganismos extraídossite do blazeoutros ecossistemas, para não proliferar uma praga que vai gerar desequilíbrio.

Em seguida, o volume dessas bactérias e fungos é multiplicadosite do blazelaboratório. Reinseridos na biota, eles vão se alimentar dos compostossite do blazepetróleo e limpar o ambiente.

"Sabe criança que não quer comer e você dá uma bala pra abrir o apetite? É a mesma coisa. A gente bota os fungos lá com uma comidinha. Depois que acabar, eles vão precisarsite do blazemais comida, então vão comer as moléculas do petróleo", explica Quintella.

Quando o poluente se esgota, prossegue a professora, os fungos e bactérias ficam sem alimento e começam a morrer, restando somente o volume da população original daqueles microorganismos, o que refaz o equilíbrio do ecossistema.

Quintella evita fazer uma estimativasite do blazecustos da aplicação do método, pois dependesite do blazevariáveis como tamanho da área atingida, volume do materialsite do blazelaboratório e temposite do blazemonitoramento.

A professora afirma, entretanto, que a depender do contexto e da fontesite do blazefinanciamento, recursos para deslocamento, hospedagem e alimentação dos cientistas que vão a campo ou até a mesmo a partilha na utilizaçãosite do blazeequipamentos podem ser suficientes para que seja aplicada a biorremediaçãosite do blazedeterminadas áreas.

"Bem ou mal, da água se tira o óleo. O problema é o que fica nos solos e nos mangues. É para isso que existem esses métodos, que são inclusive bastante simples e o governo pode pagar. Basta ter vontade", conclui.

Línea

Crédito, Getty Images

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