A equipeesporte bet 65haitianos que tapa os buracos no asfalto enquanto São Paulo descansa:esporte bet 65
'O Haiti é aqui'
No geral, os haitianos chegaram a São Paulo sozinhos, deixando a família para fugir da pobreza e da faltaesporte bet 65perspectivas para os jovens. O país da América Central, um dos mais pobres do mundo, tem uma taxaesporte bet 65desempregoesporte bet 6514% e ocupa a 168º colocação no Índiceesporte bet 65Desenvolvimento Humano das Nações Unidas – o Brasil é o 79º.
Cercaesporte bet 65106 mil haitianos foram registrados no Brasil entre 2010 e 2018, segundo dados do Observatório das Migrações Internacionais (Obmigra), órgão do Ministério da Justiça. Nessa década, o Haiti foi a nacionalidade com mais imigrantes entrando no Brasil (21,5% do total). Só perdeu o posto no ano passado para os venezuelanos.
É o casoesporte bet 65Jakson François,esporte bet 6531 anos, natural da pequena cidadeesporte bet 65Jacmel.
"No Haiti, só quem consegue chegar na faculdade são filhosesporte bet 65políticos,esporte bet 65ministros, das pessoas ricas. Você não consegue emprego estável. Os jovens vivemesporte bet 65bicos. Eu tinha uma lojinhaesporte bet 65roupas queesporte bet 65vezesporte bet 65quando vendia alguma coisa", conta.
Se a vida já era difícil, tudo piorou a partiresporte bet 6512esporte bet 65janeiroesporte bet 652010, quando um forte terremoto devastou o país e matou maisesporte bet 65200 mil pessoas.
Uma das vítimas era a filhaesporte bet 65François, que tinha apenas dois anos. "Eu estava jogando dominó com uns amigos. O tremor demorou uns dois minutos. Quando voltei, descobri que a casa tinha caídoesporte bet 65cima da minha filha. Demorei três dias para conseguir tirá-la dos escombros", afirma.
Ele pisou pela primeira vez na capital paulistaesporte bet 652013, durante um grande fluxoesporte bet 65imigração haitiana ao Brasil. Na mala, trazia poucas roupas e a esperançaesporte bet 65conseguir um emprego que sustentasse os parentes deixados para trás.
Os pais, esposa e outro filho ficaram no Haiti enquanto François encarava uma viagem longa, tortuosa e cara – cercaesporte bet 65R$ 30 mil arrecadados com parentes e com a vendaesporte bet 65um carro antigo. "Fui para a República Dominicana, depois para o Equador. De lá, peguei vários ônibus até chegar ao Acre. Depois, mais um ônibus até São Paulo. Foram 60 dias", conta.
Mas foi um difícil começoesporte bet 65São Paulo: dormiu por quatro semanas nas ruas próximas à Missão Paz, entidade filantrópica e católica que ajuda imigrantes recém-chegados à capital. Depois, foi peão na construção civil, ajudanteesporte bet 65empresasesporte bet 65eventos e assistenteesporte bet 65um restaurante.
Há dois anos entrou na Potenza, uma das companhias contratadas pela prefeitura para tapar os buracos da cidade.
"Do meu salário, consigo enviar uns R$ 800 para a família (seu salário éesporte bet 65R$ 1.500, registrado pela CLT). É um dinheiro que ajuda muito. Sem isso, eles teriam muito dificuldadeesporte bet 65sobreviver", diz, sentadoesporte bet 65uma sala do galpão da prefeitura.
Ele ficou cinco anos sem ver a família, já que a viagemesporte bet 65ida e volta ao Haiti custaesporte bet 65tornoesporte bet 65R$ 6 mil.
'Voltar, nunca mais'
Há mais tempo no Brasil e o mais fluenteesporte bet 65português, Jakson François atua muitas vezes como intérprete para os compatriotas que chegam a São Paulo. Na equipeesporte bet 65tapa buracos, alguns servidores só falam crioulo e francês.
Jamil Pierre Louis,esporte bet 6532 anos, é um dos mais novos na equipe. Fugindo da pobreza, ele, a esposa e um filho foram para o Chile, outro país da América do Sul com forte presençaesporte bet 65imigrantes haitianos. Lá, também teve dificuldades para conseguir emprego. Chegou a São Paulo há oito meses e, por indicaçãoesporte bet 65François, logo conseguiu o trabalho no tapa buraco.
Louis e seus colegas têm essa visão bastante pessimistaesporte bet 65relação ao paísesporte bet 65origem: voltar é uma possibilidade remota.
"Não pensoesporte bet 65voltar para o Haiti, só voltariaesporte bet 65férias. A vida lá é muito difícil. Quero que meu filho cresça no Brasil, vire um jogadoresporte bet 65futebol ou um doutor", diz ele.
"Vim para o Brasil para conseguir algo melhor. Não volto mais. Não tem nada para fazer lá", afirma Lemour Michel,esporte bet 6527 anos, encarregado da equipe.
"No máximo, eu ficaria um mês para rever a família. Mas, para morar, nunca mais", diz Wildy Pierre,esporte bet 6528 anos.
Em 2015, Pierre deixou dois filhos pequenos para vir ao Brasilesporte bet 65buscaesporte bet 65emprego. Mas acabou ficando oito meses paradoesporte bet 65São Paulo, vivendoesporte bet 65ajudaesporte bet 65compatriotas. Depois, trabalhouesporte bet 65um restauranteesporte bet 65comida chinesa.
"Mas não deu certo", afirma. "O patrão ficava falando que no Haiti não tem nem escola, que todo mundo é burro e morreesporte bet 65fome. Ele falava muito palavrão para mim. Não aguentei e pedi para sair."
Há dois anos, Pierre começou a tapar os buracos do centro paulistano.
Em buscaesporte bet 65um emprego
Inicialmente, os haitianos conseguiam um visto humanitário para permanecer no Brasil, depois que o governo brasileiro assinou um acordo com as Nações Unidas para recebê-los.
Porém, a maior parte só conseguia essa permissão jáesporte bet 65terras brasileiras. "Por algum motivo que não ficou claro, os haitianos tinham muita dificuldade para conseguir os vistos no consulado brasileiroesporte bet 65Porto Príncipe (capital)", explica Sidarta Martins, diretor do Adus (Institutoesporte bet 65Reintegração do Refugiado).
"Então, eles precisavam entrar no país por terra, principalmente pelo Acre. Esse movimento gerou uma sérieesporte bet 65problemas, como a criaçãoesporte bet 65uma redeesporte bet 65coiotes que os exploravam."
Para Leonardo Cavalcanti, coordenador do Observatório das Migrações Internacionais, a conjuntura econômica estimulou a idaesporte bet 65milharesesporte bet 65haitianos pelo Brasil. "Depois do terremoto, a pobreza se acentuou. Já o Brasil viviaesporte bet 65economia aquecida e geraçãoesporte bet 65empregos, alémesporte bet 65grandes obras para a Copa do Mundo e das Olímpiadas", explica.
Como matar a saudade
Era por volta das 22h, e os bares estavam cheios na tradicional esquina das avenidas Ipiranga e São João. Enquanto os clientes bebiam cerveja, a equipeesporte bet 65haitianos tapava dois buracos no asfalto.
O barulho noturno e incessante das máquinas às vezes causa atritos com os moradores que querem dormir, pois a prefeitura prefere consertar as ruas do centro durante a noite para não atrapalhar o trânsito.
"Às vezes jogam ovosesporte bet 65nós ou chamam a polícia", diz Jakson François. Um funcionário da prefeitura explica: "Quando tem um buraco, o morador liga reclamando. Mas aí você vem tapar, e ele reclama também, do barulho. Não tem o que fazer..."
A meta da prefeitura é fechar 540 mil falhas no asfalto até o fim do próximo ano e diminuir o tempo médioesporte bet 65espera do conserto dos atuais 45 para 10 dias.
Enquanto seus colegas tapam mais um, Wildy Pierre fala da falta que sente da família. "Estou há quatro anos sem ver meus filhos", conta.
"Como faz para matar a saudade? A gente se fala todo dia pelo telefone. Mas não tenho o que fazer. Eles dependemesporte bet 65mim e desse emprego. Eu penso assim: a vida é uma experiência."
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