AçãoBolsonaro alimenta teseque Amazônia é 'bem comum', dizem brasilianistas:
"A Amazônia é nosso bem comum. Estamos todos envolvidos, e a França está provavelmente mais do que outros que estarão nessa mesa (do G7), porque nós somos amazonenses. A Guiana Francesa está na Amazônia", afirmou Macron.
O jornal francês Le Monde, um dos mais importantes do mundo, também recorreu ao mesmo termo usado por Macroneditorial intitulado "Amazônia, bem comum universal".
Na sexta-feira, Bolsonaro prometeu "tolerância zero" com o crime ambiental e disponibilizou as Forças Armadas para combater os incêndios.
Segundo Anthony Pereira, diretor do Brazil Institute da Universidade King's College,Londres, no Reino Unido, "a maneira como o governo brasileiro vem lidando com as questões ambientais ligou os alertastodo o mundo".
"As ações do governo acabam alimentando essa teseque a comunidade internacional deveria cuidar da Amazônia. Quando o Bolsonaro demite o diretor-geral do Inpe ou culpa as ONGs pelas queimadas, mobiliza a opinião pública internacional", diz ele à BBC News Brasil.
"Mas isso não pode servirdesculpa para violar a soberania do Brasil sobre este território. A Amazônia é brasileira", acrescenta.
Pereira lembra que não há uma "grande diferença" entre a comunidade internacional e a opinião pública no Brasil.
"Talvez os estrangeiros ignorem o fatoque a imensa maioria dos brasileiros, incluindo os eleitoresBolsonaro, seja contrária às queimadas na Amazônia", diz.
"Entendo a preocupação internacional sobre a necessidadeo Brasil enfrentar esses incêndios, pois a floresta é importante para a regulação do clima global, mas o governo brasileiro tem capacidade para enfrentar este problema sozinho", acrescenta.
Uma pesquisa Ibope divulgada nesta semana revelou que a ampla maioria da população brasileira, incluindo eleitoresJair Bolsonaro no segundo turno das eleições presidenciais2018, defende um aumento do combate ao desmatamento ilegal da Floresta Amazônica. A enquete foi realizadaparceria com a plataformacampanhas Avaaz.
Questionados sobre se "o presidente Jair Bolsonaro e o Governo Federal devem aumentar as medidasfiscalização para impedir o desmatamento ilegal na Amazônia", 96% dos entrevistados responderam que concordam total ou parcialmente.
'Arrogância'
Christopher Sabatini, especialistaAmérica Latina no think tankrelações internacionais Chatham House,Londres, no Reino Unido, concorda.
"Bolsonaro caiu na armadilha que ele mesmo criou. As decisõesseu governo no tocante ao meio ambiente vêm recebendo muitas críticas. Além disso, a forma como ele reagiu a essas críticas é muito preocupante. Toda essa situação (no G7) poderia ter sido evitada se ele tivesse tido uma reação mais controlada".
Sabatini critica, por outro lado, o que chamou"arrogância" dos países mais ricos ao discutir a Amazônia na cúpula do G7. Reforçou ainda que a soberania do Brasil sobre a Amazônia não deveria ser questionada.
"A China é uma das maiores poluidores do mundo, mas ninguém pensapuni-la por causasua política energética. Tampouco ninguém está pensandopunir os Estados Unidos porque o país saiu do AcordoParis. Este é o outro lado da equação do clima. Mas é importante", ressalva.
"Os países que,seu processodesenvolvimento, contribuíram com as emissõesgás carbônico agora querem proteger a Amazônia. Eles poluíram nos últimos dois séculos. É uma visão colonialista", conclui.
Uma fonte do governo brasileiro ouvida pela BBC News Brasil afirmou que, embora Bolsonaro tenha demoradoresponder à crise gerada pelas queimadas na Amazônia, Macron fez "uma bela jogadamarketing ao encontrar um temaconsenso, a proteção da floresta,uma cúpula esvaziada por divergências".
Neste sábado, o premiê do Reino Unido, Boris Johnson, sugeriu que Macron esteja usando a preocupação sobre as queimadas na Amazônia como uma "desculpa" para interferir com o livre comércio. No dia anterior, o presidente francês havia dito que Bolsonaro mentiu sobre a Amazônia e ameaçou deixar o acordolivre comércio recentemente assinado entre Mercosul e União Europeia.
Pereira, do King's College, lembra ainda que a teseque a Amazônia "pertence ao mundo" não é nova.
"No livro a Diplomacia na Construção do Brasil 1750-2016, o ex-embaixador Rubens Ricupero escreve sobre o conflito entre Brasil,um lado, e Estados Unidos, França e Reino Unido, do outro, sobre o acesso ao rio Amazonas nas décadas1850 e 1860. Não estou certoque a expressão foi usada naquela época, mas essas três potências argumentavam que, sob o espírito do livre comércio e do liberalismo, suas embarcações deveriam ter o direitonavegar pelo rio. O governo brasileiro finalmente abriu o Rio à navegação internacional1866", conclui.
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