Bolsonaro critica falaAngela Merkel sobre pauta ambiental do Brasil: 'Temos muito a ensinar à Alemanha':
A falaMerkel sobre o Brasil ocorreu na quarta (26), durante sessão do Parlamento,Berlim.
Ela havia sido questionada pela deputada do Partido Verde Anja Hajduk sobre se o governo alemão deveria continuar investindo nas negociações por um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul num momentoque ambientalistas e defensores dos direitos humanos denunciam a deterioraçãodireitos relacionados a essas questões no Brasil.
"Eu, assim como você, vejo com grande preocupação a questão da atuação do novo presidente brasileiro. E a oportunidade será utilizada, durante a cúpula do G20, para falar diretamente sobre o tema, porque eu vejo como dramático o que está acontecendo no Brasil", respondeu Merkel.
A chanceler, no entanto, disse que é contra impedir que o acordo com o Mercosul seja firmado por causa da posição brasileirarelação ao meio-ambiente.
"Eu não acho que não levar adiante um acordo com o Mercosul vá fazer com que um hectare a menosfloresta seja derrubado no Brasil. Pelo contrário", ressaltou no Merkel.
"Eu vou fazer o que for possível, dentro das minhas forças, para que o que acontece no Brasil não aconteça mais, sem superestimar as possibilidades que tenho. Mas não buscar o acordolivre-comércio, certamente, não é a resposta para essa questão", completou a chanceler.
Irritação
Visivelmente irritado durante e entrevista coletiva com jornalistasOsaka, Bolsonaro disse que o atual governo não "aceitará" tratamento que, segundo ele, presidentes anteriores receberamlíderespaíses desenvolvidos.
"O governo do Brasil que está aqui não é como os anteriores que vieram aqui para serem advertidos por outros países. A situação érespeito com o Brasil", disse.
"Não aceitaremos tratamento como alguns chefesEstado anteriores receberam antes."
Perguntado se encarou como desrespeitosa a falaMerkel, Bolsonaro aproveitou para pordúvida a credibilidade da imprensageral.
"Eu vi o que está escrito. Lamentavelmente grande parte do que a imprensa escreve não é aquilo", disse.
"Foi a imprensa alemã que escreveu", rebateu um jornalista.
"A gente tem que fazer a filtragem para não se deixar contaminar por parte da mídia escrita principalmente", continuou o presidente.
Desgaste para Brasil
A política ambiental do governo Bolsonaro deve ser o pontomaior desgaste para o Brasil durante o G20 deste ano.
Em entrevista à BBC News Brasil, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que o governo insistirá na mensagemque é preciso explorar as possibilidades econômicas da Amazônia, diversificando as atividades dentro e no entorno da floresta.
Ele ainda disse que o governo brasileiro vai exigir que países ricos paguem compensações a produtores rurais brasileiros se quiserem que o Brasil conserve mais a floresta.
Mas a imagem negativa do Brasil na política ambiental já provoca problemas para o governo aténegociações comerciais. O governo francês tem sido um dos mais duros nas tratativas sobre o acordocomércio entre Mercosul e União Europeia justamente usando como argumento o fatoque o Brasil não parece comprometido com o AcordoParis - acordo pelo qual nações se comprometeram a cumprir metasreduçãogases poluentes.
A floresta amazônica é essencial para o controle das mudanças climáticas já que ela absorve e transforma, por meiofotossíntese, parte significativa do CO2 da atmosfera.
O diretor do grupoestudos do G20 da UniversidadeToronto, John Kirton, também adverte que o Brasil terá que adotar um discurso "mais responsável"relação ao combate às mudanças climáticas se quiser o apoio da União Europeia para o pleitointegrar a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).
Entrar para esse seleto grupo integrado pelas mais ricas economias mundiais é um dos principais projetos do governo brasileiro. Fazer parte da OCDE funciona como uma espécieseloboas práticas comerciais edesenvolvimento.
Um dos primeiros ganhos da nova relação do Brasil com os Estados Unidos foi conseguir apoio formal dos americanos para entrar na OCDE. Mas o governo brasileiro ainda precisará convencer os outros membros do grupo.
"O Brasil quer entrar na OCDE e praticamente todos os países que integram o grupo, com exceção dos Estados Unidos, acreditam numa solução multilateral liderada pela ONU para controlar as mudanças climáticas", destacou Kirtonentrevista à BBC News Brasil.
"Se o Brasil quer avançar no seu desejofazer parte da OCDE, vai ter que adotar uma posição mais respeitável sobre mudanças climáticas, o que Bolsonaro não tem feito até agora."
Na sexta (28), Bolsonaro se reúne com o presidente da França, Emmanuel Macron, com quem deve abordar tanto a questão da entrada na OCDE quanto o acordocomércio que o Mercosul negocia com a União Europeia.
Guerra comercial entre China e EUA
O assunto que deve dominar a agenda do G20 é a guerra comercial entre China e Estados Unidos, e Bolsonaro terá encontro bilateral com os dois protagonistas dessa disputa: o presidente americano, Donald Trump, e o presidente chinês, Xi Jinping.
Perguntado pelos jornalistas se o Brasil "tem lado", Bolsonaro disse que não. O presidente também afirmou que quer a "paz", embora o nosso país esteja se beneficiando da guerra comercial no curto prazo, ao exportar mais para a Chinasubstituição aos produtos agrícolas americanos sobretaxados.
"Obviamente a gente não quer que haja briga para a gente poder se aproveitar", disse.
"A gente está buscando paz e harmonia, como estamos trabalhando no caso do Mercosul e na União Europeia."
Irritado ao longotoda a entrevista coletiva, Bolsonaro deu respostas curtas e genéricas à maioria das perguntas.
"Qual a mensagem que o senhor traz para os outros líderes?", perguntou a imprensa.
"Já estamos com a agenda pronta, ultimando preparativos. Viemos para ouvir e falar."
Os jornalistas pediram mais detalhes sobre o que Bolsonaro dirá aos líderes presentes ao G20 e ele respondeu: "Você quer que eu fale o que?"
Em seguida, afirmou que vai abordar as questões "que estão na pauta".
"(Vou falar de) internet, meio ambiente, tudo que estiver na pauta nós falaremos, bem como vão nos questionar. E, tenho certeza, estamos prontos para responder."
Sargento da comitiva brasileira preso com cocaína
O porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, que acompanha Bolsonaro na viagem a Osaka, comentou sobre a prisão do sargento da Força Aérea Brasileira (FAB) que foi detido na terça-feira (25) sob a acusaçãotransportar 39 quiloscocaína dentro do avião da equipe que dá suporte à comitiva do presidente.
Segundo Rêgo Barros, Bolsonaro determinou que sejam entregues "o mais rápido possível" à polícia espanhola as informações necessárias para as investigações.
"O presidente determinou que o Ministério da Defesa, por meio da Força Aérea, tome todas as providências para, o mais rápido possível, disponibilizar à polícia espanhola, para que ela possa,posse desses dados, imediatamente tomar as providências legais", disse.
"O presidente, o Ministério da Defesa, o comando da Força Aérea, não admitemhipótese nenhuma procedimentos desse tiporelação a seus recursos humanos e deseja que o mais rápido possível isso seja aclarado e a pessoa seja punida devidamente dentro dos trâmites."
Perguntadoquem foi a falhanão identificar o transporte da drogaum avião da FAB, o porta-voz afirmou que um inquérito policial militar vai apurar as responsabilidades.
Os jornalistas também perguntaram se a "irritação do presidente" se devia ao episódio, ao que Rêgo Barros respondeu:
"Não, tem a ver com ele ter chegadoviagem, ter que chegar aqui para descansar para amanhã, estar disposto para cooperar no G20 e no Brics, para que todos os países que estão aqui envolvidos possam sair daqui com coisas que sejam palpáveis."
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