Um ano após greve, os ganhos e decepções dos caminhoneiros que ajudaram a liderar movimento:corinthians uol
Nos últimos meses, o governocorinthians uolJair Bolsonaro vem tentando conter a ameaçacorinthians uoluma nova greve, que causaria graves prejuízos a uma economia já fragilizada.
Em abril, diantecorinthians uolrumorescorinthians uolparalisação, o governo anunciou uma linhacorinthians uolcréditocorinthians uolR$ 500 milhões para a categoria, na qual cada caminhoneiro teria acesso a um financiamentocorinthians uolaté R$ 30 mil para manutenção dos veículos, compracorinthians uolpneus etc.
Na segunda-feira, 20, a BR Distribuidora divulgou que iniciará testes com o "Cartão do Caminhoneiro Petrobras", que pretende dar estabilidade aos preços do diesel para os motoristas - eles pagariam o mesmo valorcorinthians uolcombustível na ida e na voltacorinthians uoluma viagem, por exemplo.
Mas será que os caminhoneiros estão contentes com o que mudou no decorrer do último ano? A BBC News Brasil ouviu caminhoneiros e lideranças para avaliar como está o clima entre representantes da categoria que parou o país há um ano.
'Deu uma melhorada'
Moiséscorinthians uolOliveira Costa,corinthians uol41 anos, foi um dos líderes dos caminhoneiros autônomos durante a greve iniciada no dia 21corinthians uolmaiocorinthians uol2018. Ele diz que não votoucorinthians uolBolsonaro, se considera uma pessoacorinthians uolesquerda, mas afirma que os caminhoneiros foram beneficiados pelas mudanças implantadas devido à greve.
"Depois da paralisação, para mim deu uma melhorada. Antes, eu recebia pouco maiscorinthians uolR$ 10 mil para ir e voltar da Bahia. Hoje, com as empresas respeitando a tabela do frete, eu recebo R$ 18 mil", contou ele. O valor é bruto, e dele o profissional precisa deduzir todas as despesas com combustível, pedágios, alimentação, manutenção do caminhão etc. Os gastos consomem grande parte do total.
No entanto, na visãocorinthians uolCosta, o governo passou a beneficiar os caminhoneiros por medocorinthians uolque eles convoquem uma nova greve.
"O governo não vai dar um tiro no pé e querer parar o país depoiscorinthians uolcinco meses. Eles sabem que uma paralisaçãocorinthians uolcaminhoneiros prejudicaria ainda mais a imagem deles", afirmou Costa.
Mesmo com uma vida melhor, ele diz que pretende deixar o Brasil para trabalharcorinthians uolPortugal, seguindo na mesma profissão.
Na Europa, Moisés contará com a ajuda do irmão, que é soldadorcorinthians uolnavios e vivecorinthians uolPortugal há 20 anos. Ele vai emprestar o apartamento para ele por tempo indeterminado.
"Minha intenção é passar dois ou três anos e voltar. Lá, eles pagamcorinthians uol4 a 6 mil euros por mês para trabalhar entre Portugal, Espanha, França e Alemanha. Tudo com um caminhão novo,corinthians uolrodovias melhores", afirmou.
Desrespeito à tabela
Caminhoneiro há maiscorinthians uolduas décadas, Marcelo Augusto do Nascimento,corinthians uol45 anos, ficou parado 11 dias durante a grevecorinthians uol2018. Mas ao contráriocorinthians uolMoisés, diz que a situação piorou porque as transportadoras não respeitam a tabela do frete.
"Por exemplo, uma viagemcorinthians uolSão Paulo a Mato Grosso, ida e volta, rendia R$ 4 milcorinthians uollucro ano passado. Hoje, vai sair na faixacorinthians uoluns R$ 2,6 mil. Isso é menos que tabela. O pessoal tá trabalhando bastante, mas ganhando menos. Apenas viagenscorinthians uolcurta distância,corinthians uol150 km a 200 km, respeitam o frete", afirmou.
No começocorinthians uolmaio, a Agência Nacionalcorinthians uolTransportes Terrestres (ANTT) decidiu isentarcorinthians uolmulta os caminhoneiros autônomos flagrados transportando cargas sem respeitar o piso mínimo. A decisão foi frutocorinthians uolnegociação entre o ministro da Infraestrutura, Tarcísiocorinthians uolFreitas, e representantes da categoria.
Segundo a agência, o relator do processo, o diretor Marcelo Vinaud, argumentou que a aplicaçãocorinthians uolmultas aos motoristas estava desmotivando denúncias contra empresas que não seguiam a tabela. Isso porque a ANTT previa a sanção para quem contratasse o serviço e também para quem aceitasse fazê-lo.
Nascimento diz que a lei do frete mínimo é desrespeitada na maior parte do país. Segundo ele, isso prejudica principalmente os caminhoneiros que fizeram grandes planos esperando que a situação melhorasse depois da greve.
"O pessoal confiou na tabela e trocou atécorinthians uolcaminhão. Esses aí estão trabalhando agoracorinthians uolcimacorinthians uolqualquer valor. Como fizeram dívida, precisam pagar."
Ele conta que votoucorinthians uolBolsonaro, "mesmo ele sendo contra a tabelacorinthians uolfrete", e avalia que o presidente não consegue governar porque a população o atrapalha.
Em maio do ano passado, o então pré-candidato à Presidência recuoucorinthians uolseu apoio à paralisação após o nono diacorinthians uolestradas fechadas.
"Ninguém deixa ninguém trabalhar. Fica todo mundo torcendo contra. Acredito que as pessoas não deixam ele (Bolsonaro) trabalhar e o Congresso está travando a (reforma da) Previdência", diz Nascimento.
Em gruposcorinthians uolcaminhoneiros, parte culpa a própria categoria por aceitarem que empresas paguem valores abaixo da tabela.
"Se ninguém aceitar ser passado para trás, o que as empresas vão fazer? Jogar mercadoria na rua? Elas vão ter que contratar alguém pelo preço que prevê a lei. Ninguém deve se humilhar e aceitar uma miséria. Nós temos que nos unir para o bemcorinthians uoltodo mundo", disse um caminhoneiro autônomo.
Há ainda os que se queixamcorinthians uolestar há maiscorinthians uolduas semanas parados à esperacorinthians uoltrabalhocorinthians uolpátios da capital paulista.
Tabela é 'soluçãocorinthians uolcurto prazo'
O presidente do Sindicato das Empresascorinthians uolTransportescorinthians uolCargacorinthians uolSão Paulo, Tayguara Helou, diz que o pagamento do frete abaixo da tabela, alémcorinthians uolser ilegal, coloca a segurança viáriacorinthians uolrisco.
"Quando isso acontece, o trabalhador passa necessidades básicas e começa a fazer coisas a trococorinthians uolsua sobrevivência. Ele usa drogas, reduz a manutenção do caminhão, da trocacorinthians uolpneus, freios etc. E isso impacta diretamente na solução viária, alémcorinthians uolsua saúde e nacorinthians uolfamília", afirmou.
Para ele, a tabela do frete é uma solução a curto prazo e o ideal seria o Brasil investircorinthians uolpolíticascorinthians uolmobilidade e principalmentecorinthians uolferrovias.
"A gente precisa olhar o nosso tipocorinthians uolprodução. O agronegócio tem uma produção com baixo valor agregado. Dificilmente, esses produtores vão conseguir pagar bem por viagens mais longas. Precisamoscorinthians uolintermodalidades, como um sistemacorinthians uolcabotagem mais eficiente, uma grande expansão das ferrovias, um sistemacorinthians uolestocagem melhor. Tudo causa perdas. Na estrada esburacada caem muitos grãos. Nos silos, a mercadoria estraga. É preciso rever o modelo como um todo", afirmou.
Helou diz ainda que a tabelacorinthians uolfrete atual contém erroscorinthians uolcálculo.
"O embarcador quer sempre pagar abaixo. Se houver acidente, hoje não está claro que ele é responsável pelas vítimas, problemas ambientais, fiscalização, etc. O ideal é ter uma lei que prevê que a transportadora assuma 100% dos riscos, caso pague abaixo da tabela, alémcorinthians uoltoda a diretoria", afirmou.
O presidente do sindicato das empresas diz ainda que a Agência Nacionalcorinthians uolTransportes Terrestres (ANTT) não tem condiçõescorinthians uolfiscalizar todos os pagamentoscorinthians uolfrete e que por isso poucas empresas são punidas.
"Isso incentiva que essa prática (de pagar menos que a tabela) continue. Além disso, o valor da multa é muito baixo para alguns tiposcorinthians uolcarga transportada. Com esse cenário, estamos longecorinthians uolmudar a situação."
Nova greve
O presidente da Associação Brasileiracorinthians uolCaminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, disse que a situação dos caminhoneiros só piorou após a greve. Para ele, o sindicato foi o responsável pela redução no preço do diesel e está lutando para que o preço do combustível tenha uma nova queda.
Um ano depois da greve, dados do relatório semanal da Agência Nacional do Petróleo, do Gás Natural e dos Biocombustíveis (de 12 a 18corinthians uolmaio) mostram que o preço médio nacional do diesel é o maior registradocorinthians uol2019 (R$ 3,73 para o S10 e R$ 3,65 para o S500) e já ultrapassa o patamar alcançado na segunda semanacorinthians uolmaiocorinthians uol2018, logo antes da paralisação.
"O caminhoneiro está passando fome. Provavelmente, na semana que vem eu devo ser recebido pelo ministro da Casa Civil para apresentar documentos que comprovam que a Petrobras pode reduzir o preço do diesel para até R$ 1,30. Hoje, as treze refinarias brasileiras estão trabalhando com 60% da capacidade porque o país manda óleo bruto para o exterior e compra refinado. O combustível volta com preço internacional e por isso aumenta todo dia", afirmou.
Lopes ameaça mobilizar os 600 mil caminhoneiros autônomos que fazem parte do sindicato, caso eles não sejam recebidos por representantes do governo e suas reivindicações não sejam atendidas.
"Estamos negociando e semana que vem o governo tem que decidir alguma coisa. Estamos muito organizados e a coisa pode ser feia. Vai parar o país, mas não queremos isso. Queremos criar um piso mínimo entre a Abcam e embarcadores, depois a gente faria um Termocorinthians uolAjustamentocorinthians uolConduta (TAC) e o governo endossaria para ninguém pagar abaixo."
Por outro lado, os caminhoneiros estão desanimadoscorinthians uolrelação a uma nova greve. Em abril e no início deste mês, o sindicato já havia ameaçado entrarcorinthians uolgreve. Parte dos trabalhadores, porém, diz não ter condições financeirascorinthians uolparar novamente.
De acordo com a Associação Brasileira dos Armadorescorinthians uolCabotagem (Abac), a quantidadecorinthians uolcargas transportadascorinthians uolnavios cresceu 27% no primeiro trimestre. Parte dos caminhoneiros atribui esse aumento à mudança na tabela do frete, que deixou os transportescorinthians uollonga distância mais caros. O presidente da Abcam discorda.
"Isso não está acontecendo. A carga quando chega no navio fica parada até um mês antescorinthians uolchegar ao seu destino e muitas vezes estraga. De caminhão, ela chegacorinthians uolaté 72 horascorinthians uolqualquer ponto do país. Nós temos num país rodoviarista e a cabotagem só é usadacorinthians uolsituação emergencial. O que precisamos resolver são os problemas dos caminhoneiros", afirmou.
Colaborou Ingrid Fagundez, da BBC News Brasilcorinthians uolSão Paulo
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