Crise na Venezuela: os riscos para o Brasil da escalada dos conflitos:cnc poker

tanques na Venezuela

Crédito, Carlos Garcia Rawlings/Reuters

Legenda da foto, Especialista e militares apontam que um eventual confronto armado na Venezuela geraria impactos significativos para o Brasil

Por enquanto, o governo brasileiro tem reagido com cautela, descartando agir militarmente no país vizinho.

Escalada perigosa

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontam que uma escalada na crise venezuelana e uma eventual guerra civil trariam ao Brasil uma sériecnc pokerconsequências econômicas, na política internacional, no fluxo migratório e até no controle do crime organizado nas fronteiras.

A professora Jennifer McCoy, diretora-fundadora do Institutocnc pokerEstudos Globais da Georgia State University, nos Estados Unidos, e autora do livro Mediação Internacional na Venezuela, prevê que o primeiro impacto seria um grande aumento no númerocnc pokerimigrantes venezuelanos no Brasil, Colômbia e outros países da América do Sul.

No campo econômico, um conflito armado na Venezuela tem potencial para prejudicar investimentos na América do Sul como um todo, inclusive no Brasil, diante da percepçãocnc pokerinstabilidade na região, aponta o professorcnc pokerRelações Internacionais Oliver Stuenkel, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Em relações internacionais, uma eventual ação militar dos Estados Unidos na Venezuela poderia gerar divisões no continente, com alguns países se aliando ao governo americano e outros apoiando Maduro e fortalecendo laços com as potências que dão suporte a ele - Rússia e China.

Além disso, a violência interna na Venezuela e o possível fortalecimentocnc pokerorganizações criminosas poderiam transbordar para os países vizinhos, dizem os especialistas.

Isso porque a situaçãocnc pokerinstabilidade prejudica a cooperação do Brasil com autoridades militares venezuelanas na fronteira, o que pode abrir caminho para um aumento no tráficocnc pokerdrogas, contrabando e desmatamento na Amazônia.

Entenda melhor, abaixo, cada um desses pontos:

Intervenção militar

Segundo analistas e militares, a escalada da crise na Venezuela pode provocar uma reaçãocnc pokerpotências com interesses conflitantes na região, como Estados Unidos, Rússia e China.

Enquanto o governo americano apoia Juan Guaidó, Rússia e China dão suporte econômico a Maduro.

Os Estados Unidos sempre deixaram claro que não descartam uma invasão da Venezuela e pressionam Brasil e demais países da América do Sul a aderirem. Na terça, o secretáriocnc pokerEstado dos EUA, Mike Pompeo, reiterou essa posição.

"O presidente (dos EUA, Donald Trump,) tem sido claro e extremamente consistente. Uma ação militar é possível. Se isso for necessário, é o que os Estados Unidos farão", afirmoucnc pokerentrevista à redecnc pokertelevisão americana Fox.

Mas a ala militar do governo brasileiro já repetiu diversas vezes que descarta a participação do paíscnc pokeruma eventual invasão. "Não existe possibilidade (de ação militar)", disse o vice-presidente Hamilton Mourão, na terça.

Nesta quarta-feira, após se reunir com ministros militares, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) disse que não recebeu, por enquanto, pedido específico dos EUA para que o Brasil forneça apoio logístico ou permita a entradacnc pokertropas americanas no território para uma invasão do país vizinho.

Bombascnc pokergás na Venezuela

Crédito, Miguel Gutierrez/EPA

Legenda da foto, Enquanto EUA não descartam intervir na Venezuela, Brasil tem reiterado que é contra ação militar no país vizinho

Mas a professora Jennifer McCoy afirma que, caso os EUA decidam pela invasão, a pressão que exercerá nos países da América do Sul para aderir pode acabar gerando fissuras.

"Há tensões que podem emergircnc pokerrelação ao papel que os Estados Unidos decidirem assumir. Se os EUA adotarem alguma formacnc pokerintervenção militar, isso dividiria o hemisfério e causaria dilemas difíceis para os governos, inclusive o brasileiro", disse à BBC News Brasil.

Algumas divergências já são visíveis entre países da América do Sul. O presidente da Bolívia, Evo Morales, declarou apoio a Maduro. Brasil e Colômbia se mostram mais alinhados com a políticacnc pokeralta pressão dos EUA, embora a Colômbia seja vista como mais predisposta a dar respaldo militar a uma intervenção americana.

Outras nações, como Uruguai, vêm adotando uma postura intermediária.

Ingerência estrangeira

Militares brasileiros ouvidos pela BBC News Brasil também chamam a atenção para o riscocnc pokeruma ação militar americana abrir caminho para potências internacionais interviremcnc pokeroutros países da região.

"O militar enxerga as coisascnc pokermaneira pragmática, sob a ótica dos interesses do Brasil. Com as voltas que o mundo dá, o Brasil poderia ser alvocnc pokerintervenção no futuro. Temos que tomar cuidado para não sermos peões dentrocnc pokeruma estratégiacnc pokeruma superpotência", afirma o general da reserva Eduardo Schneider, que foi adido militar no Paraguai e atuou com o general Hamilton Mourãocnc pokermissões das Nações Unidas.

Na mesma linha, o professor Oliver Stuenkel, da FGV, aponta que uma intervenção estrangeira pode fazer com que o Brasil perca influência na região.

Mike Pompeo

Crédito, NDREW CABALLERO-REYNOLDS/AFP

Legenda da foto, 'Uma ação militar é possível. Se isso for necessário, é o que os Estados Unidos farão', afirmou o secretáriocnc pokerEstado dos EUA, Mike Pompeo

"Nos últimos anos, o Brasil perdeu liderança regional e agora a gente vê uma América do Sul que não tem influência sobre o que acontece na Venezuela. A influência está passando às mãos das grandes potências", afirma Stuenkel.

"O Brasil é um grande paíscnc pokeruma região que ele não controla."

Conforme as tensões aumentam na Venezuela, fica mais evidente que o país tem se tornado palco da disputacnc pokerpoder entre Estados Unidos e Rússia, tendo a China como coadjuvante.

Na terça, o secretáriocnc pokerEstado americano chegou a dizer que Maduro havia se programado para fugircnc pokeravião para Cuba, mas que foi dissuadido pelo governo russo.

Tanto Maduro quanto o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguey Lavrov, negaram a afirmação e acusaram os Estados Unidoscnc pokerpromoverem uma "guerracnc pokerinformações".

Para Stuenkel, essa situaçãocnc pokerdisputacnc pokerpoder entre potências pode reduzir a margem do Brasil para a tomadacnc pokerdecisões racionais e pragmáticas sobre suas alianças com EUA, Rússia e China.

Isso porque, embora o Brasil tenha, atualmente, identidade ideológica maior com os EUA, a parceria com a China é crucial para a economia brasileira. Portanto, setores do governo, principalmente a ala militar, defendem que o país adote uma posturacnc pokerneutralidadecnc pokerconflitos que envolvam os governos americano e chinês.

"Essa disputa pode contaminar a tomadacnc pokerdecisão sobre parcerias internacionais. Inviabiliza o debate racional sobre como o Brasil deve se comportar nesse mundo rachado entre EUA, Rússia e China", diz Stuenkel.

Escalada da violência e do crime organizado

Embora até o momento as manifestações convocadas por Guaidó não tenham desembocadocnc pokerum conflito militarcnc pokermaior dimensão, os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil não descartam o riscocnc pokeruma guerra civil no país, o que traria consequências graves para a região.

Para Jennifer McCoy, o risco maiorcnc pokerviolência interna vemcnc pokergrupos paramilitares formados pelo governo venezuelano para propagar os "ideais da revolução bolivariana" e combater o crime nas cidades.

"O mais provável não é que um Exército dividido entrecnc pokerguerra, mas sim que haja ações violentas por parte dos 'colectivos', que são as milícias particulares formadas por Maduro, e por parte da Força Especial, grupo paramilitar criado para limpar os bairros pobres do crime e que tem sido usadocnc pokerforma repressiva contra opositores do regime", explica McCoy.

Jair Bolsonaro

Crédito, Adriano Machado/Reuters

Legenda da foto, 'Qualquer hipótese será decidida EXCLUSIVAMENTE pelo Presidente da República, ouvindo o Conselhocnc pokerDefesa Nacional', publicou Bolsonaro, no Twitter

"Mesmo que Maduro deixe o governo pacificamente, há o riscocnc pokerinsurgência a médio e longo prazo por esses grupos."

A pesquisadora diz que a Colômbia seria o país mais vulnerável a uma guerra civil promovida por esses grupos contra opositorescnc pokerMaduro, já que a fronteira daquele país com a Venezuela é mais povoada ecnc pokermais fácil acesso que a fronteira brasileira.

Oliver Stuenkel destaca que uma guerra civil oucnc pokerguerrilha no país vizinho prejudicaria ainda mais as já vulneráveis açõescnc pokercooperação entre Brasil e Venezuela na fronteira para o controle do tráficocnc pokerdrogas, contrabando, desarticulaçãocnc pokerorganizações criminosas e combate ao desmatamento da Amazônia.

"Até mesmo parceriascnc pokerquestõescnc pokersaúde pública, como combatecnc pokerepidemias, poderiam ser inviabilizadascnc pokerfunção desse colapso", diz o professor da FGV.

Impacto econômico

A escalada da crise e a possibilidadecnc pokerviolência entre opositores e apoiadorescnc pokerMaduro também pode ter impacto diretocnc pokerinvestimentos no Brasil.

Investidores estrangeiros, por exemplo, podem encarar um eventual conflito armado na Venezuela como fatorcnc pokerdesestabilizaçãocnc pokertoda a região, reduzindo repasses a países vizinhos, enxerga Stuenkel.

"Tem investidor que não sabe bem a diferença entre os países da América do Sul e que pode segurar investimentos. A crise na Venezuela, com a possibilidade conflitos armados, projeta ao mercado uma imagemcnc pokercontinente à deriva", diz.

Migração

Os venezuelanos já são, atualmente, a segunda população com mais refugiados no mundo, atrás apenas da Síria, segundo a Organização dos Estados Americanos (OEA).

A grande maioria tem se deslocado para a Colômbia (cercacnc poker1,2 milhão) e outros paísescnc pokerlíngua espanhola da América do Sul, como Peru (700 mil) e Chile (265,8 mil). Mas um contingente cada vez maiorcnc pokerpessoas chega a cada dia ao Brasil via Pacaraima,cnc pokerRoraima.

Até o finalcnc poker2019, a previsão da OEA écnc pokerque haja entre 5,3 milhões e 5,7 milhõescnc pokerimigrantes venezuelanos pelo mundo.

migrantes venezuelanos

Crédito, Nacho Doce/Reuters

Legenda da foto, Segundo especialistas, um conflito armado na Venezuela aumentaria o fluxo migratório para países vizinhos, como o Brasil

"O Brasil já está sendo afetado pela crise humanitária, que tende a continuar. Não há sinalcnc pokermelhora e uma escalada da violência na Venezuela pode provocar um fluxo migratório ainda maior", diz Jennifer McCoy.

O grande problema, segundo os especialistas, não é a incapacidade do Brasilcnc pokerabrigar os venezuelanos - já que está recebendo uma parcela muito menor que os demais países da América do Sul - mas sim a necessidadecnc pokergarantir recursos suficientes para a acolhida e realocação dos migrantes que chegam por Pacaraima.

Na terça, o presidente Bolsonaro assinou uma medida provisória liberando R$ 223,8 milhões para assistência emergencial e acolhimento dos cidadãos venezuelanos que chegam ao Brasil.

E quais as possíveis consequências das investidascnc pokerGuaidó?

Evidentemente, ainda é difícil dizer ao certo o que pode acontecer na Venezuela após a declaraçãocnc pokerGuaidócnc pokerque possui apoio militar para retirar Maduro do poder.

Mas Jennifer McCoy traça três cenários. O melhor deles, segundo ela, seria se Guaidó e Maduro reconhecessem a impossibilidadecnc poker"eliminar" um ao outrocnc pokerimediato, e concordassemcnc pokernegociar a formaçãocnc pokerum governocnc pokertransição para preparar novas eleições.

Um segundo cenário seria Maduro conseguir convencer as forçascnc pokerinteligência ecnc pokersegurança a retornar a uma estratégiacnc pokerforte repressão à oposição, inclusive prendendo Guaidó.

Guaidó

Crédito, FEDERICO PARRA/AFP

Legenda da foto, Juan Guaidó declarou que tem apoio das Forças Armadas e instou a população a tomar as ruas para pressionar Maduro a deixar o poder

"Ontem vimos bem menos repressão que no ano passado e, até agora nem Guaidó, nem Leopoldo López (outro líder da oposição) foram presos. Parece haver muito mais resistência entre as forçascnc pokerinteligência e militarescnc pokerperseguir a oposição e o centro", ressalva.

Uma terceira possibilidade, que McCoy considera pouco provável, é que o apelocnc pokerGuaidó por manifestações contra Maduro garanta uma mobilização popular capazcnc pokergerar ampla retiradacnc pokerapoio ao governo, pressionando o presidente a deixar o poder.

"Dificilmente haverá esse volume todocnc pokermanifestantes, até porque há uma grande confusão sobre o que aconteceu ontem e a oposição tem dificuldade para se comunicar e planejar, já que o governo controla as comunicações na internet e nas redes sociais."

Enquanto isso, o climacnc pokerincerteza permanece. E os governos da America do Sul, inclusive do Brasil, aguardam o desenrolar dos acontecimentos desta semana para decidir como agir.

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