Brumadinho: ‘gritos, crianças chorando e fogo’, voluntário descreve horrorbetesporte 91resgate que ‘não passa na televisão’:betesporte 91
Assim como Silvânia, outras centenasbetesporte 91voluntários foram a Brumadinho para ajudar nos resgates e no apoio aos familiaresbetesporte 91vítimas – a reportagem da BBC News Brasil conversou com alguns deles.
Silvânia acompanhava outros voluntários que ajudavam na região atingida pelos rejeitos desde o dia anterior. "Vi que tinha muita necessidadebetesporte 91ajuda, porque o númerobetesporte 91vítimas era assustador. Como tenho um jipe, fui para ajudar a levar comidas aos socorristas e auxiliar desabrigados", explica.
Mas quando chegou ao local, os bombeiros pediram que ela utilizasse a experiência como brigadista voluntária para auxiliá-los nos caminhosbetesporte 91mata da região. "Naquelas áreas, que são fechadas, helicópteros e drones não poderiam ajudar, então eles precisariam ir a pé."
A professora conta que fez um pedido aos bombeiros: não queria ver corpos. "O que gosto ébetesporte 91salvar vidas. Não tenho estrutura para ver corpos", diz.
"Nunca vi tanto horror na minha vida. A lama não deixou vestígios. Ela passou varrendo tudo.".
Até o momento, 99 mortes foram confirmadas. Há 259 pessoas desaparecidas.
Orientações a ribeirinhos
O socorrista Diego Dias também se sensibilizou com a tragédiabetesporte 91Brumadinho e foi ao local para prestar ajuda. Ele morabetesporte 91Queluz (SP) e chegou à cidade mineira por volta das 2h30betesporte 91sábado. Por ter experiência com primeiros socorros, transitou pela região atingida pelos rejeitos junto com uma equipe da Cruz Vermelha.
"Fomos procurar por vítimas e também visitamos as casas localizadas nas proximidades, porque havia o riscobetesporte 91estourar outra barragem", comenta.
Pelas margens da lama, procuravam vítimas. Quando avistavam um corpo, informavam a uma equipe do Corpobetesporte 91Bombeiros, que iabetesporte 91helicóptero ao local. "Ninguém conseguia andar no barro, então somente o helicóptero poderia retirar os corpos", relata. A equipe da qual fez parte não encontrou nenhum sobrevivente.
Diego e outros ocupantes do veículo da Cruz Vermelha passaram pelas casasbetesporte 91pessoas que vivem à beira do rio Paraopeba.
"Explicamos que era uma áreabetesporte 91risco e orientamos que eles deveriam ir para um lugar mais seguro, como escolas e faculdades, que a defesa civil da região disponibilizou. Muitas daquelas pessoas eram idosas, sem recursos e sequer sabiam o que estava acontecendo. A única coisa que eles nos disseram era que haviam estranhado que na noite anterior sentiram a terra tremer."
"Algumas pessoas não quiseram sairbetesporte 91casa, mesmo com nosso alerta. Nesses casos, tivemos que informar a situação para a Polícia Militar, porque era um risco a permanência delas ali", acrescenta.
Ele conta que uma das situações mais complicadas era quando familiares cobravam respostas sobre desaparecidos. "Eu fiquei muito chocado ao ver famílias gritando desesperadas e pedindo respostas. Nós, voluntários, não tínhamos essas respostas", lamenta.
"A televisão mostra imagens que faz parecer com que o trabalho do resgate é bonito. Mas, no local, presenciando pessoas gritando, crianças chorando, postes pegando fogo e barro descendo. É uma coisa muito forte. Foi chocante. Não tenho como explicar", declara.
Na tardebetesporte 91sábado, ele conta que a equipe suspendeu os trabalhos na região,betesporte 91razãobetesporte 91uma forte chuva que atingiu o local. Na manhãbetesporte 91domingo, os trabalhos foram suspensos por um período,betesporte 91razão da possibilidadebetesporte 91rompimentobetesporte 91mais uma barragem. A hipótese, porém, foi descartada horas mais tarde.
Rio poluído
O fotógrafo Marcos Dâmaso foi ao local com um amigo, que tem dois cães farejadores. Moradoresbetesporte 91Betim (MG), eles chegaram a Brumadinho na manhãbetesporte 91sábado.
"Desde que fiquei sabendo da tragédia, tive vontadebetesporte 91ir ajudar. Nosso principal objetivo era salvar vidas", relata à BBC News Brasil.
Ele conta que se cadastrou, com o amigo,betesporte 91uma área destinada a voluntários e logo começou as buscas. "Um bombeiro nos acompanhou durante todo o trajeto", diz.
O grupo do fotógrafo, que também é biólogo, caminhou por cercabetesporte 9112 quilômetros. "Fomos por uma trilha na regiãobetesporte 91uma linhabetesporte 91trem", comenta ele, que se diz desolado com a destruição que viu.
"No rio Paraopeba, uma parte da água estava clara, enquanto a parte atingida pelos rejeitos estava muito escura e avermelhada. Foi um contraste muito grande. Provavelmente, por se tratarbetesporte 91rejeitobetesporte 91minério, está contaminado com materiais pesados, como chumbo e mercúrio. Há chancesbetesporte 91contaminar os rios da região", avalia.
Dâmaso e os companheirosbetesporte 91trajeto, incluindo os cães farejadores, não encontraram nenhuma vítima durante o caminho.
"Vi um Fiat Uno tombado, pedaçosbetesporte 91casas, uma cama e várias outras coisas sendo levadas pelo rio. Foi a primeira vez que vi uma tragédia desse nível."
Eles ficaram por cercabetesporte 91quatro horas na trilha. Avistaram uma regiãobetesporte 91lama e tentaram entrar para procurar vítimas, mas logo desistiram. "O meu amigo colocou o pé ali e começou a afundar, então logo saímos."
"É uma experiência nada fácil. Não é fácil saber que tem centenasbetesporte 91corpos naquela lama."
O voluntário torce para que os responsáveis pelo crime ambiental sejam punidos.
"Espero que as pessoas que tenham a ver com isso sejam presas. É o que deve ser feito para resolver. Não adianta aplicar multa apenas. Não podemos deixar essas pessoas sem punição."
Voluntáriobetesporte 91Mariana ebetesporte 91Brumadinho
O bombeiro Denis Valério estavabetesporte 91Pedro Leopoldo (MG), onde mora, quando soube da tragédiabetesporte 91Brumadinho. Três anos atrás, ele havia atuado como voluntário nos resgastes após o rompimento da barragem na vizinha Mariana (MG).
Era cercabetesporte 9121hbetesporte 91sexta-feira quando ele chegou à região atingida pelas barragens, onde ajudou a retirar a população ribeirinha das áreasbetesporte 91riscos.
"Eu disse a eles sobre os perigosbetesporte 91permanecer ali, principalmente porque muitos rejeitos se acumularam no rio e apresentavam riscos para eles, caso o nível da água subisse", conta.
Também auxiliou na busca por vítimas. "Infelizmente, a minha equipe não conseguiu localizar ninguém."
O programador Felipe Butcher, que mora no bairro Casa Branca, seguiu para a região da mina Córrego do Feijão ainda no início da tardebetesporte 91sexta-feira, logo que viu mensagens sobre a tragédiabetesporte 91gruposbetesporte 91WhatsApp.
"Alguém que estava na Vale mandou um áudio gritando e contando sobre o ocorrido. A dúvidabetesporte 91ir ou não foi grande. Muitas pessoas dos grupos falaram para não ir, mas outros disseram que iriam. Coloquei os equipamentosbetesporte 91proteção no carro e fui", diz.
Ele também é brigadista voluntáriobetesporte 91incêndios florestais e afirma que não havia atuadobetesporte 91resgates. "Nunca pensei que um dia viveria uma experiência como a que tive no Córrego do Feijão."
Em poucos minutos, ele chegou ao local. "A minha casa é próxima ao 'Feijão'. Logo que cheguei, ainda havia poucos bombeiros. A base da operação estava sendo montada. Estavam chegando ambulâncias e helicópteros. Em pouco tempo, havia mil bombeiros, equipesbetesporte 91polícia e o mais tristebetesporte 91todos: o caminhão preto do Instituto Médico Legal (IML)", declara.
Felipe narra que viu, na região da tragédia, várias pessoas chorando, gritando e tentando ligar para entes queridos que estavam desaparecidos. "Cada família que aparecia estava procurando alguém", comenta.
Diversos brigadistas florestais voluntáriosbetesporte 91Casa Branca se apresentaram às equipesbetesporte 91Corpobetesporte 91Bombeiro que estavam no local. "Alguns bombeiros já nos conheciam e aceitaram a nossa ajuda. Conhecemos bem a região e eles sabiam que conseguiríamos entrar bem no mato dali", detalha.
Ele e alguns voluntários desceram até as regiões atingidas pelos rejeitos. "Andamos pouco, porque nos mandaram voltar. Com medo, voltamos", diz. Quando retornaram para o lugar onde estavam as equipesbetesporte 91resgate, ele comenta que viu helicópteros puxando corpos, já envoltosbetesporte 91plásticos pretos.
"Era uma cena surreal. Coisabetesporte 91filme. Famílias estavam atrás da cerca chorando e,betesporte 91longe, tentavam ver se era um deles. Hora chegava corpo, hora chegava alguém vivo. Os corpos eram colocados no caminhão do IML e levados o mais rápido possível. O caminhão ia cheio e voltava vazio, como se fosse carga", detalha.
Horas depoisbetesporte 91chegar ao Córrego do Feijão, ele e outros voluntários foram autorizados a descer até a região atingida, junto com a equipebetesporte 91salvamento, que incluía bombeiros e brigadistas.
"Pegamos caronas com jipeiros. Todas as tribos estavam ali tentando ajudar como podiam. Vimos uma ponte gigantebetesporte 91concreto derrubada. Descemos do jipe. Andamos e andamos muito, seguindo a linha do trem que beirava o rio Paraopeba", conta.
Eles não encontraram nenhuma vítima da tragédia. "Isso foi muito triste, porque tudo o que eu queria era salvar alguém. Mas não tive essa oportunidade", diz à BBC News Brasil.
No domingo, a equipe que ele acompanhava foi até uma pousada da região atingida pelos rejeitos. Felipe não quis ir. "Não tive estômago", conta. No local, segundo ele, foram encontrados diversos corpos e apenas uma pessoa com vida. "O lugar foi completamente destruído pela lama."
Ao avaliar os diasbetesporte 91que auxiliou os resgates, ele ressalta que a parte mais difícil foi acompanhar os corpos sendo encaminhados ao IML. "Outra parte triste é saber que tem gente que provavelmente nunca vai ser encontrada", lamenta.
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