Governo Bolsonaro: Intervenção na segurança é solução radical e não deve ser replicada, diz novo ministro da Defesa:bwin

Bolsonaro com o novo ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva

Crédito, AFP

Legenda da foto, Cerimôniabwintransmissãobwincargo a Fernando Azevedo e Silva no Ministério da Defesa foi a única da qual Bolsonaro participou fora do Planalto

Único ministro que contou com a presençabwinBolsonarobwincerimôniabwintransmissãobwincargo fora do Palácio do Planalto, Fernando Azevedo e Silva reuniu um públicobwincercabwin800 pessoas - principalmente do meio militar -bwinevento no Clube do Exército. Na ocasião, Bolsonaro, já na condiçãobwincomandante supremo das Forças Armadas, prestou continência ao ministro.

Azevedo e Silva, logo após almoço com o presidente, disse que Bolsonaro tem muita flexibilidade e escuta muito os ministros. "Ele mudabwinopinião, se você convencer ele."

A entrevista do ministro foi concedida na tarde desta quinta-feira, antes da veiculação da entrevistabwinBolsonaro ao SBT, na qual o presidente defendeu flexibilizar o acesso a armas por meiobwindecreto.

Para Azevedo e Silva, as regras no formato atual criam "a opçãobwinter violência sóbwinum lado, que é a do bandido".

GeneralbwinExército da reserva, Azevedo e Silva é conhecido entre os militares por ter experiência no mundo político. Ele já trabalhou como ajudantebwinordens durante o mandato do presidente Fernando CollorbwinMello (1990-1992) e presidiu a Autoridade Pública Olímpicabwin2013 e 2014. Também esteve à frente do Comando Militar do Leste e chefiou o Estado Maior do Exército. Antesbwinassumir o Ministério da Defesa, foi assessor especial do presidente do Supremo Tribunal Fernando, Dias Toffoli.

Confira os principais trechos da entrevista:

bwin BBC News Brasil - O presidente pediu que os ministros entregassem prioridades das pastas. Quais o sr. apontou?

bwin Fernando Azevedo e Silva - A Defesa talvez seja o único ministério que tenha uma prioridade só, sempre. As forças têm que se preparar para um possível emprego, têm que estarbwinestadobwinprontidão permanente e, para isso, temos que ter os recursos necessários, uma formação necessária, temos que estarbwincondiçõesbwincumprir o que está no artigo 142 da Constituição (que rege as Forças Armadas, dizendo por exemplo que estas "destinam-se à defesa da pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativabwinqualquer destes, da lei e da ordem").

Apresentei a reestruturação da força como prioridade, com duas vertentes: uma é a racionalização da atividade meio para que os recursos sejam mais empregados nas atividades-fim das Forças Armadas. A outra vertente é reestruturação da carreira.

Fernando Azevedo e Silva

Crédito, Reuters

Legenda da foto, 'Brasil está com problema muito sério e temos que torcer para que a economia do Brasil dê certo, ou alavanque um pouco mais, para que sobre um pouco mais (de verbas) para a gente também'

bwin BBC News Brasil - Como reestruturar a carreirabwinmomentobwinajuste fiscal? O senhor faloubwincriar incentivos.

bwin Azevedo e Silva - A reestruturação da carreira é o incentivo maior à profissão militar, com o atendimento da família militar, o problema da defasagem (salarial)bwinrelação a outras carreirabwinEstado. Isso depende da recuperação econômica do país. A equipe econômica está começando uma caminhada agora. O Brasil está com problema muito sério e temos que torcer para que a economia do Brasil dê certo, ou alavanque um pouco mais, para que sobre um pouco mais para a gente também.

O governo não tem uma máquinabwindinheiro. Não posso ser egoístabwinrelação, por exemplo, a saúde, educação e segurança pública. Tenho que enxergar que o Brasil tem uma demanda muito grande nesses itens.

bwin BBC News Brasil - Sobre a atuação das Forças Armadas na fronteira com a Venezuela, o senhor prevê continuidade na interiorização ou pode haver mudança?

bwin Azevedo e Silva - Aquilo é uma ajuda humanitária, que enquadramos como operação logística e visa a acolher os venezuelanos que nos procuram, dar atendimento médico, alimentação, higiene, e fazer interiorização. É uma ajuda grande que estamos dando ao povo venezuelano, que estábwindificuldade.

Os recursos estão previstos até o fimbwinmarço e não podemos colocar recursos orçamentários nossos (da Defesa)bwinuma missão dessa, porque aquilo ali é um problema do país. Só contamos com recursos para o preparo, não para o emprego (das Forças Armadas), a não serbwinemergência. Aquilo não é emergência, já está há um ano ali.

bwin BBC News Brasil - Então, vai dependerbwinquem?

bwin Azevedo e Silva - Vai depender da Presidênciabwindisponibilizar recursos e tem o ajuste político, se vai continuar… Eu acredito que continue. Ainda tem uma passagem na fronteirabwinPacaraima (RR)bwin500 venezuelanos por dia, contando turistas. Os abrigos nossos estão no limite e a interiorização é um processo, o Estado tem que acolher.

Pacaraima, na fronteira entre Brasil e Venezuela

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Pacaraima, na fronteira entre Brasil e Venezuela; estima-se que 500 venezuelanos entrem na cidade por dia, diz ministro

bwin BBC News Brasil - Sem essa verba, qual seria a opção? Fechar a fronteira?

bwin Azevedo e Silva - Não foram pensadas as opções. Essa não deixabwinser uma, mas é radical demais, o Brasil não é um país assim. Eu acredito que não aconteça.

bwin BBC News Brasil - Como o sr. vê a possibilidadebwinampliar o acesso a armas? Vai aumentar ou diminuir a segurança no país?

bwin Azevedo e Silva - Não é aumentar, o termo é flexibilizar mais, sem abrir mãobwinalgumas exigências, como o exame psicotécnico, a questão dos antecedentes criminais e qual é a verdadeira necessidade. Não vai se abrir o portebwinarma, não é isso. É uma flexibilidade um pouco maior.

bwin BBC News Brasil - Isso vai aumentar a segurança?

bwin Azevedo e Silva - Eu acho que sim. As estatísticas do mundo apontam nessa direção. É um problemabwindissuasão. Por que o bandido está com um fuzil cada vez mais sofisticado e um proprietário rural não pode defender suas terras? Ele tem que ter algumas armasbwinrelação a isso, mas tem que ser bem amarrado.

bwin BBC News Brasil - Sobre as estatísticas, ter mais armas circulando não traz mais violência?

bwin Azevedo e Silva - Vamos enxergar um outro lado: aí vai dar a opçãobwinter violência sóbwinum lado, que é a do bandido, do jeito que é hoje.

bwin BBC News Brasil - Vários Estados brasileiros passam por crise na segurança pública. O exemplo da intervenção federal no RiobwinJaneiro é um modelo que deve ser replicadobwinoutros lugares?

bwin Azevedo e Silva - Não. A intervenção foi um instrumento muito forte, que mostrou a incapacidadebwino Estado prover a segurança pública, que é dever previsto na Constituição. O ideal é que o Estado tenha seus meios para a questãobwinsegurança pública. Essa aí é uma solução um pouco radical, mas foi necessária. O que o governo federal tem que fazer é uma coordenação maiorbwinnívelbwinBrasil numa parte comum regulatória,bwinleis,bwininteligência. Mas o agente responsável pela segurança pública tem que ser fortalecido no Estado.

Militares atuandobwinfavela carioca,bwinfotobwinmarçobwin2018

Crédito, AFP

Legenda da foto, 'A intervenção foi um instrumento muito forte, que mostrou a incapacidadebwino Estado prover a segurança pública, que é dever previsto na Constituição'

bwin BBC News Brasil - O presidente foi eleito com discurso voltado para questão da segurança. O sr. prevê uma cobrançabwingovernos locais e população por uma atuação maior das Forças Armadas nessa área?

bwin Azevedo e Silva - Não. A demanda já estava sendo feita há tempos, a respeitobwinajuda nossa. No Rio, que a situação era pior um pouco, foi a intervenção. O grande resultado dela será (visto) se o governo que está assumindo seguir o previsto no plano estratégicobwinsegurança pública do Rio, que foi feito pelo governobwinintervenção. Em nove meses não é possível mudar radicalmente o quadro local, mas, se seguir aquele planejamento, a médio e longo prazo o Rio terá resultado muito bom.

bwin BBC News Brasil - O que muda para o Brasil e o meio militar o fatobwinter sido eleito um presidente vinculado à imagem das Forças Armadas?

bwin Azevedo e Silva - Isso é um pensamento que vocês colocam, mas que não está muito certo. Uma coisa é que o presidente Bolsonaro foi eleito legitimamente. Outra coisa é que a origem dele é militar. Ele foi formado com todo o mérito na Academia Militar das Agulhas Negras. Nós temos muito orgulhobwinter o primeiro presidente da República eleito pelo voto formado nos bancos acadêmicos da Academia Militar das Agulhas Negras. Outra coisa é que ele tem uma bagagem parlamentar muito grande. Ele conhece profundamente as coisasbwininteresse das Forças Armadas pelos mandatos como parlamentar.

bwin BBC News Brasil - Então, nas palavras do sr., o que muda no país tendo "o primeiro presidente da República eleito pelo voto formado nos bancos acadêmicos da Academia Militar das Agulhas Negras"?

bwin Azevedo e Silva - Ele tem uma formação rígida e ele não provou isso só nos 18 anosbwinserviço que ele teve, mas nos 27 anosbwinmandato parlamentar. Você não tem um processo, uma queixa, uma coisa com problemabwinhonestidade e desviobwinrecurso. Ele foibwinum mandato parlamentar muito íntegro.

bwin BBC News Brasil - Ministro, mas e a questão do Queiroz, ex-assessor, e também da funcionária do gabinete dele…

bwin Azevedo e Silva - O assessor era do filho dele, aí é outro problema. Estamos falando do presidente supremo das Forças Armadas. Dos outros, não vou me pronunciar, não.

Agulhas Negras

Crédito, EPA

Legenda da foto, Cadetes dos Agulhas Negras, dos quais Bolsonaro fez parte; '(Bolsonaro) conhece profundamente as coisasbwininteresse das Forças Armadas pelos mandatos como parlamentar', diz ministro

bwin BBC News Brasil - Durante a posse, houve reclamação dos jornalistas sobre o tratamento dado à imprensa. Inclusive jornalistas estrangeiros deixaram a cobertura. O que o sr. achou das condições?

bwin Azevedo e Silva - Eu não cheguei a ver isso aí, não acompanhei.

bwin BBC News Brasil - O sr. tem uma relação cordial com a imprensa, mencionou no seu discursobwinposse a importância da mídia para a transparência e para cobrar o governo. É muito diferente do perfil do Bolsonaro. O sr. acredita que ele vai manter esse perfil?

bwin Azevedo e Silva - São características pessoais e funcionais. Ele tem uma coisa moderna, que eu não tenho, as redes sociais. A imprensa ainda tem que se acostumar um pouco maisbwinnão ser a gerente do furobwinreportagem. Coloca no Twitter "nomeei o ministro fulanobwintal", acabou o furobwinreportagem. Ele é o autor. O WhatsApp, Twitter, Instagram, deram ligação direta entre o personagem e o público, sem intermediários. Ele usa bem isso, como outros presidentes estão usando. Eu não tenho. Eu prefiro conversar e extrair o que vocês (jornalistas) estão pensando.

Ele parece que é uma pessoa difícil e dura, mas não é. Ele tem muita flexibilidade e escuta muito os ministros. Ele mudabwinopinião, se você convencer ele.

bwin BBC News Brasil - A reforma da Previdência é um assunto delicado para vocês, porque argumentam que têm um sistema social paralelo e não chamambwinaposentadoria. Mas se fala muito da necessidadebwinmudar regras para os militares. O sr. vai defender que não haja mudança para esse público?

bwin Azevedo e Silva - Os militares não serão atingidos, porque o militar não tem Previdência.

bwin BBC News Brasil - E uma mudança no sistemabwinproteção social, como vocês denominam?

bwin Azevedo e Silva - É uma outra discussão. Se o projeto for para mudar o sistema previdenciário, nós não estamos nele. Temos uma proteção por causa das especificidades da carreira militar.

bwin BBC News Brasil - Vocês não gostambwincomparação com o mundo civil...

bwin Azevedo e Silva - Não é que a gente não gosta, é outro conceito: não é justo.

bwin BBC News Brasil - Entre militares, comparando com outros países, há paísesbwinque os militares vão mais tarde para a reserva.

bwin Azevedo e Silva - Quem tem sistema previdenciário (para militares) no mundo são três ou quatro países só, no restante tem sistema diferenciado.

bwin BBC News Brasil - Bolsonaro iniciou o discurso dele na cerimôniabwinposse do sr. com uma falabwinagradecimento ao comandante do Exército, general Villas Boas, e disse que ele é um dos responsáveis pela chegada à Presidência. Despertou curiosidade ele dizer ao comandante do Exército: "o que já conversamos ficará entre nós". O que eles conversaram?

bwin Azevedo e Silva - Tendobwinvista a situação delicada do nosso comandante, uma doença danosa, ele quis fazer um agrado ali e dar a importância ao general. A minha leitura foi essa. Eles conversam. Como os outros candidatos foram conversar, Bolsonaro quando lançou a candidatura foi falar com ele, o Villas Boas deve ter dado alguns conselhos a ele. Ele quis dar uma deferência especial ao comandante do Exército. Agora, se tem alguma coisa, os dois conversaram sós, eu não sei, não.

bwin BBC News Brasil - Por que a cerimôniabwintransmissãobwincargo do sr. foi a única que o presidente participou fora do Planalto?

bwin Azevedo e Silva - Quem sabe ele tinha um horário disponível? (risos) Ele foi porque é a origem dele. É como você ser convidada a ir para a formatura da faculdade antiga sua: vai arrumar tempo e vai. Ali ele foi metade como presidente e metade como comandante supremo das Forças Armadas, que a Constituição diz que é ele. Foi a primeira solenidade que ele poderia ser investidobwincomandante supremo das Forças Armadas.

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