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Missionários aprendem até a pilotar avião para evangelizar índios na Amazônia:1xbet t
A associação tem um Departamento1xbet tAssuntos Indígenas, cuja missão é "atender demandas sociopolíticas oriundas das agências filiadas junto aos órgãos governamentais", como obter autorizações para atuar1xbet tterras indígenas e influenciar congressistas1xbet tdebates sobre o trabalho missionário1xbet taldeias.
Uma das entidades filiadas é a Asas1xbet tSocorro, criada por missionários americanos1xbet t1955 e que mantém1xbet tAnápolis (GO) uma escola para formar pilotos e mecânicos dedicados "à causa do evangelismo nas aldeias, comunidades ribeirinhas e povos tradicionais, habitantes1xbet tregiões isoladas ou1xbet tsituação1xbet trisco na Amazônia".
A formação completa dura quatro anos e custa cerca1xbet tR$ 1.500 ao mês, valor subsidiado pela organização, e garante ao aluno licenças1xbet tpiloto comercial, voo por instrumentos e instrutor1xbet tvoo.
Em cursos1xbet tpiloto anunciados na internet, as mensalidades chegam a R$ 4.200/mês.
A Asas1xbet tSocorro tem bases1xbet tRoraima, Rondônia e no Amazonas. Um instrutor disse à BBC News Brasil que, após a conclusão do curso, espera-se que o voluntário passe a prover apoio logístico a missionários que já estejam1xbet taldeias.
Os pilotos também podem fazer cursos para participar da evangelização direta dos grupos, além1xbet tatuar1xbet temergências, resgatando missionários ou indígenas doentes. As operações são financiadas por doadores individuais e igrejas parceiras da Asas1xbet tSocorro.
'Religiões tradicionais e espiritismo'
Com sede nos EUA, a agência missionária Association of Baptists for World Evangelism (Associação Batista para o Evangelismo Global) também emprega aviadores missionários no Brasil.
Em seu site a organização conclama voluntários a servir no país, descrito como um local onde "religiões tradicionais e o espiritismo ainda abarcam parte da população".
Muitas organizações filiadas à AMTB têm sede no exterior - caso da WEC (Worldwide Evangelisation for Christ), criada por um britânico1xbet t1913 e que diz ter como meta "envolver-se com 33 novos povos"1xbet t20181xbet tparceria com as igrejas brasileiras.
Algumas organizações se especializam no treinamento antropológico e linguístico dos missionários.
"Nunca houve uma época1xbet tque os missionários fossem tão bem preparados como agora", diz à BBC News Brasil o presidente da Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB) e vice-presidente da Associação das Missões Transculturais Brasileiras (AMTB), Edward Luz.
Luz diz que mais1xbet t1.700 missionários já foram formados pelo Instituto Bíblico Peniel, braço educacional da MNTB, fundada1xbet t1953 e hoje presente1xbet t50 etnias brasileiras. O curso dura quatro anos e meio e tem aulas1xbet tteologia, antropologia e linguística.
A formação busca preparar o aluno para iniciar o trabalho missionário do zero1xbet tqualquer etnia, falante1xbet tqualquer língua,1xbet tqualquer lugar do mundo. O missionário tem acesso a técnicas para aprender um idioma qualquer por conta própria, transliterá-lo para nosso alfabeto e traduzir a bíblia para a língua aprendida.
O objetivo da MNTB é estimular as comunidades a criar suas próprias igrejas evangélicas. Entre os povos que não falam português, os cultos são sempre celebrados na língua local.
Foi essa a estratégia que eles aplicaram, por exemplo, entre os Wari' (também conhecidos como Pacaas Nova), grupo contatado pela MNTB1xbet t1956,1xbet tRondônia. "A igreja deles é totalmente Pacaa Nova. Eu nunca seria pastor numa aldeia indígena", diz Luz.
Salvação do inferno
Durante o curso1xbet tformação, os candidatos a missionários da MNTB assistem à peça teatral Clamor1xbet tBatum - que, segundo a organização, reproduz um episódio real ocorrido na Papua Nova Guiné, país na Oceania.
Na peça, um grupo1xbet tjovens missionários visita pela primeira vez uma aldeia onde outros colegas já atuavam. "Olha só essa nativa. Ela é muito bonita, e eu aqui pensando que eles iam ser muito feinhos", diz uma das visitantes. "É, eles são seres humanos como nós, e Jesus também ora por eles", replica um missionário mais velho.
Na trama, um grupo1xbet taborígenes implora para que os missionários se desloquem para outra aldeia para catequizar seus parentes e livrá-los do inferno após a morte. Diante da negativa dos religiosos, que alegam não serem numerosos o suficiente para a tarefa, a peça se encerra com uma choradeira coletiva.
A audiência é, assim, estimulada a unir-se ao esforço evangelizador para impedir que tantos povos não cristianizados tenham destino semelhante ao dos aborígenes papuásios.
Encenações também estão entre as estratégias da organização americana New Tribes Mission para angariar missionários.
A entidade montou na Pensilvânia uma réplica1xbet tuma aldeia Yanomami, povo que habita o Brasil e a Venezuela. Nela, voluntários interagem com atores que se passam por membros do grupo indígena.
A experiência é oferecida durante um retiro1xbet tfim1xbet tsemana batizado1xbet tWayumi - termo que, segundo os organizadores, é adotado pelos Yanomami para se referir a viagens curtas.
Segundo a organização, o retiro "dará a você e a seu grupo uma visão panorâmica1xbet tpovos ainda não contatados pelo mundo. Ela abrirá seus olhos para o que deve ser feito para acançar esses grupos".
103 etnias sem missionários
O esforço para recrutar voluntários busca preencher lacunas na evangelização1xbet tíndios na Amazônia.
Em 2017, numa palestra na Faculdade Teológica Sul Americana,1xbet tLondrina (PR), o pastor Ronaldo Lidório - um dos principais nomes da atividade missionária no Brasil - disse que indígenas são o grupo populacional brasileiro com maior carência1xbet tmissionários, seguidos por ribeirinhos, quilombolas, ciganos e sertanejos.
Segundo Lidório, 103 etnias brasileiras não têm a presença1xbet tqualquer missionário.
"Quarenta delas estão abertas para o Evangelho, mas a realidade é que não há missionários", afirmou.
Não há dados oficiais sobre o avanço1xbet tigrejas evangélicas entre povos indígenas brasileiros. Em alguns povos, porém - caso dos Terena,1xbet tMato Grosso do Sul, e dos Baniwa, no Amazonas - a maioria dos integrantes se declara evangélica.
Em algumas regiões, como no Alto Rio Negro, há forte presença católica entre os indígenas por influência1xbet tmissões instaladas nos últimos séculos. Hoje, porém, a Igreja Católica diz ter abandonado a evangelização1xbet tindígenas e valorizar as crenças ancestrais dos grupos.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão ligado à Igreja Católica, diz atuar junto a mais1xbet t180 povos indígenas brasileiros respeitando o protagonismo dos grupos e "dentro1xbet tuma perspectiva mais ampla1xbet tuma sociedade democrática, justa, solidária, pluriétnica e pluricultural".
Autorização para entrar1xbet tterra indígena
Pelas regras atuais da Funai, missionários só estão absolutamente impedidos1xbet tentrar1xbet tterritórios1xbet tpovos indígenas isolados - restrição que vale para qualquer outro grupo1xbet tpessoas.
Para ingressar nas demais terras indígenas, eles precisam1xbet tuma autorização da Funai ou da Sesai (Secretaria Especial1xbet tSaúde Indígena).
Segundo servidores da Funai que não quiseram ser identificados, muitos missionários obtêm autorizações com a justificativa1xbet tprestar serviços à comunidade, como assistência1xbet tsaúde.
De acordo com o Portal da Transparência, a entidade filantrópica que mais recebeu recursos da União nesta década foi uma ONG presbiteriana que atua junto a indígenas - a Missão Evangélica Caiuá, que mantém um convênio com o Ministério da Saúde para administrar 18 dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas. No período, a ONG - que1xbet tseu site diz trabalhar "a serviço do índio para a Glória1xbet tDeus" - recebeu cerca1xbet tR$ 2 bilhões1xbet tverbas públicas.
Linguistas missionários
Outras entidades recebem autorização para entrar1xbet tterras indígenas com base1xbet tconvites da própria comunidade. Em alguns casos, indígenas que moram1xbet tcidades e já foram catequizados servem1xbet tponte entre os missionários e suas aldeias1xbet torigem.
Há ainda missionários que conseguem autorizações com o pretexto1xbet testudar línguas indígenas - prática que chegou a ser apoiada por um dos patronos do indigenismo brasileiro, o antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1977).
Enquanto trabalhava no Serviço1xbet tProteção ao Índio (órgão antecessor da Funai), Darcy Ribeiro abriu portas para que missionários estrangeiros do Summer Institute of Linguistics (SIL) se instalassem1xbet taldeias e estudassem línguas nativas brasileiras, julgando que o trabalho ajudaria a preservá-las.
A aliança do Estado brasileiro com o grupo foi rompida, mas o SIL se mantém ativo no país. Outra influente entidade no ramo é a Associação Linguística Missionária Evangélica (Alem), criada a partir1xbet tuma subdivisão do SIL, a Wycliffe Bible Translators.
A Alem diz1xbet tseu site que há no Brasil 69 línguas indígenas sem a bíblia traduzida,1xbet tum total1xbet t274. A organização diz trabalhar "com o sonho1xbet ttornar a Palavra acessível a todos os povos e línguas ainda não alcançados".
Zonas cinzentas
Segundo servidores da Funai, missionários se aproveitam1xbet tzonas cinzentas na legislação para expandir suas operações entre indígenas.
Muitas vezes, dizem eles, religiosos que entram nas aldeias com a justificativa1xbet tprestar serviços ou estudar línguas aproveitam o acesso para tentar converter indígenas durante1xbet testadia ou conseguir o aval para a instalação1xbet tuma missão. A Funai só é acionada nos casos1xbet tque essa atuação gera conflitos.
A SIL e a ALEM não responderam a pedidos1xbet tentrevista da BBC News Brasil sobre suas práticas.
Questionada sobre as regras para autorizar o trabalho missionário1xbet taldeias, a Funai disse1xbet tuma nota que a Constituição determina o respeito aos "costumes, línguas, crenças e tradições dos povos indígenas". "Assim, a Funai não autoriza o ingresso1xbet tpessoas com projeto1xbet trealizar trabalho missionário1xbet tevangelização, a menos que esta seja uma demanda da própria comunidade. Mesmo os estudos e pesquisas só ocorrem com o diálogo com os povos indígenas, que devem manifestar interesse no ingresso solicitado", diz a fundação.
Para Dinaman Tuxá, o coordenador-executivo da Apib, o trabalho missionário demoniza saberes tradicionais e "tenta desaculturar nossas comunidades".
Ele afirma que, embora indígenas brasileiros lidem com missionários desde 1500, nos últimos anos, evangelizadores têm se articulado com outro grupo poderoso na política brasileira, o agronegócio, impondo riscos adicionais às comunidades.
"Eles não querem mais só evangelizar, eles querem trazer as comunidades para o meio urbano e liberar nossas terras para plantar soja, tirar minérios, criar gado."
Para Edward Luz, presidente da Missão Novas Tribos do Brasil (MNTB), a evangelização altera a cultura1xbet tum povo tanto quanto o provimento1xbet tserviços1xbet tsaúde e1xbet teducação. "A partir do momento1xbet tque você dá um antibiótico, um remédio antimalária, você alterou toda a cosmovisão1xbet tum povo. Você vai negar dar saúde para o índio?"
Ele afirma que missionários deveriam ser livres para atuar1xbet tqualquer comunidade indígena, inclusive as isoladas, e que esse trabalho pode salvar alguns grupos da extinção.
"Qualquer povo com menos1xbet t400 pessoas está fadado ao extermínio por razões óbvias, como a consanguinidade. Têm que haver uma política1xbet taproximação desses povos", defende.
Contato com os Zo'é
Edward Luz protagonizou um dos episódios que fizeram a Funai mudar1xbet tpolítica1xbet trelação a índios isolados, estabelecendo restrições ao contato. Ele diz ter sido o primeiro não indígena a contatar o povo Zo'é, no norte do Pará,1xbet t1982.
Em "Memórias Sertanistas: cem anos1xbet tindigenismo no Brasil", livro organizado pelo jornalista Felipe Milanez, o ex-servidor da Funai Fiorello Parise diz que o contato foi feito à revelia da Funai e causou grande mortandade entre os Zo'é.
Segundo Parise, a presença dos missionários contaminou os indígenas com gripe e malária, doenças até então inexistentes no território. Ele afirma ainda que na aldeia "só havia medicamento para uso dos próprios missionários", e que os religiosos criaram uma estrutura "tendo os Zo'é para lhes oferecer artesanato, servirem-lhes caça, pesca e outros serviços mais".
Em 1987, a Funai determinou que iniciativas1xbet tcontato com povos isolados deveriam partir sempre dos próprios grupos - e que cabia ao Estado somente proteger e demarcar suas terras.
Em 1991, os missionários da MNTB foram expulsos do território Zo'é.
Edward Luz diz que as afirmações1xbet tParise sobre a introdução1xbet tdoenças na comunidade são falsas. Ele afirma que provavelmente a malária chegou ao território por meio1xbet tmacacos, que estão entre os hospedeiros da doença.
"Depois que cheguei no Amazonas, peguei oito malárias, lá no meio deles. E dizem que eu fui lá levar malária? É inconcebível."
Sobre os relatos1xbet tprivilégios que os missionários teriam entre os indígenas, ele diz que se tratava1xbet tcuidados para conciliar "dois mundos completamente diferentes".
"Eles queriam isso ou aquilo e você não pode, dentro da perspectiva sociocultural, dar ou distribuir esssas coisas, como alguns erroneamente fazem. E se ele (índio) te dá algo, espera receber algo na frente. Éramos parcimoniosos para não criar uma dependência econômica."
Luz diz que os missionários reverteram "o processo1xbet textinção completa daquele povo" e que a expulsão do grupo se deveu a fatores políticos.
"Havia interesses1xbet tpessoas para estudar aqueles povos e não queriam a presença1xbet tmissionários no meio deles. Até então, a Funai nos elogiava, temos relatos e afirmações fantásticas deles a nosso respeito", diz.
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