Governo Bolsonaro: o Brasil que novo presidente vai herdar10 gráficos:
Segundo dados oficiais, o governo brasileiro gasta cerca6% do PIB (Produto Interno Bruto, ou a somatodas as riquezas produzidas pelo país) contra 5,5% da média dos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Também desembolsa mais do que Argentina (5,3%), Colômbia (4,7%), Chile (4,8%), México (5,3%) e Estados Unidos (5,4%).
Por outro lado, a qualidade da educação brasileira continua muito precária. No Pisa, principal avaliação educacional internacional, o Brasil ficou na 63ª posiçãociências, na 59ªleitura e na 66ª colocaçãomatemática entre 70 países2015. De toda a América Latina, o Brasil só vai melhor do que a República Dominicana.
Em entrevista à BBC News Brasil, Claudia Costin, ex-diretora sênior para Educação no Banco Mundial e atualmente professora da FGV-RJ, enlencou quais devem ser, naopinião, as prioridades do novo presidente.
"Em primeiro lugar, temos que investir na profissionalização da carreira e na formaçãoprofessores. Ninguém quer mais ser professor. Além disso, o que se ensina na faculdadeeducação está muito distante do chão da escola. Eles não aprendem a dar aulas", diz.
"Em segundo, temos que avançar na implementação da base nacional curricular. Muitos alunos acabam abandonando a escola no Ensino Médio".
"Por último, temos que pensar numa escola mais adequada aos jovens. Isso significa usar a tecnologia como recurso para o aprendizado", conclui.
Depoisconseguir aumentar o númerocrianças matriculadas na escola, o Brasil tem patinadooferecer educação públicaqualidade e com igualdade no território total.
Os dados mais recentes do ÍndiceDesenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgadossetembro, apontam que nenhum Estado conseguiu atingir as metas previstas para o ensino médio, a etapa considerada mais problemática da educação brasileira. Em uma escalazero a 10, a meta era uma média4,7 no ano passado. A nota alcançada, no entanto, foi3,8.
Além disso, cinco Estados - Amazonas, Roraima, Amapá, Bahia e RioJaneiro - viram suas notas recuarem no ensino médio.
Os problemas começam já na etapa anterior: 8cada 10 alunos brasileiros terminam o ensino fundamental sem o aprendizado adequadomatemática, por exemplo, carregando essa deficiência adiante.
Para Patricia Mota Guedes, gerentepesquisa e desenvolvimento do Itaú Social, "o Brasil melhorou muito nos anos iniciais do ensino fundamental (1ª à 5ª série), e a grande maioria das redes alcança suas metas nessa etapa. (Mas) a gente nota um grande gargalo nos anos finais do fundamental e uma grande estagnação no ensino médio".
"Por trás disso temos não só dificuldadesdesempenho dos alunos, mas aumentos nas taxasrepetência, na defasagem entre a idade e a série do aluno e (consequentemente) no riscoabandono escolar", diz Guedes.
ECONOMIA
Após dois anosrecessão, a economia brasileira voltou a crescer no ano passado, quando registrou alta1%. Daqui para frente, a previsão é mais alentadora.
Segundo o FMI, o Brasil deve crescer 1,4% neste ano e 2,5%2019.
Mesmo que as previsões se confirmem, será o terceiro pior crescimento da América Latina, atrás apenas da Argentina e da Venezuela, que vivem crises econômicas profundas.
E a frágil retomada da economia brasileira não está isentariscos.
Ainda que a taxajuros tenha atingido a mínima histórica (6,5%),parte pela queda na inflação (4,05% no acumulado dos últimos 12 meses), o Brasil ainda gasta mais do que arrecada.
O país deve fechar novamente no vermelho pelo quarto ano consecutivo. Segundo o FMI, o Brasil só voltará a ter superávit (economia para pagar os juros da dívida)2022.
Como resultado, a dívida pública brasileira cresce a um ritmo acelerado: foi62,2% do PIB2012 para 87,3% neste ano. E, se nada for feito, deve chegar a 96,3%2023,acordo com estimativas do FMI.
O problema que atormenta grande parte dos brasileiros é o desemprego, que continua alto (11,6%), apesarter desacelerado nos últimos meses.
No ano passado, o Brasil teve a segunda maior taxadesemprego da América Latina, após o Haiti, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), com baseinformações da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
O contingente fora da forçatrabalho - ou seja, brasileiros que não estão trabalhando nem procurando trabalho - chegou a 65,5 milhões, o mais alto da série histórica do IBGE, iniciada2012.
Gargalos estruturais, como a deficiência na infraestrutura, também dificultam a retomada do crescimento.
"Temos que resolver emergencialmente nosso conflito distributivo. Ou seja, um Estado que estruturalmente gasta mais do que arrecada", diz Samuel Pessôa, professor da pós-graduaçãoeconomia (EPGE) da FGV-RJ.
"O presidente precisa usar o poder do voto para funcionar como um maestro e reger o Congresso, a quem cabe a responsabilidadedesenhar o ajuste fiscal. Se não resolvermos isso, não sairemos do lugar. Não teremos futuro", acrescenta.
Pobreza atinge um quarto da população brasileira
Além disso, o Brasil tem cerca50 milhõespessoas - um quartosua população - vivendo na linhapobreza, com renda familiar inferior a R$ 387, segundo levantamentodezembro2017 do IBGE, com basedados2016.
A renda domiciliar mensal per capitaR$ 387 equivalia, à época, a US$ 5,5 por dia, critério adotado pelo Banco Mundial para definir pobreza.
"A situação é mais grave entre os 7,4 milhõesmoradoresdomicílios onde vivem mulheres pretas ou pardas sem cônjuge com filhos até 14 anos. Desses, 64% estavam abaixo dessa faixarenda", dizia comunicado do IBGE.
Um levantamento da Consultoria Tendências com base nos dados do IBGE identificou um aumento também na pobreza extrema (ou seja,famílias com até R$ 85renda mensal per capita)praticamente todos os Estados do país, alcançando o maior patamarpelo menos sete anos.
Entre 2014 e 2017, período da maior recessão da história do país, a pobreza extrema aumentoumédia 1,7 ponto percentual no Brasil - esse aumento chegou a 5 pontos percentuais na Bahia, 5,6 no Acre e 4,8Sergipe, segundo o levantamento.
SAÚDE
O Brasil nunca teve tantos médicos quanto no ano passado. São 451.777 atuando pelo país, segundo a 4ª edição do levantamento Demografia Médica no Brasil 2018, feita pela FaculdadeMedicina da USP (FMUSP) com apoio do Conselho FederalMedicina (CFM) e o Conselho RegionalMedicina do EstadoSão Paulo (Cremesp).
Mas a média por mil habitantes (2,18) está abaixo da dos países que formam a OCDE (3,4). O Brasil tem, proporcionalmente, menos médicos do que México, Coreia do Sul e Estados Unidos.
Além disso, eles estão mal distribuídos pelo país: se no Sudeste e no Sul, as taxas chegam a 2,81 e 2,31, no Nordeste, são apenas 1,41 por mil habitantes. No Norte, o cenário é ainda pior (1,16).
Além disso, longas filas e faltaleitos são problemas onipresentes na saúde brasileira.
Para se ter uma ideia, desde 2010, o Brasil perdeu 34 mil leitosinternação da rede pública, ou 12 fechados por dia. Somente nos últimos dois anos, mais8 mil unidades foram desativadas. O levantamento foi feito pelo Conselho FederalMedicina (CFM) a partirdados do Cadastro NacionalEstabelecimentosSaúde do Ministério da Saúde.
Neste ano, apenas 3,6% do orçamento do governo federal foi destinado à saúde. A proporção está bem abaixo da média mundial,11,7%, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), e não deve mudar nos próximos anos, devido à aprovação da emenda do teto dos gastos.
Segundo um estudo do Ipea (InstitutoPesquisa Econômica Aplicada), esse congelamento dos gastos vai representar perdasR$ 743 bilhões para o SUS no período.
Queda na vacinação
O Brasil havia comemorado,2016, quando a Organização Mundial da Saúde considerou o sarampo uma doença erradicada no país, após um ano sem registroscasos. O vírus, porém, estávolta: até 22outubro, o Ministério da Saúde confirmou 2.425 casos da doença, com ao menos 12 mortes. Outros quase 8 mil casos suspeitos estão sob investigação, concentrados na Amazônia eRoraima e atribuídos ao surtosarampo que afeta a vizinha Venezuela.
Também preocupa o Ministério da Saúde uma possível voltaoutras graves doenças já erradicadas no país, como a poliomielite e a rubéola. E essa preocupação se deve, sobretudo, a uma queda na vacinação da população brasileira nos últimos dois anos.
Dados preliminares do ministério apontam que, até agosto2018, as crianças com até dois anosidade tiveram cobertura vacinal50% a 70%, a depender da vacina - o ideal, porém, é que a cobertura fique entre 90% e 95%, para garantir que os vírus não consigam circular.
"Precisamos reverter esse cenário e não entrar no terceiro anobaixas coberturas vacinais", dissecomunicado Carla Domingues, coordenadora do Programa NacionalImunizações da pasta.
A campanha mais recentevacinação, concluídasetembro, conseguiu imunizar 10,7 milhõescrianças contra polio e sarampo, mas diversas vacinas têm cobertura abaixo do desejado - menos60% das criançasaté dois anos tomaram a pentavalente, por exemplo, que protege contra coqueluche, difteria, tétano e hepatite B, e menos54% tomaram a tetra viral, contra sarampo, caxumba, rubéola e catapora.
Segundo diagnóstico do próprio ministério, os problemas a serem enfrentados são a ideia equivocadaque não é preciso vacinar contra doenças que têm baixa ou nenhuma circulação; a dificuldademuitas famíliascomparecer aos postossaúde no horáriofuncionamento; e a desinformação causada por boatos que associam vacinas a efeitos colaterais.
"Muitas pessoas não têm noção do risco (...) e passam a se preocupar mais com possíveis efeitos adversos do que com a prevençãodoenças consideradas graves", afirma Domingues.
Riscoaumento da mortalidade materna e infantil
Um aumento ainda pequeno na mortalidade materna entre 2015 e 2016 tem preocupado os especialistassaúde coletiva do país.
Entre 1990 e 2015, a razão mortalidade materna, indicador que mede os óbitosrelação a cada 100 mil nascidos vivos, caiu 57%, passando143 para 62 mortes. No ano seguinte, porém, subiu para 64,4 (embora o número absolutomortes tenha caído).
A morte materna é a que ocorre durante a gestação, o parto ou até 42 dias após o parto, se relacionada ou agravada pela gravidez. Cerca92% das mortes maternas são evitáveis e suas principais causas, no Brasil, são hipertensão na gestação, hemorragias, infecções pós-parto e complicaçõesabortos.
O Ministério da Saúde destaca,nota, que o "repique não caracteriza um aumento significativo quando analisada a série histórica".
Mas médicos especializados no tema temem que seja um prenúncioreversão da tendênciaqueda observada desde os anos 1990.
"É preocupante caso se confirme como aumento porque a mortalidade materna e a infantil não são indicadores apenas desses segmentos específicos, mas do estadotoda a sociedade e do acirramentodesigualdade social no Brasil", diz Greice Menezes, médica e pesquisadora do Programa IntegradoGênero e Saúde do InstitutoSaúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia.
"É um reflexopolíticas recentesajuste fiscal e da pobreza, da exclusão social, do desfianciamento do SUS, da faltainsumos (médicos), das distâncias enormes que mulheres (no interior) têmpercorrercasocomplicação obstetrícia e da desestruturação das redesserviçopré-natal."
Dados levantados pela Fundação Abrinq confirmam que programas federaisatenção a gestantes e a crianças pequenas foram encerrados ou tiveram seus orçamentos drasticamente reduzidos.
A Associação BrasileiraSaúde Coletiva (Abrasco) destaca preocupação semelhante com a mortalidade infantil, que, embora tenha caídonúmeros absolutos -37,5 mil2015 para 36,3 mil2016 -, aumentouproporção aos nascidos vivosgrande parte do país.
O Ministério da Saúde destaca, porém, que isso se deve à redução na natalidade da população brasileira.
SEGURANÇA PÚBLICA
Nunca se matou tanto no Brasil. Em 2017, foram 63.880 homicídios, segundo o FórumSegurança Pública.
Isso faz com que o país seja um dos mais violentos do mundo, com uma média30,8 homicídios a cada 100 mil habitantes, ou 175 mortos por dia.
Também foram assassinados 367 policiais, ou um por dia. Já os mortosintervenções policiais subiram 20%, para 5.144 (ou 14 por dia).
A notificação da violência contra a mulher também vem aumentando significativamente no Brasil. Em 2017, foram contabilizados 60.018 estupros, alta8,4%relação a 2016.
Já os casosviolência doméstica chegaram a 606 por dia (221.238 no total).
O Brasil tem, ainda, a terceira maior população carcerária do mundo, após Estados Unidos e China - e as penitenciárias estão cada vez mais superlotadas.
São 729.463 detentos, dos quais 37% estão presossituação provisória, ou seja, ainda não foram julgados. Porém o sistema só possui oficialmente 367.217 vagas.
O setor é outro que sofre com poucos recursos -relação ao total gasto pelo governo, as despesas com segurança pública respondem por 2,5% do PIB, contra 4,5% da médiapaíses da OCDE.
"Temos um quadro muito desafiador. As pessoas estão com muito medo. (Mas) segurança pública não se faz com ódio, na base da truculência", opina à BBC News Brasil Daniel Cerqueira, pesquisador do Ipea e conselheiro do Fórum BrasileiroSegurança Pública.
"Em primeiro lugar, precisamos mudar essa retórica do medo. Em segundo, usar diagnóstico, planejamento e método. Em terceiro, implementar açõesprevenção social,modo a evitar que os jovens entrem no crime", acrescenta.
Para Cerqueira, o novo presidente tem que "se comprometer pessoalmente com a vida das pessoas, usandoseu cargo para articular políticas intersetoriais".
"Embora a segurança pública seja incumbência dos governadores, o presidente tem que chamar essa responsabilidade para si também. Ele tem que se basearum tripé: indução, financiamento e capacitação", diz.
"O governo federal pode, por exemplo, oferecer mais recursos a Estados que comprovem uma gestão eficiente da segurança pública com estatísticas confiáveis. Hoje, boas experiências no combate ao crime não são compartilhadas nem replicadas", completa.
CORRUPÇÃO
À esteira das denúncias e prisões decorrentes da Operação Lava Jato, corrupção foi um dos temas centrais da campanha presidencial. Nos últimos quatro anos, os brasileiros assistiram aos principais partidos e políticos serem implicados no esquemadesviosrecursos públicos da Petrobras.
Em 2017, o Brasil caiu 17 posições no ranking2017 do ÍndicePercepção da Corrupção, que mede o quanto a população, empresas e organismos internacionais encaram os países como corruptos.
Ou seja, aumentou a percepçãoque existe muita corrupção no Brasil. Nosso país aparece na posição 96uma lista180 países, sendo visto como mais corrupto que países como Timor Leste, Senegal e Marrocos.
"O presidente tem o desafiolidar com a Lava Jato e essa nova agenda que é o combate à corrupção. Não tem como retroceder nessa agenda. Até porque as pessoas começaram a sentir a relaçãoque o dinheiro que é desviado com o que falta no sistemasaúde, educação", opina a professoraciência política da Universidade Federal do Estado do RioJaneiro (Unirio), Luciana Veiga.
Segundo ela, o grande desafio é garantir "governabilidade" num sistemafragmentação partidária no Congresso Nacional. Para formar maioria nas votações do Legislativo e aprovar projetos, o presidente República precisa fazer alianças com diversos partidos políticos- existem 25 siglas com representação na Câmara dos Deputados.
Tanto o mensalão quanto o escândalocorrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato foram, segundo as denúncias do Ministério Público, esquemas criados para arregimentar o apoiopartidos políticos ao governo federal.
"A questão é saber como continuar a avançar a agendacombate à corrupção e, ao mesmo tempo, garantir a governabilidade e fazer com que o Brasil retorne a uma agenda positiva,desenvolvimento econômico,olhar para saúde e educação."
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