Mais da metade dos brasileiros acham que direitos humanos beneficiam quem não merece, diz pesquisa:funil 03 bet7k
- Doisfunil 03 bet7kcada três brasileiros acham que 'direitos humanos defendem mais os bandidos', diz pesquisa
- O que são direitos humanos e por que há quem acredite que seu propósito é a defesafunil 03 bet7k'bandidos'?
- Cortefunil 03 bet7kgastos no Brasil está agravando desigualdades, dizem especialistas da ONU
No entanto, uma pesquisa sobre o mesmo assunto feita presencialmentefunil 03 bet7kabril deste ano teve resultado similar. Ela mostrou que doisfunil 03 bet7kcada três brasileiros acham que os direitos humanos defendem mais os criminosos que suas vítimas.
"Existe um ceticismo da amostra brasileira com relação aos direitos humanos", diz Rupak Patitunda, gerentefunil 03 bet7kopinião pública na Ipsos.
Os brasileiros estão entre os que mais concordam com a frase "direitos humanos não significam nada no meu cotidiano" (28%), atrás apenas dos ouvidos na Arábia Saudita e na Índia.
Na definição da Organização das Nações Unidas (ONU), direitos humanos são aqueles aos quais todas as pessoas, sem distinção, deveriam ter acesso: direito à vida, à segurança, à liberdade, à saúde, à moradia, alimentação, liberdadefunil 03 bet7kexpressão.
Direitos devem ser protegidos
No entanto, a pesquisa indica também que os brasileiros reconhecem que é necessário defender esses direitos. Sessenta e nove por cento consideram que é importante que haja uma lei para protegê-los; trêsfunil 03 bet7kcada dez entrevistados brasileiros (34%) concordam com a frase "todos no Brasil desfrutam dos mesmos direitos humanos básicos".
"A percepção éfunil 03 bet7kque existe a necessidadefunil 03 bet7kdireitos humanos, mas as pessoas discordam da maneira como são aplicados. A pesquisa indica que as pessoas acham que eles não são aplicados às pessoas que os mereceriam e são aproveitados pelos que não merecem", completa Rupak.
A pesquisa avaliou a opinião das pessoas sobre quais direitos e quais grupos devem ser mais protegidos.
Crianças lideram o ranking global (56%) das que, na visão dos entrevistados, mereceriam a proteção dos direitos humanos. Em seguida estão pessoas com deficiência (48%), idosos (44%), mulheres (38%) e pessoasfunil 03 bet7kbaixa renda (30%).
Brasileiros também citaram,funil 03 bet7kprimeiro lugar, as crianças (56%). Em seguida vêm idosos (55%), pessoas com deficiência (46%), mulheres (39%) e pessoasfunil 03 bet7kbaixa renda (38%).
Os direitos que merecem defesa mais citados globalmente: a liberdadefunil 03 bet7kexpressão (32%), direito à vida (31%), direito à liberdade (27%), direito à igualdadefunil 03 bet7ktratamento perante a lei (26%) e direitofunil 03 bet7knão ser discriminado (26%).
No Brasil, o retrato ficou diferente. Os ouvidos citaram o direito à segurança (38%), direito à vida (36%), direito das crianças à educação gratuita (32%), direito à liberdade da escravidão ou do trabalho forçado (29%) e direitofunil 03 bet7knão ser discriminado (28%).
Direitos humanos são mais do que segurança pública
O sociólogo e professor da USP Sergio Adorno, afirma que há no Brasil um problemafunil 03 bet7kcompreensão do que são, exatamente, direitos humanos. Para ele, o conceito é mais associado à segurança pública, quando, na verdade, refere-se a diversas outras áreas com as quais os brasileiros se preocupam.
"Se as pessoas pensarem os direitos humanosfunil 03 bet7kforma mais ampla - e mais correta -funil 03 bet7kmodo a incluir aí direito à escola, emprego, habitação, saúde, elas poderão avaliar melhor o que elas consideram que está ou não sendo garantido. Direitos humanos é o direito à dignidade", diz ele.
O Brasil está mais ou menos no meio do rankingfunil 03 bet7kpaíses ouvidos na pesquisa quando a questão é conhecimento geral sobre direitos humanos, mas a proporção não é alta. Sessenta e um por cento disseram saber algo ou muito, e 30% disseram saber pouco ou nada sobre o assunto.
O sociólogo acha que há uma explicação histórica para essa visão restrita do que o conceito significa. "Quando houve a transição da ditadura para a democracia, houve um conflito entre aqueles que haviam lutado pela democracia e os que ficaram presos à herança da ditadura", diz. As pessoas que articularam a transição democrática também defendiam a luta pelos direitos humanos.
"Faço a autocríticafunil 03 bet7kque, naquele momento, nós, militantes dos direitos humanos, enfatizamos muito a questão da violência como herança da ditadura - a violência da polícia, das prisões, a ideiafunil 03 bet7kque todo indivíduo, mesmo tendo cometido um crime tem direito a uma defesa."
"Nessa trajetória política e discursiva, aqueles que se identificavam com a ditadura articularam muito estrategicamente essa identidade entre direitos humanos e direitosfunil 03 bet7kbandidos, como se estivéssemos dizendo 'estamos defendendo os bandidos contra o cidadãofunil 03 bet7kbem'. Ficou muito difícil desarticular essa armadilha", diz ele.
Polarização e eleições
Ele avalia que, à medida que a democracia foi se consolidando, essa associação entre direitos humanos e a proteção a criminosos ficou mais discreta no imaginário da população, mas agora, com tanta polarização, ressurge. "O que estava soterrado na consciência coletiva reapareceu".
A dificuldadefunil 03 bet7k"desmontar a armadilha" segue até hoje, diz. "É preciso repensar estratégias. O grande desafio é sobre como transformar direitos humanosfunil 03 bet7kmatériafunil 03 bet7ksensibilidade coletiva. [O conceito de] direitos humanos deveria pegar na pele das pessoas. Como vamos convencer governantesfunil 03 bet7kque sem proteçãofunil 03 bet7kdireitos humanos não se avança na democracia? Há também um desafiofunil 03 bet7kcomunicação. Continuamos com dificuldadefunil 03 bet7kromper essa identificaçãofunil 03 bet7kdireitos humanos com direitosfunil 03 bet7kbandidos. Está claro que a política atualfunil 03 bet7kenfrentamento à violência está errada. É preciso deixar isso claro."
Adorno diz que essa situação pode afetar a decisão das pessoas na hora do voto. "Para uma pessoa que sofreu uma agressão, que foi vítimafunil 03 bet7kalguma violência, a questão da segurança é muito sensível. Para ela, o governante tem que por uma políciafunil 03 bet7kcada porta. No entanto, a segurança não é a única preocupação. A maior é o desemprego. Numa situaçãofunil 03 bet7kprecarização, a família perde a capacidadefunil 03 bet7kcuidarfunil 03 bet7kseus filhos."