Cinco anos após mortealfabet slot freebet 10kAmarildo, família ainda aguarda indenização: 'Estado tem que pagar por seu erro':alfabet slot freebet 10k

Legenda da foto, A mulheralfabet slot freebet 10kAmarildo, Elizabete Gomes da Silva, e Anderson, o primogênito do casal: cinco anos depois, família ainda aguarda indenização / Foto: Júlia Dias Carneiro/BBC News Brasil

Ocorrido pouco depois dos protestosalfabet slot freebet 10kjunhoalfabet slot freebet 10k2013, o desaparecimentoalfabet slot freebet 10kAmarildo motivou manifestações, campanhasalfabet slot freebet 10kentidadesalfabet slot freebet 10kdefesaalfabet slot freebet 10kdireitos humanos e virou um símboloalfabet slot freebet 10kviolência policial e da derrocada das UPPs, chamuscando a imagem até então majoritariamente positiva das Unidadesalfabet slot freebet 10kPolícia Pacificadora implantadas nas favelas do Rio.

De lá para cá, a família viu as investigações trazerem resultados aterradores, confirmados pela sentença proferida pela Justiçaalfabet slot freebet 10kfevereiroalfabet slot freebet 10k2016. Doze dos 25 policiais militares denunciados na UPP da Rocinha foram condenados pelos crimesalfabet slot freebet 10ktortura seguidaalfabet slot freebet 10kmorte, ocultaçãoalfabet slot freebet 10kcadáver e fraude processual.

Três anos apósalfabet slot freebet 10kmorte, o governo do Estado do Rio foi condenado a indenizaralfabet slot freebet 10kfamíliaalfabet slot freebet 10kR$ 3,5 milhões - R$ 500 mil para cada umalfabet slot freebet 10kseus seis filhos e paraalfabet slot freebet 10kcompanheira - e mais uma pensãoalfabet slot freebet 10kum salário mínimo por mês para Elizabete.

Cinco anos apósalfabet slot freebet 10kmorte, porém, a família continua lutando na Justiça para receber a indenização. O Estado está recorrendo contra a determinação judicial. O corpoalfabet slot freebet 10kAmarildo até hoje não foi encontrado.

"Eu espero que eles paguem pelo que eles fizeram. Que a gente pelo menos receba indenização do Estado. Porque foi o Estado que errou", diz Elizabetealfabet slot freebet 10kentrevista à BBC News Brasil.

Legenda da foto, Elisabete com os filhosalfabet slot freebet 10k2013, dois meses após o desaparecimentoalfabet slot freebet 10kAmarildo, na casa onde vivia com companheiro / Foto: Júlia Dias Carneiro/BBC News Brasil

De acordo com a sentença, após ter sido levado para questionamento na UPP, Amarildo foi torturado com descargas elétricas, saco plástico na cabeça e afogamentoalfabet slot freebet 10kbalde com água, o que teria sido a causaalfabet slot freebet 10ksua morte.

"O que aconteceu com o Amarildo foi uma coisa muito bárbara. Meu marido morrer assim, tendo família e tendo filhos, e ninguém saber o que aconteceu", diz Elizabete. "Não era um animal, era um ser humano. Paialfabet slot freebet 10kfamília. O Amarildo não era envolvido (no crime). Ele era trabalhador, nascido e criado na Rocinha. Todo mundo conhecia o Amarildo."

'Coluna da casa'

Elizabete e Amarildo estavam juntos havia 27 anos e tiveram seis filhos. Atualmente com idadesalfabet slot freebet 10k11 a 26 anos, todos seguem morando com a mãe na Rocinha. Após a morte do pedreiro, compraram uma nova casa na parte mais alta da comunidade graças ao dinheiro arrecadado por um grupoalfabet slot freebet 10kartistas, liderados por Caetano Veloso e Paula Lavigne, com a vendaalfabet slot freebet 10kobrasalfabet slot freebet 10karte para ajudar a família a se reestruturar.

"Ele era a coluna da casa, o pai dos meus filhos. Quando acontece um fato desses, você fica com as mãos atadas", diz Elizabete. "Eu quero que a Justiça seja feita, mas sinto que é muito demorado. Estamos há todo esse tempo esperando e não vemos resposta. Estamos na expectativaalfabet slot freebet 10kreceber nossos direitos para tocar a nossa vida."

Sobrinhaalfabet slot freebet 10kAmarildo, Michelle Lacerda,alfabet slot freebet 10k31 anos, diz que a mortealfabet slot freebet 10kseu tio e suas circunstâncias escabrosas - sob torturaalfabet slot freebet 10kagentes do Estado - deixou a família "destruída". Eles continuam unidos, "como sempre foram", diz. Mas os impactos são duradouros e continuam a se manifestaralfabet slot freebet 10kdiferentes formas.

No início, os filhos tiveram um períodoalfabet slot freebet 10k"revolta gigantesca", gradualmente apaziguada com atendimento psicológico. Elizabete teve crises da dependência química por álcool e drogas.

Em outubro do ano passado, o filho mais novo dentre os rapazes, Amarildo Gomes da Silva, foi preso por PMs com uma pistola encontrada dentroalfabet slot freebet 10kcasa. A família diz que policiais "plantaram" a arma dentro da casa e agrediram o rapaz até que ele confirmasse que era dele. Ele foi autuado por posse ilegalalfabet slot freebet 10karmaalfabet slot freebet 10kfogoalfabet slot freebet 10kuso restrito e por associação ao tráfico.

"Para pararalfabet slot freebet 10kapanhar, ele falou que a pistola era dele, com medoalfabet slot freebet 10kser torturado. Compreensível, depoisalfabet slot freebet 10kter a família destruída por tortura", diz Michelle. Ele foi soltoalfabet slot freebet 10kfevereiro deste ano por faltaalfabet slot freebet 10kprovas que justificassemalfabet slot freebet 10kpermanência na cadeia.

E a caçula da família, Milena,alfabet slot freebet 10k11 anos, tem precisadoalfabet slot freebet 10ktratamento psicológico e psiquiátrico.

Após a morte do pai, começou a ficar assustada com comentáriosalfabet slot freebet 10kpoliciais que ficavam estacionados na saídaalfabet slot freebet 10ksua escola, e comentavam sobre ser aquela "a filha do Amarildo", conta Michelle.

"Ela começou a desenvolver uma síndrome do pânico. Para evitar esse transtorno, mudamos elaalfabet slot freebet 10kescola", diz a sobrinhaalfabet slot freebet 10kAmarildo. "Ela não dorme a noite inteira, e quando escuta fogos, ou os tiros que temos tido direto na Rocinha, vive momentosalfabet slot freebet 10kterror. Fica repetindo que a polícia vai vir, vai pegar umalfabet slot freebet 10kseus irmãos, vai fazer o mesmo que fez com o seu pai."

Segundo Michelle, a família ficou estigmatizada depois do que aconteceu, e a sociedade apressa-sealfabet slot freebet 10kjulgá-los sem conhecer seus reais problemas - falando da indenização que nunca saiu como se fosse uma regalia, por exemplo.

"As pessoas estão achando que a gente está milionário porque o Estado foi condenado a pagar R$ 3,5 milhões. Perguntam por que a gente ainda está na Rocinha depoisalfabet slot freebet 10kganhar esse dinheiro", exemplifica Michelle. "Só que esse dinheiro não é real. O que é real são todos esses problemas que a gente continua sofrendo e a preocupação que temos diariamente tendo que acompanharalfabet slot freebet 10kmuito perto a situaçãoalfabet slot freebet 10kcada um. A gente preferia não estar pedindo indenização nenhuma. A gente queria ter o meu tio aqui, vivo."

Legenda da foto, Amarildo deixou seis filhos / Foto: Arquivo pessoal

'O chão abriu e Amarildo sumiu'

Do Estado, Elizabete recebe um salário mínimo por mês por antecipaçãoalfabet slot freebet 10ktutela, uma espéciealfabet slot freebet 10kadiantamento da indenização paga por determinação judicial enquanto transcorre a ação na Justiça.

É o que tem para sustentar a casa e os filhos, além da ajuda que recebe dos filhos mais velhos. Aos 26 anos, o primogênito, Anderson Gomes Diasalfabet slot freebet 10kSouza, trabalha como mototaxista na Rocinha.

Ele chegou a investir na carreiraalfabet slot freebet 10kmodelo após a morte do pai, mas o dinheiro não estava entrando. No mototáxi, o dinheiro é pouco, mas mais garantido.

"Eu tenho que ajudar dentroalfabet slot freebet 10kcasa, então tive que escolher uma coisa ou outra. Escolhi levar o pãoalfabet slot freebet 10kcada dia para casa, ajudar a minha mãe e meus irmãos pequenos", afirma Anderson.

"Agora eu praticamente sou o homem da casa, né?", diz.

Elizabete diz que a caçula, Milena, até hoje pergunta pelo paradeiro do pai. Entende que ele morreu, mas pergunta pelo seu corpo. "Ela fala: 'Mãe, será que vão achar o meu pai? Eu queria tanto enterrar o meu pai." E eu digo que já se passaram cinco anos. 'Não existe mais não, filha.'"

"Seria importante demais para a gente enterrar os restos mortais do Amarildo. Mas a gente não pôde realizar esse sonho", diz Elizabete. "Se mataram, podiam pelo menos mostrar o corpo. Mas sumiram com ele. Como uma coisa, tipo assim, o chão abriu e o Amarildo sumiu ali dentro."

Para a viúva, quem sabe onde está Amarildo "é quem fez a tortura com ele e sumiu com o corpo dele". Ela diz já não ter esperançaalfabet slot freebet 10kque seu destino seja revelado.

Indenização contestada

Advogado Rodolfo Ferreira, da equipe do escritório João Tancredo, responsável pela ação civil apresentada pela famíliaalfabet slot freebet 10kAmarildo contra o Estado, diz ter a expectativaalfabet slot freebet 10kque a próxima fasealfabet slot freebet 10krecursosalfabet slot freebet 10kapelação das partes venha a ser julgada ainda neste mês pelo Tribunalalfabet slot freebet 10kJustiça do Rio.

Ele frisa, entretanto, que esta é só mais uma etapaalfabet slot freebet 10kum processo que ainda pode durar anos, potencialmente enfrentando recursos que cheguem ao STJ e ao STF.

"Ainda há um longo caminho pela frente enquanto o Estado mantiver essa posturaalfabet slot freebet 10kperpetuar os danos que a família sofre", diz Ferreira.

O advogado diz lamentar a conduta do Estadoalfabet slot freebet 10knegar o ocorrido "diantealfabet slot freebet 10ktodas as provas do crime praticado pelos seus agentes", e diz que a família talvez precise esperar cercaalfabet slot freebet 10kcinco anos até iniciar a fasealfabet slot freebet 10kcumprimentoalfabet slot freebet 10ksentença, um trâmite que poralfabet slot freebet 10kvez também pode ser demorado.

"É claro que a indenização não vai acabar com o sofrimento. Mas ela fecha um cicloalfabet slot freebet 10kdor que continua latente enquanto a família não vê uma satisfação. Nesse caso, isso é ainda mais sério, porque não foram permitidos sequer os rituaisalfabet slot freebet 10kdespedida, com o enterro do corpo", afirma Ferreira.

Legenda da foto, Elisabete com a filha caçulaalfabet slot freebet 10k2013; família ainda vive disputa judicial por indenização / Foto: Júlia Dias Carneiro/BBC News Brasil

Consultada, a Procuradoria Geral do Estado enviou à BBC News Brasil a apelação com os argumentos apresentados pelo Estado no recurso contra a indenização.

A PGE contesta os valores estipulados a títuloalfabet slot freebet 10kdanos morais. "Não se questionam a dor e o sofrimento experimentados pelos autores quando do desaparecimentoalfabet slot freebet 10kAmarildo", afirma, mas a quantificação da indenização pedida fugiria "aos parâmetrosalfabet slot freebet 10kproporcionalidade e razoabilidade."

Além disso, a PGE questiona a ausênciaalfabet slot freebet 10kcomprovaçãoalfabet slot freebet 10kque Elizabete "convivia como companheiraalfabet slot freebet 10kAmarildo à época dos fatos", argumentando que não basta a existênciaalfabet slot freebet 10k"filhosalfabet slot freebet 10kcomum" para comprovar a união estável. Contesta, ademais, os pedidosalfabet slot freebet 10kpensão mensal devido à "absoluta inexistênciaalfabet slot freebet 10kprova quanto ao exercícioalfabet slot freebet 10katividade laborativa por Amarildo à época dos fatos".

Outros Amarildos

Nos meses após o desaparecimentoalfabet slot freebet 10kAmarildo, a família chegou a procurar clínicasalfabet slot freebet 10kreabilitação para dependentes químicos para internar Elizabete, que voltara a beber e a usar drogas como maconha e cocaína.

Hoje, Elizabete parece serena e bronzeada, com um ar saudável depoisalfabet slot freebet 10kpassar seis meses com a família no interior do Pará ealfabet slot freebet 10kNatal,alfabet slot freebet 10konde saiu 35 anos atrás para se mudar para o Rio.

"Era muita pressãoalfabet slot freebet 10kcimaalfabet slot freebet 10kmim sozinha. Eu acordava com jornalistas na minha porta, corre para lá, corre para cá. Precisei sair um pouco para espairecer um pouco a mente", conta.

"Deu uma paz. Porque na Rocinha você convive com aquela bagunça diariamente, né? Sobe morro, desce morro, é tiro pra lá, bomba para cá."

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Para Elizabete, mortealfabet slot freebet 10kAmarildo não fez com que o Rio ou o Brasil aprendessem qualquer lição: 'É só você ver quantos outros Amarildos tem por aí desaparecidos'

No Rio, Elizabete é reconhecidaalfabet slot freebet 10ktoda parte como "a mulher do Amarildo". No Nordeste, pôde desfrutaralfabet slot freebet 10kum períodoalfabet slot freebet 10kanonimato, sem ser abordada por estranhos querendo saber o que aconteceu, como aconteceu. "Fica aquela lembrança, o dia todo."

Mas a visibilidade que o caso ganhou e o protagonismo que ela assumiu lhe trazem preocupação. "Com tudo que aconteceu, eu tinha mesmo que botar a cara. Tinha que gritar que meu marido sumiu, questionar quem, como, o que aconteceu. Muita gente não faz isso por medo", diz.

"Mas desde a morte do Amarildo, a gente não tem muita segurança. Eu tenho medo de... A gente acha que nunca vai acontecer com a gente, né? Mas pode acontecer", diz Elisabete. "Eu tenho medoalfabet slot freebet 10kalgo acontecer com meus filhos, comigo, com a família dele. Entendeu? Porque a gente ficou muito visado."

Apesar toda a repercussão que a morte do Amarildo teve, ela não considera que o Rio, ou o Brasil, tenham aprendido qualquer lição.

"É só você ver quantos outros Amarildos têm por aí desaparecidos."